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CAPÍTULO III BENEFÍCIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA E OS

3.4 Atuais benefícios da Previdência Social brasileira e riscos sociais correspondentes

3.4.10 Auxílio-reclusão

A previsão legal do auxílio-reclusão encontra-se no art. 80 da Lei nº. 8.213/90137. Na

prática os seus efeitos são muito parecidos com os da pensão por morte, visto que o segurado se afasta do meio familiar, sem meios de promover a manutenção de seus dependentes por estar cumprindo pena privativa de liberdade.

Os ensinamentos do ilustre Wladimir Novaes Martinez asseguram-nos, ainda, que o

auxílio-reclusão é benefício irmão da pensão por morte. “A maior diferença consiste em o

segurado estar detido ou recluso, no primeiro caso, e morto, ausente ou desaparecido, no ultimo. À exceção dos documentos exigidos, a habilitação é quase a mesma. Em razão disso,

disciplinado em apenas um artigo no PBPS (art. 80).”138.

Risco social do benefício – O benefício auxílio-reclusão tem a finalidade básica de proporcionar a manutenção dos dependentes do segurado, que cumpre pena privativa de liberdade. O seu valor máximo, fixado em R$915,05 (Portaria nº. 02 de 06/01/2012), vigente para o exercício de 2012, será devido pelo período em que o segurado estiver recluso.

As demais situações elencadas nos arts. 88 (serviço social) e 89 (habilitação e reabilitação profissional) da Lei nº. 8.213/1991 não são propriamente benefícios, mas serviços previdenciários, cuja função básica é a de prestar auxílio ao contribuinte, sem que isso implique, necessariamente, pagamento em dinheiro.

Como se denota, dentre os benefícios mencionados, devidos a segurados e a dependentes, todos visam acobertar o segurado ou seu dependente contra um determinado e

136 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo: LTr, 2010, p. 900. 137 BRASIL. Lei nº. 8.213/1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras

providências.

Art. 80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço. Parágrafo único. O requerimento do auxílio- reclusão deverá ser instruído com certidão do efetivo recolhimento à prisão, sendo obrigatória, para a manutenção do benefício, a apresentação de declaração de permanência na condição de presidiário.

incerto risco social ou dano, decorrente de um evento infortunístico, à exceção da Aposentadoria por Tempo de Contribuição.

A Aposentadoria por Tempo de Serviço, como era chamada e, na atualidade, Aposentadoria por Tempo de Contribuição, jamais será caracterizada como um evento infortunístico, porque não implica a cessação da capacidade laborativa do contribuinte para realizar a sua própria manutenção e a de seus familiares. Assim, o risco social é inexistente, nulo, ficando patente, em consequência, a desnecessidade de constar do rol de benefícios da Previdência Social brasileira.

Fato curioso é que os estudiosos, especialistas, doutrinadores, legisladores e governantes, quando tratam dessa espécie de benefício, o fazem de forma totalmente superficial, incipiente e tímida, simplesmente protelando o seu destino, quando cedem às pressões das massas trabalhadoras, sindicais e políticas, como ocorreu na reforma da Previdência Social em 1998 (EC 20/1998).

Cumpre avaliar a necessidade ou não da concessão prematura do benefício e a necessidade dos beneficiários de receber os chamados meios indispensáveis de manutenção a que alude o art. 1º da Lei nº. 8.213/1991, por parte do Estado, quando ainda se encontram em idade produtiva, com saúde e, principalmente, sem que nada indique que as suas condições físicas e intelectuais os impeçam, por si só, de realizarem a sua manutenção.

Após estudos que levem a uma visão mais ampla, o que se passa a questionar é se o benefício deve continuar a fazer parte da lista dos benefícios da Previdência Social brasileira, mencionados no art. 18 da Lei nº. 8.213/1991, melhor explicitado na sequência.

Esses benefícios previdenciários e seus respectivos riscos sociais podem ser resumidos no quadro que se segue:

Quadro 09 - Benefícios e Serviços da Previdência Social brasileira

Espécies de Benefícios e Serviços

Auxílios Carência Requisitos para Concessão Idade

Auxílio-Doença 12 contribuições mensais ou isento em caso de acidente de qualquer natureza ou causa ou doença do art. 151 da Lei 8213/1991

Avaliação da capacidade laborativa e do nexo de causalidade pela Perícia Médica do INSS.

Não há

Auxílio-Acidente Não há

Permanência de sequelas incapacitantes e irreversíveis verificadas no momento da alta do auxílio-doença, capazes de impedir ou reduzir a capacidade para a atividade que o segurado vinha exercendo ou para outra.

Não há

Auxílio-Reclusão Não há

O auxílio-reclusão é um benefício devido aos dependentes do segurado recolhido à prisão, durante o período em que estiver preso sob regime fechado ou semiaberto.

