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Capítulo 3 – Tornar-se adolescente

2. O papel da família na formação da identidade do adolescente

3.2. A escola

A escola é uma instituição formal para a socialização. Proporciona o desenvolvimento de competências e valores, do conhecimento, do crescimento cognitivo e metacognitivo nos processos de aprendizagem. Assim, hoje em dia, a escola apresenta dois tipos de currículos, um mais formal (académico, conteúdos programáticos e objetivos de aprendizagem) e um mais informal no qual estão englobadas as competências sociais testadas no grupo, o saber estar em sala de aula e noutros espaços comuns, o respeito pela autoridade e pela transmissão de normas e padrões de comportamento de

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cidadania. É esperável que as crianças e adolescentes como membros de uma comunidade escolar se integrem bem, gostem de fazer parte dela e participem no dia-a- dia da escola ajudando a construir um espaço ainda melhor. Rutter em 1983 (citado em Shaffer, 2005) propunha que escolas efetivas são aquelas que promovem o sucesso académico, as competências sociais, atitudes positivas em relação à aprendizagem, baixo índice de abstenção e desenvolvimento de atitudes que permitiriam, futuramente, os adolescentes procurarem e permanecerem num emprego.

As escolas portuguesas, também têm estas preocupações tendo-se assistido a uma mudança no paradigma ensino-aprendizagem. Atualmente têm uma diversidade de ofertas que se estendem para além da formação formal privilegiando assim outras áreas da vida dos seus membros, nomeadamente no âmbito da educação para a saúde e promoção de estilos de vida saudáveis, temáticas muitas vezes abordadas pelos próprios professores em sala de aula (Rodrigues, Carvalho, Gonçalves & Carvalho, 2007). De acordo com Baptista, Tomé, Matos, Gaspar e Cruz (2009), apesar de existirem já há alguns anos as escolas promotoras de saúde, não se têm observado grandes avanços no que se refere ao envolvimento da família na escola, à tomada de decisão e resolução de problemas dos adolescentes, na gestão de conflitos.

Por parte dos rapazes continuam-se a verificar comportamentos externalizados de violência e agressão física, e nas raparigas observam-se sobretudo comportamentos internalizados como ansiedade e depressão, somatização e perturbações do comportamento alimentar.

Apesar da requalificação e modernização dos espaços físicos das escolas secundárias, pelo Parque Escolar, ainda se verifica o absentismo, o insucesso académico, a falta de interesse e motivação em relação ao futuro e a adoção de comportamentos de risco pelos jovens adolescentes. Somos de opinião que a relação professor estudante, baseada numa comunicação aberta, no respeito e confiança mútua, onde há a possibilidade de discutir pontos de vista diferentes e espaço para negociação é uma relação que transmite confiança ao adolescente e é promotora de um auto conceito positivo e facilitadora de um desenvolvimento saudável.

Os dados de 2010 do HBSC (http://aventurasocial.com/), acerca da opinião dos adolescentes portugueses relativamente à escola, mostraram que a grande maioria gosta da escola (particularmente as raparigas e os adolescentes mais novos) e perceciona que os professores consideram a sua competência académica média/boa. A quase totalidade dos adolescentes considera que os colegas gostam de estar juntos, são simpáticos e prestáveis, e que os aceitam como são. Entendemos que a escola é assim, mais um

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espaço de aprendizagem e de convivência social e pode ser uma referência marcante na vida da criança ou do adolescente como a vivência de uma experiência que afeta as várias dimensões da sua vida.

Findo o ensino secundário, a maioria dos adolescentes entra numa nova etapa que é a transição para o ensino superior. Esta transição implica uma adaptação aos níveis pessoal, social e académico e que por vezes reveste-se de grandes dificuldades de integração quer à nova instituição de ensino, quer aos novos colegas, quer aos professores, quer aos currículos académicos (Azevedo & Faria, 2006; Ferreira & Ferreira, 2005). A possibilidade de existirem dificuldades ao nível psicossocial nos adolescentes pode estar relacionada com as exigências do novo contexto académico e o impacto que esta mudança tem no adolescente, a forma como esta experiência é vivenciada, depende em muito das caraterísticas individuais e está associada ao desenvolvimento de competências para a integração no ensino superior (Almeida & Soares, 2003; Diniz & Almeida, 2005). O momento do entrada no ensino superior coincide com o final da adolescência, fase da vida que corresponde também a um período de transição, adaptação e mudança para a idade adulta sendo por isso um processo complexo e multidimensional num misto de preocupação, desafio, novos hábitos e estilos de vida, normas e modelos de comportamento (Santos & Almeida, 2001). Na perspetiva de Meleis et al. (2010) a adolescência é considerada uma transição que ocorre ao nível desenvolvimental, em que variadas tarefas se impõem como necessárias para que a mudança se faça de acordo com o esperado. Requer a aquisição de novas experiências e a incorporação de novo conhecimento e competências.

A adolescência é uma fase de descoberta e ser adolescente é viver a mudança. Mudança que atinge não só o desenvolvimento biológico, como também o cognitivo, o psicossocial e o emocional, encontrando-se significativamente inter-relacionados. É ter a capacidade de se adaptar a todas essas mudanças, que emergem de forma intensa e constante, respondendo apropriadamente às solicitações e pondo à prova uma tomada de decisão consciente e baseada em valores morais e pessoais. Para a maioria dos adolescentes é saber percorrer um caminho arriscado, elegendo o que ele tem de melhor, fazendo escolhas saudáveis que resultem em comportamentos de saúde.

Em sentido lato e partilhando a opinião de Sampaio (1997, p.61), a adolescência é considerada “uma etapa do desenvolvimento, ocorrendo desde a puberdade à idade adulta, ou seja, desde a altura em que alterações psicobiológicas iniciam a maturação até à idade em que um sistema de valores e crenças se enquadram numa identidade estabelecida”. É um período especialmente importante enquanto tempo de crescimento, formação, estruturação de valores, atitudes e comportamentos, sendo o adolescente

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considerado como o seu agente fundamental. Este período é especialmente saudável embora com grande vulnerabilidade, pela forma como o risco é vivido. É através dos diferentes contextos (família, grupo de pares e escola) que o adolescente vai desenvolvendo as suas características pessoais e sociais imprescindíveis para a sua vida adulta. As mudanças que ocorrem nesta fase ao nível da socialização, quer com os pares, quer com os pais e professores, remetem para uma importância dos valores como a amizade, a lealdade e a intimidade, considerados fulcrais para a construção do autoconceito e identidade na Pessoa em formação. Todas estas mudanças deverão ser alicerçadas em escolhas saudáveis e em comportamentos de saúde e isso só será possível pela opção de estilos de vida saudáveis.

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