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CAPÍTULO 1 – CULTURA POLÍTICA E PROCESSOS ELEITORAIS: O

1.3 A ESTRUTURA BRASILEIRA FORMADA DENTRO DO PERÍODO

1.3.6 A Independência e o Problema da Dívida Externa Brasileira

A Independência ensejaria transformações dentro da nossa sociedade, principalmente com a influência do mercado internacional capitalista dentro da estrutura econômica.

O que acontece é que a sociedade colonial não poderia modificar-se radicalmente, de uma hora para outra, de forma muito acelerada, num outro modelo completamente antagônico ao que foi durante muito tempo. Por isso, havia uma necessidade de mudanças no sentido evolutivo, e isto ocorreria através de acontecimentos históricos, entre os quais a Independência seria apenas a primeira. Foi o marco inicial, o ponto de partida para a evolução e construção da integração nacional e o início da implementação do sistema capitalista. Após a Independência, vieram outros movimentos importantes que também possuíam características emancipatórias, como a Conjuração Baiana e a Inconfidência Mineira.

Juntamente com essa revolução emancipatória, aparecia também uma revolução ideológica em que as pessoas começam a partilhar de princípios denominados como liberais, a partir dos quais surgiam questões relacionadas aos direitos fundamentais, naturais, assim como garantias individuais, justiça e progresso, não somente econômico mas, sobretudo, um progresso ideológico. A Independência irá rever essas questões, principalmente a questão do liberalismo.

Em termos econômicos, a Independência de certa forma também vai exercer sua influência. Ela transfere aos poucos o núcleo central da economia, que era basicamente rural,

para um núcleo urbano, a partir da concentração do mercado interno e não somente voltado ao exterior como era no período colonial. Aos poucos, o foco da economia vai se alterando gradativamente para o novo setor comercial que surge, e com ele emerge também uma sociedade de classes.

Fernandes (1976, p.204) descreve esse período de transição do período colonial para o subseqüente passando pela Independência como:

[...] um período constituído por um tom cinzento e morno, um todo vacilante, e uma frouxidão com que o país se entrega, mesmo com a ausência de profundas transformações iniciais em extensão e em profundidade, ao que ele chamou de Império do poder e da dominação, especificamente nascidos do dinheiro.

Práticas e comportamentos particularistas continuavam a prevalecer no cenário pós Independência, assim como um conservantismo sócio-cultural e político, que gira em torno de interesses materiais e pela necessidade de se expandirem negócios. Era a luta dos possuidores e dos despossuídos - a luta de classes.

E, neste sentido, Florestan Fernandes continua:

Havia agora a coexistência de duas nações, a que se incorporava a ordem civil (a rala minoria, que realmente constituía uma nação de mais iguais) e a que estava dela excluída, de modo parcial ou total (a grande maioria, de quatro quintos ou mais, que constituía a nação real). (FERNANDES, 1976, p. 205-206).

Também data deste período da Independência o início da dívida externa brasileira. O país teve que fazer seu primeiro empréstimo em 1824 e desembolsar 3 milhões de libras esterlinas que foram emprestadas pela Inglaterra, a fim de cobrir dívidas deixadas pelo domínio colonial, e assim obter o reconhecimento e concretizar a nossa Independência, que pôde ser entendida como praticamente um acordo feito entre a Colônia e Portugal.

Apesar de ganharmos o título de independentes, não houve uma promoção de mudanças significativas no sistema sócio-econômico e político. Parece ter sido apenas um mero ato simbólico. O país na verdade continuaria a se submeter à metrópole e a manter o

regime monárquico tendo um herdeiro português no trono, o mesmo aliado e protetor dos latifundiários.26

Embora os custos da Independência terem sido uma grande dívida externa que se arrasta até os dias de hoje, ela teve um significado importante, pois representou a primeira revolução social do Brasil.27

Quando o Antigo Regime entra em crise, sob a pressão do capitalismo externo, a Independência foi determinante para o processo de superação do estatuto colonial e para a deterioração do sistema político-administrativo vigente, ou seja, a “era colonial” encerra-se com a Independência e, com ela também, todo o sistema político, administrativo e econômico. O Brasil teve que buscar uma reestruturação em todas as esferas, partindo da estaca zero e acompanhado por uma dívida externa de tamanho considerável.

Além de todos esses aspectos que são plenamente identificáveis dentro do contexto atual, ainda temos outros que também herdamos dos tempos de colônia como, por exemplo, o problema relacionado com a questão agrária decorrente do período pré-abolição.

26

Em BARBOSA RECCO, Cláudio. A Dívida Externa Brasileira. Disponível em: <http://www.história net.com.br/main/mostraconteudos.asp?conteúdo=211>. Acesso em: 24 set. 2003. É interessante como o autor também se reporta ao período colonial para buscar a gênese da nossa dívida externa, que tem nos acompanhado desde aquela época, mostrando que muitos dos problemas atuais, são antigos, provenientes daquele período de formação do país.

27

Florestan Fernandes em sua obra “A Revolução Burquesa no Brasil”, se refere a Independência como a primeira revolução social do Brasil, a qual ele designa de “Revolução Burguesa” e diz que a mesma acontece mesmo não tendo superado a ordem estamental, patrimonialista e escravista. Para ele mesmo havendo resistência desse contexto singular, o “espírito capitalista” e “empreendedor” desenvolvido na esfera do “capitalismo comercial”, ganhava relativa força no mundo urbano, estabelecendo articulações com o interior. A Independência representa em sua obra o fim da era colonial e o início da sociedade nacional. Essas explanações encontram-se contidas dentro do capítulo 2 do livro e se intitula como, “As implicações econômicas da Independência”.