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A experiência espanhola – teor de parte da tesis defendida em 1984 junto à

CAPÍTULO VI APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: um

6.6 A experiência espanhola – teor de parte da tesis defendida em 1984 junto à

Neste trabalho, no Capítulo II, defendemos a estruturação do sistema de Previdência Social sobre uma base que indique um rol de benefícios absolutamente necessários, que protejam o trabalhador contra riscos sociais.

Naquela oportunidade alertamos para o fato de que, dentro de uma política de mínimos, deve-se dar ao contribuinte o máximo, como forma de ver preservado o seu status

quo, anterior à aposentação, a fim de que não tenha perdas financeiras.

No ano de 1984, ou seja, já decorridos hoje quase 30 anos, tivemos a oportunidade de participar do XXX Curso de Altos Estudos em Seguridade Social, promovido pela

Organización Iberoamericana de Seguridade Social – OISS, com sede em Madrid. Esse curso

de especialização exigia, para a sua conclusão e titulação de Especialista conferida ao aluno, a apresentação de uma tesis, defendida perante uma banca com cinco doutores. Apresentamos e defendemos um trabalho intitulado Os benefícios da Previdência Social brasileira.

Nesse trabalho, já àquela época, distinguíamos os critérios para a escolha dos benefícios previdenciários dos planos de benefício dos países soberanos e, principalmente, os constantes da legislação previdenciária brasileira.

Em que pese o decurso do tempo da realização desse curso até os dias atuais, vale a pena citar o que escrevemos sobre Aposentadoria por Tempo de Serviço (designação do benefício naquele momento) e Abono de Permanência em Serviço, constantes no rol de benefícios da legislação brasileira. Vejamos:

APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO

Segundo as atuais concepções, se é que assim podemos dizer, em matéria de Seguridade Social, tal benefício não tem a mínima razão de ser, pelo menos como está disposto na legislação brasileira.

Já comentamos, exaustivamente, que a Seguridade Social deve prestar-se a amparar o Homem nos momentos de dificuldade social, nos momentos de doença, incapacidade para o trabalho por motivo de idade, mas nunca por ter completado um certo tempo de serviço, de vez que tal circunstância não induz, definitivamente, a percepção de nada. Eis que não há uma causa que socialmente a isso determine.

Se o trabalho é possível a partir de 12 anos de idade, fatalmente se não houver interrupção, a aposentadoria será possível aos 37 (trinta e sete) anos para mulheres e 42 (quarenta e dois) anos de idade.

É bastante comum aposentar-se no Brasil, “por tempo de serviço”, em plenas condições de saúde, de trabalho, de capacidade intelectual etc., retornando, após, novamente ao trabalho.

Do ponto de vista técnico e social, não há a menor justificativa para que tal procedimento continue sendo uma realidade, pois foge, conforme já afirmamos, aos princípios mais elementares e conceituais de proteção social.

A Previdência Social não deve, também, conforme mencionado, transformar-se em instrumento de distribuição de riqueza, para deixar os ricos mais ricos e os pobres menos pobres. Deve traduzir-se, do ponto de vista filosófico e prático, em atender necessidades, do Homem, socialmente determinadas.

Chega a ser verdadeiro absurdo, em um Pais como o Brasil, a existência de tal tipo de benefício, quando há problemas de equilíbrio financeiro e o que é pior: quando se paga há mais de 75% das pensionistas do sistema, valores ao redor de 60% do salário-mínimo, fato que se traduz em verdadeira humilhação, submetendo-as a um estado de indigna sobrevivência.

Quando afirmamos que dentro de uma política de mínimos cabe ao Homem buscar o máximo, quisemos deixar patente que, atualmente, não se pode mais pensar ou atuar com desperdícios ou supérfluos.

O tema, entretanto, no Brasil é polêmico porque atingiria o interesse de muitas pessoas prestes a aposentar-se. Foge a nós o pensamento de que haja a extinção total do benefício. Entendemos que deva passar por uma reformulação gradual, até que se situe no nível ideal, observados, principalmente, o fator “expectativa de sobrevida, em anos, do brasileiro.”

Segundo dados fornecidos pelo próprio Ministério da Previdência e Assistência Social, atualmente a expectativa de vida do brasileiro, principalmente com a evolução do sistema previdenciário e com a cobertura quase total da população, chega aos 60 (sessenta) anos de idade, evolução que se observa em decorrência do avanço da medicina.