Não há

Aposentadorias Carência Requisitos para Concessão Idade

Por Invalidez 12 contribuições mensais ou isento em caso de acidente de qualquer natureza ou causa ou doença do art. 151 da Lei 8213/1991

Avaliação da capacidade laborativa e do nexo de causalidade pela Perícia Médica do INSS com evidência de incapacidade total e permanente,

naquele momento. Não há

Por Tempo de Contribuição

180 contribuições mensais

Comprovar pelo menos 35 anos de contribuição e a trabalhadora mulher, 30 anos. Para requerer a

aposentadoria proporcional, o trabalhador tem que combinar dois requisitos: tempo de contribuição e idade mínima. Os homens podem requerer aposentadoria proporcional aos 53 anos de idade e 30 anos de contribuição, mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro de 1998 para completar 30 anos de contribuição. As mulheres têm direito à

proporcional aos 48 anos de idade e 25 de contribuição, mais um adicional de 40% sobre o tempo que faltava em 16 de dezembro de 1998 para completar 25 anos de

contribuição.

Homens, 53 e Mulheres 48

Por Idade 180 contribuições mensais

Será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher, reduzindo-se em cinco anos quando se tratar de

Homens, 65 ou 60, se urbanos ou rurais, respectivamente e Mulheres

trabalhadores rurais.

Especiais 180 contribuições mensais

Será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,

Não há

Pensão Carência Requisitos para Concessão Idade

Pensão por Morte Não há

Devido à família do trabalhador quando ele morre. Para concessão de pensão por morte, não há tempo mínimo de contribuição, mas é necessário que o óbito tenha ocorrido enquanto o trabalhador tinha

qualidade de segurado.

Não há

Salários Carência Requisitos para Concessão Idade

Salário-Família Isento

Devido aos segurados empregados, exceto os domésticos, e aos trabalhadores avulsos com salário mensal de até R$ 971,78, para auxiliar no sustento dos filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. Não há Salário-Maternidade Contribuintes Individuais e Seguradas Especiais, 10 contribuições. Demais seguradas, não há carência.

Devido à segurada da Previdência Social, durante 120 (cento e vinte) dias, com início no período entre 28 (vinte e oito) dias antes do parto e a

data de ocorrência deste. Não há

Serviços Carência Requisitos para Concessão Idade

Serviço Social Isento

Necessidade de esclarecimento junto aos beneficiários seus direitos sociais e os meios de exercê-los e

estabelecer conjuntamente com eles o processo de solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, Art. 88 da Lei 8213/91.

Não há

Reabilitação

Profissional Isento

A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de

(re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.

Não há

Como se denota dos termos inseridos neste quadro, a materialização dos riscos sociais leva o contribuinte a uma redução, ou mesmo à falta, de manutenção, exigindo, para preservação de sua dignidade, que essa manutenção seja custeada pelo Seguro Social. Incertos, jamais seria possível prever a época de ocorrência dos riscos, exceto nos casos de idade avançada.

O legislador brasileiro elegeu dois benefícios, envolvendo o fator idade, como um dos condicionantes para as suas concessões, quais sejam, a aposentadoria por tempo de contribuição e a aposentadoria por idade.

No que reporta à aposentadoria por tempo de contribuição, a sua concessão pelo requisito idade torna-se questionável visto que é permitido ao contribuinte aposentar-se, ainda, com idade inferior a 50 anos e jamais poderíamos aceitar que uma pessoa em condições normais pudesse se aposentar por idade, exclusivamente, nessa condição. Soma-se a essa condição o outro requisito exigido que é o tempo de contribuição mínimo de 30 ou 35 anos para mulheres e homens, respectivamente, cuja exigência está totalmente dissociada do que se poderia entender por risco social que nada tem a ver com simples decurso de tempo em que se pagam contribuições. Surge dessa constatação a crítica que não deixa alternativa a não ser a constatação de que o benefício é concedido sem qualquer risco social que determine a sua concessão.

Pode-se dizer que esse benefício se enquadra mais nos critérios dos seguros privados que nos dos seguros públicos, em que o Estado tutela o cidadão quando essa manutenção não pode ser feita às suas próprias expensas.

Fábio Zambitte Ibrahim considera atípica essa espécie de benefício “já que não há

qualquer risco social sendo protegido – o tempo de contribuição não traz presunção de

incapacidade para o trabalho.”139.

No que reporta, entretanto, à aposentadoria por idade, a realidade é bem outra. Nesse particular, há, comprovadamente, uma constatação fisiológica com origem em estudos científicos de que os homens, 65 anos e as mulheres 60, se urbanos e 60 anos, os homens e 55 as mulheres, se rurais, apresentam desgaste físico e mental, após uma vida inteira de trabalho, indicando que é tempo de parar. O risco social para essa espécie de benefício, assim, é a idade avançada para o trabalho.

Notamos, se compararmos, que há uma discrepância e uma controvérsia em torno das

duas espécies, uma vez que, se o legislador decidiu premiar aquele que trabalhasse por 30 ou

139 IBRAHIM, Fábio Zambitte. In Desaposentação – o caminho para uma melhor aposentadoria. 5. ed. Niterói:

35 anos quando o benefício foi criado, seria aceitável, exclusivamente em função da expectativa de sobrevida que tinham as pessoas de pouco mais de 40 anos, conforme já se viu.

Entretanto, também como já se viu, torna-se irracional que a pretensão permaneça a mesma, decorridos quase 100 anos quando se evidencia uma longevidade de quase o dobro em relação ao ano em que o benefício foi criado. Por essa razão necessita ser repensado, modificado ou extinto.

3.5 Art. 1º da Lei nº. 8.213/91 à luz da cobertura do Seguro Social e do risco social