• Nenhum resultado encontrado

Requisitos para concessão do benefício Aposentadoria por Tempo de Contribuição

CAPÍTULO V A APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

5.2 Requisitos para concessão do benefício Aposentadoria por Tempo de Contribuição

Torna-se importante citar, embora já tendo nos referido a eles, os requisitos que a lei destaca como necessários para a concessão do benefício Aposentadoria por Tempo de Contribuição, a fim de se constatar possíveis riscos ou contingências, que determinem a sua concessão.

Na atualidade, conforme já mencionado anteriormente, seguindo disposições legais que regulamentam a concessão dessa espécie de benefício, são basicamente dois os requisitos necessários para deferimento dos pedidos. Para melhor compreensão da matéria, a suplementação desse tempo a mais de contribuição previsto no art. 9º da EC-20/1998 nada mais é que uma regra de transição, que permite aos contribuintes aposentarem-se pelas regras anteriores às da EC 20/1998, se lhes forem mais vantajosas. Veja-se:

Emenda Constitucional nº. 20/1998

Art. 9º - Observado o disposto no art. 4º desta Emenda e ressalvado o direito de opção a aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o regime geral de Previdência Social, é assegurado o direito à aposentadoria ao segurado que se tenha filiado ao regime geral de Previdência Social, até a data de publicação desta Emenda, quando, cumulativamente, atender aos seguintes requisitos:

I - contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e quarenta e oito anos de idade, se mulher; e

II - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a 20% - vinte por cento - do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior.

§ 1º - O segurado de que trata este artigo, desde que atendido o disposto no inciso I do "caput", e observado o disposto no art. 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quando atendidas as seguintes condições:

I - contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de: a) trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e

b) um período adicional de contribuição equivalente a 40% - quarenta por cento - do tempo que, na data da publicação desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante da alínea anterior;

II - o valor da aposentadoria proporcional será equivalente a 70% -setenta por cento - do valor da aposentadoria a que se refere o "caput", acrescido de

5% - cinco por cento - por ano de contribuição que supere a soma a que se refere o inciso anterior, até o limite de cem por cento187.

A inteligência do dispositivo determina que pode se aposentar pela regra anterior aquele que cumprir um tempo adicional de 20% - vinte por cento ou 40% - quarenta por cento, mulheres e homens, respectivamente, calculados sobre o tempo que faltava para se aposentar em 16 de dezembro de 1998, data da publicação da Emenda Constitucional nº. 20/1998.

A título de exemplificação, podemos citar o caso do segurado que em 12/1998 contava 20 anos de contribuição e que poderia se aposentar, pelas regras anteriores, aos 30 anos de contribuição, faltando-lhe, assim, dez anos de contribuição para que adquirisse direito à aposentadoria proporcional.

Dessa forma, além dos dez anos exigidos pela legislação anterior, o segurado terá que contribuir por mais quatro anos, ou seja, pagar um tempo adicional equivalente a 40% - quarenta por cento - sobre o tempo que faltava para aposentar-se, baseando-se nos requisitos exigidos pela legislação anterior, tendo, assim, o direito de aposentar-se, pelas regras anteriores.

Essas regras referidas, além de contar somente o tempo de contribuição como requisito essencial à concessão, admitem que o cálculo do benefício seja apurado pelos valores cotizados nos últimos três anos.

Idêntico exemplo de concessão pelas regras anteriores poderá ser atribuído à segurada que tenha 20 anos e que poderá se aposentar proporcionalmente pelas regras anteriores a partir de 25 anos de contribuição, devendo, nesse caso, contribuir durante seis anos. Por faltarem-lhe cinco anos, e adicionando-se a esse tempo o percentual de 20% - vinte por cento, terá direito ao benefício de Aposentadoria por Tempo de Contribuição proporcional, após contribuir por mais um ano além dos cinco, com qualquer idade.

Como se depreende, é de nítida clareza e de convencimento inquestionável, a falta de risco social ou contingência do benefício, que se defere pelo simples cumprimento de um tempo de pagamento e após completar determinada idade mínima (48 para mulheres e 53 para homens) ou o tempo adicional referido, em qualquer idade.

Doravante, para facilitar o entendimento do que será exposto, adotaremos na evolução do nosso estudo somente a regra permanente (enquanto vigente), que exige, como requisitos

187 BRASIL. Emenda Constitucional nº. 20, de 15 de dezembro de 1998. Modifica o sistema de previdência

social, estabelece normas de transição e dá outras providências. Disponível em:

para a concessão do benefício, tempo de contribuição associado à idade, não mais nos reportando às regras de transição.

Como se vê, ao longo do tempo, desde a sua criação em 1923, o benefício de Aposentadoria por Tempo de Contribuição tem sido alvo de frequentes alterações.

