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CAPÍTULO 4 – AS VARIÁVEIS E SEU POTENCIAL DECISÓRIO EM UMA

4.4 A INFLUÊNCIA E A IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO

É principalmente através da religião que se tenta manter e promover a paz entre os homens e cultivar a esperança de um mundo melhor, de uma vida melhor.

O papel da religião e sua influência na história brasileira datam também do período da colonização, através dos jesuítas, com a introdução da religião católica e das primeiras capelas e igrejas entre os povos nativos.

Atualmente o mundo é bem menos sacralizado que antigamente, no entanto, não se pode banalizar a importância e a influência da religião dentro dos processos políticos.

É o que se tem chamado de “evangelização eleitoreira”,116 pela qual as pessoas são procuradas, auxiliadas, através de um trabalho assistencialista, e acabam engajadas em instituições religiosas que prometem além de melhorias de vida, um lugar cativo no céu.

Este trabalho desenvolvido por várias instituições religiosas com a finalidade de arrebanhar cada vez mais fiéis em suas igrejas, tem-se mostrado positivo, visto que o discurso usado por eles é forte o suficiente para ser capaz de fazer com que pessoas sintam-se amparadas e de fato protegidas. Esse discurso sacode a consciência e a compreensão que elas passam a ter sobre si mesmas e assim o comportamento muitas vezes muda pela influência dessa oratória bem feita, carregada de frases prontas.

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O termo foi retirado de um fórum de debates na internet dentro do portal da “Aol” que tratava sobre o tema “Política e Religião,” e foi escrito por um internauta chamado Junior. O autor fala sobre a expansão das igrejas evangélicas no Brasil e esse alastramento para dentro da esfera pública e complementa que essas instituições religiosas aproveitam-se da inocência e da necessidade dos menos abastados e conclui que: “o eleitorado mais pobre está tomando religião com política na veia.”

Como explica Berelson (1971, p.52), as ciências do comportamento geralmente definem a religião como uma relação do homem com o sobrenatural.

[...] é algo superempírico que a sociedade considera como sagrado ou santo e que requer ou envolve adoração.[...] Todas as sociedades humanas possuem religião, os indivíduos podem até dispensá-la mas as sociedades não. Na medida em que parece ser inerente ao comportamento humano o sobrenatural é tão válido quanto o natural ou o humano, e os homens aparentemente entraram em entendimento com os três. E precisamente por estar investida de uma sanção sagrada, a religião é uma força extremamente poderosa em qualquer sociedade.

Através de estudos históricos percebe-se claramente o intervencionismo da igreja nos assuntos referentes à política e também o domínio que ela exercia entre as pessoas que temiam ser castigadas, caso não se conduzissem conforme os preceitos pregados.

Num período, em que o mundo era bem mais mistificado e sacralizado, a influência e o poder da igreja eram de grande importância para todos os assuntos, inclusive os de fora do campo religioso, com propósitos diferentes, como os políticos.

Na vida moderna a atuação e poder da igreja são menores que antigamente, mas ela continua ocupando espaço, ganhando adeptos e influenciando pessoas. Prova disso são as inúmeras igrejas evangélicas que têm se espalhado pelo mundo afora e, especialmente no Brasil, bem como o número de pastores que ocupam cargos políticos.

Nessa perspectiva, é oportuna a colocação da antropóloga Regina Novaes apud Filho (2005):

Com a globalização, maior acesso à informação, à tecnologia e a respostas científicas para antigos mistérios divinos, era de se esperar que o mundo se distanciasse da religião. Mas não é o que acontece. As pessoas buscam mais o sentido da vida e esse é um caminho natural para a religiosidade. Outro fator explica mais nitidamente o poder de atração das igrejas evangélicas, sobre os setores mais carentes da população: a auto-ajuda e a congregação social. É a chave dos pentecostais. Os evangélicos falam da vida real e de solução para problemas cotidianos, enquanto que o catolicismo remete a salvação para depois da morte. É muito importante, também o atendimento personalizado. A pregação pentecostal individualiza os fiéis: “Você é o escolhido por Deus.”

