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CENSO POPULAÇÃO TOTAL

4.1.2 A expansão urbana

A gênese da cidade se deu na sua relação com o rio e da inserção do porto mercante as suas margens. Com o surgimento da função portuária, Itajaí teve seu sítio histórico de ocupação ajustado à margem direita da foz do rio Itajaí-Açu. O rio foi, portanto, o elemento gerador e direcionador da forma urbana por um longo período da história do município.

Figura 4 - Evolução urbana de Itajaí. Fonte: SPDU – Prefeitura de Itajaí

Por muito tempo essa relação permaneceu intocada, caracterizando uma ocupação restrita e esparsa, até as primeiras décadas do século XX. Além do centro histórico, pequenas aglomerações se instalaram pelo território municipal. Esses pequenos núcleos urbanos mantinham, quase todos, uma certa autonomia e constituíram tênues relações com o centro principal. É o caso das comunidades de Espinheirinhos, Salseiros e Itaipava, por exemplo.

Conforme podemos perceber na figura 4, a história da expansão urbana de Itajaí pode ser didaticamente dividida em quatro momentos, cada um significando a transposição de condicionantes à ocupação. O primeiro momento se inicia com a gênese da cidade até a década de 40 do século passado. Nesse período, a ocupação se restringia ao eixo rodoviário que cruzava a cidade e conformava um corredor de comunicação do norte do Estado (Joinville) com a capital. Esse eixo estava situado praticamente às margens do rio Itajaí-Açú. Nesse momento, portanto, Itajaí permaneceu como um pequeno aglomerado urbano.

Em um segundo momento a evolução urbana ficou condicionada às barreiras representadas pelo rio Itajaí-Mirim, um dos principais afluentes do Itajaí-Açu. Como é possível perceber na figura 4, a ocupação urbana se concentrou nesse espaço até a década de 70, quando a construção de pontes facilitou a comunicação e possibilitou a expansão do tecido urbano para novas áreas além do Itajaí-Mirim. Nesse momento, surgiram os bairros residenciais de camadas de renda média e baixa da população, que se localizavam periféricas ao centro histórico: São João, São Judas Tadeu, Dom Bosco e Nossa Senhora das Graças tiveram seu início nesse período. Em detrimento da periferia, boa parte da classe economicamente favorecida da cidade se concentrava próximo ao centro histórico, que dispunha dos serviços e das “facilidades” urbanas.

No terceiro momento, que iniciou na década de 70 e foi até final da década de 90, o principal condicionante já não era mais um elemento natural, mas sim um elemento construído. A BR-101 que dinamizou a economia e a evolução urbana local apresentou-se também como principal barreira à expansão urbana durante esse período.

Boa parte da expansão urbana foi o resultado da ação empreendida pelo Estado. Através das políticas de habitação, implantadas em larga escala pelo BNH (Banco Nacional de Habitação), foram construídos em Itajaí, num curto espaço de tempo, três grandes conjuntos habitacionais, denominados Cidade Nova I, II e III. Não apenas o nome era semelhante, mas a tipologia urbana e arquitetônica dos conjuntos eram uniformes, à semelhança do que foi implantado nas áreas periféricas de um grande número de cidades brasileiras.

Surgiram e se desenvolveram rapidamente também outros bairros populares, como São Vicente e Cordeiros. Se analisarmos o crescimento populacional de Itajaí, perceberemos

que entre as décadas de 80 e 90, a população do município foi acrescida de trinta e um mil novos habitantes, muitos deles provenientes de fluxos migratórios, sobretudo do planalto catarinense. Esta população se instalou, preferencialmente, nos bairros populares periféricos, onde o custo da terra era mais baixo.

O quarto momento, a partir da década de 90, representa a transposição da BR-101 enquanto limite à ocupação. A consolidação de uma área de características notadamente urbanas às margens da BR-101 e, sobretudo nas áreas posteriores, nos eixos rodoviários de ligação com Brusque e Blumenau - mesmo que estes ainda possuam elementos que confirmam sua recente condição de área rural – projeta um futuro de rápidas transformações no território municipal. Tendo em vista o dinamismo econômico da cidade, as características sócio-espaciais de sua ocupação, marcadas pela expansão do tecido urbano e a criação de áreas periféricas, pode-se prever uma situação de agravamento das questões urbanas, sobretudo aquelas ligadas aos desequilíbrios sociais, espaciais, econômicos e ambientais do espaço intra-urbano.

É nesse período que se inicia também um processo mais intenso de conurbação de Itajaí com Balneário Camboriú, relação marcada por uma continuidade da mancha urbana, sobretudo no eixo viário representado pela seta inferior da figura 4. Essa conurbação gera uma relação intensa de interdependência entre os municípios e o surgimento de contingentes populacionais que praticam movimentos pendulares, no deslocamento entre a moradia e o local de trabalho, principalmente na direção Balneário Camboriú – Itajaí.

