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A crítica e a autocrítica constituem processos normais e correntes do trabalho do Partido. São parte integrante do estu- do dos acontecimentos, da análise da actividade e da conduta do Partido, dos seus organismos e dos seus quadros.

Qualquer balanço do trabalho realizado implica que se observem, não só os êxitos e os resultados positivos mas as in- suficiências, as deficiências, as faltas e os erros, e que se enca- rem as medidas e os esforços para superá-los e corrigi-los.

Crítica e autocrítica devem realizar-se segundo um idêntico processo de análise. A principal, senão a única, verdadeira di- ferença é que na autocrítica o processo é conduzido, ratificado ou reconhecido por aqueles mesmos a quem cabe a responsa- bilidade da deficiência ou do erro.

Trata-se de um método de trabalho que se insere necessária e obrigatoriamente em toda a actividade partidária e que existe independentemente da responsabilização, ainda que a ela con- duza.

sultaram prejuízos imediatos e visíveis. Nem por isso é de mi- nimizar a importância da crítica ou de dispensar a autocrítica. A gravidade dos erros não se deve somente medir pela gravi- dade das suas consequências negativas mas por aquelas que po- deriam ter tido.

Isto é: sempre que se verificam deficiências e erros, e inde- pendentemente das suas consequências, a crítica e a autocríti- ca são indispensáveis. O erro é um mal, a sua repetição sem- pre pior. Na luta revolucionária, tão importante como colher a experiência dos êxitos é colher a experiência das deficiências, dos erros e das derrotas.

Sendo a crítica e a autocrítica práticas normais e naturais, podem realizar-se correctamente sem que as palavras «crítica» e «autocrítica» sejam sequer invocadas.

Tanto a crítica como a autocrítica são formas de exame ob- jectivo dos factos e do melhoramento e correcção da orienta- ção e da prática do Partido, dos seus organismos e dos seus quadros.

Consideram-se insuficiências? Apontam-se e tomam-se me- didas para superá-las. Consideram-se erros? Apontam-se e to- mam-se medidas para corrigi-los. Isso é o essencial.

Num partido como o nosso, em que o trabalho colectivo se tornou uma regra fundamental de toda a actividade, a críti- ca e a autocrítica tomam também as mais das vezes uma expres- são colectiva. Isto é: critica-se o colectivo e autocritica-se o colectivo.

Quando se examina a actividade realizada por um organis- mo e se conclui (mesmo sem aflorar directa e explicitamente a responsabilização) que houve deficiências, faltas, imprevisão, etc., está-se a fazer uma crítica e, se esse exame é feito pelo próprio organismo, este está a fazer crítica e a fazer autocríti- ca, mesmo que o não declare. O importante não é a evocação do nome mas a prática real.

A crítica e a autocrítica colectivas não dispensam natural- mente a apreciação da actividade e do comportamento indivi- duais. São diferentes mas complementares.

O facto de considerarmos a crítica e a autocrítica como formas naturais e simples do trabalho não significa que não haja dificuldades na sua compreensão e na sua prática.

Os factos mostram que tanto organismos como quadros estão muito mais prontos para a crítica do que para a autocríti- ca. Através de centenas de respostas a um Questionário proposto às organizações sobre a vida interna do Partido em 1983, veri- ficou-se que por toda a parte fazer crítica é prática corrente, mas fazer autocrítica, sobretudo quando individual, é difícil, dificul- toso e por vezes raro.

Observa-se com grande frequência que o individualis- mo, o amor-próprio, o orgulho, a suficiência, mesmo a timidez, criam sérios obstáculos para que os camaradas façam autocrítica. A resistência confunde-se muitas vezes, não tanto com uma in- capacidade para apreciar a insuficiência ou erro mas com uma incapacidade para assumir a responsabilidade respectiva.

É porém de sublinhar que os processos psicológicos que determinam que certos quadros tenham maior ou menor difi- culdade em expressarem uma autocrítica são extremamente diversos e complexos.

Assim, há camaradas que dificilmente explicitam aos outros camaradas uma autocrítica, mas que, entretanto, fazem esforços reais para não repetir a falta, para rectificar defeitos, para me- lhorar a actividade e o comportamento em todos os aspectos. Inversamente, há camaradas que, em palavras, estão sem- pre a autocriticar-se, mas que voltam a seguir a cometer as mesmas faltas e erros.

Há também casos (e na história do Partido houve alguns muito significativos) de camaradas que, por graves erros de orientação, fizeram a sua autocrítica escrita e pública, largamente circunstanciada, mas que adiante, noutras circunstâncias, vol- taram a insistir, a defender e a praticar precisamente os mes- mos erros que tinham sido objecto da crítica e da autocrítica.

Em tais casos trata-se de uma falsa autocrítica, como que uma mea culpa através da qual o camarada, mais do que o re- conhecimento da falta ou do erro e da sua rectificação, procura

a «absolvição» ou a «contrição dos pecados», a «tranquilidade da consciência» ou (também já tem sucedido) encerrar o caso para que «não o chateiem mais».

O exame crítico e autocrítico do trabalho realizado tem duas finalidades principais: o melhoramento do trabalho do Partido no imediato e no futuro e a ajuda, a formação e o aper- feiçoamento dos quadros.

No que respeita ao melhoramento do trabalho do Partido, há naturalmente grande diferença entre a correcção de deficiên- cias e erros no trabalho corrente e a correcção de deficiências e erros que envolvem a orientação política e aspectos essenciais da actividade.

A experiência portuguesa e internacional mostra que, no segundo caso, se se deixam aprofundar as deficiências e erros, o Partido pode entrar numa crise e pode tornar-se indispensá- vel uma viragem. Tais situações são porém evitáveis, se há uma análise constante da actividade, se se vai aferindo com a práti- ca a correcção ou incorrecção de tal ou tal análise ou directiva, se se avalia a justeza da orientação geral pela lição dos aconte- cimentos. Actuando-se assim são constantes o acompanhamento, a intervenção crítica, autocrítica e rectificadora.

No que respeita à ajuda, à formação e ao aperfeiçoamento dos quadros, a crítica e a autocrítica exigem um trabalho educa- tivo constante, tanto no que respeita ao organismo ou camarada que critica como ao organismo ou camarada que se autocritica. Não ajudam nem o melhoramento do trabalho do Partido, nem os organismos, nem os quadros, as críticas feitas num tom violento, inquisitorial e destruidor, punindo e flagelando o or- ganismo ou camarada a quem se dirigem — críticas «sadistas» que revelam muitas vezes defeitos e tendências autoritárias daqueles que as fazem.

Tão-pouco é desejável que sejam feitas autocríticas em que o autor se flagela a si próprio em termos exagerados, concluin- do por um juízo global destrutivo. São autocríticas «masoquis- tas», que revelam auto-humilhação ou falta de confiança em si próprio.

A deficiência e o erro não são crimes nem pecados. Nem a crítica é uma punição, um castigo, ou um julgamento, nem a autocrítica é uma humilhação e um acto de contrição.

Como forma normal e corrente de trabalho, a crítica e a autocrítica não necessitam (salvo casos excepcionais) de ne- nhum grau de solenidade e dramatismo. É de evitar a realização de actos solenes que possam parecer julgamentos de quadros, em que os quadros, na situação de réus, são convidados a fa- zer a autocrítica. Salvo casos excepcionais, quando a autocríti- ca se transforma num acto solene de contrição alguma coisa está errada, não apenas no que a autocrítica reconhece mas no pro- cesso que a ela conduziu.