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O nascimento e os problemas de uma empresa brasileira de pesquisa

ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi criada em 26 de abril de 1973. Sua missão é viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro por meio de geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício da sociedade. A Embrapa atua por intermédio de 37 Centros de Pesquisa, três Serviços e 15 Unidades Centrais, estando presente em quase todos os Estados da Federação, e é hoje uma das maiores instituições de pesquisa do mundo tropical. Conta com 8.530 empregados, dos quais 2.045 são pesquisadores, 52% com mestrado e 43% com doutorado (EMBRAPA, disponível em http//: www.embrapa.br).

Um panorama específico da agropecuária na década de 70 é traçado na Coletânea de

Trabalhos sobre a Embrapa por ALVES et al. (1980) apud EMBRAPA (2002a, p. 14):

“Chegara o ano de 1970. O crescimento elevado da população e da renda per capita, a maior abertura para o mercado externo e urbanização acelerada fizeram a demanda de alimentos e fibras aumentar a taxas bem mais elevadas do que o crescimento da oferta resultante da expansão da fronteira agrícola”. De acordo com a Coletânea, somente uma expansão da fronteira agrícola, sem a ajuda da ciência e dos investimentos em ciências agrárias não reduziria o elevado diferencial existente entre o crescimento da demanda e da oferta de alimentos e fibras, tendo em vista o aceleramento da migração rural-urbana. Assim, os profissionais da extensão começam a levantar a questão da falta de conhecimentos técnicos, gerados no País, para repasse aos agricultores.

No âmbito do Ministério da Agricultura, com forte participação da extensão rural, o debate se acirra quanto à importância do conhecimento científico para apoiar o desenvolvimento agrícola. É formado então um grupo, composto por técnicos com bagagem teórica e experiência prática, capazes de dar forma às idéias de mudança.

Mesmo com a existência de instituições centenárias de pesquisa agrícola, como o Instituto Agronômico de Campinas - IAC1, órgão do governo do Estado de São Paulo, a

1 O IAC foi fundado pelo imperador D. Pedro II em 27 de julho de 1887, com a denominação de Imperial Estação Agronômica de Campinas. Seus primeiros trabalhos estavam direcionados para a solução dos problemas da cafeicultura, no auge em 1887. No entanto, teve também papel fundamental na introdução de inúmeras culturas e estabeleceu as bases para a modernização da agricultura no Brasil, tornando-se uma das mais tradicionais e importantes instituições de pesquisa agrícola da América do Sul.

estrutura de pesquisa brasileira na época é insuficiente para sustentar o desenvolvimento agropecuário brasileiro.

O Ministro da Agricultura, Luiz Fernando Cirne Lima, forma então um outro grupo de trabalho para elaborar uma proposta baseada nos diagnósticos do primeiro grupo, que teria por objetivo principal uma mudança concreta na estrutura da pesquisa agropecuária no Brasil. A Portaria 143, de 18 de abril de 1972, designa “o Grupo de Trabalho incumbido de definir objetivos e funções da pesquisa agropecuária, identificar limitações, sugerir providências, indicar fonte e formas de financiamento e propor legislação adequada para assegurar a dinamização desses trabalhos (EMBRAPA, 2002a, p. 15).

Surge então o Livro Preto – Sugestões para a Formulação de um Sistema Nacional de

Pesquisa Agropecuária, um documento de 91 páginas, que após 60 dias é entregue ao

Ministro da Agricultura, com o diagnóstico da situação da pesquisa, apontando soluções e encaminhamentos legais. O Livro Preto propõe um bom sistema de planejamento, flexibilidade administrativa para conseguir recursos, elaborar e executar o próprio orçamento; contratação de técnicos a preços de mercado e política intensiva de treinamento de pessoal. Sugere-se a formação de novo sistema de pesquisa agropecuária, constituído por conselhos, centros de pesquisa e instituições regionais e chegam ao Sistema Nacional de Pesquisa.

A principal alternativa é a criação de uma empresa pública, de acordo com a legislação em vigor, como órgão vinculado ao Ministério da Agricultura para promover e executar atividades de pesquisa agropecuária. Pronto. Cria-se, nessas poucas linhas, o embrião da Embrapa que, pouco mais de um ano depois, viria a substituir o DNPEA (Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação) (EMBRAPA, 2002a, p. 17).

