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3 O CAMINHO PERCORRIDO PARA DESENVOLVER A PESQUISA

3.1 A FORMA DE PERCORRER O CAMINHO: PESQUISA-AÇÃO

A pesquisa social e, neste caso, a pesquisa em educação, tem o desafio de explicitar como e sobre quais bases constroem-se determinados entendimentos dos processos educacionais. Além do entendimento da compreensão epistemológica que a metodologia é capaz de expressar, é a partir do tratamento analítico de fenômenos que é possível uma ampliação no campo de observação. Segundo Fernandes:

Portanto, o tratamento analítico dos fenômenos estudados, alarga o campo de observação, tornando evidente e inteligíveis, os aspectos da realidade social que não são diretamente acessíveis às técnicas primárias de levantamento de dados, e oferece meios precisos para a reprodução unitária de condições e manifestação de fenômenos, significativos para a explicação científica (FERNANDES, 1959, p. 13).

É o método que identifica os fundamentos conceituais do pesquisador, logo, a possibilidade efetiva de algum tipo de explicação científica que possibilita a ampliação no campo da observação e a condição epistemológica da pesquisa. Exige uma preocupação maior com o caminho trilhado, pois é ele que vai determinar ou condicionar o tipo de entendimento construído e o olhar que foi imposto ao objeto. Este tipo de entendimento é refletido da implicância dialética entre o objeto e o método, e se o método é definido pelo sujeito e sua postura, entre objeto e sujeito, com estes pressupostos.

A partir desta demarcação passo à explicitação da pesquisa. Desenvolvi uma pesquisa de caráter qualitativo, isso porque permite “um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em

seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação” (OLIVEIRA, 2005, p. 41). Também porque “um ponto forte da pesquisa qualitativa é utilizar-se de dados que ocorrem naturalmente para encontrar as sequencias (‘como’) em que os significados dos participantes (‘o quê’) são exibidos, e assim estabelecer o caráter de algum fenômeno” (SILVERMAN, 2009, p.51). Assim, através da pesquisa e do seu caráter, busco uma compreensão epistemológica destas concepções dos professores sobre o ensino e aprendizado de seus alunos.

A partir do entendimento de uma Pesquisa-ação, convidei quatro professores com experiência na modalidade a distância, de uma universidade comunitária, para discutir e refletir em grupo, durante onze encontros, sobre os processos de ensino na modalidade EaD. Estes encontros aconteceram na perspectiva da Pesquisa-ação pois ela se constitui como:

[...] una forma de indagación autorreflexiva que emprenden los participantes en situaciones sociales en orden a mejorar la racionalidad y la justicia de sus propias prácticas, su entendimiento de las mismas y las situaciones dentro de las cuales ellas tienen lugar (CARR; KEMMIS, 1988, p. 174).

Nesse sentido, o problema que motivou a pesquisa, faz alusão a perspectiva da Pesquisa-ação de forma coerente, propondo uma indagação reflexiva das práticas, neste caso, dos professores. Além disso, a Pesquisa-ação é congruente com minha compreensão metodológica e científica, que nega os preceitos positivistas ao criticar a neutralidade e a separação do sujeito e objeto. Nesse sentido, assumo que “ao falar de Pesquisa-ação, falamos de uma pesquisa que não se sustenta na epistemologia positivista, que pressupõe a integração dialética entre o sujeito e sua existência; entre fatos e valores; entre pensamento e ação; e entre pesquisador e pesquisado” (FRANCO, 2005, p. 487).

Carr e Kemmis (1988), referencias neste campo de pesquisa, apontam algumas características importantes para a Pesquisa-ação: o caráter participativo e democrático e a construção simultânea com a mudança social que a pesquisa pode provocar. Ainda, Carr e Kemmis (1988, p. 177), apontam sobre os propósitos desta metodologia:

Dos objetivos esenciales tienen toda investigación-acción: mejorar e interesar. En cuanto a la mejora, la investigación-acción apunta a tres sectores: primero, al mejoramiento de una práctica; segundo, a la mejora del entendimiento de la práctica por parte de quienes la realizan; tercero, al mejoramiento de la situación en que dicha práctica tiene lugar. El objetivo de interesar va de la mano con el de mejorar. Los que intervienen en la práctica considerada tienen que intervenir en todas las fases – planificación, acción, observación y reflexión – del proceso de investigación-acción (CARR; KEMMIS, 1988, p. 177).

Neste ponto, além do destaque para o objetivo, cabe apontar as fases da pesquisa apontadas por Carr e Kemmis (1988). Para eles, a pesquisa nesta perspectiva deverá necessariamente conter: planejamento, ação, observação e reflexão. Essas etapas aparecem também na discussão dos autores sobre as condições para a existência de uma Pesquisa-ação. Nesse ponto, ainda são incluídas mais duas questões como segue:

Puedo sostenerse que, para que pueda asegurarse que exista una investigación-acción, deben darse tres condiciones individualmente necesarias y conjuntamente suficientes: la primera, que un proyecto se haya planteado como yema una práctica social, considerada como una forma de acción estratégica susceptible de mejoramiento; la segunda que dicho proyecto recorra una espiral de bucles de planificación, acción, observación y reflexión, estando todas estas actividades plantadas e interrelacionadas sistemática y autocríticamente; la tercera que el proyecto implique a los responsables de la práctica en todos y cada uno de los momentos de la actividad, ampliando gradualmente la participación en el proyecto para incluir a otro de los afectados por la práctica, y manteniendo un control colaborativo del proceso. (CARR; KEMMIS, 1988, p. 177)

Ainda em relação as etapas da Pesquisa-ação, convergindo com os autores, Mallmann (2015, p. 79) afirma que “Estudos que se apoiam nos postulados da Pesquisa-ação são regidos pelas especificidades do diagnóstico, estratégias, registros, coleta de informações, técnicas, procedimentos de análise, avaliação e reflexão próprias de cada um desses quatro momentos. ” Essa pesquisa foi construída a partir da compreensão de cada uma dessas etapas.

Então, ao definir como objetivo compreender as mudanças e continuidades nas concepções sobre o ensino na modalidade EaD de professores universitários participantes de uma experiência de formação colaborativa, a perspectiva da Pesquisa-ação se faz coerente, já que busca imprimir um processo de reflexão dos professores sobre suas práticas. Nessa perspectiva, a escolha dessa metodologia também se justifica pois, além da compreensão do entendimento dos professores em relação a aprendizagem, busquei apreender e/ou desencadear um movimento reflexivo com os sujeitos sobre suas práticas, com o intuito de implicar e melhorar seu trabalho.