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CAPÍTULO II DA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA

2.5 A escolha do modelo ideal de Previdência Social

Os sistemas de Previdência Social buscam, basicamente, proteger os seus beneficiários contra os riscos e as contingências sociais, com a concessão de benefícios constantes de sua malha, quando os meios de manutenção pessoal ou familiar cessam ou se reduzem. Noutra vertente, aliados a essa atividade fim por excelência, todos os sistemas de Previdência Social buscam o equilíbrio financeiro e orçamentário, essenciais à sua saúde e sobrevivência.

É importante entender que Previdência Social não é um instrumento de caridade, colocado à disposição de poucos, pois todo sistema social, juridicamente constituído, para atender a sua finalidade maior, exige que as contribuições ou cotizações sejam compulsórias, a fim de que as prestações possam contar com a devida liquidez, por ocasião do pagamento dos benefícios, a quem deles necessitar.

Por essa razão os benefícios devem ser eleitos, em face das necessidades de cobertura e atendimento que se pretenda proporcionar à sua clientela, fazendo-se mister, de forma imprescindível, conhecer sempre, e cada vez mais, os riscos sociais a que está exposta essa grande massa trabalhadora.

Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior afirmam que são vários os modelos de previdência, em conformidade com a população a ser atendida, na proteção dos

riscos sociais, “levando em consideração o seu cenário específico, cuja compreensão é

107 SINDOCEFTPR. Carta aos parlamentares paranaenses e seus respectivos e-mails. Disponível em:

essencial quando se deseja alterar de maneira responsável uma instituição do quilate da Previdência Social, profundamente relacionada com a estrutura de um Estado e as peculiares

condições sociais, econômicas e demográficas de uma sociedade.”108.

Assim, o modelo ideal de Previdência Social que se buscará sempre próximo da perfeição, será aquele que atenda amplamente as necessidades sociais do Homem, quando este se encontrar em situação adversa, quando, independentemente de sua exclusiva vontade, tornar-se impossível realizar a sua manutenção e a de seus dependentes, com o seu próprio labor. Por oportuno é de se perguntar: E quais seriam essas necessidades básicas do Homem a serem tuteladas pelo Estado?

As respostas, aparentemente simples, assumem, entretanto, aspectos muito complexos, como a ampla identificação da estrutura social, filosófica, fisiológica, cultural, profissional, realizadora, cotizadora, o envolvimento legal dos contribuintes com o sistema de Previdência Social, além de vários outros fatores, igualmente essenciais e de difícil entendimento, planejamento e solução.

O Homem necessita se proteger, na realidade, contra os riscos sociais, principal motivo de seu afastamento dos meios de manutenção, que são o trabalho e a remuneração, elementos fundamentais e responsáveis pela sua sobrevivência.

Assim, não há dúvidas de que os benefícios que deverão compor qualquer regime de Previdência Social devem ser escolhidos à vista dos riscos sociais neutralizadores da força de trabalho e, consequentemente, da manutenção financeira indispensável de que necessitam o segurado e seus dependentes.

Desse modo, nosso entendimento é de que o grande desafio e a grande conquista estão, antes, no aprimoramento, na politização e no desenvolvimento cultural do próprio Homem para se chegar a um sistema que, efetivamente trabalhe completando todas as suas dificuldades sociais. Assim colocada a questão, o sistema previdenciário eleito será decorrência. Para se atingir essa meta, torna-se essencial a sua evolução cultural, aliada à evolução da ciência que lhe é peculiar e particular, como forma de neutralizar os riscos, tornando, tanto quanto possível, o ser humano imunizado contra eles.

A evolução do sistema de previdência e a eleição das várias espécies de benefícios e serviços dependerão da evolução de um conjunto de circunstâncias e medidas, que se mostrarão presentes ou ausentes, nas escolhas feitas pelo Homem. Temos que ter em mente

108 ROCHA, Daniel Machado da; BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Comentários à Lei de Benefícios da

que os riscos sociais jamais deixarão de existir, por isso a tentativa de neutralizá-los será sempre uma busca incessante para o aprimoramento dos sistemas de proteção social.

Na atualidade, quase todos os sistemas de Previdência Social, no mundo, passam por reformulações, essenciais para ajustar os seus programas a uma realidade fática, entre elas o ajuste do equilíbrio financeiro e atuarial, em face do aumento da expectativa de sobrevida das pessoas em todos os quadrantes do planeta. As pessoas vivem mais tempo e, com isso, exigem maiores dispêndios dos sistemas de Previdência Social.

No caso do Brasil, precisam-se repensar com seriedade os efeitos que o benefício Aposentadoria por Tempo de Contribuição provoca nas contas da Previdência Social. Se por um lado o Estado brasileiro acena com mudanças restritivas, tanto no que reporta a postergar a concessão do benefício para uma época futura pela implementação de idade mínima e fórmulas mirabolantes (fator previdenciário), visando com isso reduzir os valores dos benefícios concedidos precocemente a fim de ajustá-lo a um orçamento quase sempre de difícil equilíbrio, por outro lado, os destinatários do benefício reagem contrariamente à imposição dessas regras, por entenderem que seus direitos individuais estão sendo ameaçados. Veremos adiante, em capítulo próprio, as alternativas de solução para minimizar os aspectos mais relevantes.

