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CAPÍTULO 4 – AS VARIÁVEIS E SEU POTENCIAL DECISÓRIO EM UMA

4.5 A ESCOLA E OS EDUCADORES COMO FORMADORES DE OPINIÃO

Não é de hoje que o ambiente escolar é local onde se formam opiniões, onde desenvolvem-se interesses, onde se politiza e também onde se influenciam pessoas. Desde os primórdios da colonização, o trabalho desenvolvido por educadores, como os jesuítas na tentativa de catequização dos índios, foi importantíssimo.

A presença dos educadores na vida das pessoas é marcante, pois sempre os professores acabam por deixar suas marcas sobre a formação da personalidade, comportamentos e ideologias dos alunos. Leva-se muita bagagem daqueles que educam, cujas marcas poderão permanecer durante toda a trajetória de vida de uma pessoa.

Depois da família, a escola pode ser o veículo de maior influência na vida de uma pessoa, pois será no ambiente escolar que os estudantes passarão grande parte de sua existência. Primeiramente cumprindo os anos destinados ao ensino fundamental, depois no ensino médio. Para uma fatia menor da população os estudos continuam através de uma faculdade, e para um universo infinitamente menor, a trajetória se estende para dentro das salas de pós- graduação.

Dentro de toda esta caminhada pelas salas de aula é que serão formulados pensamentos diversos, onde o conhecimento e as visões de mundo serão ampliados, onde opiniões e ideologias se modificarão e ganharão corpo.

Portanto, a influência e o controle educacional sobre o comportamento humano é algo que é muito explorado e comentado por cientistas políticos, cientistas sociais, políticos, antropólogos e pela mídia em geral.

A educação desperta ações e atitudes comportamentais em todas as esferas da sociedade e não seria diferente dentro da esfera política também. A escola tem poder de influenciar e moldar o comportamento político dos atores sociais, tal como afirma Moisés:

A educação é elemento absolutamente crucial para a qualificação das atitudes políticas dos brasileiros, ou seja, sintetizando diferenças reveladas por outras

variáveis estruturais, a educação demarca uma linha divisória clara entre aqueles que, por um lado, se sentem subjetivamente motivados a participar da vida política (os que têm o segundo grau completo e nível superior) e, por outro, os que estão alheios a ela (os sem instrução ou os que conseguiram chegar, somente, até o fim do primeiro grau); ao mesmo tempo, a educação também se mostra um qualificativo importante para os que se revelam, de alguma forma, capazes de avaliar criticamente o funcionamento das instituições e a capacidade dos governos em entender as demandas dos cidadãos. Neste caso estão os que completaram um dos três níveis do sistema educacional em contraposição aos “acríticos”, isto é, os sem instrução ou que não completaram o primeiro grau”. (MOISÉS, 1995, p.214-215)

É no momento da aula, através da educação verbal, que alguns professores aproveitam para manifestar suas opiniões a respeito de fatos relacionados à economia, à sociedade e à política e muitas vezes ao defender seus pontos de vista fazem eclodir suas influências mesmo sem intenção.119

Dentro do contexto político, a influência da educação pode ser tanto positiva como negativa. A face negativa aparece principalmente através daqueles professores que são vinculados ao governo municipal, estadual ou federal.

Para Skinner,120 “as técnicas educacionais no campo do governo são mais conspicuamente representadas pela propaganda, em que as variáveis são manipuladas visando a um efeito encoberto ou disfarçado.”

Além do uso da publicidade, os professores e alunos de escolas públicas, principalmente as municipais, devido à proximidade com os dirigentes locais, sofrem com a tentativa de manipulação durante o período eleitoral. Existem casos de distribuição massiva de material escolar e de uniformes, também de políticos prometendo aos professores aumentos salariais e um plano de carreira em troca do apoio político dentro das salas de aula.

119

Skinner (1998, p.445-447) salienta que o orador pode ter inúmeros efeitos sobre o ouvinte e seu comportamento. O autor posteriormente afirma que o colégio mantido por uma agência religiosa se empenha em uma instrução apropriada e não deve se estabelecer um comportamento que se oponha a esses interesses Ao mesmo tempo em que as escolas sustentadas pelo governo podem ser levadas a aplicar suas técnicas educacionais em favor do governo e são instruídas a evitar qualquer educação que entre em conflito com as técnicas governamentais de controle ou que ameacem as fontes do poder governamental.

120

Partindo dessas constatações, percebe-se facilmente que política e educação mantêm uma relação de proximidade, e a educação tanto pode ser usada para o bem como para o mal, pode politizar ou até despolitizar. É capaz de despertar a consciência ou a apatia, de passar informações deturpadas ou verídicas.

Para Dimenstein (1994, p.24),

[...] em qualquer lugar do mundo, quanto mais educada e informada é a população de um país, menos pobreza e menos manipulação existem. Conhecendo seus direitos, as pessoas cobram, exigem, gritam, pressionam, debatem e discordam. Encontram soluções.

A escola instrui, forma comportamentos, ideologias e opiniões. Ela é uma arma muito poderosa, um grande trunfo que o Estado tenta sempre ter sob seu controle, a fim de salvaguardar seus próprios interesses.

Confirmando essa perspectiva, Skinner (1998, p.378), em relação a governo e educação, coloca:

A educação dá ênfase à aquisição do comportamento em lugar de sua manutenção. Onde o controle religioso, governamental e econômico preocupa-se com tornar mais prováveis certos tipos de comportamento, o reforço educacional simplesmente faz certas formas prováveis em determinadas circunstâncias.

A manipulação de determinadas variáveis dentro do sistema social, econômico e político por parte dos governantes é capaz de alterar o comportamento dos cidadãos (os governados). A educação está também inserida dentro dessas variáveis e é usada como um meio eficiente de formar opiniões e influenciar eleitores.

Assim como algumas escolas mantêm relações com a política, outras não se subordinam ao Estado e aos governos e conseguem cumprir o verdadeiro papel da educação que é instruir, politizar, motivar a criatividade, a leitura, a cultura e o interesse por assuntos diversos, inclusive as discussões políticas, fazendo tudo isso de forma construtiva e com o verdadeiro objetivo de formar cidadãos conscientes.

O papel da educação é fundamental para modificar o comportamento de alienação, desinteresse e apatia. Aliás, a instrução e a conscientização a partir da educação é o principal caminho para se tentar modificar comportamentos e criar um novo modelo de cidadão atuante, participativo, interessado e responsável pelos assuntos ligados ao seu país, como é o caso das eleições.

4.6 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA E DOS AMIGOS NO PROCESSO DE DECISÃO