Em 7 de dezembro de 1972, o presidente da República, Emílio Garrastazu Médici sanciona – juntamente com os ministros Antonio Delfim Neto, da Fazenda, Luiz Fernando Cirne Lima, da Agricultura, e João Paulo dos Reis Velloso, do Planejamento – a Lei n° 5.881, que autoriza o Poder Executivo a instituir empresa pública, sob a denominação de Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O art. 7° estabelece um prazo de 60 dias para expedição dos estatutos e determina que o decreto fixe a data da instalação da empresa. O Decreto 72.020, de 28 de março de 1973, aprova os estatutos da empresa e determina sua instalação em 20 dias.

A solenidade de posse da primeira Diretoria acontece no Ministério da Agricultura, no dia 26 de abril de 1973. O primeiro presidente da empresa, Irineu Cabral, alinha então as

diretrizes para a vida da empresa e como ações concretas, anuncia nessa solenidade, o inventário de tecnologia, análise de projetos prioritários, geração de tecnologia para pequenos e médios produtores, atenção para áreas de menor expressão econômica, articulação com organismos financeiros, dinamização do intercâmbio internacional, entre outros pontos (EMBRAPA, 2002a). A primeira diretoria se preocupou também em formar uma sólida base de conhecimento para a empresa, que reside em seus pesquisadores (hoje são 2.100). Naquela época ainda não existia o programa de capacitação nos moldes atuais, porém foi lançado também naquele 26 de abril “a base de um programa de capacitação para os próximos dois anos, prevendo envolvimento de 900 participantes com formação universitária” (EMBRAPA, 2002a, p. 10).

Um decreto encerra a existência do DNPEA no último dia de 1973 e uma Portaria da Embrapa cumpre o decretado a partir de janeiro de 1974. A Embrapa herda do DNPEA uma estrutura composta de 92 bases físicas, sendo nove sedes de institutos regionais, dois centros nacionais, 70 estações experimentais e 11 outros imóveis. Nesses centros trabalham 851 pesquisadores. Apenas 10% deles com cursos de pós-graduação. A essa equipe somam-se economistas agrícolas, 10 estatísticos e 10 comunicadores. A estrutura de comando se firma em Brasília. A estrutura de pesquisa começa da seguinte forma:

• Centros nacionais por produto (o primeiro centro de pesquisas inaugurado foi o de Trigo em Passo Fundo, RS, em 1974);

• Centros regionais (os primeiros a serem criados juntamente com a empresa são as Unidades de Pesquisa Semi-Árido, Trópico Úmido e Cerrados);

• As Unidades de Execução de Pesquisa de âmbito Estadual ou Territorial – UEPAEs e UEPATs (muitas das unidades existentes no DNPEA foram transformadas inicialmente em UEPAEs e UEPATs, num total de 24 pontos de pesquisa, segundo dados de 1976);

• Empresas Estaduais, que deveriam, paulatinamente, substituir as UEPATs e UEPAEs (as primeiras empresas a terem aprovadas suas programações de pesquisa em 1974 foram a EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), a EMCAPA (Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária) e a EMGOPA (Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária).

Porém, somente a estrutura física não é o suficiente e a Embrapa desde sua criação se preocupa em estabelecer um planejamento estratégico. Para explicar o funcionamento da nova

empresa e traçar normas para o desenvolvimento da pesquisa é criado em agosto de 1974 o Guia de Planejamento, que seria uma fonte permanente de consulta para pesquisadores e dirigentes de pesquisa. Este sistema sofre uma modificação em 1976, no sentido de simplificar o trâmite burocrático dos projetos. Os componentes financeiros são separados das informações técnicas, simplificando a quantidade de informações a serem enviadas à sede.

Com a Embrapa, o ponto focal da seleção dos problemas objeto da pesquisa passa a ser a visualização do sistema de produção e identificação dos pontos de estrangulamento no aperfeiçoamento do projeto produtivo. É com essa perspectiva que devem ser elaborados os subprojetos que visam à obtenção dos conhecimentos e da tecnologia fundamentais à formulação dos pré- sistemas nos centros nacionais. Conhecimentos esses que, por meio dos subprojetos executados pelas unidades executoras dos sistemas estaduais, permitirão a sintetização de sistemas de produção para as condições ecológicas específicas das regiões e Estados brasileiros (EMBRAPA, 2002a,

p. 23).

Após uma intensa reestruturação, a Embrapa chega a 1985 ostentando excelente taxa de retorno, com 80% de seus pesquisadores com nível de pós-graduação, e uma grande coleção de tecnologias responsáveis por ganhos em produtividade em todo o Brasil. Há um forte investimento na formação de recursos humanos. O quadro de pessoal (dados de 1984) é de 1.614 pesquisadores, dos quais 997 em nível de mestrado e 287 com doutorado concluído. No apoio à pesquisa são 4.027 empregados, num total de 5.641 empregados.