Atualmente

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uando se tem a oportunidade de acompanhar os inúmeros programas de igrejas existentes no rádio e na televisão percebe-se que elas não mais ameaçam seus fiéis de irem para o inferno, de não habitarem o paraíso. A tática para conseguir obediência, crença e fidelidade é mostrar fatos que acontecem no mundo real para justificar uma possível penitência de Deus. Geralmente mostram pessoas que perderam o emprego e voltaram a trabalhar, que têm problemas de dependência química, doentes que se reabilitam em pouco tempo após freqüentar a igreja. Mostra a reestruturação, a solução de problemas do mundo real que antes acometiam a vida dessas pessoas.

Para Skinner (1998, p.383),

O controle que define uma agência religiosa no sentido mais restrito se deriva de uma apregoada conexão com o sobrenatural, através da qual a agência arranja ou altera certas contingências que acarretam boa ou má sorte no futuro imediato, ou benção eterna ou danação na vida por vir.

A igreja, como promotora da paz e fiscalizadora da conduta de seus fiéis, pode ajudar o governo a influenciar em assuntos como a violência familiar, através da proibição de ingestão de bebidas alcoólicas, e o desarmamento.

Portanto, em muitos momentos o papel da igreja é importante para quem governa, pois ela é uma forma de o controle eficaz sobre a população, sua conduta e opiniões. Ela tem condições de manipular algumas questões seguindo procedimentos ditados pelo grupo político.

As presas mais fáceis de serem manipuladas, geralmente são as classes sociais menos abastadas, destituídas de qualidade de vida e educação. Pessoas com baixo nível de instrução têm uma maior probabilidade de se engajarem nas religiões salvacionistas.

Segundo Berelson117 (1971, p.55),

Presumidamente as religiões atraem os necessitados porque prometem recompensas em outros mundos que suavizarão as agruras deste. Quanto mais religioso for o membro da igreja, mais ele pensará que a mesma deve se ocupar da salvação das almas.

É dentro dessa perspectiva que a igreja atua, arrebanhando cada vez mais as pessoas que vivem dentro do reino da necessidade. Não se pode, entretanto, generalizar, pois a religião é capaz de exercer sua influência em todas as classes sociais, em maior ou em menor grau, julgando o bem o e mal.

A esse respeito interessante se faz a explanação de Ozaí (2005):

A política não pode prescindir da moral. Em outras palavras, por mais laico que seja o Estado, os políticos também serão avaliados pelos valores fundados em preceitos morais e religiosos. Sua sabedoria consiste em saber usar isto a seu favor e contra os seus adversários. Assim, é cada vez mais comum a presença da linguagem religiosa no discurso político. Mas se temos algo a aprender com a história é precisamente o fato de que o mundo dividido entre o bem e o mal é uma ilusão. É certo, que esta é uma estratégia eficiente para o arrebanhamento de prosélitos,118 mas é ineficiente para os que almejam compreender a realidade política e social para além do bem e do mal. Afinal, o mal e o bem é inerente ao humano, seja ele político ou profeta!

É dessa forma que a igreja exerce a influência e o controle sobre seus fiéis. Influência que se expande para o ambiente político, pela capacidade de manipular politicamente toda a sua carteira de fiéis. Prova disso é que a cada dia mais pastores e padres adentram ao universo da política.

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Berelson, ainda explana que, tornou-se claro que a religião, de muitas maneiras, influencia constantemente a vida cotidiana da população. Mais do que isso, que através do seu impacto, a religião impressiona também todos os outros sistemas institucionais da comunidade dos quais esses indivíduos participam. E que, portanto, a influência religiosa se manifesta em nível social tanto quanto em nível pessoal.

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