• Nenhum resultado encontrado

A Gestão do Conhecimento pode ajudar a Divulgação Científica?

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia do governo FHC (1999-2002), Ronaldo Sardenberg, já dizia que “a divulgação é fundamental pra o avanço da ciência e tecnologia nacionais” (SARDENBERG, 2002, p. 27). E sobre o conhecimento que “tornou-se ele próprio, um novo meio de produção e condição para o desenvolvimento”.

A divulgação científica, mediante livros, publicações e artigos nos meios de comunicação, estimula a maior interação entre o imaginário popular e as conquistas da ciência e tecnologia; desperta o interesse por seus temas; é uma forma de prestar contas à sociedade dos recursos investidos no setor e os resultados com eles obtidos. (...) Estou convencido de que o caminho certo para reduzir desigualdades é propiciar a todos o acesso ao conhecimento, e nessa tarefa, o Jornalismo Científico no Brasil vem crescendo com competência (SARDENBERG, 2002, p.27).

Neste pensamento, posso estabelecer uma relação intrínseca entre Gestão do Conhecimento e Divulgação Científica, pois a gestão do conhecimento científico e tecnológico já faz parte do processo de Divulgação Científica mediado pelo Jornalismo Científico. A compreensão desse processo pode em muito colaborar para o incremento dessa prática e também fazer com que ele ocorra da forma mais harmoniosa possível.

Para o jornalista científico, seja da grande mídia, seja de uma empresa produtora de C&T, a organização e gestão da informação/conhecimento gerado pela pesquisa em muito colabora para a estruturação de seu pensamento na hora de redigir um texto, ou procurar informações complementares acerca de uma pesquisa específica, com o intuito de enriquecer o seu texto, tornando-o mais legível ao público leigo. Além disso, uma rede de relacionamentos (network) é importante quando a troca de conhecimentos se faz necessária para exercer a função de “gestor de relacionamentos”, conforme apregoa BUENO (2003, p. 86), quando diz que “o assessor de imprensa, chamado de gestor de relacionamentos, não vive em função das amizades que fez nas redações no passado, mas dos relacionamentos que construirá permanentemente pela capacidade de suprir os jornalistas com informações relevantes e de estabelecer parcerias duradouras”. Ainda para BUENO ele é “um comunicador organizacional, na verdadeira acepção do conceito, não pode abrir mão de seu papel de gestor, sob a pena de perder a cabeça”.

As organizações exigem deste gestor da informação multidisciplinar uma capacidade de transitar, com desenvoltura, pelas várias áreas da organização, não como um técnico competente para divulgar o que elas realizam, tipo construtor ou decodificador de discursos, mas como um partícipe efetivo do processo de tomada de decisões. Por isso, o gestor de relacionamentos com a mídia não pode estar hierarquicamente subordinado a uma área específica – marketing, finanças ou departamento jurídico, como ocorre em muitas organizações –, devendo vincular-se ao topo da organização, integrando uma área de Comunicação Corporativa ou Empresarial (BUENO, 2003, p. 88).

Creio que para melhor exercer essa função de “gestor de relacionamentos” ou gestor da informação, o jornalista deve se valer das características principais da Gestão do Conhecimento em seu trabalho de divulgação científica, segundo TEIXEIRA FILHO (2000), além de criatividade e competência.

Segundo a pesquisa da Information strategy on-line4, os aspectos

principais da Gestão do Conhecimento, na visão dos executivos europeus entrevistados, são:

compartilhar o conhecimento internamente;

atualizar o conhecimento;

processar e aplicar o conhecimento para algum benefício organizacional;

encontrar o conhecimento internamente;

adquirir o conhecimento externamente;

reutilizar o conhecimento;

criar novos conhecimentos; e

compartilhar o conhecimento com a comunidade externa à empresa.

(TEIXEIRA FILHO, 2000, p. 168).

O trabalho de relacionamento com a mídia, principalmente aquele efetuado por jornalistas científicos, dada a dificuldade maior em emplacar notícias de ciência, é um item importante dentro da Gestão do Conhecimento, notadamente em empresas produtoras de P&D. BUENO (2003, p. 87) enfatiza sua importância quando diz que “é, antes de tudo, um instrumento importante de inteligência empresarial. Ele agrega valor à empresa, pois permite criar canais de relacionamento com públicos de interesse e com a própria opinião pública, por meio da mediação da imprensa”.

A Embrapa, desde sua criação em 1973 e da instituição da primeira assessoria de imprensa em 1977, começou a se preocupar com a divulgação científica, mesmo não tendo estrutura montada nas Unidades de Pesquisa para tal atividade.

Não existiam, nos centros de pesquisa, atividade específicas de comunicação e todas as ações eram desenvolvidas a partir de Brasília. As atividades principais eram organização de eventos, contatos com a imprensa, organização de visitas aos centros de pesquisa e produção de textos para folders. Naquele período aumentou a preocupação com a divulgação das pesquisas. Iniciou-se a circulação de um boletim mensal de oito páginas, que atingia técnicos de cooperativas e de Empresas de pesquisa, buscando inclusive incentivar os pesquisadores a darem entrevistas (DUARTE, 2003,

p. 236).

Hoje a Embrapa, mesmo não possuindo uma Gestão do Conhecimento formal, já inseriu a sua preocupação com essa questão na Política de Comunicação, afirmando que o 4 Pesquisa publicada em 1998, pela revista Information strategy on-line (www.info-strategy.com), ligada à The

Economist, que traz algumas informações sobre o uso da tecnologia da informação para a Gestão do

monitoramento dos diversos públicos deve ser permanente, bem como a avaliação dos canais de comunicação, ambos apoiados por um sistema de inteligência empresarial, um dos aspectos abordados dentro do amplo guarda-chuva da Gestão do Conhecimento. BUENO (2003, p. 89) é enfático quando diz que a Comunicação e a Divulgação Científica são estratégicas para as empresas na Era do Conhecimento. “A utilização intensiva de novas tecnologias tem conferido maior agilidade e interatividade ao relacionamento com os jornalistas e tornado, ao mesmo tempo, as organizações vulneráveis ao fluxo acelerado de informações”.

A prática de monitoramento permanente e sistemático dos diversos públicos de interesse da unidade deve ser estimulada, de modo que o perfil de cada um deles esteja sempre atualizado. Da mesma forma, os canais de comunicação utilizados para o relacionamento com estes públicos devem merecer avaliação permanente, garantindo o seu ajuste freqüente no que diz respeito ao seu formato e ao seu discurso. Para tanto, será importante dispor de bancos de dados inteligentes que subsidiem esta prática e apoiar-se em conceitos e ações que fundamentam um projeto amplo de inteligência empresarial (EMBRAPA, 2002b, p. 54).

Desse modo, a Embrapa está se atualizando nas práticas de Divulgação Científica e inserindo a Comunicação Empresarial e Científica nos objetivos estratégicos da empresa, fato apontado por BUENO (2003, p. 89) como “importante no processo de formação da imagem de uma organização perante aos determinados públicos e à própria sociedade”.

A EMBRAPA

O homem deve respeitar os delicados equilíbrios da natureza, e apenas permitir uma instrumentação do mundo que aumente ou melhore esses equilíbrios.

4.1. O nascimento e os problemas de uma empresa brasileira de pesquisa