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A EXPERIÊNCIA ACUMULADA E AS NOVAS EXPERIÊNCIAS

A experiência é uma das mais sólidas raízes da teoria e uma das mais sólidas bases da orientação e actuação correctas de um partido.

Há muitos tipos de experiência. De um partido, de um organismo, de um militante. Há experiências de âmbito mais geral e experiências de âmbito limitado. Há experiências de validade mais ou menos perdurável.

A experiência pode traduzir-se em termos gerais. Pode per- mitir o avanço ideológico e teórico. Pode possibilitar a descoberta de leis objectivas. Em qualquer caso, é sempre uma afirmação do concreto. A experiência resulta do concreto e afere-se no concreto.

Uma experiência pode respeitar a um único acontecimento.

mesma problemática, da intervenção de factores objectivos e subjectivos, de soluções diferentes, de resultados positivos ou negativos dessas soluções, de formas e métodos de intervir, de dirigir, de executar.

A experiência revolucionária põe a consciência e a acção em confronto com a realidade. Pode confirmar, alterar, contra- riar, corrigir conhecimentos e ideias anteriores. Em qualquer caso, cada nova experiência enriquece a experiência anterior.

Experiência é memória. Mas a memória não pode signifi- car a pretensão de como norma repetir a experiência passada numa nova situação concreta. A memória da experiência impli- ca a memória da maior das experiências: a experiência de que na luta revolucionária se devem ter sempre em conta as situa- ções concretas.

No domínio da táctica, por exemplo, o Partido tem de ter a agilidade, a flexibilidade, a maleabilidade, a rapidez e a pron- tidão para descobrir e compreender as novas situações e encon- trar as respostas adequadas.

A experiência não limita nem contraria, antes impulsiona e possibilita a criatividade revolucionária.

Ao considerar-se a formação, enriquecimento, valor e aplica- ção da experiência, três aspectos principais são de considerar. O primeiro aspecto a considerar é o valor da experiência

passada e o valor das novas experiências.

A experiência passada acumulada pelo Partido é um ver- dadeiro arsenal de armas eficazes na acção política, na luta de massas, na vida interna do Partido.

Mas a actividade partidária traz cada dia numerosas expe- riências, novas, diversificadas, por vezes imprevistas.

É um erro contrapor precipitadamente as novas expe- riências às experiências passadas. Mas é igualmente um erro (por vezes uma incapacidade) a recusa a examinar, a compreender, a assimilar, a aceitar as novas experiências, opondo-lhes as ex- periências passadas como verdades absolutas.

A inovação pela inovação é tão errada e perigosa como o imobilismo.

Depois de 48 anos de actividade clandestina, com a Revo- lução de Abril, o Partido foi confrontado com condições com- pletamente novas, para as quais não havia experiência própria acumulada.

Se a Direcção do Partido, com longa experiência passada, fe- chasse a sua atenção às transformações dos tempos, às novas realidades, à necessidade de novas respostas e às novas experiên- cias, mostrar-se-ia a breve trecho completamente incapaz de tra- çar uma orientação justa e de conduzir a actividade do Partido.

Sem perder de vista as riquíssimas experiências do pas- sado, foi por ter procurado dar soluções adequadas à nova situação que o Partido, conquistada a legalidade com a revolu- ção, foi capaz de intervir na vida nacional e no processo revo- lucionário como força política determinante.

O segundo aspecto a considerar é a relação entre a expe-

riência colectiva e a experiência individual.

A experiência acumulada, cujo exame e conhecimento são essenciais — embora abranja uma infinidade de experiências in- dividuais e contenha sempre ensinamentos e novidades a rece- ber da experiência individual de cada militante —, é sempre uma experiência colectiva.

Da mesma forma, as novas experiências que se vão alcan- çando, tendo embora muitas componentes individuais, são es- sencialmente experiências colectivas.

Uma experiência individual merece atenção. Mas só tem valor como experiência partidária quando aferida ou compro- vada por outras experiências individuais, quando passe a ser uma experiência válida para o colectivo.

Cada militante e cada organismo não podem bastar-se com a sua própria experiência, mesmo que esta tenha valor elevado e insubstituível. Têm absoluta necessidade da experiência dos outros militantes, organismos e organizações e da experiência colectiva e global do Partido.

Os que sobrevalorizam a experiência própria, fecham os olhos à experiência dos outros e contrapõem sistematicamente sem exame crítico a sua experiência própria à experiência dos

outros, e, mais grave ainda, à experiência colectiva acumulada, correm direito a grandes erros e insucessos.

A verdadeira experiência é uma resultante de outras expe- riências.

O terceiro aspecto a considerar é a relação entre a expe-

riência própria do Partido e a experiência dos outros parti- dos, do movimento comunista internacional, do movimento revolucionário em geral.

A experiência alheia é do mais alto valor. É imprescindível para o acerto da própria actividade.

A experiência do movimento revolucionário mundial e, no concreto, a experiência dos outros partidos comunistas e ope- rários constituem uma contribuição sem a qual qualquer parti- do tem extrema dificuldade em se orientar correctamente.

Há experiências de validade universal, cuja riqueza permi- te importantes desenvolvimentos teóricos e inclusivamente a descoberta de leis objectivas da evolução social.

Fechar os olhos à experiência internacional acumulada e sobrestimar e, por vezes, querer generalizar a experiência pró- pria (ou o que se julga ser a experiência própria) conduz ine- vitavelmente a graves erros e fracassos.

É porém igualmente errado e perigoso não ter em conta as diferenças de situação e a realidade em que se actua, subes- timar a experiência própria e as suas potencialidades, e copiar mecanicamente as experiências alheias.

Na sua aplicação, a experiência deve ter em conta a seme- lhança da situação alheia e própria, mas tem também de ter em conta as diferenças distintivas.

Por mais ricas que sejam, as experiências alheias devem ser examinadas, estudadas, consideradas de forma crítica, confronta- das com a realidade em que se actua e utilizadas ou aplicadas de forma criativa sempre com os olhos atentos às lições da vida. Em partidos de criação recente, a experiência de outros partidos pode tornar-se em muitos aspectos dominante. Em muitos casos, a experiência dos outros é por sua vez posta à ex- periência, antes de ser assimilada.

Mas, na medida em que um partido se desenvolve, não só ganha maior capacidade para assimilar de forma crítica as ex- periências de outros partidos como adquire a sua própria ex- periência, que passa a ser um ponto de referência e um ângulo de visão obrigatório na apreciação e assimilação das experiên- cias dos outros.

Em resumo, a experiência é uma lição do passado válida para numerosas situações no presente. E é uma lição do pre- sente para cada hora que se vive. A experiência é uma lição em movimento, que se confirma, que se corrige, que se modifica, que se enriquece cada dia e cada hora.

É tarefa do Partido estudar, assimilar, complementar, ajustar e enriquecer a experiência, como elemento capital para a sua correcta e eficiente orientação e actividade.