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CAPÍTULO V A APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

5.4 Cálculo da renda mensal da aposentadoria por tempo de contribuição

A entrada em vigor da lei que criou o fator previdenciário, Lei nº. 9876/1999, alterou, indiretamente, a materialidade da regra matriz da ATC, exigindo tempo de contribuição e idades mínimas, retiradas em 1962, além de compatibilizar a renda do benefício com a expectativa de sobrevida do segurado, oficialmente informada em dezembro, pelo IBGE.

Conforme termos do art. 29 da Lei nº. 8.213/1991 e redação dada pela Lei nº. 9.876/ 1999 os critérios para cálculo da renda mensal da ATC levará em conta:

a) Tempo de Contribuição de 30 e 35 anos, para mulheres e homens, respectivamente; b) carência mínima de 180 meses de contribuição, sem perda da qualidade de

segurado, admitida se todos os requisitos tiverem sido preenchidos antes desta;

192 ROCHA Daniel Machado da; BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Comentários à lei de benefícios da

c) apuração do valor do salário de benefício correspondente à média aritmética simples de 80 por cento dos maiores salários de contribuição no período de julho/1994 (mês do lançamento do Plano Real), até a última competência exigível;

d) idade mínima de 48 anos para mulheres e 53 para homens, de conformidade com as

novas regras ou com qualquer idade, se implementadas as condições antes de 15/12/1998 ou, ainda, com as contribuições suplementares referidas no art. 9º da EC-20/1998, conforme já explicitado.

Obtido o valor do salário de benefício que se apura pela obtenção da média aritmética simples dos 80 por cento dos maiores salários de contribuição, corrigidos monetariamente, apurados de julho/1994 em diante, sobre o valor resultante que é a média, aplicar-se-á o índice correspondente ao fator previdenciário, obtendo-se, assim, o valor da renda mensal inicial da Aposentadoria por Tempo de Contribuição.

Por sua vez, a fórmula pertinente ao fator previdenciário é assim definida: CÁLCULO DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

Onde:

f = fator previdenciário;

Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria; Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria; Id = idade no momento da aposentadoria;

a= alíquota de contribuição correspondente a 0,31.

Tecnicamente, o fator previdenciário consiste na apuração de um índice que, uma vez aplicado sobre o salário de benefício, determina o valor da Aposentadoria por Tempo de Contribuição, obrigatoriamente e, facultativamente, da aposentadoria por idade. Os demais componentes da fórmula compreenderão os dados pessoais de cada contribuinte, como a sua idade completa e o seu tempo de serviço, apurados na data do requerimento.

Quadro 17 - Demonstrativo da expectativa de sobrevida – 2011

BRASIL: Tábua Completa de Mortalidade - Ambos os Sexos - 2011

Idades Expectativa de Vida Idades Expectativa de Vida

Exatas à Idade X Exatas à Idade X

(X) E(X) (X) E(X) 0 74,1 41 37,0 1 74,3 42 36,1 2 73,4 43 35,2 3 72,5 44 34,3 4 71,5 45 33,5 5 70,5 46 32,6 6 69,6 47 31,7 7 68,6 48 30,9 8 67,6 49 30,0 9 66,6 50 29,2 10 65,6 51 28,4 11 64,7 52 27,5 12 63,7 53 26,7 13 62,7 54 25,9 14 61,7 55 25,1 15 60,7 56 24,3 16 59,8 57 23,5 17 58,9 58 22,8 18 57,9 59 22,0 19 57,0 60 21,2 20 56,1 61 20,5 21 55,2 62 19,7 22 54,3 63 19,0 23 53,4 64 18,3 24 52,4 65 17,6 25 51,5 66 16,9 26 50,6 67 16,2 27 49,7 68 15,5 28 48,8 69 14,9 29 47,9 70 14,2 30 47,0 71 13,6 31 46,0 72 13,0 32 45,1 73 12,4 33 44,2 74 11,8 34 43,3 75 11,2 35 42,4 76 10,7 36 41,5 77 10,1 37 40,6 78 9,6 38 39,7 79 9,1 39 38,8 80 ou mais 8,7 40 37,9 o-o-o-o-o-o-o-o-o-o o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o Fonte: IBGE193.

