• Nenhum resultado encontrado

CARACTERÍSTICAS DA VANGUARDA REVOLUCIONÁRIA

O PCP afirma-se a vanguarda revolucionária da classe ope- rária e de todos os trabalhadores.

O que caracteriza o PCP como vanguarda?

Em primeiro lugar, o conhecimento profundo da situação

e dos problemas dos trabalhadores, a defesa dos seus interes- ses e aspirações, a definição numa base científica dos objec- tivos da luta nas várias situações e etapas da evolução social no quadro da missão histórica da classe operária.

Se diminui o conhecimento da situação e dos problemas, se afrouxam as posições de defesa dos interesses de classe, se os objectivos de luta não são definidos com rigor, é inevitável que o Partido, embora afirmando-se como vanguarda, conjun- turalmente deixe de o ser.

No PCP, esta característica inerente à condição de vanguar- da começou por ser, e foi durante muitos anos, um objectivo e uma afirmação da intenção revolucionária. Tornou-se com os anos uma realidade resultante do desenvolvimento, da aprendizagem, da experiência e do amadurecimento do Par- tido.

Em segundo lugar, é característica do Partido como van- guarda a estreita ligação e o permanente e vital contacto com

A vanguarda mostra ser tanto mais uma verdadeira vanguar- da quanto mais consegue aproximar de si a classe e as massas e manter uma ligação organizada com elas.

O Partido é um factor determinante da força organizada e consciente das massas. Reciprocamente, é no fundamental da classe operária e das massas que provém a força do Partido.

Uma vanguarda que julga afirmar-se mostrando a sua dis- tância das massas e a sua superioridade deixa de ser uma van- guarda para se tornar um destacamento isolado, sem raízes, condenado à derrota e à destruição.

A ligação com a classe e com as massas exige que a van- guarda nem se adiante nem se atrase demasiado. A quebra dessa ligação é tão perigosa quando a vanguarda se atrasa em relação às massas como quando avança demasiado separando-se delas. Em terceiro lugar, é característica do Partido como vanguar- da o papel de orientador e dirigente.

O Partido afirma-se como vanguarda, indicando correcta- mente os objectivos de luta, as tarefas, as formas de acção, or- ganizando e dinamizando a luta de massas. O papel dirigente do Partido afirma-se na capacidade de indicar linhas de orien- tação e palavras de ordem que correspondam a interesses pro- fundos e sentidos da classe operária e das massas populares, esclareçam as situações, os problemas e os objectivos e indi- quem com acerto o caminho e a perspectiva.

Para isso é essencial que o Partido tenha plena consciên- cia de que, para poder dirigir e ensinar, tem também de apren- der com a classe e as massas. Para a definição da orientação política, da orientação táctica, das formas de acção, é indispen- sável ouvir a classe e as massas, recolher a sua informação e a sua opinião em todos os aspectos da sua vida, das suas aspira- ções e das suas disposições de luta.

O mérito de um partido revolucionário não é apenas trans- mitir às massas a sua experiência revolucionária mas saber rece- ber e assimilar a experiência revolucionária das massas. O Partido tem a sua própria sabedoria. Mas a sabedoria do Partido é, em larga medida, a assimilação da sabedoria das massas.

Um dos aspectos mais complexos e importantes na direc- ção da luta social e política é a justa avaliação, tanto da prepa- ração e disposição do Partido como da preparação e disposição das massas.

Uma justa avaliação exige, por exemplo, que não se con- funda a determinação e a vontade do Comité Central com a de- terminação e a vontade do Partido no seu conjunto, nem a determinação e a vontade do Partido no seu conjunto com a determinação e a vontade das massas.

O normal é que a disposição do Partido seja superior à dis- posição da classe e das massas. Mas sucede, em determinados momentos, que a disposição da classe e das massas ultrapassa a avaliação do Partido e a disposição de organizações do Parti- do. Em tais casos, o Partido corre o risco de ser ultrapassado pelas iniciativas e movimentos espontâneos.

É imensa a responsabilidade da vanguarda como força diri- gente. Os erros de orientação pagam-se caro e afectam o reconhe- cimento do Partido como vanguarda. É mais difícil ganhar a confiança das massas do que perdê-la. Uma vez abalada ou per- dida a confiança, a recuperação é extraordinariamente mais tra- balhosa, porque os motivos que levaram à diminuição ou perda da confiança permanecem ou reavivam-se na memória das mas- sas.