Entendemos, também, que alguns outros fatores sejam observados como, por exemplo, a carência e a sistemática de cálculo do benefício, isto porque, à exemplo da aposentadoria por velhice, o tempo de carência é mínimo. É necessário, também, que o trabalhador, ao se aposentar, tenha um padrão digno para não ser obrigado a retornar ao trabalho, independentemente de sua vontade. Somos favoráveis que se trabalhe ao máximo, mas que ao passar para a inatividade o trabalhador o faça de forma digna, abrindo-se, em decorrência, postos de trabalho a outros, iniciantes ou não.

A sistemática de cálculo deve abandonar o tradicional salário de benefícios e pautar-se na média do efetivamente cotizado nos últimos 10 (dez) anos, atualizados monetariamente.

Como primeira medida, entendemos que uma atitude deva, de imediato, ser levada a efeito e que é a extinção da Aposentadoria por Tempo de Serviço aos 30 (trinta) anos, mantendo-se somente aos 35 (trinta e cinco) anos com o índice de 95% (noventa e cinco por cento), do resultado da aplicação do percentual sobre a das últimas 120 contribuições atualizadas monetariamente.

Entendemos que a adoção da medida tenha uma série de fatores positivos, como por exemplo, a de evitar que somente nos 3 (três) últimos anos, o contribuinte aumente o seu salário de contribuição, através de métodos já bastante conhecidos e que, se não são ilegais, são pelo menos imorais.

Outro fator é o de protelar, naturalmente, às vezes por mais tempo, a permanência do segurado em atividade para melhorar sua média se nos anos anteriores o seu salário de contribuição foi baixo ou não foi o ideal e compatível com o seu padrão.

Ainda temos outros fatores que entendemos favoráveis, mas principalmente destacamos o que se relaciona ao ponto “idade”, cuja expectativa, no Brasil, já foi por várias vezes rejeitada.

Psicologicamente entendemos que a manutenção do benefício, porém protelando-se a época de sua concessão, seja um fator positivo, embora não sejamos contra a adoção de um limite mínimo de idade para percepção do benefício, que seria, aos 55 (cinquenta e cinco) anos, inicialmente, enquanto a perspectiva de vida do brasileiro for de 60 (sessenta) anos de idade.

Acho, porém, que a revogação do benefício aos 30 (trinta) anos é menos traumática e psicologicamente mais favorável, como mudança.

Como segunda sugestão, entendemos que o sistema de cálculo do benefício não mais seja realizado pelo salário de benefício e sim pela média aritmética simples dos salários de contribuição efetivamente recolhidos no período de dez anos anteriores ao pedido, devidamente atualizados monetariamente, aplicando-se sobre o resultado o percentual de 95% (noventa e cinco por cento) que determinará o valor da renda mensal.

Como justificativa para tal medida, declinamos ainda ser princípio de justiça que a média a ser encontrada o seja em período maior, pois com a gama de desempregos que existem atualmente e sempre os de salários mais elevados, quase sempre sendo os primeiros a ser despedidos, restaria a eles a oportunidade de recuperar a media, cotizar em dobro, o que não é fácil, quando se está desempregado ou então protelar a aposentadoria, que é um fator favorável para a Previdência Social brasileira. Por outro lado, o segurado ao se aposentar, teria a tranquilidade de ter um padrão de vida digno, pouco abaixo daquele que manteve como vinculado nos últimos anos.

Somos, também, partidários, abandonada a primeira ideia, que é a de se extinguir a ATS - Aposentadoria por Tempo de Serviço aos 30 (trinta) anos, de se estabelecer um limite de idade 55 (cinquenta e cinco) anos, mínimos, para que o segurado possa se aposentar, a exemplo do que ocorre com os segurados que se valem de aposentadorias especiais para cuja concessão se exige pelo menos 25 (vinte e cinco) anos de serviço e um mínimo de 50 (cinquenta) anos de idade.

É a nossa sugestão, no momento, pois entendemos que a evolução dos cortes deva ser introduzida de maneira gradativa.”

Da mesma forma, naquela oportunidade e no mesmo instrumento acadêmico, fizemos alusão ao Abono de Permanência em Serviço, cuja íntegra das colocações é a que se segue:

ABONO DE PERMANÊNCIA EM SERVIÇO

Crítica: Nossas críticas para esta espécie de benefício são idênticas às feitas à aposentadoria por tempo de serviço. Não vemos qualquer cabimento para que exista tal benefício, uma vez que, socialmente, aquele que fará jus ao benefício nada tem de determinante para que deva percebê- lo.

Sugestão: Somos pela extinção do Abono de Permanência em Serviço entre 30 e 34 anos e pela manutenção do mesmo Abono após, ou seja, a contar de 35 anos de serviço, aos que desejarem continuar em atividade, porém com o percentual melhorado, isto é, ao invés de 25% (vinte e cinco por cento), passaria a 30% (trinta por cento), como incentivo ao trabalho.

