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Capítulo 2 – Competências sociais essenciais para relações interpessoais

3. Cooperação

Nas últimas décadas têm-se verificado mudanças a vários níveis, quer se trate da comunicação, da informação, das tecnologias, dos negócios ou do ensino/aprendizagem quer se trate do potencial saudável das pessoas. E cada vez mais assistimos à substituição do individual pelo coletivo, num sentido mais construtivista, criativo e inovador o que permite uma visão mais cooperativa e de colaboração entre todos. A cooperação enquanto competência social pode ser definida como “a capacidade de operacionalizar conhecimentos, atitudes e habilidades no sentido de agir em conjunto, com vista à realização de um fim comum, maximizando as potencialidades de cada indivíduo de forma durável e equilibrada” (Jardim & Pereira, 2006, p.133). Algumas das habilidades inerentes à cooperação são atitudes de ajuda, de partilha e de compromisso, o respeito pelas regras e normas, a mediação e resolução de conflitos, expressar apoio ou solidariedade e a coordenação de um grupo.

Entendemos estar subjacente à cooperação um crescimento individual através do trabalho de grupo que pressupõe motivação interna, pró-atividade e interatividade num conjunto de relações positivas. Assim, tornam-se imprescindíveis condições que promovam o trabalho cooperativo e que podem ser: o conhecimento de todos os elementos do grupo ente si, a existência de objetivos comuns, ter um sentido de coesão e pertença, a dimensão e composição do grupo, o tipo de atividades a desenvolver (terem mais do que uma solução, serem interessantes e desafiadoras, permitirem a utilização de múltiplos recursos e de diversas competências). Os participantes devem ter uma relação baseada na igualdade, sendo no entanto capazes de assumirem gradualmente o desempenho de determinados papéis no grupo. Relativamente aos papéis desempenhados no grupo importa dizer que trabalhar com diferentes pessoas que apresentam ideias diversas pode constituir um desafio e enriquecer bastante o produto final do trabalho. Existem formas de tirar partido das qualidades dos vários elementos, estruturando o funcionamento do grupo pela atribuição de diferentes papéis. Esta atribuição pode ser baseada nas caraterísticas pessoais ou então ser uma atribuição rotativa de modo a aumentar a compreensão que cada pessoa tem de si própria e dos papéis que desempenha no grupo. Existem quatro papéis de base e, como encontrámos na literatura, várias designações para cada um deles (Cégep, 2001; Jardim & Pereira, 2006; www.esec.pt/opdes) tentámos agregá-los de forma a fazer sentido e ser facilitador na sua compreensão. São eles: o líder/facilitador; o árbitro/moderador/animador; o secretário/porta-voz e o gestor de recursos/intendente. Passamos a referir as suas principais caraterísticas.

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Líder/Facilitador

- Dá início às reuniões e clarifica os objetivos do grupo;

- Ajuda a elencar um conjunto de tópicos para a elaboração do plano de trabalho;

- Certifica-se de que todos entendem o que se espera do trabalho e dá voz ao grupo para que todos se possam expressar;

-Mantém os elementos focados nas tarefas a desenvolver.

Árbitro/Moderador/Animador

- Observa o funcionamento do grupo;

- Regula as interações e elogia os elementos pelo trabalho conseguido; - Certifica-se que todos estão a participar;

- Favorece o consenso no plano da discussão;

- Explicita as ideias emergentes e é unificador quando surgem controvérsias; - Dirige a discussão através da argumentação e propõe formas de resolução.

Secretário/Porta-voz

- Distribui o resumo de cada reunião a todos os elementos;

- Tira notas durante as reuniões, escreve as ideias principais e as decisões tomadas; - Faz o resumo das discussões;

- Controla o tempo durante o trabalho de grupo, quer seja relativo à discussão de um tópico quer seja relativo à duração da sessão.