A crescente confiança no PCP é em grande parte resulta- do e prova do acerto da acção do PCP como dirigente da clas- se operária e do movimento popular.

Em quarto lugar, é característico do Partido como vanguar- da o mais elevado nível da consciência de classe, da determi-

nação, combatividade e coragem revolucionárias.

Para que um partido seja de facto a vanguarda, tem de mostrar capacidade para cumprir as suas tarefas, quaisquer que sejam as condições em que actua.

O valor do exemplo é um dos mais importantes factores da influência do Partido, do seu prestígio, da sua ligação com a classe e as massas.

de repressão e terror da ditadura fascista como no processo re- volucionário após o 25 de Abril.

No tempo da ditadura, enquanto todos os outros partidos políticos renunciavam à luta ou soçobravam ante a repressão, o PCP, afrontando as maiores perseguições, organizou-se, desen- volveu-se, tornou-se um grande partido nacional nas condições de clandestinidade, tornou-se a força política dinamizadora da resistência antifascista.

Após o 25 de Abril constituiu a força política determinante na luta que derrotou sucessivas tentativas de golpes contra- -revolucionários (Junho de 1974, 28 de Setembro, 11 de Março) e na resistência ulterior às ofensivas contra-revolucionárias.

Não o fez nem o faz isoladamente.

A luta dos comunistas é o elemento motor da luta da clas- se e das massas. Por isso o maior mérito de um partido comu- nista é conseguir, em aspectos capitais da consciência, dos objectivos e da determinação da luta, elevar as massas ao nível da classe e a classe ao nível da vanguarda.

Pode dizer-se com verdade que o PCP o conseguiu em mo- mentos capitais da vida nacional. Em numerosos momentos da luta contra a ditadura fascista. No decurso da Revolução de Abril e do processo que conduziu às grandes conquistas democráti- cas.

Em quinto lugar, é característica do Partido como vanguar- da a consciência de que não é o Partido que, sozinho, assegu-

ra a defesa dos interesses e a libertação da classe operária e das massas populares, antes é a classe operária, são as mas- sas populares que, com o Partido mas por suas próprias mãos, têm de defender os seus interesses e alcançar a sua libertação.

A concepção de vanguarda do PCP nada tem a ver com um falso vanguardismo, segundo o qual a acção política e revolu- cionária não cabe às massas mas a pequenos grupos ou a cau- dilhos que tudo decidem e tudo fazem.

A concepção de vanguarda do PCP nada tem tão-pouco a ver com as velhas concepções aristocráticas ou pequeno-burgue- sas das «minorias activas», dos «heróis libertadores», segundo

as quais a revolução social seria obra de uma minoria esclare- cida, bem organizada e decidida à luta, que, lançando-se sozi- nha ao combate final, arrastaria a maioria do povo.

Estas concepções e tendências, tão velhas como o movi- mento operário, encontram caldo de cultura na mentalidade da pequena burguesia, quando envolvida em processos revolucio- nários. Por isso ressuscitam e reaparecem com frequência ao longo dos anos.

É certo que o movimento revolucionário conhece casos ex- cepcionais em que uma «minoria activa» empenhada na acção revolucionária, designadamente na acção armada, consegue conduzir à vitória uma revolução e ganhar ulteriormente as massas.

O levantamento militar do Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974 é exemplo de um movimento revolu- cionário vitorioso a partir de uma organização restrita de van- guarda.

Mas o sucesso do MFA (para não falar já da sua formação) assentou num poderoso movimento popular antifascista e a acção do MFA em 25 de Abril desencadeou o levantamento po- pular que deu a verdadeira dinâmica democrática à acção mili- tar.

A história do movimento revolucionário mundial apresen- ta casos de acções vitoriosas de «minorias activas». Mas apresenta sobretudo fracassos e derrotas.

Nenhuma revolução profunda de carácter social foi até hoje realizada sem a participação decisiva e criativa das massas po- pulares.

Uma vanguarda que pense poder resolver apenas com a sua acção aquilo que só a classe e as massas podem resolver cai no voluntarismo e no aventureirismo, conduzindo à derrota qua- se invariavelmente.

Na sua orientação e actividade, o PCP parte da confiança profunda na capacidade e nas potencialidades da classe operá- ria e da consciência do papel determinante das massas popula- res nas transformações sociais.

Para que um partido seja a vanguarda da classe operária, não basta afirmar sê-lo. O PCP confirma na vida e na luta que na verdade o é.