Izar e os tipos de atividades (repetitiva e reflexiva)

Na sua primeira apresentação, demonstrou-se preocupado em vincular os conteúdos da disciplina com a prática. Nesse sentido, afirmou “não ali também, a gente sempre vincula prática, mas assim, capital de giro. Toda ela tem questões teóricas e a gente tenta trazer aspectos do cotidiano, da prática” (IZAR, 04/03/2016). Essa fala sugere que o professor busca fazer “esquemas de significação que possibilitam o estabelecimento de relações com o novo” (SHLEMMER, 2001, p. 11) ao tentar trazer aspectos da prática.

Do relato também, contou ser exigido por ele nos fóruns, por exemplo, a interação com os colegas. Em relação a esse tema, explicou: “[...] mas se tu abres lá e vês. Solicito conceitos para além do que está no livro texto, mas o aluno deve também opinar e realizar reflexões sobre as postagens dos colegas” (IZAR, 04/03/2016). Quando indagado sobre o tipo de Atividades que propunha, ele apontou:

b) Atividade 02 (peso máximo: 5 pontos) – Trabalho de Análise de Crédito. Resumo expandido, até 8 000 caracteres. Do roteiro dou perguntas e eles precisam responder na forma de texto [...] O roteiro básico para a atividade é: estruturar as demonstrações na forma de planilhas e depois calcular os índices e realizar os comentários. Ao final deve também fazer uma breve conclusão. Monte ou descreva uma escala classificatória de risco para pessoas físicas atribuindo pesos às variáveis selecionadas. Utilize pelo menos 5 variáveis de aferição de risco na concessão de crédito. Justifique a classificação e as ponderações adotadas. Pode ser uma escala simplificada. (IZAR, 04/03/2016)

Do tipo de atividade, bem como da proposta de interação no fórum, poderia sugerir que o professor se preocupa com um nível de reflexão induzido pela sua disciplina. Isso porque, para além das planilhas, ele propõe que os alunos escrevam conclusões e justificativas.

Ao se passarem 6 encontros, e tomando como base a última apresentação do professor Izar, posso afirmar que não houve alterações na sua proposta de trabalho com os alunos, exceto pequenas mudanças no Plano de Ensino, centradas em explicar algumas questões, que já estavam apontadas, mas não explícitas na primeira apresentação, conforme é possível ver na Figura 6.

Figura 6 - Organização da disciplina de Izar

Fonte: A autora (2016)

O fato de Izar não apresentar mudanças levou Girtab a questioná-lo. Isso gerou um diálogo que deixou em evidência as compreensões ou disposições tanto de Girtab quanto de Izar em relação a refletir sobre o ensino na modalidade EaD. A interação é transcrita a seguir:

GIRTAB: o que eu estava analisando aqui, como é uma área financeira eles precisam de certa forma trabalhar muito habilidades, e tem esse aspecto para levar para generalizar as discussões. Eu não sei se com essas atividades aqui, você consegue estabelecer um conflito entre a teoria implícita e o que tu queres atingir lá no final? Para o aluno perceber: Qual é a distância entre o que ele já sabe e o que a disciplina tem para oferecer.

IZAR: Acho que no questionário eu não consigo fazer isso, mas na atividade e no fórum sim.

GIRTAB: Então, a minha dúvida é se como é essa questão de o aluno falar sobre fazer um parecer reflexivo sobre a postagem dos colegas, mas ele não teria que refletir sobre o livro texto? (04/05/2016)

Após um silêncio Izar responde:

IZAR: Mas assim sim, sim, com certeza... Mas assim, porque, porque, eles têm que ir buscar no livro-texto o que eu estou trabalhando, essa é a ideia, talvez eu não, talvez o que tem que colocar lá que ele tem que buscar o que tem no livro-texto e daí ele vai buscar fora complementações. Essa é a ideia,porque senão eles se limitam ao livro- texto. O livro-texto é limitado, não dá para dizer que não, ele traz a essência. Pelo menos a gente espera que o que ele tem, será trabalhado ali mas o aluno tem que buscar outras coisas. Porque se eu colocar assim, conforme a reflexão, aprofundar do livro texto, na maioria dos casos os acadêmicos simplesmente copiam o que tem lá, e mesmo assim ainda trazem um “copia e cola” ali boa parte.

GIRTAB: daí é questão de trabalhar as habilidades técnicas na medida em que ele teria que aprender a generalizar essas experiências em outros cenários, ou em

cenários parecidos para não acontecer aquela história que o aluno diz assim “há os professores não me deu, a prova é diferente”. Então como que durante a disciplina já poderia ser trabalhado? Essa é uma das questões aprendizagem. Como eu faço o aluno produzir uma, contraposição disso em outro cenário? (04/05/2016)

No diálogo, evidencia-se a dificuldade de Girtab em ver, na proposta da disciplina de Izar, princípios que foram discutidos nos encontros. Izar buscou encontrar as repostas sem muito êxito, demostrando certo desconforto. Tal desconforto é percebido nas duas primeiras frases, quando ele não consegue explicar sua proposta. Essa reação poderia referir-se à consciência do que Girtab falou em relação às alterações, que ele julgou necessárias, que não foram expressas na sua proposta de disciplina. A afirmação sobre o questionário sugere que ele também percebe que esse instrumento não daria conta de uma avaliação efetiva.

Ao final da fala, ele elaborou sua justificativa propondo que os alunos busquem o livro. Ele mesmo diz, porém, que este não é suficiente, e afirma que o aluno irá buscar complementações. O professor não deixa claro se essa busca é instigada por ele, e se fica claro aos alunos essa necessidade. Outra questão dita é que os alunos copiam do livro, logo, não refletem. Então, parece contradizer-se em suas explicações. O aprendizado do aluno seria percebido no fórum, no entanto, ele também afirma que nesse espaço os alunos copiam. A partir dessas contradições, não fica claro se, na compreensão do professor, efetivamente, há reflexão nesse espaço. O problema é a modalidade EaD, ou há carência de reflexão na Universidade? Outra hipótese de análise, porém, é compreender que não há contradição na fala do professor, então poderíamos suscitar que há pouca aprendizagem.

Em relação à caracterização das atividades proposta por Izar, que não sofreram alteração no desenvolvimento dos encontros, é possível pensar inicialmente que há uma ideia reflexiva proposta. Isso a partir da interpretação de que há construção na conclusão, na justificativa das atividades e nas propostas de interação. Ao analisar, no entanto, a fala de Izar a partir do questionamento de Girtab, parece que não basta uma “instrução” no fórum que busque induzir a interação e a reflexão. Para isso acontecer, é necessário que o professor instigue e conduza o diálogo. Outra indagação é se a conclusão da análise de crédito, depois que os alunos constroem a tabela, não poderia ser apenas um exercício (repetitivo), sem levar a um esforço compreensivo. Assim, além da proposta de trabalho, ou o tipo de atividade, é necessário que a condução ou o andamento dela, orientada pelo professor, dê conta de entendimentos construtivos.

Objetivamente, poderia propor como análise que, apesar de se apresentar como uma proposta de atividades reflexivas, não se efetivam como tal. Isso porque parece que o professor

não faz, ou pelo menos não deixa claro, o acompanhamento dessas atividades a partir de uma efetiva mediação.