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CAPÍTULO VI APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: um

6.4.1 Pensamentos de autores e estudiosos sobre riscos e contingências

Vimos e transcrevemos, ao longo deste trabalho, conceitos e opiniões doutrinárias de autores e estudiosos sobre questões previdenciárias, causas e efeitos que determinam à Previdência Social a realização do pagamento da Aposentadoria por Tempo de Contribuição.

Esses autores sempre deixaram claro que os aspectos determinantes do pagamento do benefício tomam lugar, não efetivamente quando da materialização dos riscos ou eventos, mas quando os seus efeitos e consequências provocam necessidades pessoais e familiares, em decorrência da redução ou extinção das rendas do trabalho, essenciais à sobrevivência.

Assim vale a pena, pela oportunidade do tema e pela pertinência do momento, repetir ou acrescentar, neste espaço, ainda que resumidamente, o que pensam autores, especialistas e doutrinadores sobre a importância da prestação do Estado, de que riscos e contingências impedem o segurado de prover a própria manutenção de seus dependentes.

A Profª. Heloisa Hernandez Derzi entende que “o dano deve provocar um

desequilíbrio desfavorável ao segurado, passível de indenização” para que seja qualificado o

evento, destacando que foi necessária a atualização do conceito de dano “substituído pelo de

necessidade, mais amplo e de generosa aplicação a todos os tipos de seguros”198.

No mesmo sentido, Francesco Santoro-Passarelli observa:

[...] gli attributi essenziali della personalità non sono (e non potrebbero essere) oggetto di diritti: in caso di lesione, il titolare leso può chiedere soltanto il risarcimento del danno e la cessazione dell’abuso. Fulcro principale di tutto il sistema è l’uomo, che non può essere considerato «oggetto» delle norme, bensì soggetto.”199.

[...]

Il rischio è, del parere che accolgo con favore, la possibilità di un evento che si traduce in una necessità obiettiva di un soggetto; la necessità è, nel suo senso più generale, la mancanza di un bene200.

O Prof. Daniel Pulino enfatiza que a função precípua da Previdência Social é socorrer os contribuintes e seus dependentes alcançados não por invalidez, morte ou velhice, mas pelos

resultados advindos dessas ocorrências, “a repercussão que elas acarretam, o

comportamento da subsistência que aquelas contingências ensejam ao privarem de rendas ou sobrecarregarem as despesas dos sujeitos que vivem do próprio trabalho ou daqueles que deste dependam”201.

198 DERZI, Heloisa Hernandes. Os beneficiários da pensão por morte. São Paulo: Lex, 2004, p.48.

199 SANTORO-PASSARELLI, Francesco. Disponível em: <http://it.wikipedia.org/wiki/Diritti_assoluti>. Acesso

em: 29 out. 2012. Traduzindo: “os atributos essenciais da personalidade não são (e não poderia) ser o sujeito de direitos: em caso de lesão, o titular lesado só pode exigir indenização e cessação do ocorrido. O foco principal de todo o sistema é o homem que não pode ser considerado um objeto das regras, mas assunto.”.

200 SANTORO-PASSARELLI, Francesco. Rischio e Bisogno nella Previdenza Sociale. La Rivista Italiana di

Previdenza Sociale, nº 1. Milano: Dott. Antonino Giufré, 1948. Ap.181. Tradução livre: “O risco é, na opinião que eu acolho, a possibilidade de um evento que resulte em uma necessidade objetiva de um sujeito; necessidade é, no seu sentido mais geral, a falta de um bem.

201 PULINO, Daniel. A aposentadoria por invalidez no Direito Positivo brasileiro. São Paulo: LTr. 2001, p.39-

A eleição de eventos, riscos ou eventualidades pelos legisladores são, segundo o Prof.

Wagner Balera, forma de se atribuir “especial ‘coloração jurídica’, quando passam a

merecer “proteção previdenciária.”202. Esses riscos sociais ou eventualidade, de acordo com

o Prof. Ilídio da Neves, são aqueles “previstos e tipificados na lei, e não qualquer ocorrência,

ainda que muito importante na vida das pessoas e geradora de perda de rendimentos ou

acréscimo de despesas que são relevantes, [...]”203.

Já, para Almansa Pastor, “la posibilidad de que acaesca um hecho futuro, incierto e

involuntário que produce um daño de evaluación económica al assegurado.”204, enquanto

Daniel Machado da Rocha e João Paulo Baltazar Junior entendem que a expressão risco social

é utilizada para nomear eventos “isto é, os fatos ou acontecimentos que ocorrem na vida de

todos os homens, com certeza ou probabilidade significativa, provocando um desajuste nas

condições normais de vida, em especial a obtenção dos rendimentos decorrentes do trabalho, gerando necessidades a serem atendidas [...]”. Esclarece que a denominação

risco está relacionada à terminologia do seguro, sendo o termo social inerente ao próprio

funcionamento da sociedade205.

