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CAPÍTULO II DA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA

2.2 Conceitos de Previdência Social

Conceituar Previdência Social é tarefa muito difícil, como observamos nos inúmeros livros que tratam do tema. A melhor conceituação, a nosso ver, para Previdência Social encontra-se na própria redação do art. 1.º da Lei nº. 8.213/91, in verbis:

Art.1º - A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

Da leitura deste texto, podemos chegar à sua verdadeira essência, em que fica patente a disposição do Estado em gerir um programa social de amparo para o trabalhador e seus dependentes, bem como para aqueles que, mesmo não estando envolvidos com o fato gerador da contribuição previdenciária ou hipótese de incidência da contribuição previdenciária, o exercício do trabalho remunerado, venham a verter contribuições para o sistema, com a expectativa de ver realizada a sua manutenção nos eventos definidos em lei, provocadores do pagamento de benefícios.

Alguns autores quando fazem alusão ao art. 1º da Lei nº. 8.213/91, afirmam que tanto

a LOPS (Lei nº. 3.807/1960) quanto a Consolidação das Leis da Previdência Social – CLPS

(Decreto nº. 89.312/1984), e ainda a Lei nº. 8.213/91 não conceituam Previdência Social, apenas assinalam a sua finalidade, que é oferecer os recursos imprescindíveis à manutenção dos beneficiários. Defini-la é papel da doutrina, que apresenta várias descrições, conforme a ótica do especialista.

Poderíamos, também, procurando definir a Previdência Social, dizer que pode ser concebida como a técnica de proteção social propiciadora dos meios indispensáveis à

manutenção da pessoa humana – quando esta não pode obtê-los ou não é socialmente

desejável auferi-los pessoalmente por meio do trabalho, devido à maternidade, nascimento, incapacidade, invalidez, desemprego, prisão, idade avançada, tempo de contribuição ou morte – mediante contribuição compulsória distinta, proveniente da sociedade e dos participantes.

Analisando os termos do texto, chegamos a algumas conclusões imperativas para os

contribuintes e para a própria manutenção e saúde do sistema. Trata-se de analisar e conhecer as suas ações e os seus destinatários, visto que, no campo da Saúde e da Assistência Social, o direito é de cidadania, conferindo-se ao cidadão o acesso independentemente de qualquer providência que não seja a de comprovar ser cidadão brasileiro. No campo da Previdência Social, não basta somente ser cidadão brasileiro, há de ser, também, filiado obrigatório e contribuinte compulsório, para que tenha acesso e direito às suas ações.

O Sistema Previdenciário brasileiro impõe aos que a ele se filiam, compulsoriamente (segurados obrigatórios) ou não (segurados facultativos), a necessidade do cumprimento de determinadas obrigações para que garantam direitos. Sem tais cotizações o benefício não será pago por faltar-lhe cumprimento de requisito fundamental para tanto, qual seja a manutenção da qualidade de segurado.

O pagamento de benefício previdenciário se conquista antes, por meio de filiação considerada regular (para contribuintes obrigatórios ou facultativos) e com o pagamento de contribuições, que são, na forma da lei, compulsórias (para segurados obrigatórios).

O recolhimento de pelo menos uma contribuição dá legalidade ao ato de filiação e de inscrição do contribuinte junto à Previdência Social, ainda que essa contribuição seja proporcional aos dias trabalhados, em caso de empregados ou domésticos. O direito se estabelece ainda que a primeira contribuição não tenha sido recolhida, mas já considerada devida. Não havendo o cumprimento desses dois requisitos, a conotação será tipicamente assistencial, como é o caso do Amparo Assistencial e da Renda Mensal Vitalícia, devida a pessoas caracterizadamente em estado de necessidade, inválidas ou idosas, que nunca contribuíram ou que o fizeram de forma insuficiente para obterem benefícios previdenciários.

Exceção feita a esse entendimento ocorre somente com uma categoria de segurado, os chamados segurados especiais (Art. 12, V e suas alíneas da Lei nº. 8.212/1991) por trabalharem em regime de economia familiar e mútua ajuda dos membros da família. Essa categoria mesmo estando dispensada de contribuir para a Previdência Social, quando não comercializa a produção rural (Art. 12, X da Lei nº. 8.212/1991), não está isenta de inscrever- se na Previdência Social nessa condição, sob pena de não lhe ser pago benefício de valor mínimo quando requerido (mínimo constitucional no valor de um salário-mínimo).

Para a Prof.ª Heloisa Hernandez Derzi, a Previdência Social é de natureza congênita,

tendo por escopo assegurar, aos seus beneficiários, “meios indispensáveis de manutenção” em

situações adversas, em que se encontra alterada a capacidade de ganho oriunda do trabalho

humano. A relação jurídica prestacional, isto é, “a relação protetora por excelência – a qual

nos interessa de perto analisar – é de extrema complexidade, ao exigir, para sua concretização, outras relações instrumentais, predecessoras da ocorrência do evento protegido e que poderão

igualmente sucedê-lo, caso haja interesse de agir por parte do segurado.”86.

Celso Barroso Leite, referindo-se à Previdência Social brasileira e ao seu potencial de

cobertura, considera que: “[...] pelo menos em princípio e em teoria, a Previdência Social

brasileira abrange hoje, em caráter obrigatório, quem quer que exerça atividade remunerada

no território nacional, amparando também os respectivos dependentes.”87.

Previdência é proteção social. É esperança viva e expectativa de garantia de manutenção digna em épocas difíceis, principalmente na velhice. Esse, em tese, um objetivo social permanente a ser buscado pelos administradores públicos, consolidar a proteção social, procurando elevar os padrões de dignidade da pessoa humana, tanto por meio da previdência quanto da assistência social. Não importa a forma ou a área da seguridade que atenderá o cidadão e o contribuinte; importa que o destinatário da norma social seja, sempre, o homem.