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CAPÍTULO I DA SEGURIDADE SOCIAL

1.5 Princípios explícitos da Seguridade Social

1.5.1 Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento ,

Todos os princípios constitucionais definidos como objetivos da Seguridade Social são importantes. Porém a aplicação do princípio que trata da universalidade da cobertura e do atendimento, possibilitando envolver toda a população no sistema, bem como a proteção social a essa mesma população, indistintamente, parece-nos, dentre todos os demais, o

57 BESTER, Gisela M. Teoria constitucional. Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 46, parte 1. (Cadernos de Direito

princípio de maior importância e relevância, por estabelecer uma obrigação, juridicamente tutelada do Estado em relação aos seus cidadãos, no momento em que permite o acesso de a toda população, urbana ou rural, ao sistema.

Aliado ao envolvimento universal da população nessas ações, esse princípio trata, também, da efetiva proteção e do atendimento dessa mesma população, nos campos da previdência, da saúde e da assistência social, corrigindo-se, assim, enorme injustiça social reinante até então, principalmente pelo tratamento discriminatório e indigno que a matéria impunha à população rural.

Para o doutrinador Wagner Balera, o princípio da universalidade opera sob dois aspectos distintos:

a) Universalidade de cobertura, segundo o qual “todas as pessoas serão protegidas”, assim, como decorrência desse princípio, no contexto da seguridade social “o indivíduo tem direito porque ele é cidadão”;

b) universalidade de atendimento, pelo qual consiste o referido princípio no concreto direito às prestações de saúde, às prestações de previdência, às prestações de assistência e à possibilidade de que qualquer um que comprove necessidade tenha alguma forma de prestação pelo sistema de seguridade social.

Afirma, ainda, que o atendimento é um direito do cidadão, sendo o Estado “um

simples instrumento para que o meu direito seja concretizado.”58.

Segundo Odonel Urbano Gonçalves, “Toda pessoa, pelo fato de ser pessoa, já deve ser amparada. É o Estado cuidando para que os indivíduos não se transformem, por razões

circunstanciais, em parias, em mendigos.”. Considera esse um ideal de universalidade a ser

atingido, “na medida em que, notoriamente, sabe-se que a sociedade brasileira ainda não tem

capacidade econômica nem vontade política (especialmente esta última) para tanto.”59.

De acordo com a Prof.ª Heloisa Hernandez Derzi60, tem-se:

- A universalidade subjetiva e objetiva – que pretende a extensão da Seguridade Social à totalidade da população, com vistas a proteger os desequilíbrios causados entre as necessidades e os meios de combatê-la; - a igualdade protetora – a concessão de benefícios iguais para idêntica situação de necessidade, sem atender à causa produtora, nem exigir a relação prévia de contribuição.

58 BALERA, Wagner. A seguridade social: conceitos e polêmicas. Revista Núcleo de Seguridade Social e

Assistência Social. Mínimos de Cidadania. Ações afirmativas de enfrentamento à exclusão social, n. 4, p. 34- 35. São Paulo: PUC, 1994.

59 GONÇALVES, Odonel Urbano. Manual de Direito Previdenciário – acidentes do trabalho. 6. ed. São Paulo:

Atlas, 1998, p. 28.

No entendimento de Zélia Luiza Pierdoná, o princípio da Seguridade Social prevê duas ações, sendo a primeira voltada para o envolvimento da população e a segunda para o atendimento a ser dispensado, igualmente, a toda população, observando que:

O princípio em comento prevê a universalidade da cobertura e do atendimento. A cobertura está relacionada com as situações de necessidade, configurando o elemento objetivo. Constitui um vir a ser, uma vez que haverá a universalidade propriamente dita quando todas as situações de necessidade forem atendidas. Já a universalidade do atendimento, que é a dimensão subjetiva do princípio, está ligada aos destinatários das prestações de seguridade social. Também é um vir a ser, no que tange à seguridade como um todo, uma vez que, ao menos, juridicamente, já é uma realidade em relação à saúde, pois o art. 196 da Carta Magna estabelece “saúde é direito de todos e dever do Estado [...]”61.

O princípio da universalidade jamais seria uma realidade se não permitisse o acesso de toda a população à Previdência Social. Essa universalização, permitindo que todas as pessoas possam ser contribuintes, só foi possível quando o legislador estabeleceu a possibilidade de existirem duas categorias de contribuintes: os segurados obrigatórios e os facultativos.

Antes da Constituição de 1988, jamais qualquer legislação permitiu aos contribuintes acesso ao sistema previdenciário que não fosse pelo exercício do trabalho remunerado. Havia, sim, a possibilidade, nos momentos em que estivesse desempregado ou sem atividade laboral formal, recolher contribuições como contribuinte em dobro. Esse recolhimento era permitido apenas após a filiação regular, por meio de uma das categorias de contribuinte obrigatório e os recolhimentos feitos com o fim único de permitir a manutenção da qualidade de segurado.

Na atualidade essa questão tem outra conotação jurídica, quando permite a filiação de quem não seja considerado contribuinte obrigatório, ao filiar-se por simples ato de vontade, como segurado facultativo, mesmo sem ter contribuído anteriormente para o sistema.

Para simples referência legal, nos últimos 50 anos, nem a Lei nº. 3.807/1960 – Lei

Orgânica da Previdência Social – nem a Lei nº. 5.890/1973, que a alterou, abriam qualquer

possibilidade de que houvesse contribuinte que se filiasse ao sistema como facultativo sem contribuição anterior para o sistema.

A universalização referida, que permite o acesso de qualquer pessoa à Previdência, contribuinte obrigatório ou não, aumentou o raio de cobertura do cidadão, que, aliado a essa condição, passa a ser também contribuinte, situação que, a nosso ver, amplia a proteção

61 PIERDONÁ, Zélia Luiza. A velhice na seguridade social brasileira. 241 f. Tese (Doutorado). Pontifícia

social, conferindo ao Estado brasileiro maior clientela e, consequentemente, maior responsabilidade no campo previdenciário.

Vista a universalização somente sob o prisma dos segurados obrigatórios, esse princípio jamais seria uma realidade. Seria necessário universalizar, igualmente, o acesso ao trabalho e essa é uma questão de difícil solução, visto que os índices de desemprego são uma realidade, sobretudo nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

1.5.2 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços para as populações urbana e