Segundo Alfredo J. Ruprecht, a proteção que se oferecia ao segurado restringia-se a “riscos, ou seja, acontecimentos prejudiciais que ocorriam na vida dos indivíduos, como

morte, invalidez, etc.” Mas, também, na seara do Direito da Seguridade Social houve

evolução, por isso, “foram-se acrescentando aspectos que, de modo algum, significavam

riscos, mas contingências que, de alguma forma, influíam na vida das pessoas.”206.

Por seu turno, Mattia Persiani resume a concepção de risco, no contexto

previdenciário, a tudo o que pode causar dano ao segurado. Considera que “[...] os eventos

são os acontecimentos pela natureza das coisas ou pelo modo em que a sociedade é organizada, normalmente inevitáveis que, devido à estrutura socioeconômica, determinam,

para quem vive do próprio trabalho, uma situação de necessidade.”207

Denota-se que esses renomados autores, cujos pensamentos foram transcritos, deixam claro que o fator mais importante e determinante para pagamento do benefício está no estado

202 BALERA, Wagner. Noções preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p.99. 203 NEVES, Ilídio das. Direito da Segurança Social – princípios fundamentais numa análise prospectiva.

Coimbra: Coimbra. 1996, p. 451.

204 PASTOR, José M. Almansa. Derecho de la Seguridade Social. 7. ed. Madri: Tecnos, 1991, p. 220. Tradução:

“a possibilidade de que aconteça um dano ou evento futuro, incerto e involuntário que determine uma avaliação sobre a situação econômica do segurado.”.

205 ROCHA, Daniel Machado; BALTAZAR JUNIOR, João Paulo. Comentários à lei de benefícios da

Previdência Social. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, p. 31.

206 RUPRECHT, Alfredo J. Direito da Seguridade Social. São Paulo, LTr., 1996, p.64-65. 207 PERSIANI, Mattia. Direito da Previdência Social. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p.191.

de necessidade que atingiu o trabalhador quando vê sua renda reduzida ou perdida, ou, ainda, um aumento nas suas despesas, fatores que reduzem a sua manutenção pessoal e familiar.

Assim, ressalta-se que o fundamento da proteção previdenciária deixa de estar no evento protegido para ter base e consistência em uma presumida consequência danosa de sua ocorrência, que encontramos no estado de necessidade.

Confrontando esses abalizados conceitos com os aspectos intrínsecos da Aposentadoria por Tempo de Contribuição e os condicionantes para a sua concessão, verifica- se que o legislador brasileiro, diferentemente do que constitui requisito para a concessão para outros benefícios, não faz qualquer exigência que implique ao segurado, demonstrar a citada necessidade relacionada a uma possível redução ou extinção da renda ou, ainda, um aumento considerável nas suas despesas.

Igualmente aliado a essas considerações, vê-se que o legislador quando trata da concessão de outras espécies de benefício, exige comprovação das causas geradoras de necessidades relacionadas, por exemplo, à incapacidade física (exame médico-pericial que comprove a impossibilidade do exercício do trabalho), idade avançada (documento de identidade no qual esteja consignado que o titular atingiu a idade legal para obtenção da aposentadoria por idade), ao desemprego involuntário (comprovação da demissão injusta) à morte (certidão de óbito que comprove que os dependentes do segurado necessitam da manutenção antes feita pelo segurado, seja pelo exercício do trabalho, seja pela percepção de uma renda de aposentadoria) ou prisão (certidão de recolhimento ao cárcere para cumprimento de pena de detenção ou de reclusão, hipótese em que os dependentes do segurado necessitarão de manutenção, uma vez que essa não mais será feita pelo segurado), eventos para os quais há benefícios com cobertura específica.

Vimos, como consequência, por mais argumentos que possamos buscar, um vazio para justificar a existência dos riscos sociais ou outros fatores que poderiam merecer a concessão da Aposentadoria por Tempo de Contribuição. Esse mesmo vazio nos dá a convicção de que o benefício necessita de um mote que demonstre a necessidade de sua permanência no rol de benefícios da Previdência Social brasileira.

Relativamente à Aposentadoria por Tempo de Contribuição já dissemos, no Capítulo V, que essa espécie de benefício pode ser concedida pelo simples decurso de um tempo de contribuição que, para o homem é de 35 anos e para a mulher, de 30 anos, desde que tenham, no mínimo, 53 e 48 anos de idade, respectivamente, com a ressalva do art. 9º e seus incisos da EC 20/1998.

Não se cogita, para a concessão desse benefício, a existência de incapacidade laborativa, física, mental ou intelectual, idade avançada e, o que é pior, o ato de aposentação dá-se ainda quando o trabalhador se encontra em perfeitas condições de saúde e de capacidade física e intelectual para o trabalho.

Assim, simples decurso do tempo de contribuição, agora conjugado com idade mínima transformam-se no risco social determinante para deferimento do pedido e, como já se disse, nada mais.

6.5 Dos quadros quantitativos e qualitativos da Aposentadoria por Tempo de