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Capítulo 5 – Estudo 1: Estudo para identificação de competências

1. Enquadramento e metodologia

1.3. Procedimentos de recolha e análise dos dados

O estudo decorreu durante o ano letivo de 2009/2010 e iniciou-se em Setembro de 2009. Após ter sido concedida autorização pela direção da escola para a realização do estudo (cf. Anexo 2) fomos apresentados aos professores que lecionam disciplinas do 12º ano (um professor de cada turma) sendo explicados os objetivos do estudo e combinado o momento para a aplicação do instrumento de recolha de dados aos estudantes.

A escala de Competência Social foi preenchida pelos estudantes durante o mês de outubro de 2009, em contexto escolar e durante um momento do tempo letivo. A investigadora esteve sempre presente em todos os momentos do preenchimento da escala tendo inicialmente explicado o objetivo do estudo e dada informação acerca do preenchimento voluntário e da garantia de confidencialidade e anonimato dos dados. Não houve nenhuma recusa no preenchimento.

Para o tratamento estatístico dos dados utilizámos o SPSS versão 18.0. Recorremos à análise descritiva dos dados pela distribuição de frequências, assim como a parâmetros de tendência central e dispersão (média, desvio padrão e percentagem). Também realizámos comparação de médias e a correlação entre variáveis através da utilização de testes não-paramétricos (Mann-Whitney U, Kruskal-Wallis e Coeficiente de correlação de Spearman).

Ainda no que respeita à análise dos dados, prevíamos a realização de um focus group com professores do 12ºano Via Ensino, para a discussão dos resultados conseguidos com este estudo e assim obter mais contributos para a construção do programa de intervenção. Entendemos que a opinião dos professores é uma importante fonte de informação complementar para a compreensão do objeto em estudo, neste caso, as dificuldades ao nível das competências sociais de alguns dos seus estudantes. Entrámos em contato com a professora de referência e que pertence à direção da escola, que de imediato se disponibilizou para contactar os professores. Este grupo pretende-se

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homogéneo, com cerca de seis a oito pessoas que se reúnem por um período de 60 a 90 minutos na presença de um moderador, que neste caso seria a investigadora (Kress & Shoffner, 2007). Optou-se então pela escolha de seis professores do 12º ano Via Ensino distribuídos pelas disciplinas de Artes, Química, Biologia e Português. Os critérios de escolha foram abranger professores de diferentes áreas disciplinares e incluir a professora responsável pelo Projeto de Saúde Escolar. O objetivo deste encontro era obter e partilhar informação relacionada com experiências, opiniões, atitudes e perspetivas dos professores acerca dos seus estudantes para assim se conseguirem gerar novos entendimentos e novo conhecimento sobre as questões relevantes para apreciação.

Passámos então à definição dos tópicos da entrevista, ou seja, à construção das questões a colocar e elencámos uma questão geral ‘Deste primeiro estudo resultaram os dados que passamos a apresentar (…). Que comentários estes resultados vos suscitam?’. A partir desta questão mais genérica prevíamos a colocação de mais duas questões ‘Na vossa opinião, quais as dificuldades ao nível das competências sociais que os vossos estudantes apresentam?’ e ‘Na transição para o Ensino Superior, quais as competências que consideram essenciais para que os estudantes sejam bem- sucedidos?’ A preparação do focus group decorreu em Dezembro de 2009 e de acordo com a disponibilidade dos intervenientes o encontro ficou agendado para dia 5 de Janeiro de 2010, às 10h, com uma previsão de duração de 1h, na sala de professores da escola. Chegado o dia 5 de Janeiro, apenas três pessoas compareceram ao encontro, nomeadamente, a investigadora, a professora de referência (professora de Português) e uma professora de Química. Por uma questão de respeito e consideração decidimos prosseguir com a discussão, uma vez que as professoras assim o esperavam, cientes no entanto de que este encontro não se pode considerar um focus grup e cuja informação apresentamos sem ter realizado qualquer tipo de análise. Apresentados os dados e colocada a questão geral (‘Que comentários estes resultados vos suscitam?’) as professoras referiram que se nota uma grande imaturidade nos estudantes e que esta imaturidade é maior de ano para ano. Uma explicação possível poderá ser a existência de grande proteção familiar, o tipo de vivências com a família, com os amigos e com a própria escola podem também contribuir para que esse desenvolvimento não se faça num momento mais precoce. Também os currículos académicos, do primeiro ao terceiro ciclo, foram apontados como um fator dificultador, pois na opinião das professoras não preparam os estudantes para o pensamento crítico, para a tomada de decisão e também não fomentam uma tomada de posição sobre aspetos da vida de todos os dias. Consideram que os estudantes não estão habituados a pensar, a ter uma opinião e a

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expressá-la de forma correta, a tomar posições, a fazer escolhas, opções. Revelam muita dificuldade na interpretação escrita o que se transforma numa limitação ainda maior quando se trata de refletir criticamente o que se leu. Por outro lado, os valores éticos de cidadania, ajuda, solidariedade e cooperação não estão ainda desenvolvidos como o esperado. Os estudantes revelam ser, de um modo geral, egoístas e muito competitivos, essencialmente pelo desempenho escolar e com as notas/classificação.

Relativamente à segunda questão (‘Na vossa opinião, quais as dificuldades ao nível das competências sociais que os vossos estudantes apresentam?’) foi referido que os estudantes têm muita dificuldade em integrar os colegas que chegam de novo à turma, quando são decorridas já algumas semanas desde o início do ano letivo. Aspetos relacionados com a agressividade verbal e/ou física não se têm verificado com estes estudantes no entanto nota-se uma quase incapacidade em descriminar corretamente o comportamento não verbal dos colegas, a capacidade de empatia está muitas vezes afetada por essa razão, olham mais para si próprios do que para os colegas, nota-se uma competição forte entre eles. A principal razão invocada pelas professoras para as dificuldades nas competências sociais dos estudantes foi essencialmente uma grande imaturidade presente nos estudantes desta faixa etária.

Apesar de não termos realizado a análise desta informação, dadas as circunstâncias de contexto, entendemos importante referir que, para o tipo de intervenção que nos propomos realizar, outras fontes de informação, que não apenas o próprio estudante são relevantes e complementares para validar a perceção sobre o que é dito e o que realmente acontece em interação social.