Nessa época, a empresa passa por uma crise política. O ano de 1984 é marcado pela campanha das “Diretas Já”. Com a vitória de Tancredo Neves, mesmo através da eleição indireta, em janeiro de 1985, encerra-se o ciclo de governos militares, iniciado em 1964. Tancredo não toma posse. Uma infecção hospitalar mata-o logo em seguida. Em seu lugar assume José Sarney dando início à Nova República, que traz segundo documentos da Embrapa “um novo componente para a pesquisa: a influência política”. Assim, na divisão política, PMDB gaúcho fica com a área agrícola. Assume o senador Pedro Simon como Ministro da Agricultura, que fica somente um mês como titular da pasta (é precedido pelo senador Íris Rezende Machado, de Goiás). Nesse tempo, Simon nomeia então para presidir a Embrapa, o agrônomo gaúcho Luiz Carlos Pinheiro Machado, ligado ao movimento de agricultura alternativa.

O novo presidente é um crítico das atividades da Embrapa. A conseqüência foi a quebra do clima de cordialidade dentro da empresa. Documentos históricos foram eliminados. Houve acusações, em sua maior parte infundadas. Há maior influência dos políticos na escolha dos dirigentes das

unidades descentralizadas de pesquisa, superando critérios técnicos. Alguns conflitos foram inevitáveis. Pinheiro Machado viaja pelas Unidades para explicar suas idéias, mas não obtém muitos adeptos (EMBRAPA, 2002a, p.

57).

As pesquisas prosseguem. Em 1984, Pinheiro Machado vai à Campinas, SP para disseminar suas idéias acerca da pesquisa agropecuária brasileira e principalmente sobre a estrutura de pesquisa da Embrapa e inaugurar as atividades do Centro Nacional de Pesquisa de Defensivos Agrícolas – CNPDA. Esta Unidade de Pesquisa que é atualmente a Embrapa Meio Ambiente, objeto de estudo dessa dissertação (ver Capítulo 6, página 225).

Em março de 1986, menos de um ano após assumir a presidência da Embrapa, Pinheiro Machado transfere o cargo a Ormuz Rivaldo, indicado pelo ministro da Justiça, Paulo Brossard. Em sua gestão é inaugurada a sede da empresa em Brasília, DF. Em 26 de abril de 1988, com a presença do presidente Sarney, a Embrapa muda-se definitivamente do Edifício Venâncio 2000 para o Parque Estação Biológica, ao final da Avenida W3 Norte em Brasília. Era o 15o aniversário da empresa. Nesse dia é lançado o primeiro Plano Diretor da Embrapa,

onde além de abordar os desafios colocados para a agropecuária dos anos 90, são estabelecidos também novos rumos na estrutura de planejamento da empresa, com metas para cinco anos.

A política de ciência e tecnologia para a próxima década não deve se constituir numa mera seqüência cronológica de reações tópicas às mais diferentes crises conjunturais. Ao contrário, tal política deve ser instrumento decisivo para implementação de uma estratégia que possibilite a afirmação definitiva do Brasil como potência econômica, alicerçada nos progressos da ciência e tecnologia e numa estrutura social maias justa. São as estratégias de longo prazo que darão significado ao conteúdo de uma política de ciência e tecnologia agropecuária e a sua compatibilização com o desenvolvimento dos outros setores da atividade científica e tecnológica, econômica e política. Esse será o contexto da economia política internacional dos anos 90 e, mais ainda, do século XXI (EMBRAPA, 1989, p. 11).

São as seguintes as indicações quanto à estrutura organizacional e operacional: • Redefinição de algumas unidades de pesquisa;

• Adequação da estrutura das unidades descentralizadas à sua finalidade e porte; • Estabelecimento de critérios rígidos para criação, extinção ou fusão de unidades de

• Aprimoramento do sistema de avaliação técnico-institucional das unidades de pesquisa;

• Consolidação e fortalecimento das unidades localizadas em regiões de baixa qualidade de vida.

Em 1989, apesar dos bons resultados obtidos, o orçamento da Embrapa, segundo os relatórios da empresa, estagnou na ordem de US$ 160 milhões. A relação de projetos caiu de cerca de US$ 35 mil/pesquisador/ano em 1982, para cerca de US$ 14,5 mil/pesquisador (EMBRAPA, 2002a, p. 71).