A reforma previdenciária levada a efeito em 1998, pela Emenda Constitucional nº 20, teve um efeito extremamente importante para o sistema, embora tímido em determinadas particularidades. O governo federal pretendia muito mais em termos de mudanças, porém o Congresso Nacional, pressionado pelas massas populares, principalmente os segmentos mais organizados das classes trabalhadoras, como sindicatos, associações de aposentados e pensionistas, acabou por ceder e os resultados nas votações foram considerados os possíveis naquele momento.

Entre as mudanças, pretendia-se retirar do ordenamento legal previdenciário a Aposentadoria por Tempo de Serviço, prevalecendo a partir da mudança, somente a aposentadoria por idade, devida aos rurais a partir de 55 anos (para mulheres) e 60 anos para os homens e aos 60 anos para as mulheres e 65 para os homens da área urbana.

Também era plano do governo federal reduzir o limite máximo de contribuição de dez para três salários mínimos, por entender que esse limite atenderia a 93% das faixas de renda dos trabalhadores brasileiros, visto que, ao se aposentarem praticamente manteriam o mesmo

status quo anterior, tratando-se dos seus rendimentos. Nesse particular o governo desistiu de levar a mudança à votação em plenário, ao ser convencido de que a perda da arrecadação seria, naquele momento, prejudicial aos interesses do Tesouro.

Cumpre salientar que os reajustes concedidos ao limite máximo de contribuição (teto máximo) e dos benefícios previdenciários, conforme vem sendo praticados na atualidade (índice de reajuste do teto e benefícios pelo INPC e valor do salário-mínimo por critérios políticos), se encarregarão de reduzir, em breve tempo, o limite máximo de contribuição ao valor do salário-mínimo.

A confirmação dessa linha de raciocínio é histórica, bastando ver que, em julho/1991 quando foi aprovada a Lei nº. 8.212/1991, que dispõe sobre o Plano de Custeio da Previdência Social, o valor do salário-mínimo era de 17 mil cruzeiros e o limite máximo de contribuição representava 170 mil cruzeiros, denotando-se, assim, uma relação de um salário-mínimo para dez salários-mínimos.

Posteriormente à vigência da Lei nº. 8.212/1991, tivemos a equivalência do limite máximo de contribuição e o teto somente nos anos de 1998 e 2004, conforme se pode ver da Tabela 3, a seguir. Denota-se na mesma tabela que a equivalência do teto ao salário-mínimo,

diminui a cada ano, levando-nos a crer que em um futuro não muito distante, provavelmente o teto e o salário-mínimo serão iguais. Os valores inseridos na tabela são reais até o ano de 2012 e, baseando-se na mesma série histórica, fizemos uma projeção para o que poderá representar o salário-mínimo e o limite máximo de contribuição até o ano 2020.

Quadro 15 - Demonstrativo da Evolução e da Projeção do Salário-Mínimo e do Limite

Máximo de Contribuição – Período de 1991 a 2020

Anos Salário-Mínimo Teto-LMC Relação Teto c/ SM

1991 17.000,00 170.000,00 10,000 1998 120,00 1.200,00 10,000 2004 240,00 2.400,00 10,000 2005 260,00 2.508,72 9,650 2006 300,00 2.801,82 9,340 2007 310,00 2.894,28 9,340 2008 380,00 3.038,99 8,000 2009 465,00 3.218,90 6,920 2010 510,00 3.416,24 6,700 2011 545,00 3.689,66 6,770 2012 622,00 3.916,20 6,300 2013 678,00 4.159,00 6,130 (*) 2014 748,00 4.369,28 5,493 2015 814,50 4.595,82 5,073 2016 881,00 4.822,36 4,653 2017 947,50 5.048,90 4,233 2018 1.014,00 5.275,44 3,813 2019 1.080,50 5.501,98 3,393 2020 1.147,00 5.728,52 2,973

*Até 2013 os números são reais. A partir de 2014 são estimados com base nas projeções anteriores.

Fonte: Portarias Ministeriais (MPS) publicadas.

Organização: 2014 em diante, PEREIRA, José Maercio, 2013.

Assim colocada a questão da equivalência, a posição de que após 30 ou 35 anos de trabalho o trabalhador já se encontra com a sua capacidade de trabalho bastante exaurida nem sempre é motivo de convencimento e aceitação. Nosso posicionamento para sanear questões relacionadas a este particular repousa na possibilidade da abertura de um leque maior, quando for o caso, para a inclusão de determinadas atividades, após devidamente caracterizadas, como situações especiais, que poderiam, aí sim, motivar aposentadorias especiais e a consequente saída do trabalhador mais cedo do mercado de trabalho.

