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3 O CAMINHO PERCORRIDO PARA DESENVOLVER A PESQUISA

4.5 PROFESSOR CHERTAN

A disciplina de Chertan trata das noções básicas da Geografia e da representação cartográfica, bem como noções básicas da História, representação do tempo cronológico e do tempo histórico. Problematiza como as noções de espaço e tempo se constituem no núcleo central dos estudos de Geografia e de História, propiciando as habilidades necessárias à compreensão das relações espaço-temporal.

Durante as reuniões de estudo, Chertan se mostrou, em alguns momentos, inquieto, no entanto, esteve sempre aberto às discussões. Algumas vezes não conseguiu acompanhar bem o grupo, pois teve atividades que o impediram de estar até o fim das reuniões ou chegar no início. Como por exemplo, no quarto encontro, ele saiu antes e não viu o vídeo sobre a “natureza dos conteúdos”. Também não leu o material em casa, isso dificultou seu acompanhamento da discussão no início do quinto encontro. No nono encontro, fez quatro intervenções bem pontuais, tirando dúvidas sobre apresentações dos outros professores, ou sugerindo alguma troca de palavra. No décimo encontro, não compareceu e no décimo primeiro fez a sua apresentação.

Suas preocupações em relação ao lugar do EaD na instituição, ao pouco tempo de planejamento e reflexão em relação ao trabalho dos professores e a pouca estrutura para a modalidade a distância, também o impediram de centrar-se mais na proposta dos encontros, e refletir a partir do seu trabalho e do tipo de atividades que propõe. Nesse sentido, como poderá ser visto, esse professor terá menos elementos para serem analisados que os demais professores. Todas estas questões dificultaram uma análise mais profunda do trabalho e das concepções implícitas do professor em relação aos processos de ensino e de aprendizagem. Isso será evidenciado na análise a seguir.

4.5.1 Chertan e os tipos de atividades (repetitiva e reflexiva)

Chertan trouxe um planejamento centrado em propostas de exercícios “bem práticos”. Relatou que chegou a mostrar exemplos prontos aos alunos, mas achou que seria mais produtivo eles mesmos realizarem. As propostas passam pela construção de relógios solares, a realização de mapeamento urbano e registro/descrição das estações do ano. Em relação a última atividade o professor explicou:

[...] E o que ele tem que fazer? Eles têm que fazer as atividades eu lanço todas as atividades no início, a atividade 1 é a última que eles vão entregar. Por que nestas atividades eles tem que fazer observação das estações do ano. Nós começamos ainda no verão pegamos no outono e terminamos um pedacinho do inverno. Então se eles registraram a partir de imagens fotos um ponto de referência, o telhado do vizinho, eles vão registrando para ver os movimentos para trabalhar essas questões, a estação do ano e daí tu vai trabalhar questão da translação da terra do verão para o inverno a terra se movimenta... Nós estamos documentando isso, para norte o sol... Agora o sol não está mais aqui está na linha do Equador que é o solstício do outono, daí a gente vai discutindo essas coisas. Só que assim se eles não iniciaram logo as atividades, eles não vão pegar daí assim (CHERTAN, 18/03/2016)

Durante a explanação das atividades, Chertan destacou a importância de dar liberdade para o aluno criar propostas. Nesse ponto de vista, comenta que:

A maioria deles tem dificuldade quanto ao conhecimento das noções e conceitos, o que inibe a capacidade de análise e interpretação, pensar mais amplamente a história geografia. Mas, alguns têm maior domínio, então os trabalhos devem permitir certa liberdade para criação... Proponho as atividades, mas eles podem ir bem além... Até porque eles estão se formando para serem professores. Eles já podem adiantar os planos de aulas do estágio para trabalhar. Então, permitir certa liberdade de criação sugerir a configuração do trabalho das atividades, isso é mais como eu me planejo considerando os prováveis sujeitos que vão estar na minha frente (CHERTAN, 18/03/2016).

A proposta de atividades práticas, configuraram indícios de um entendimento de aprendizagem em que o aluno precisa vincular os conteúdos com sua realidade. Esta, sem dúvida, é uma característica importante de uma atividade reflexiva. No entanto, não fica claro se ele realmente se constitui como tal, pois seria necessário entender melhor como o professor constrói a relação com a teoria e, por consequência, que nível de aprendizagem construtiva poderíamos deduzir deste tipo de atividades. Mesmo que exista um material teórico na biblioteca da comunidade, vinculada às atividades propostas, confeccionar um globo, por exemplo, não quer dizer que o aluno vai construindo os significados científicos desta atividade. Isso porque seria necessário que o professor garantisse pela condução do processo de confecção, uma interação que levasse o aluno a uma abstração, da atividade prática. E esse aspecto não

fica claro na disciplina de Chertan. Reforçando esta análise, na fala o professor aponta a dificuldade que os alunos têm em relação aos conceitos, mas não deixa claro como ela trabalha em relação a essa dificuldade com os alunos.