Nesses quatro momentos, o processo de desenvolvimento da cidade ocorreu dinamizada por diferentes ciclos econômicos, mas sobretudo, pelas atividades portuárias desenvolvidas às margens do rio Itajaí-Açu. O porto mercante se transformou na ferramenta básica de desenvolvimento econômico da cidade. Primeiramente com a extração e comercialização de madeiras, que foi responsável pela chegada dos primeiros imigrantes açorianos ao município, e posteriormente, com o declínio do ciclo madeireiro na década de 70, iniciando a movimentação de cargas gerais. Nas décadas de 80 e 90, inserindo-se nas mudanças da economia global, o porto iniciou uma série de modificações e investimentos tecnológicos, passando a trabalhar, quase que exclusivamente, com o transporte de cargas containerizadas.

A movimentação de cargas permaneceu estagnada até meados da década de 90, quando a municipalização do porto trouxe nova dinâmica à atividade. A partir desse período, a atividade portuária tem mantido altos índices de incremento na circulação de cargas. Entre os anos de 1990 e 2004, por exemplo, a circulação de mercadorias foi multiplicada por oito, passando de setecentos e trinta mil toneladas para cinco milhões e setecentos mil toneladas (ITAJAÍ, 2004).

Atualmente, a atividade portuária e, secundariamente, a atividade pesqueira, conformam a base econômica de Itajaí. A primeira, segundo dados do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (ITAJAÍ, 2004), gera cerca de 6.680 empregos diretos.

Apesar de se constituírem na base econômica da cidade, essas atividades não são únicas. A cidade, sobretudo a partir dos anos 80, diversificou sua economia, apresentando também importante comércio atacadista (pólo redistribuidor de derivados de combustíveis, de produtos químicos e alimentícios), desenvolvendo também uma considerável centralidade de serviços e comércios, base do setor terciário.

Esses processos acabaram por delimitar uma condição de ocupação do território muito peculiar a Itajaí. As atividades portuárias, além de importante elemento no processo de desenvolvimento econômico da cidade, também foram determinantes no processo de ocupação e expansão urbana. A necessidade de novas áreas para o incremento das atividades portuária, a instalação dos numerosos depósitos de contêineres, a necessidade de viabilizar a mobilidade das mercadorias que transitam pelo porto e o intenso fluxo de caminhões tornaram, com o passar dos anos, os principais dilemas colocados ao processo de gestão e planejamento da cidade.

No processo mais recente de expansão da cidade, tem ocorrido uma diferenciação entre padrões de ocupação que são representados, em seus extremos, pela clássica relação centro-periferia: ocorre uma concentração das classes economicamente hegemônicas na região central da cidade (centro) - onde se percebe um processo mais intenso de verticalização - e os bairros da Fazenda e Praia Brava. Nessa área se concentram boa parte dos equipamentos e serviços urbanos e parcela considerável dos investimentos públicos.

Por outro lado, a partir da década de 80, consolidam-se áreas periféricas a esse centro principal, onde se instalaram grande parte da população migrante. Nestas áreas, representadas principalmente pelos bairros de Cordeiros, Cidade Nova e São Vicente, concentraram-se as populações economicamente desfavorecidas, que passaram a reclamar da implantação de equipamentos e serviços urbanos e uma atuação mais incisiva do poder público. Essas condições podem ser compreendidas ao averiguar que o município, em pouco mais de três décadas, absorveu um crescimento demográfico da ordem de 131%, segundo os sensos do IBGE de 1970, 1980, 1991 e 2000.

À semelhança de outras cidades de médio e grande porte no Brasil, esse rápido processo de urbanização provocou uma concentração populacional, que aliado à incapacidade do município em absorver tal demanda, gerou desequilíbrios sociais que se espacializaram no território municipal. A situação econômica de parte do contingente populacional impossibilitou seu acesso legal à terra urbanizada e, sobretudo, ao que LEFEBVRE (1991) chama de Direito à Cidade, ou seja, o direito às facilidades e benefícios oriundos do processo de urbanização e da inclusão destas pessoas na vida da cidade.

Segundo dados da Diretoria de Habitação, ligada à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano de Itajaí, o município possui vinte e oito áreas de ocupações irregulares, onde vivem mais de quatro mil famílias. São inúmeros lotes ocupados irregularmente, em sua maioria localizados em área de risco social e ambiental onde sua população possui, em média, renda de até dois salários mínimos (ITAJAÍ, 2006b).

Cabe destacar nesta dinâmica de crescimento e de expansão do tecido urbano, a função privilegiada do porto, equipamento que esteve muito ligado ao histórico de ocupação da cidade, e que hoje, continua tendo função preponderante na definição das diretrizes de desenvolvimento da cidade. Por se localizar na área privilegiada da cidade, junto à orla fluvial, dentro do centro histórico, e contíguo à área onde se concentra a maioria dos comércios e serviços, bem como boa parte da classe hegemônica da cidade, o porto tem gerado grandes conflitos, sobretudo relacionados à circulação indiscriminada de contêineres e a necessidade de expansão de suas atividades para áreas adjacentes à atual.