A possibilidade de aposentar-se com um tempo de contribuição menor ou idade inferior à estabelecida poderia ser justificada após o desenvolvimento de estudos adequados pelos Ministérios do Trabalho, da Saúde e da Previdência, visando tal fim não como questão encerrada, mas uma questão dinâmica, passível de modificações a cada momento em que se alterar a natureza do trabalho, ocorrer a introdução de técnicas mais avançadas, aliados aos comportamentos sociais.

Na atualidade, o que é contrário ao pensamento ora esposado é a generalização do benefício, visto que a quase totalidade das pessoas que se aposentam por tempo de contribuição continuam no pleno exercício de suas atividades, contribuindo normalmente após o ato de aposentação e, no futuro, serão fortíssimos candidatos ao pedido de desaposentação, com recálculo de suas aposentadorias, fato que tem se tornado uma rotina.

Os sistemas de Previdência Social, em todo o mundo, são criados basicamente, visando acobertar os seus cidadãos contra riscos sociais conhecidos e desconhecidos, que possam levá-los, em qualquer idade, à falta de manutenção. A sua criação e regulamentação implica criar obrigações para o Estado soberano, que terá que suportar, a partir de determinada época, todos os encargos com a sua população, contribuinte ou não, impossibilitada de se manter.

Ora, qual a razão determinante, o risco social a justificar o pagamento do benefício para essas idades consideradas baixas em relação à expectativa de sobrevida dos brasileiros?

Tanto tem ocorrido assim que os legisladores, ao longo do tempo, vêm alterando as normas no campo previdenciário, de forma a dificultar ou protelar, tanto quanto possível, o pagamento do benefício: primeiro pela mudança conceitual de tempo de serviço para tempo de contribuição, segundo pelo estabelecimento de uma idade mínima, sendo a concessão do benefício somente possível a partir do seu cumprimento e, terceiro, pela instituição do fator previdenciário, inserido no contexto legal pela Lei nº. 9.876/1999.

Há uma tendência mundial no sentido dos Estados soberanos proporcionarem aos cidadãos, dentro de uma política de extrema racionalidade e de mínimos, o máximo de suas

possibilidades188. Esses dois parâmetros devem ser observados de maneira séria a fim de que

se tenha um sistema equilibrado do ponto de vista financeiro e atuarial, com eleição e escolha de benefícios que realmente acobertem os riscos sociais mais relevantes.

Entendemos que o que se busca não é extensa relação de benefícios previdenciários, mas espécies que, realmente, possam ir ao encontro dos anseios maiores da população, aproximando-a, tanto quanto possível, do seu status quo anterior à percepção do benefício.

A análise das concessões de Aposentadoria por Tempo de Contribuição no ano de 2010 indica que, apesar das atuais regras, que exigem 35 anos de efetiva contribuição para os homens e 30 anos para as mulheres, ressalvando o tempo adicional de contribuição previsto no art. 9º da EC-20/1998, nota-se que o benefício é concedido quando o destinatário se encontra, ainda, em idade totalmente produtiva.

A seguir, a Tabela 4, com indicativo de que em 2010 houve a concessão de 276 mil Aposentadorias por Tempo de Contribuição, sendo 183 mil para homens e 93 mil para mulheres, segundo o Anuário Estatístico do Ministério da Previdência Social.

Quadro 16 - Demonstrativo de concessões de aposentadorias por tempo de contribuição em 2010

Concessões de ATCs em 2010 Concessões Idade Média

Total = 276.841 53

Homens = 183.303 54

Mulheres = 93.538 51

Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social – AEPS; Boletim Estatístico da Previdência Social - BEPS.

Elaboração: SPS/MPS.

A idade média para a concessão do benefício foi de 53 anos, sendo 54 anos para os homens e 51 anos para as mulheres. Esses dados deixam claro que há um grave problema na concessão e manutenção da ATC, já que as idades na data do requerimento podem ser consideradas muito baixas, mesmo após a implantação do fator previdenciário.

Sobre a possibilidade de se introduzirem novas reformas no sistema, principalmente no que reporta ao fator previdenciário e aos fatores 85/95, o especialista em Direito

Previdenciário, Wladimir Novaes Martinez observa: “Aposentadoria por tempo de

contribuição mantida com limite pessoal etário, definida a partir da idade somada ao tempo de

contribuição, e dividida pela condição socioeconômica do segurado, isto é, a Formula 95.”189.

Vejamos, na sequência, as alterações introduzidas no cálculo da renda da Aposentadoria por Tempo de Contribuição, com a implantação do fator previdenciário.

189 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à lei básica da Previdência Social – Plano de benefícios – Lei