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A submissão da minoria à maioria é uma regra essen- cial desde que compreendida como expressão de todo o rico funcionamento democrático do Partido. Isto é, inserida num es-

tilo caracterizado pela direcção colectiva e o trabalho colectivo e pelo direito e a liberdade de opinião e de crítica.

Se a submissão da minoria à maioria é compreendida como uma forma simplificada de decisão e de disciplina, acaba por ser, não uma regra democrática e uma prática democrática mas um processo burocrático falseando grosseiramente a democracia in- terna.

Se, por exemplo, num organismo determinado, uma par- te maioritária dos camaradas abrevia ou dispensa as discussões, se desinteressa das opiniões dos outros e recorre sistematica- mente à votação maioritária, deturpa e infringe o verdadeiro princípio de decisão por opinião maioritária.

Na decisão por maioria não é a votação em si o fundamen- tal. O fundamental é o apuramento de uma opinião colectiva, maioritária, quando não pode ser unânime.

Votações para apuramento pelo voto maioritário que não assentem numa aberta, franca e profunda troca de opiniões e no conhecimento e no exame atento e recíproco dessas opi- niões, são um acto formal que assegura, é certo, que decida o maior número, mas não assegura que o maior número decida em consciência.

Em condições de vida menos democráticas, a decisão por votações sistemáticas oferece um perigo suplementar: a tendên- cia para uma posição seguidista, votando com os mais respon- sáveis, não procurando nem compreender o problema em discussão nem tomar uma posição conforme com a própria consciência.

A aceitação do princípio de que as decisões são tomadas por maioria não significa que em cada caso haja votação. A vo- tação deve ser realizada quando necessário. Pode em alguns ca- sos ser o melhor processo de apuramento. Não o processo nor- mal e obrigatório.

Assim, em numerosas questões de ordem prática e de ca- rácter secundário, é muitas vezes preferível, na base de propos- tas iniciais e de um brevíssimo tempo para objecções eventuais, proceder a uma votação do que abrir e arrastar discussões.

Já no que respeita a questões mais importantes, nomeada- mente a decisões políticas, se existe um verdadeiro trabalho colectivo, não é necessário, salvo casos excepcionais, proceder- -se a uma votação. O próprio debate permite o esclarecimento e a formação de uma opinião colectiva. A opinião colectiva re- sulta com naturalidade do próprio debate. Um documento re- digido ou um camarada em intervenção oral concretiza a conclusão, esta recebe eventualmente uma ou outra proposta para maior rigor e tem-se por conclusão colectiva, sem neces- sidade de votação.

Por vezes, a esta forma de tomar decisões chama-se con- senso. A palavra é adequada. Mas é necessário estar vigilante contra certas formas defeituosas de compreender o consenso. Uma conclusão colectiva tomada sem votação, no quadro do trabalho colectivo, não pode ser confundida com conclusões unilaterais, apressadas e tendenciosas — de um debate incom- pleto em que nem todos expressaram a sua opinião —, apre- sentadas como «consenso».

O aprofundamento do trabalho colectivo faz evoluir as de- cisões tomadas por maioria para decisões tomadas por consenso. Um ainda maior aprofundamento acaba por conduzir à unani- midade.

No quadro do trabalho colectivo, a unanimidade aparece como uma superior comprovação da democracia existente.

Há, é certo, exemplos de situações em que a unanimidade pode ser expressão de um ambiente de coacção política e psi- cológica, de um funcionamento antidemocrático, da existência do culto da personalidade, de um conceito burocrático ou mi- litarista da disciplina e da unidade.

No PCP, a unanimidade aparece na vida actual como a culminação de todo um processo democrático de participação e intervenção criativa dos militantes, de continuado, amplo e profundo trabalho colectivo.

Observadores superficiais ficam surpreendidos, quando, num congresso ou numa conferência nacional, ou em assem- bleias de organizações do Partido, centenas ou milhares de

delegados aprovam por unanimidade os documentos fundamen- tais. Mais surpreendidos ainda, quando vêem levantar-se no ar a floresta de cartões vermelhos e o exaltante entusiasmo que acompanha a votação e o seu resultado.

Procuram explicar tal fenómeno (assombroso aos seus olhos) por qualquer filtragem de delegados, por qualquer ter- rível disciplina de tipo militar, por quaisquer formas de pres- são ou coacção, ou ainda pelo atraso político e mental dos membros do Partido, que votariam tudo quanto lhes é propos- to por serem incapazes de pensar e de opinar.

Alguns vão ao ponto de comparar essas votações e essa una- nimidade verificada no PCP com os debates conflituosos e nu- merosas e minuciosas votações por maioria e minoria verificados em congressos de outros partidos, concluindo que nestes últi- mos é que se revela a democracia, enquanto a unanimidade no PCP revelaria a falta dela.

Esta apreciação acusa profundo desconhecimento das reali- dades e um critério superficial, limitado, burocrático e pequeno- -burguês da democracia.

De facto, nesses outros partidos citados, por que se verifi- cam tão agudos e conflituosos debates nos seus congressos? Por que se assiste a tão profundas e constantes divisões em relação a todos os problemas discutidos? Por que se polarizam tantas vezes as opiniões e votações em torno de plataformas políticas divergentes e de dirigentes em permanente conflito? Porquê essa necessidade de pormenorizadas votações a propósito das mais pequenas coisas?

Isso sucede porque não existe uma verdadeira democracia interna, porque se admitem e prolongam situações antidemo- cráticas, porque não há a busca constante das contribuições dos militantes e dos apuramentos democráticos, porque não existe trabalho colectivo.

Nesses casos, os acesos debates e votações conflituosas sempre por maioria e minoria são a explosão pública e global da falta de democracia interna.

em profundidade, em que os militantes participaram, intervie- ram, contribuíram para o resultado com as suas opiniões e as suas propostas.

Quando se assiste a uma votação massiva e unânime numa grande realização do Partido, essa votação significa, da parte de cada qual, que reconhece no que se está a aprovar não qual- quer coisa que vem de cima e lhe é estranha mas qualquer coi- sa que também é sua, pela contribuição que deu ou poderia ter dado se o julgasse necessário.

As votações unânimes e entusiásticas são a expressão final de todo um processo democrático de debate, definição e deci- são. Mas não só. São também a expressão de toda uma realida- de mais vasta, mais profunda e mais rica, abrangendo todos os aspectos da vida e da actividade do Partido.

No PCP, a unanimidade verificada nos congressos culmi- na a realidade da direcção colectiva e do trabalho colectivo, a prática do reconhecimento dos direitos iguais de todos os mi- litantes, a profunda democracia interna existente e a consciên- cia de todos de que ela existe e está assegurada.