Ressalte-se nesta oportunidade que nem a aposentadoria por tempo de serviço, quanto o abono de permanência em serviço devam ser estimulados, porquanto o trabalho ainda continua sendo o maior instrumento de dignificação do Homem.

Ressalte-se, também, que as sugestões, conforme apresentadas, visam manter, condignamente e dentro de um principio de justiça, tanto para a Previdência quanto para o segurado, os seus padrões de desempenho durante a histórica de toda uma vida. (Nossos os destaques)208.

Como podemos depreender da leitura das partes transcritas, o exercício de futurologia funcionou mais do que esperávamos, embora não na sua integralidade, mas funcionou. Por exemplo:

a) Da total e impertinente ausência de risco determinante do benefício de Aposentadoria por Tempo de Serviço. Nesse particular o mesmo continua até os dias atuais. Alteraram-se algumas exigências para a sua concessão, como tempo de efetiva contribuição e uma idade mínima (EC 20/1998), mas o benefício permanece no rol das espécies da Previdência Social brasileira.

b) Extinção do Abono de Permanência em Serviço ocorreu com a edição da Lei nº.

8.870/1994. O abono de permanência surgiu por um Decreto do Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara, baixado em 01 de outubro de 1821, em que se previa que, aqueles que, completado o tempo exigido, não quisessem se aposentar, permaneceriam em atividade e teriam um abono adicional de um quarto do salário – prenúncio do que, mais tarde, viria a ser o Abono de Permanência em Serviço; benefício pago pela Previdência moderna até 1991, equivalente a 25 por cento do

208 PEREIRA, José Maercio. Trabalho de conclusão de Curso de Especialização (tesis) apresentada e defendida

no XXX Curso de Altos Estudos em Seguridade Social, junto à Organización Iberoamericana de Seguridad Social – OISS, 1984, Madrid. O inteiro teor da tese encontra-se arquivado naquela organização, à época dirigida pelos ilustríssimos doutores Carlos Marti Buffil e Maria de lós Santos Alonso Ligero.

salário de benefício. O abono de permanência era conhecido como pé na cova e de trato continuado, devido mensalmente ao segurado que, tendo o direito à Aposentadoria por Tempo de Serviço, optasse por continuar em atividade. Exigia- se um período de carência de 180 contribuições para obtenção do benefício aos homens, com 35 anos ou mais de serviço, e à mulher, com 30 anos ou mais de serviço; previsto no art. 87 da Lei nº. 8.213/91, mas foi extinto quando da entrada em vigor da Lei nº. 8.870/1994.

c) Ponderamos quanto ao equivocado cálculo da renda do benefício, ao permitir a

sua apuração, levando em conta somente o que fora cotizado nos últimos três anos; com a edição da Lei nº. 9.876/1999 essa questão foi corrigida. Na atualidade o segurado tem como base de cálculo da renda mensal dos benefícios de prestação continuada, o salário de benefício que é representado pela média aritmética simples dos 80 por cento dos maiores de salários de contribuição, apurados a partir de julho/1994.

d) Propusemos, como se viu na transcrição, a introdução de uma idade mínima, a

exemplo do que já ocorria com as aposentadorias especiais e a Emenda Constitucional 20/1998 introduziu as idades mínimas para concessão da Aposentadoria por Tempo de Serviço/Contribuição em 48 anos para a mulher e 53 anos para o homem. Nossa proposta era idade mínima de 55 anos em um primeiro momento, quando a expectativa de sobrevida era em torno de 60 anos de idade.

e) Propusemos, também, a observação e o acompanhamento da expectativa de

sobrevida do segurado, com vistas a alterar ou não a idade mínima indicada. Essa questão, de certa forma, foi atendida pelo fator previdenciário, outra medida introduzida na legislação, como meio de protelar ou desestimular a concessão do benefício precocemente, disciplinamento este introduzido pela Lei nº. 9.876/1999. Foram estas algumas das propostas naquela ocasião, pertinentes ao nosso estudo, uma vez que o benefício Aposentadoria por Tempo de Contribuição continua, na atualidade, a ser concedido, sem qualquer risco ou contingência social determinante, o que se traduz na supremacia da vontade política, em detrimento de questões técnicas, que indicariam melhor forma de aproveitamento desses dispêndios, inclusive com a reformulação de outras espécies, socialmente mais importantes e relevantes, principalmente a aposentadoria por idade e a pensão por morte.