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CAPÍTULO 3 – AS RELAÇÕES ENTRE ATORES SOCIAIS E POLÍTICOS

3.1 O COMPORTAMENTO DE POLÍTICOS E DE ATORES SOCIAIS DENTRO

3.1.2 Comportamento dos Atores Políticos

No capítulo dois deste trabalho, o qual versou sobre a atual redemocratização do Brasil, a partir de 1988, vimos que uma democracia desejável requer um tipo de comportamento cidadão tanto por parte de eleitores como da classe política.

Também já foi explanado que atualmente a grande maioria, senão a totalidade da classe política que aí está, mostra-se favorável à democracia como forma de governo, mas nem sempre esses políticos demonstram ter um comportamento com características democráticas que respeitem a liberdade e a autonomia do seu eleitorado.

Alguns atores políticos desejam exercer suas funções somente para usufruir os benefícios que o cargo lhes proporciona, vêem as pessoas carentes e sem instrução como presas fáceis de suas armadilhas. Aproveitam-se da inocência e da despolitização dessas pessoas para convencê-las de idéias absurdas e mentirosas. Fazem uso do poder que têm para impor aquilo que desejam e medem forças com os menos favorecidos. Agem de modo coercitivo, além de que ainda se amparam em instrumentos publicitários que permitem passar uma imagem ilusória, camuflando aquilo que realmente são, para atingir seu pretenso público alvo.

Assim nascem, a cada eleição, pequenos e grandes ditadores mascarados de democratas. Para além das delícias do poder, dos seus benefícios materiais, em cada um dos vencedores brota o sentimento de superioridade, o lampejo de se sentir divino, porquanto capaz de interferir e modificar a vida das pessoas, de decidir por elas, de pairar acima do vulgo, de privar de um olimpo reservado aos vitoriosos, todas essas necessidades imateriais, subjetivas, que, junto às materiais compelem certos homens a buscar o domínio e os transformam em classes dirigentes. No caso brasileiro, em que se fala tanto em autoritarismo, é bom lembrar que o subdesenvolvimento político ligado a fatores históricos, econômicos e sociais resultou até o momento na impossibilidade real do aparecimento não só de um sistema político democrático, mas também de atitudes democráticas por parte dos governos, assim como dos membros da sociedade em geral.

O autoritarismo no Brasil, camuflado de democracia, manifestado através do paternalismo e presente desde nossas origens coloniais, é legitimado através da aceitação popular, principalmente onde impera a pobreza absoluta.

Dentro deste contexto, os políticos usam como podem todos os meios disponíveis para atingir o seu eleitorado. Entre esses meios destacam-se os recursos financeiros disponibilizados pela máquina partidária e por empresários, uma boa equipe de publicitários que conte com certa influência junto aos meios de comunicação, aliados, aos dons carismáticos e à imagem do próprio candidato.

O início da trajetória de um político começa com o desafio de influenciar pessoas a votarem nele e, uma vez no poder, ele deve manter seu eleitorado fiel a ele.

Skinner (1998, p.366) corrobora isso destacando que:

[...] o indivíduo político deve induzir o grupo a atribuir-lhe poder governamental e, uma vez no cargo, deve manter contato com essa fonte. As técnicas empregadas por um indivíduo serão semelhantes àquelas empregadas por uma máquina política ou partido.

Dentro desta mesma perspectiva, Galbraith (1999, p.8) também faz suas colocações sobre o comportamento dos políticos. “O político procura o apoio, vale dizer a submissão dos eleitores para que possa permanecer no cargo.”

Em algumas páginas mais à frente, ele continua:

Aceita-se que o indivíduo aspire ao poder para impor seus valores morais sobre os outros, ou para dar impulso a um ideal de virtude social, ou para ganhar dinheiro. E,

como dissemos, é permissível disfarçar um objetivo com outro – o auto- enriquecimento pode ser escondido por detrás de grandes serviços à comunidade, intenções políticas sórdidas por detrás de uma apaixonada declaração de devoção ao bem público. (GALBRAITH, 1999, p. 10-11)

Os políticos têm acesso a algumas formas de controle pessoal como: contratos, promessas verbais, uso do poder financeiro e de prestígio para controlar e manipular os estímulos humanos. O grande problema é que futuramente descobre-se que as promessas são sem fundamento, os cheques eram sem fundo, o dinheiro ilícito e as bajulações, um mero interesse de momento.

3.1.2.1 Os Políticos e a Aptidão Mínima.

Como já foi elucidado acima, muitas pessoas se lançam em uma campanha política por vaidade, ambição, pelo prestígio de ocupar um cargo público que representa poder, influência e facilidades financeiras. Não é raro presenciarmos pessoas pedindo para serem votadas, almejando promoção pessoal, poder e dinheiro, quando deveriam viver para a política e não da política.

As pessoas, para ocuparem cargos públicos, deveriam fazê-lo por vocação, tendo ao menos um conhecimento funcional mínimo em relação à administração pública e ao sistema legislativo. Devem ser políticos por amor e vocação e não como salvação dos problemas pessoais e em busca de privilégios.

Outra questão que está em discussão no período eleitoral é com respeito a exigências que comprovem a aptidão dos candidatos para exercer um cargo público. Nas eleições de 2004, pudemos presenciar, na mídia, pessoas defendendo que poderiam apenas se lançar candidatos aqueles que já tivessem passado por uma Universidade, outros defendendo a criação de cursos preparatórios para candidatos a fim de eliminar a possibilidade de pessoas completamente despreparadas chegarem a assumir uma função política.

De fato essa preocupação é coerente, e o mínimo de aptidão deveria ser demonstrado pelos candidatos que estivessem pleiteando algum cargo político.

Nas eleições de 2004, em algumas cidades do Paraná, isso aconteceu: a exigência de prova em alguns municípios para que os candidatos se mostrassem aptos a exercer a função política de prefeito ou vereador. Essa medida foi tomada por alguns juízes eleitorais, a fim de que essas pessoas pudessem vir a representar, com o mínimo de preparo, o povo que os elegeu, para que conseguissem visualizar, com nitidez, o conjunto de problemas sociais e, ao mesmo tempo, propor ações convenientes ao interesse público e de forma bem elaborada.

Além do mínimo de preparo, o homem que almejar a carreira política deve trazer consigo valores morais e éticos, além de espírito público e qualidades como a sensibilidade, a responsabilidade e a honestidade.

Dalmo de Abreu Dallari (1984, p.58) defende o seguinte:

[...] para que uma candidatura seja um modo autentico de participação política é indispensável que o candidato esteja consciente de que o mandato é sinal de um compromisso, é o recebimento de um encargo e não de um prêmio, é o começo e não o fim de uma etapa de trabalho pelo bem comum.

Toda função pública deve ter como objetivo principal o bem-estar da coletividade e ter em mente que qualquer que seja a qualidade do exercício do cargo, ele irá influir de uma maneira ou de outra no funcionamento da sociedade de forma geral.

A prioridade é o comprometimento integral com o bem comum, pois o ato de governar, antes de qualquer outra coisa, é uma função social, é um compromisso previamente estabelecido com a sociedade.