O mandamento universal em matéria previdenciária recomenda a adoção de uma política de mínimos e, dentro dessa política de mínimos, os Estados devem proporcionar aos seus beneficiários o máximo.

Essa política recomenda que esses Estados realizem um amplo estudo, sério e técnico, sobre o rol de seus benefícios, verificando se todos correspondem, efetivamente, àqueles vinculados aos riscos sociais, atendendo às necessidades sociais e fundamentais do Homem, proporcionando-lhe, tanto quanto possível, o máximo, a fim de que possa ser menor o impacto financeiro com a perda decorrente da obtenção do beneficio, quando comparado à renda do trabalho.

Tempos difíceis se nos apresentam de maneira a exigir isso e, tanto os países desenvolvidos quanto aqueles em vias de desenvolvimento, principalmente estes, terão que rever as suas legislações, com vistas a atualizá-las e adequá-las ao estritamente necessário e indispensável, sob pena de estarem caminhando, rapidamente, para o caos.

Uma política de mínimos, com a correspondente definição de possibilidades (custos x benefícios), parece-nos a busca a ser concretizada. Analisar os aspectos de sua rede de benefícios, confrontando-os com a realidade atual do Estado, do seu sistema e dos riscos sociais atuais, estabelecendo prioridades, eliminando supérfluos, parece-nos, igualmente,

atender às necessidades do Homem como destinatário da norma e do Estado, responsável pela gestão e pelo incremento desses programas.

A escolha do modelo ideal deve observar se os benefícios protegerão efetivamente os seus destinatários nas suas exigências mínimas, proporcionando-lhes, essencialmente, condições dignas de sobrevivência. O Estado não deve, assim, ser um mero redistribuidor de riqueza, tornando os ricos mais ricos e os pobres menos pobres. O rol desses benefícios não deve conter prestações ou disposições, que permitam ao segurado, em condições normais de vida, sobrevivência e trabalho, usufruir do sistema, pois outros efetivamente necessitados receberão pouco, ou nada, quando em situação social mais difícil, principalmente quando estiverem com a idade avançada.

Essa política social deverá ser dirigida, prioritária e fundamentalmente, para os aspectos da incapacidade laborativa, seja ela temporária ou definitiva, bem como para a proteção da idade avançada, cujos efeitos, em qualquer caso, reduzem ou provocam a perda da capacidade laborativa, intelectual e/ou psicológica, que leva fatalmente o Homem a deprimente estado de indignidade.

Afora esses critérios, o acréscimo de benefícios deverá ser motivo de melhor e maior análise técnica, admitindo-se nessa análise os aspectos e condições especiais do trabalho ligados à insalubridade, periculosidade e penosidade, que recomendem o afastamento do trabalhador do seu ofício, com menos tempo de trabalho ou menor idade, que o estabelecido para o tempo e a idade considerados comuns.

Há Estados (Dinamarca, Suécia, Suíça, Holanda, dentre outros) onde o sistema de Previdência Social atingiu um nível tal de desenvolvimento que as pessoas se sentem

efetivamente protegidas, enquanto em outros (Argentina, países africanos, etc.)109 teme-se

pelo futuro e pela garantia, sombrios às vezes, devido a incertezas sobre se haverá o mínimo indispensável para garantir os padrões de dignidade, quando os riscos neutralizarem a forma natural de manutenção pelo trabalho digno.

As razões das pessoas se preocuparem com o futuro são muito fortes, porque a perda da esperança de dias melhores e a certeza da falta da manutenção, por certo, passam muito longe da filosofia de qualquer sistema de amparo no mundo. Essas situações conduzem as pessoas diretamente ao estado de indignidade e humilhação, mas o objetivo permanente dos sistemas de Seguridade Social é o de evitá-las.

De todo o visto podemos concluir que, sob os pontos de vista conceitual e prático, o modelo de Previdência Social eleito no Brasil atende, pela sua estrutura e conceituação organizacional, aqueles que a ele se filiam, deixando como traço forte e importante o exercício do trabalho, fundamental para a existência da previdência social, a universalidade do atendimento da população (CF-1988-Art. 194-I). O seu caráter solidário de cobertura e atendimento e o pacto de gerações dão a necessária garantia de sobrevivência ao sistema.

Todo sistema de Previdência Social, além dos aspectos da paz, do bem-estar social e da redistribuição de riqueza, envolve, pela grandeza dos seus números, a Segurança Nacional. Vejamos na sequência como se estrutura a Previdência Social brasileira, em face dos seus riscos sociais, que são os fatores determinantes para a criação dos respectivos e correspondentes benefícios previdenciários.