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A relação: Jornalismo Científico e Gestão do Conhecimento

É imprescindível o papel do Jornalismo Científico, capaz de aproximar a C&T&I (Ciência, Tecnologia e Inovação) da sociedade, por meio da divulgação dos resultados de pesquisa numa linguagem clara e acessível. O Jornalismo Científico pode, deste modo, contribuir para que os cidadãos ampliem seus conhecimentos sobre o desenvolvimento científico e tecnológico, para que possam refletir de maneira crítica e consciente em relação aos impactos que a adoção de determinadas tecnologias podem trazer aos seres vivos e ao

meio ambiente, bem como acerca da política de C&T&I adotada no país. José Reis define o papel e o sentido do Jornalismo Científico:

Por meio de notícias, reportagens, entrevistas e artigos visando tanto a assuntos do momento quanto princípios eternos – sem esquecer jamais que a Ciência consubstanciada em idéias que às vezes parecem ter vida própria, é sempre produto de atividade pessoal –e ele procura transmitir ao público o sentido e o sabor do conhecimento científico, assim como suas crescentes implicações sociais. Contribui ele para preencher lacunas escolares e para atualizar o cidadão. Serve, desse modo, de apoio à sociedade a compreendê- la em seu mais puro sentido. E essa compreensão é fundamental, pois a pesquisa é financiada, direta ou indiretamente, pela sociedade. Tem o jornalismo científico, portanto, papel informativo e formativo (REIS, 1984, p.

29).

O fato relevante a ser observado na ação da divulgação da ciência não é tão somente “o fato novo ou novíssimo”, mas também fazer chegar ao conhecimento público a “atitude científica que se pode exemplificar com fatos antigos, que por alguma circunstância se tornam oportunos” (JOSÉ, 1987). É necessário então “lançar mão” da contextualização. E com fazer isso? Utilizando-se da Gestão desse Conhecimento para otimizar sua disseminação aos interessados. Isso é de fundamental importância para a melhoria da qualidade da Divulgação Científica. “O desafio do jornalista científico nesse início de século é, portanto, capacitar-se cada vez mais para transformar o conhecimento científico e tecnológico em processo de emancipação social, política, econômica e cultural” (CALDAS, 2003, p. 77). BUENO (2001, p. 179) reforça a idéia de que a qualidade é fundamental para uma divulgação correta e dentro das premissas que caracterizam um Jornalismo Científico ético e responsável, em que a Gestão do Conhecimento pode ajudar a tornar mais freqüentes.

O Jornalismo Científico deve ter, antes de tudo, um compromisso com a qualidade da informação e não pode ficar à mercê do frenesi da sociedade do consumo. Deve, sim, convidar o leitor à reflexão, e até contrariá-lo se for o caso, buscando trazer antes conhecimento que informações fragmentadas, contaminadas por interesses mercadológicos ou comerciais. Não será fácil, quase sempre, estabelecer a distinção entre informação e marketing (nada contra o marketing, pelo contrário, mas cada coisa deve ser colocada em seu devido lugar), mas o jornalista científico não pode abdicar dessa tentativa

(BUENO, 2001, p. 179).

Para estudar o futuro (cenários prospectivos) é necessário compreender o passado, que deve estar acessível. O tratamento das informações sejam formais, semiformais, informais ou

eletrônicas, além das escritas e publicadas em papel (especificamente matérias, artigos de divulgação científica) sobre as pesquisas desenvolvidas, por exemplo na Embrapa, pode ajudar a alavancar o desenvolvimento das estratégias de divulgação científica já implementadas ou em vias de implementação na empresa.

Informação estratégica é a informação especializada que contribui para favorecer a inovação nas empresas, tanto no que diz respeito aos procedimentos de fabricação, modalidade de gestão, organização do trabalho e gerenciamento, quanto como para a promoção dos produtos

(MIÉGE, 2000, p. 108).

Assim, a Gestão da Informação com vistas ao conhecimento como um processo sistemático, articulado e intencional, apoiado na geração, tratamento, codificação, disseminação e apropriação de conhecimentos, tem o principal propósito de atingir a excelência organizacional. Essa gestão pode ser analisada, com base em vários autores (DAVENPORT, 1998; PRUSAK, 1998; SVEIBY, 1998; TEIXEIRA FILHO, 2000; TRISKA, 2001; STEWART, 2002; TARAPANOFF, 2002; BUENO, 2003) como sendo a implantação de um enfoque integrado para gerenciar:

• os processos de criação, absorção, organização, acesso e uso da informação codificada e do conhecimento tácito, ou seja, capacitações pessoais ligadas ao aprendizado e à criação de competências;

• o conteúdo das informações empresariais de diversas fontes internas e externas;

• a sua base tecnológica e funcional, incluindo a automação da gestão da informação, ferramentas de difusão e colaboração, e automação de processos;

• a extensão do processo de Gestão do Conhecimento na estrutura organizacional; • a extensão do processo de Comunicação Empresarial na estrutura organizacional.

O que o conhecimento significa no contexto do Jornalismo Científico? O aperfeiçoamento da competência tecnológica e organizacional, não somente através do acesso constante ao fluxo de informações, mas principalmente pela capacidade de absorção e transformação das informações em conhecimento (Gestão do Conhecimento) é fator chave para o atual sucesso das empresas modernas, pois “o interesse comercial não poupa a informação qualificada em ciência e tecnologia; pelo contrário, apropria-se dela para aumentar

o apetite de empresários da comunicação, o que se constitui num desafio gigante àqueles que estão empenhados na divulgação científica” (BUENO, 2001, p. 193).

Dentro dessa premissa, por exemplo, o tratamento, atualização, armazenagem e disseminação da informação científica contida em documentos jornalísticos, que contam toda a história da pesquisa desenvolvida nas empresas e instituições brasileiras de C&T, são fatores fundamentais para lidar corretamente com as informações atuais, podendo se tornar um diferencial no desenvolvimento de novos textos ou documentos passíveis de divulgação científica.

Nos dias atuais a Comunicação Empresarial se prepara para ascender a um novo patamar, tornando-se um elemento importante do processo de inteligência empresarial. Ela se estrutura par usufruir das potencialidades das novas tecnologias, respaldar-se em banco de dados inteligentes, explorar a emergência das novas mídias e, sobretudo, maximizar a interface entre as empresas, ou entidades, e a sociedade. Nesse novo cenário, passa a integrar o moderno processo de gestão e partilha do conhecimento, incorporando sua prática e sua filosofia ao chamado “capital intelectual” das organizações

(BUENO, 2003, p. 8).

A esse capital “científico” intelectual, preconizado pela Comunicação Empresarial (comunicação interna e externa) e colocado em ação por meio do Jornalismo Científico, entendida aqui como “transformada” em Gestão da Comunicação Científica, a Gestão do Conhecimento tem muito a oferecer e compartilhar. SVEIBY (1998, p. 36) definiu como o conhecimento é assimilado e transmitido socialmente pelos indivíduos, por meio de uma frase que poderia ser transportada para o universo do Jornalismo Científico: “Os indivíduos mudam ou adaptam os conceitos à luz de suas experiências e reinterpretam a linguagem utilizada para expressá-los”.