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CAPÍTULO 2 – A REDEMOCRATIZAÇÃO DE 1988 NO BRASIL E AS

2.5 A MODERNIDADE E O CONTEXTO POLÍTICO BRASILEIRO: A

2.5.3 Modernização Política

A nossa modernização teria de satisfazer as demandas políticas e sociais, mas vemos hoje que isso não se realiza, o que gera o desencanto e o conseqüente afastamento dos cidadãos da esfera pública.

A respeito de modernização política, o autor José Álvaro Moisés (1995, p.67) nos dá sua contribuição dizendo:

A modernização deveria dar conta de operar suas funções e sua estrutura política, de modo que o sistema político pudesse dar conta satisfatoriamente das demandas por representação e por políticas concretas. Os efeitos da modernização econômica e social que, acelera demasiadamente o ritmo das mudanças por que passa a sociedade, gera expectativas que o sistema político dificilmente consegue satisfazer; as conseqüências da combinação desse fato com a ausência de instituições políticas suficientemente desenvolvidas para processar a complexidade dos conflitos e das demandas resultantes das mudanças. Ou seja, ao não serem capazes de preencher os vazios resultantes das mudanças induzidas pela modernização, os sistemas políticos geram as condições de suas próprias crises de instabilidade; por isso um dos remédios mais importantes para essa situação é a “institucionalização” para que o sistema político possa captar de modo mais eficaz as demandas da sociedade.

A conseqüência de não havermos tido uma base liberal na condução da dinâmica da nossa história, fragilizou aspectos básicos da sociedade brasileira, como a organização econômica e social, acarretando maiores dificuldades em todo o contexto que norteia o comportamento dos atores sociais.

Assim, temos uma missão difícil e urgente na condução do destino histórico da nação. Mudanças de várias ordens, do comportamento ideológico e político de todos, maior acesso à educação e às informações de qualidade, para que em consenso possamos solucionar os problemas nacionais.

Portanto, pensar o contexto político via modernidade é lembrar a ruptura com o regime militar, a conquista do sufrágio universal, o florescer da nossa liberdade, da autonomia, da emancipação e de podermos pensar, debater e até modificar certos valores políticos. Além disso, como cidadãos que somos devemos ser mais conscientes, politizados e interessados pela esfera pública que também nos pertence.

2.6 A DEMOCRACIA BRASILEIRA EM 2006

Neste ano de 2006 o Brasil completa dezoito anos de conquista da atual democracia,82 instituída como forma de governo a partir da legitimação da Constituição de 1988. Uma

82

Dentro deste trabalho foi comentado apenas o período democrático que estamos vivendo atualmente, porque é o mais próximo da realidade e do contexto histórico em que estamos inseridos.

democracia que é o resultado de anos de luta de toda a sociedade brasileira, de união, mobilização por maior autonomia, por liberdade, justiça, uma maior igualdade e principalmente dignidade da pessoa humana.

Durante os primeiros dez anos, crises econômicas, políticas e sociais conturbaram o contexto nacional, além do que a desigualdade se acentua e o processo de concentração de renda nas mãos de poucos não consegue ser revertido ou ao menos minimizado. O poder aquisitivo da população continua o mesmo, não possibilitando melhorias reais no padrão de vida.

Apesar de termos passado por crises econômicas graves com altas inflações e taxas de juro exorbitantes, de escândalos envolvendo políticos em esquemas de desvio de dinheiro público, da manipulação do painel do Senado e pela não solução de inúmeras questões sociais como a fome e o desemprego, a democracia ainda assim permanece fortalecida, onipresente, de forma que não se ouviu cogitar em nenhum momento o retorno do autoritarismo como solução para essas questões pendentes.

Quando observamos experiências democráticas que se mostram bem sucedidas, elas mostram-se dependentes da eficiência em produzir bens materiais e do reconhecimento maior possível por parte da sociedade na democracia como regime ideal e necessário para o bem coletivo.

Apesar de o país não dar conta de atender as demandas materiais, não podemos dizer que a democracia não se concretiza, pois há um consenso em sua aceitação.

A grande maioria tem consciência de que a democracia é o melhor caminho, mas ao mesmo tempo também têm a consciência que está cada dia mais complicado sobreviver e principalmente confiar nos políticos que diariamente põem em prática comportamentos “privatistas”83 e nos governos que estão servindo de morada para esses políticos.

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O comportamento “privatista” que personifica alguns políticos é denominado assim, por confundir a esfera pública com a privada, ou não saber traçar uma linha divisória que seja capaz de separar essas duas esferas.

Para José Álvaro Moisés (1995, p.190), “[...] o mal-estar generalizado com a “inefetividade” dos governos democráticos e a desconfiança diante de políticos e de algumas instituições políticas tem coexistido, no Brasil e em outros países da América Latina.”

O perigo encontra-se justamente nesse ponto do mal-estar, da desconfiança, do desencanto, pois esses sentimentos gerados no povo brasileiro nos dias de hoje talvez ainda não sejam suficientes para desejar a quebra de vínculo com a democracia. Mas até quando? Será que a democracia, da forma como está se apresentando, ficará intacta eternamente? Será que consegue ser inabalável? Até quando essa inefetividade vai permanecer sem provocar reações de rejeição por parte da população brasileira?

Apesar de termos uma “reserva” de legitimidade democrática, as questões acima revelam-se preocupantes a longo prazo, pois que exigem a garantia da adesão e da concretização dessa legitimidade que, se mais fragilizada, pode perder força e abrir espaço novamente para o latente autoritarismo.

Por isso é importante conservarmos a imagem de que a democracia ainda é a melhor opção, antes que as futuras gerações, que nunca experimentaram os regimes totalitários e desconhecem os seus reais malefícios, procurem neles a solução para os problemas de amanhã.