No último encontro, diferente do combinado, Chertan não apresentou um novo planejamento para a mesma disciplina. Ele trouxe o planejamento de outra disciplina, pois não tinha entendido a proposta dos encontros e a ideia de comparação. Apesar do conteúdo ser diferente, as características da forma das atividades que o professor trabalhou foram muito semelhantes, pois tratam de atividades práticas que envolvem observação e análise, agora de bens culturais. O professor explicou da seguinte forma:

Como embasamento teórico em que se aborda os conceitos de cultura, bens culturais, materiais e imateriais e os princípios que fundamentam a educação patrimonial, questões teóricas metodológicas fundamentalmente. O aluno [licenciando] deve desenvolver atividades de pesquisa, observação, registro e análise para realização de estudos de casos que culmine num produto final que é uma exposição ou um vídeo ou um filme ou um relato ou uma dramatização... Tem que produzir alguma coisa que expresse o resultado daquela pesquisa (CHERTAN, 10/06/2016).

Mesmo considerando que o fato das disciplinas não serem as mesmas pode dificultar uma análise. Percebi que não houve diferença na proposta de trabalho aos alunos do professor Chertan. A diferença que ocorreu foi uma organização do tempo diferente. Na primeira apresentação, as três Atividades eram abertas no início do semestre e permaneciam o semestre inteiro, já na outra disciplina, há uma organização no tempo, um cronograma diferente. Parece que esse tipo de questão não poderia ter impacto direto no processo de aprendizagem, já que a condução da disciplina poderia resolver a diferença de cronograma. Dessa forma, a proposta de planejamento da segunda disciplina foi a mesma da primeira: atividades práticas que envolvem observação e relato. Na Figura 7, podemos ver a organização das duas disciplinas:

Figura 7 - Organização da disciplina de Chertan

Fonte: A autora (2016)

Minha análise é de que as atividades propostas por Chertan não sofreram alterações em suas características ao comparar os planejamentos apresentados. A proposta de atividades, baseada na busca de informações, registro e análise, ou na construção de globos ou mapeamentos, poderia sugerir uma proposta reflexiva. No entanto, como não fica clara essa relação das atividades com um conhecimento científico e o processo de abstração, não é possível fazer afirmações a respeito. Mais uma vez, a condução da disciplina e das atividades parecem ser fundamentais para a efetivação de atividades reflexivas.

4.5.2 Chertan e sua dificuldade no processo avaliativo

Chertan não expressa explicitamente nenhuma dificuldade em relação ao processo avaliativo. No entanto, não colocou em pauta o assunto, nem se posicionou em relação ao tema quando trazido nas reuniões analisadas, pelo que não é possível saber qual é sua compreensão sobre o tema.

4.5.3 Chertan e sua dificuldade de atuação na modalidade EaD

Chertan, como os demais professores, reconheceu dificuldades para trabalhar na modalidade. Ele se mostrou bastante inseguro, “e eu fico pensando que eu não consigo fazer isso [referindo-se aos objetivos da disciplina] no EaD? ” (CHERTAN, 26/02/2016). Indagado diretamente, sobre os desafios que tem na modalidade, durante a apresentação inicial da sua disciplina, respondeu: “Encontrar as melhores formas de promover nos alunos o aprendizado, não sei se essas são as melhores, eles dizem que gostam dizem que aprendem muito” (CHERTAN 18/03/2016). Com essa fala fica a indagação, já que não aparece em suas falas, como o professor avalia seu trabalho de ensino a partir da opinião do aluno? Como se constitui seu processo avaliativo?

Fora as falas iniciais, o professor não se manifestou novamente sobre possíveis problemas da modalidade nos dois últimos encontros analisados. Em função da semelhança em sua proposta de trabalho, não posso afirmar se houve algum tipo de aproximação, ou entendimento com a EaD.

4.5.4 Chertan e a sua visão sobre os alunos

Chertan também trouxe a visão de que os alunos não têm interesse pela disciplina. Isso é apresentado nos primeiros encontros. Afirmou: “eles não leem a postagem, só passam” (04/03/2016). Essa ideia percorre os demais encontros, sinalizando que os alunos, em geral, não se envolvem.

Nos últimos encontros, ele não faz nenhuma menção a esse tema. Mais uma vez, não é possível compreender se o professor mudou sua opinião ou não, e minha conclusão é de que não se evidenciam mudanças.

4.6 PRIMEIRA ETAPA DO CAMINHO CONCLUÍDA: ALGUMAS SÍNTESES