No governo Collor de Mello assume Antonio Cabrera Mano Filho como ministro da Agricultura. Murilo Xavier Flores, então com 32 anos de idade, era chefe do Centro Nacional de Pesquisa de Defesa da Agricultura - CNPDA, o antigo centro de defensivos agrícolas, que nessa época já tinha suas instalações físicas em Jaguariúna, SP, inauguradas pelo seu antecessor Ormuz Freitas Rivaldo. O prédio de laboratórios em Jaguariúna foi construído posteriormente e inaugurado pelo ministro Antonio Cabrera em 1991. Numa entrevista concedida a Gilberto Ungaretti, da revista Manchete Rural, “Antonio Cabrera é o que se pode chamar de um caipira no poder”. Na entrevista Cabrera defende a redução da interferência estatal no campo, a economia de mercado, a redução do protecionismo internacional e uma reforma agrária apoiada no trinômio “terra, trabalho e paz”. Quanto à Embrapa sua posição é favorável ao trabalho da empresa (EMBRAPA, 2002a, p. 73 e 74).

A proposta do PPA – Plano Plurianual – de Investimentos em Agropecuária, lançada ainda em agosto de 1990 na era Collor, defendia recursos da ordem de 460 milhões de dólares para a pesquisa retomar suas atividades.

A proposta do plano se funde no fato de que a moderna política agrícola tem como marco principal o reconhecimento de que não haverá crescimento contínuo da produtividade agrícola, a menos que se amplie a base científica, sobre a qual deverá se fundamentar uma agropecuária dinâmica, crescente e auto-sustentada. Nesse sentido, a Embrapa se propõe, nos próximos cinco anos a desenvolver ações de pesquisa que redundem em tecnologias capazes de garantir o aumento da produtividade, reduzir os custos, possibilitar uma constância de produção com controle do meio ambiente e de garantir preços mais competitivos dos produtos. O PPA pode ser considerado como uma bússola, um rumo a ser seguido pelas propostas da nova diretoria

(EMBRAPA, 2002a,p. 76).

Em 1993, com a saída de Collor da Presidência da República, assume o vice Itamar Franco. Antonio Cabrera deixa o ministério. Murilo Flores permanece como presidente, porém há a reformulação da Diretoria da Embrapa. Alberto Duque Portugal, ex-chefe do Centro

Nacional de Pesquisa de Gado de Leite – CNPGL (Embrapa Gado de Leite) em Coronel Pacheco, MG, futuro indicado para assumir a presidência da empresa, faz parte da diretoria. Murilo Flores defende a necessidade de modificações na Embrapa. A idéia que circula é a da privatização, porém Flores não aceita, mas diz que mesmo assim a empresa precisa ser revista. A Embrapa teria então que fazer uma profunda reflexão de sua estrutura político- administrativa e de condução das pesquisas. Para essas mudanças, “Flores defende uma forma e participação da sociedade, onde não poderiam ser apenas ouvidos os tradicionais clientes, mas sim aqueles que não são clientes, gente que faz parte do meio rural e que está excluída” (EMBRAPA, 2002a, p. 79). Ele quer também a partir desse debate que se torne possível à empresa definir os caminhos de uma reforma que garanta a sua condição de auto-sustentação.

O conceito de “negócio agrícola” substitui a antiga definição de agropecuária. Assim, a Embrapa define sua nova missão: gerar e promover o conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento sustentável do complexo agroindustrial em benefício da sociedade. “A ciência e a tecnologia tornam-se, portanto, fatores cada vez mais importantes para a competitividade, na busca do desenvolvimento social, econômica e ecologicamente sustentável” (EMBRAPA, 2002a, p. 79).

Surge então o Sistema Embrapa de Planejamento em substituição ao PNP (Plano Nacional de Pesquisa), pois para Flores era preciso adotar a visão de sistemas produtivos, os projetos de pesquisa passaram a ser arcabouços maiores, onde se inseriam experimentos.

Um dos paradigmas a ser quebrado, nessa atitude, é o isolamento do pesquisador, o problema diagnosticado no modelo difuso, onde o pesquisador era dono do seu trabalho, do seu laboratório, sem uma vinculação obrigatória de resposta à sociedade. O que se quer, como nos tempos em que foi fechado o DNPEA e criada a Embrapa, é que haja um trabalho multidisciplinar, cooperativo, capaz de resolver um problema dentro da cadeia de produção agropecuária (EMBRAPA, 2002a, p. 82).

