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O TRATAMENTO DAS QUESTÕES DE QUADROS

Não considerando os problemas do conhecimento, da pre- paração, da formação, da selecção e da promoção dos quadros do Partido, quando se fala de questões de quadros devem des- de logo distinguir-se dois problemas distintos: um, são as ques- tões dos quadros, outro, as questões de quadros.

Questões dos quadros são todos os problemas relativos à

sua vida pessoal, familiar, profissional, económica, social, cul- tural, que muitas vezes são criados ou agravados pela activida- de partidária.

Estes problemas assumem particular importância e por vezes gravidade para os funcionários do Partido, dada a sua quase total absorção na actividade partidária. Mas atingem milhares de outros camaradas, cuja dedicação prejudica, de forma maior ou menor, numerosos aspectos da sua vida pes- soal.

Sem se intrometer na vida privada dos militantes, o Parti- do deve ajudar os militantes na medida do possível na resolu- ção de tais problemas.

Nem sempre é fácil. No que respeita a casais, por exemplo, as grandes diferenças na organização da vida que por vezes se ve- rificam (horários, locais de trabalho, ocupação aos domingos, etc.) conduzem a situações de distanciamento na vida quotidiana, não sendo raros os casos em que casais só se encontram durante breves horas de noite. Da mesma forma o acompanhamento e educação dos filhos, a dificuldade de conseguir habitação, o ní- vel de vida insuficiente, carências de saúde, falta de tempos livres, são susceptíveis de criar problemas sérios na vida dos militantes. A orientação estabelecida (mas nem sempre seguida com rigor) é que as organizações e organismos devem acompanhar tais situações, vê-las com atenção e seriedade e ajudar os cama- radas em dois aspectos essenciais: ajudar a orientar-se e ajudar directamente sempre que seja possível a resolver os problemas concretos existentes.

Problemas particularmente graves respeitam às mulheres que, na sua maioria, por circunstâncias sociais existentes, estão sujeitas a maiores limitações do tempo disponível e a dificuldades reais específicas em numerosos aspectos da sua movimentação. Vencendo incompreensões que se manifestam, é indispensável ter em conta essas limitações e dificuldades quando se trata de atribuição de tarefas e do contrôle da sua execução.

Coisa diferente são as questões de quadros, ou seja, os pro- blemas surgidos na actividade ou na vida do militante que, de uma forma ou de outra, infrinjam os princípios partidários e os deveres dos membros do Partido.

As questões de quadros têm as naturezas mais variadas. Podem resultar de posições políticas contrárias à orientação do Partido, de actuações erróneas, de procedimentos moralmente condenáveis, etc.

As organizações devem estar atentas e intervir sempre que necessário para defender o Partido e ajudar os quadros. Defen- der o Partido das variadas consequências dos erros de um qua- dro. E ajudar o quadro a libertar-se do próprio erro e a superá-lo na sua actuação ulterior. O Partido não amarra os quadros aos erros que cometem.

Uma prevenção é da máxima importância: não se devem transformar em «questões de quadros» quaisquer posições po- líticas, actuações e procedimentos considerados erróneos ou criticáveis. Tais posições, actuações e procedimentos não são obrigatoriamente questões de quadros. Podem dar lugar a uma crítica, sem que se transformem em «questões de quadros». Tornam-se «questões de quadros» quando atingem significati- va gravidade ou se repetem com frequência que põe em causa a responsabilidade do militante ou mesmo eventualmente a sua qualidade de membro do Partido.

O tratamento das questões de quadros é uma tarefa comple- xa, que exige elevada consciência partidária, experiência humana, firmeza de princípios e até capacidade de observação psico- lógica. Tão complexa que, no trabalho corrente, é talvez a tarefa em que é mais clara a orientação justa e são mais frequentes e repetidas as deficiências e as incorrectas actuações e decisões.

No tratamento das questões de quadros são indispensá- veis seis critérios fundamentais e é igualmente indispensável um constante esforço para que sejam respeitados e seguidos. O critério da verdade — verificando com rigor as informa- ções, ouvindo os próprios, ouvindo outros, nunca tomando à partida como verdades incontroversas as informações e opiniões dos organismos superiores ou de quem quer que seja.

O critério da objectividade — dando valor reduzido a im- pressões e suposições e repelindo ideias feitas e o subjectivis- mo na apreciação.

O critério da serenidade — não fazendo juízos sumários, examinando calma e fraternalmente os problemas, não preci- pitando opiniões nem decisões sem uma base sólida.

O critério do respeito — não envergonhando, nem vexan- do, nem ofendendo o quadro, e evitando expô-lo à condena- ção geral dos outros.

O critério da celeridade — não deixando nem deteriorar as situações nem arrastar o exame e as decisões e, em qualquer caso, ter por norma que «questão de quadros» encetada deve ser necessariamente acabada.

O critério da isenção — orientando o trabalho com a preo- cupação de chegar a conclusões justas e de dar razão a quem tiver razão, independentemente da responsabilidade que tenha no Partido.

Estes seis critérios mutuamente complementares são o ca- minho certo para a apreciação das questões de quadros, sobre- tudo quando conduzem à aplicação de sanções disciplinares.

As conclusões e decisões nas questões de quadros — se- jam mais ou menos graves as faltas cometidas, mas sobretudo quando do exame resultam sanções disciplinares — aparecem como a conclusão de um processo e assemelham-se a uma sen- tença. Sentença em que o Partido é o juiz, mas na qual se não aceita que qualquer militante individualmente considerado o possa ser.

E, porque como sentença aparece, é imperioso que seja justa. E para ser justa a exigência da aplicação dos seis critérios apontados tem de ser constante e imperativa.

A orientação no que respeita ao tratamento das questões de quadros fundamenta-se, por um lado, na acumulação de ex- periências positivas ao longo de muitos anos e, por outro lado, nas lições e prevenções obrigatoriamente colhidas por motivo de graves erros cometidos em várias épocas na apreciação de questões de quadros e em sanções aplicadas.

Para que não se repitam erros do mesmo tipo, para que não voltem a ser expulsos publicamente como provocadores camaradas que o não eram por serem de facto camaradas, para que não voltem a elaborar-se (sem rigoroso apuramento dos factos e por critérios subjectivistas) documentos como O Menino

da Mata e o Seu Cão «Piloto». Frente à Provocação (1941), As Duas Caras Dum Provocador (Novembro de 1952) ou Lutemos contra os Espiões e Provocadores (Dezembro de 1952), impõe-

-se que se mantenha firmemente uma justa orientação no tra- tamento das questões de quadros, se exija de todos os organis- mos que a apliquem na prática, e se corrijam prontamente quaisquer erros que sejam cometidos nesta matéria.