193 IBGE BRASIL: Tábua Completa de Mortalidade - ambos os sexos - 2011. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/2011/defaulttab_xls.shtm>. Acesso em: 15 jan. 2013.

Vejamos um exemplo de como se aplica o fator, diante de dados do contribuinte:

Tempo de contribuição...: 37 anos

Idade...: 55 anos

Expectativa de sobrevida: 25,2 anos de percepção após a aposentadoria.

Salário de benefício...: R$1.000,00

Demonstração de cálculo do Fator Previdenciário

f= TC x a 1+ (id+ Tc x a) Es 100 f= 37 x 0,31 1 + 55+ 37 x 0,31 25,1 100 F = 0,4569 x 1,664 F = 0,7602

Cálculo da Renda Mensal: R$1000,00 x 0,7602 = R$760,20

Neste exemplo específico, podemos ver que o valor do benefício foi apurado em R$760,20, muito embora o salário de benefício tenha sido de R$1.000,00. Se comparado o cálculo da renda apurada pelo fator às regras anteriores, que consideravam aos 35 anos de contribuição o percentual de cem por cento do salário de benefício, a perda financeira, no exemplo dado, será de R$239,80 ou de 23,98% em relação à legislação anterior, sem aplicação do fator previdenciário.

Notamos que na fórmula que leva ao encontro do fator o componente expectativa de sobrevida é introduzido para dividir, de tal sorte que quanto maior a expectativa de sobrevida após a aposentadoria, tempo provável de recebimento do benefício, menor será o fator, ao passo que quanto menor a expectativa de sobrevida do aspirante ao benefício maior será a sua renda mensal.

Antes da entrada em vigor da Lei nº. 9.876/99, bastaria ao candidato à aposentadoria implementar a condição estabelecida no inciso I do § 7º do art. 201 da Constituição Federal, isto é, ter contribuído/trabalhado durante 30 anos, se mulher, ou 35, se homem, para fazer jus a uma renda mensal equivalente a cem por cento do salário de benefício.

Desde a introdução do fator previdenciário (Lei nº. 9.876/ 1999), a simples contagem do tempo de contribuição de 30/35 anos, mais o atendimento ao requisito idade mínima se

aplicável, de 53 e 48 para homens e mulheres, respectivamente, são suficientes para a obtenção do benefício, mas não mais para uma renda igual a cem por cento do valor do salário de benefício determinado. Para conseguirem essa renda os contribuintes terão que permanecer recolhendo para o sistema até próximo aos 60 anos de idade e tempo superior a 35 anos de contribuição, pois, caso contrário, sempre haverá perda.

Assim, idade avançada e maior tempo de contribuição são componentes que determinarão uma renda maior do benefício, subentendendo que o segurado receberá o benefício por menor tempo, em face da expectativa de sobrevida do cidadão brasileiro. Nesse particular, o tempo de contribuição passa a ter papel secundário.

Quando da entrada em vigor da Lei nº. 9.876/1999, que instituiu o fator previdenciário, vários juristas questionaram a sua validade perante o Supremo Tribunal Federal, inclusive por meio de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade, a ADI nº. 2.110 e a ADI nº. 2.111. A Suprema Corte, entretanto, concluiu pela constitucionalidade da medida, por entender que a sua introdução vislumbrava melhor equilíbrio financeiro e atuarial do sistema previdenciário. Fato é que a população beneficiária não se conforma com os resultados do fator e até os dias atuais, decorridos mais de dez anos, pedem a sua extinção.

Bastante difundida a proposta de Wladimir Novaes Martinez, conhecida por Fórmula

95, que significa que o direito à aposentadoria deveria surgir quando o tempo de contribuição

mais a idade do segurado totalizassem aquele número. Não haveria aqui, por conseguinte, fixação de idade mínima, bastando que a soma da idade mais o tempo de contribuição resultasse 95. Dessa forma, tanto faria jus ao benefício o segurado com 40 anos de contribuição e 55 de idade como aquele que contasse 45 anos de contribuição e apenas 50 de idade, já que, em ambos os casos, a soma dos números dá 95.

Na sequência veremos mais detalhadamente a proposta de substituição do fator previdenciário pelas Fórmulas 85 e 95.