Os anos 90 trazem a globalização da economia e consciência ecológica, formação de blocos econômicos, esgotando assim o paradigma internacional de desenvolvimento dos anos 80. Surge então o II Plano Diretor da Embrapa – 1994/1998, elaborado pela SEA – Secretaria de Administração Estratégica. O trabalho se baseia em cenários, descartando os modelos de desenvolvimento em vigência na década de 70, que produziram “mitos econômicos” de conseqüências ambientais, sociais, econômicas, políticas e institucionais desastrosas. Define a missão institucional da empresa como: gerar, promover e transferir conhecimentos e tecnologia

para o desenvolvimento sustentável dos segmentos agropecuário, agroindustrial e florestal em benefício da sociedade. “O exercício do planejamento estratégico com mudanças de conceitos e paradigmas incorporados no II Plano Diretor foram importantes para que a empresa se preparasse para mudanças contínuas que se faziam necessárias” (EMBRAPA, 2002a, p. 86). Porém, a despeito disso, de acordo com AVILA (1983), o corporativismo foi ocupando espaços gerenciais importantes e mudanças planejadas no II Plano Diretor não foram cumpridas. Para ele, apesar do planejamento estratégico houve aumento da estrutura da Embrapa. Unidades estaduais, que deveriam ser repassadas aos Estados, foram transformadas em centros de pesquisa. Os conselhos consultivos que deveriam ser deliberativos, por força do corporativismo, não o foram e isso dificultou a participação da iniciativa privada. “Começaram a ser postergadas ações corretivas ou mudanças de rumo, consideradas indispensáveis para a sustentabilidade institucional no longo prazo”, diz ele.

Em julho de 1994, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda do governo Itamar lança mais um plano de estabilização. Surge a nova moeda, o real. Após as eleições, e a derrota de Lula já no primeiro turno, Fernando Henrique se elege presidente da República. O novo governo segue a regra neoliberal: trabalha para manter a estabilidade econômica e atrair investimentos estrangeiros; derruba o monopólio em setores da produção de petróleo; privatiza a Vale do Rio Doce e outras estatais. O endividamento dos agricultores se agrava.

O primeiro ministro da Agricultura de Fernando Henrique é o senador paranaense José Eduardo de Andrade Vieira, que indica para presidir a Embrapa, Alberto Duque Portugal, então membro da diretoria. Quando diretor, Portugal acompanhou o início das reformas que teriam prosseguimento em sua gestão. Andrade Vieira permanece no cargo por pouco mais de um ano. A seguir, assume Arlindo Porto, de Minas Gerais, que apóia a Embrapa e a insere fortemente nos programas do governo para a agricultura. No final do primeiro período do governo FHC deixa o cargo. Assume o gaúcho Francisco Turra, dando continuidade no apoio à empresa. Em julho de 1999, Turra é substituído por Pratini de Moraes, que agrada as lideranças por ficar no cargo por um período longo (continua ministro em 2002) e principalmente pelo trabalho no sentido de prestigiar o setor agrícola (EMBRAPA, 2002a).

Portugal quer ver incorporados à cultura da empresa conceitos como pesquisa orientada para o mercado, cadeia produtiva, sustentabilidade ambiental e econômica, parcerias, eficiência nos processos e avaliação dos resultados. Seguindo essa premissa, no final de 1997 é

instalado o Conselho de Administração, com a função de canalizar para a empresa visões da sociedade quanto ao seu papel institucional e com isso ajudar a empresa a definir suas macropolíticas e a negocias os meios para implementá-las. A partir da instalação do Conselho, as responsabilidades administrativas são compartilhadas entre o diretor-presidente e os diretores (antes do conselho era somente presidente, a quem era atribuída a máxima responsabilidade pela empresa). “Esse conselho é formado por 18 membros, sendo quatro membros natos (um representante do Ministério da Agricultura, o diretor-presidente da Embrapa, o presidente anterior e um representante da Secretaria de Administração Estratégica da Embrapa). Com a mesma finalidade é criado em cada unidade o Conselho Assessor Externo” (EMBRAPA, 2002a, p. 101).

“Ano a ano, os balanços sociais vêm mostrando uma série de atividades que ajudam a quebrar a cadeia da emigração rural para o meio urbano” (EMBRAPA, 2002a, p. 106). O primeiro balanço social foi publicado pela empresa em 1997. Os documentos mostram que a empresa está procurando quebrar o padrão normal de isolamento do trabalho fechado em laboratórios e campos experimentais, para interagir com outros agentes sociais. O resultado obtido não se traduz em renda, mas demonstra significativo lucro social, que beneficia o país como um todo (EMBRAPA, 1997; 1998; 1999; 2000).

Em depoimento de 1998, Portugal reforça a importância do trabalho da empresa, que