O gestor de recursos/intendente

- Providencia os recursos materiais necessários; - Facilita o acesso pela distribuição dos mesmos; - Faz contatos, sempre que seja preciso;

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O trabalho cooperativo promove e facilita o desenvolvimento de competências fundamentais (como a liderança, a comunicação interpessoal, a tomada de decisão, a resolução de problemas) que num contexto mais restrito como o de grupo, permite aos seus elementos tentar solucionar as suas próprias dificuldades de modo socialmente aceitável, bem como a gestão de conflitos por fomentar o crescimento do grupo tornando- o mais forte. Os ganhos/produtividade do grupo, o desenvolvimento das relações interpessoais e um desenvolvimento mais global dos participantes são algumas das vantagens do trabalho de grupo cooperativo (Jardim & Pereira, 2006; Lopes, Rutherford, Cruz, Mathur & Quinn, 2006). Outros autores consideram também a importância de determinados elementos-chave numa situação de aprendizagem de forma colaborativa ou cooperativa, nomeadamente as competências de trabalho em equipa; a negociação (como o oposto da imposição de determinada tarefa ou opinião, negociar significa argumentar, defender, convencer); a interdependência e interação positiva (corresponde ao fato de os elementos do grupo saberem que se não colaborarem em conjunto para um fim comum não serão bem sucedidos, é necessário uma coordenação de esforços e perceber que o desempenho de um afeta/depende do desempenho de todos e vice- versa); a autorregulação do grupo (tem a ver com uma autoavaliação que pode ser feita por uma reflexão regular sobre como o grupo está a funcionar, se é necessário modificar algo e quais as modificações a fazer) e a responsabilidade individual (Dillenbourg, 1999; Johnson & Johnson, 1994; Johnson, Johnson & Smith, 1991; Millis, 2002 citados em Silva, 2008).

A cooperação fundamenta-se na aprendizagem cooperativa tendo esta a sua origem basicamente em três teorias, que de acordo com a perspetiva de Johnson, Johnson e Smith (1998) podem ser resumidas de seguinte forma:

- A Teoria da Interdependência Social com Kurt Koffka (1886-1941) nos anos 20 do século XX defendia a visão do grupo como um todo dinâmico, numa perspetiva sistémica, no qual existe variação na relação de interdependência dos seus membros. Isto é, se se verificar uma mudança nas condições de um dos seus membros ir-se-ão verificar também mudanças nas condições dos outros membros. Nesta perspetiva, Kurt Lewin (1890- 1947), entendeu que a formação do grupo se fundamenta no consenso das relações interpessoais, ou seja, no aceitar dos objetivos comuns e na forma de os alcançar construindo assim uma solidariedade grupal. Um dos estudantes de Lewin, Morton Deutch, considerou que a interdependência pode resultar em cooperação, se for positiva; em competição, se for negativa; ou em esforços individualistas no caso de não existir.

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Nesta teoria existe uma motivação intrínseca, baseada em fatores interpessoais e uma motivação comum, que visa em conjunto, alcançar um propósito significativo.

- A Teoria Cognitivo-Evolutiva a qual contempla as ideias de Piaget (1896-1980) e de Vygotsky (1896-1934), defendia que o trabalho cooperativo levava ao desenvolvimento cognitivo e intelectual pelo esforço cooperativo para aprender, compreender e resolver problemas, aspetos fundamentais na construção do conhecimento.

- A Teoria da Aprendizagem Comportamental cujos pressupostos são de que os elementos de um grupo trabalharão com empenho, vontade e interesse se as tarefas contemplarem algum tipo de recompensa. O trabalho desenvolve-se quer pelo reforço (Skiner) quer pela imitação (Bandura). Deve-se à existência de incentivos externos, motivação extrínseca, que estimulem o esforço do grupo.

Os estudos revelam que a cooperação e a aprendizagem cooperativa apresentam vantagens comparativamente com a aprendizagem individual, a vários níveis, nomeadamente, na resolução de situações problema, na mediação de conflitos, na aquisição e consolidação de conhecimentos e no desenvolvimento de competências pessoais, comunicacionais, sociais e tecnológicas (Abreu & Loureiro, 2007; Carvalho & César, 2001; Duch, Groh & Allen, 2001; Hmelo-Silver, 2004). No que respeita ao trabalho de grupo cooperativo, apresentam-se alguns resultados relativos à utilização de métodos de dinâmica de grupo na melhoria do relacionamento interpessoal e reciprocidade social entre pares (Bianchini & Oliveira, 2008).

Para que os elementos de um grupo consigam trabalhar de forma cooperativa não basta juntá-los, há que saber ensiná-los a estar em grupo. É preciso saber o que se espera do grupo, quais os papéis a desempenhar, os objetivos, as estratégias de interação para que essa interdependência resulte em crescimento individual e do grupo, responsável e positiva. Expressar apoio e solidariedade, respeitar regras e diretrizes e partilhar materiais são também comportamentos/habilidades considerados fundamentais (Gresham & Elliot, 1990). Por tudo isto entendemos a Cooperação como uma competência essencial a ser incluída num programa de treino com adolescentes.

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