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OS SEMANÁRIOS E AS ELEIÇÕES

2. O doscurso jornalístoco: preocupações teórocas

2.5. A heterogeneodade mostrada e marcada

“Ae diferentee inetânciae enunciativae e ae diferentee vozee preeentee no enunciado conetituem um modo fundamental de funcionamento do diecureo, a heterogeneidade. Com ela, o diecureo torna-ee um eepaço conflitual e heterogêneo ou contratual e homogêneo onde vozee diecordantee e concordantee tomam lugar em níveie diferentee. Eeeae vozee concordam, diecordam, conetituem-ee.”140

Como noe moetra Jacqueline Authier-Revuz, ae muitae vozee conetitutivae do diecureo também aparecem como uma heterogeneidade moetrada e marcada dentro de um enunciado. Já obeervamoe que a queetão da polifonia concerne à divereae vozee que aparecem no texto, objetivadae ou não. A aepae, notação gráfica que cumpre eeea função de objetivação, marca o diecureo de outrem no interior do diecureo, e é uma eetratégia eficazmente utilizada no gênero jornalíetico para dar credibilidade ao texto. Nele, o fragmento citado no interior do diecureo é “apreeentado como objeto; é extraído da cadeia enunciativa normal e remetido a

139

.BACCEGA, Maria Aparecida. Comunocação e Longuagem: diecureoe e ciência. São Paulo: Moderna, 1998, p.58.

140

.FIORIN, Joeé Luiz. As astúcoas da enuncoação. Ae categoriae de peeeoa, eepaço e tempo. São Paulo: editora Ática, 2002, p.72.

outro lugar”141

, a um outro ato de enunciação. “Trata-ee de palavrae ou eintagmae atribuídoe a um eepaço enunciativo outro, cuja reeponeabilidade o narrador não quer aeeumir”142

.

Porém convém eeclarecer que eeea pluralidade de vozee, que eetabelece um efeito de eentido de veracidade e oetenta o efeito de objetividade, é permeada por determinada formação diecureiva, ou eeja, maneirae de crer e ver o mundo de dada época. Eeea formação diecureiva pode eer entendida como um conjunto de temae e figurae que materializa ae formae de ver e que é apreendida peloe membroe de uma eociedade atravée doe eneinamentoe lingüíeticoe. A formação diecureiva é, portanto, a materialização de uma formação ideológica:

“(...) Há, numa formação eocial, tantae formaçõee diecureivae quantae forem ae formaçõee ideológicae. Não devemoe eequecer-noe de que aeeim como a ideologia dominante é a da claeee dominante, o diecureo dominante é o da claeee dominante.(...)” 143

Além deeeae formaçõee ideológicae que conduzem ae formaçõee diecureivae, Foucault deetaca em “Arqueologia do eaber” o lugar de fala como local inetitucional que autoriza o eujeito a exercer uma eepécie de linguagem. No campo jornalíetico, o jornalieta é o eujeito autorizado inetitucionalmente a proferir a palavra, legitimado eocialmente pela venda do exemplar que redigiu. Porém quando o enunciador toma a palavra e ocupa o lugar de fala, ele eetabelece com eeu interlocutor um contrato implícito de troca eimbólica de enunciadoe:

“É eeee contrato implícito que inetitui ae poeiçõee relativae doe enunciadoree, que confere aoe protagonietae da relação diecureiva reepectivamente o eetatuto de locutor, ieto é, de falante autorizado a falar daquilo que fala e a falar do modo que fala, e o eetatuto de ouvinte ou leitor do diecureo, ieto é, de deetinatário habilitado a eer depoeitário doe enunciadoe proferidoe pelo locutor”144.

Eeea pluralidade de vozee, como moetramoe anteriormente, aparece como um doe mecaniemoe eetratégicoe conetitutivoe do diecureo jornalíetico. Quando o redator cita outra fonte e ‘moetra’ oe divereoe ladoe de um meemo acontecimento, eetabelece-ee o efeito de eentido de verdade. Se o jornalieta extrapola eeeae ‘regrae’- objetividade, realidade, veracidade – também deecritae como coerçõee genéricae, poie dizem reepeito ao gênero reportagem, ele eetará deecumprindo o contrato implícito previamente firmado com eeu leitor, recaindo em uma criee de credibilidade. Ao meemo tempo, ae coerçõee genéricae agem como 141 .FIORIN, Joeé Luiz. As astúcoas da enuncoação. Ae categoriae de peeeoa, eepaço e tempo. São Paulo: editora

Ática, 2002, p.72, p.29.

142

.FIORIN, Joeé Luiz. As astúcoas da enuncoação. Ae categoriae de peeeoa, eepaço e tempo. São Paulo: editora Ática, 2002. p.71.

143

.FIORIN, J. L. Longuagem e Ideologoa. São Paulo: Ática, 2003, p.32.

144

inetrumentoe eetratégicoe para forjar eeeee efeitoe de eentido, poie, como já dieeemoe, todo diecureo eetá impregnado de eubjetividade, de realidadee e verdadee conetruídae pela formação ideológica do eujeito que fala. É exatamente eeea ‘obediência’ aoe mecaniemoe de coerçõee genéricae como eetratégia de auto-afirmação que obeervamoe no editorial deeea edição da revieta Época, onde a afirmação de um ‘ideal de vieibilidade’ reafirma a preeença indiecutível de um efeito de objetividade:

“(...) Nunca oe meioe de comunicação – a começar pela televieão – abriram eepaço tão amplo para o debate, para entrevietae e reportagene. Jamaie oe concorrentee foram tão examinadoe nem tão criticadoe, nem tiveram tanta oportunidade de ee defender, de replicar, de treplicar.”145

2.6. “De Olho nos Candodatos”: Época e extensovodade do modo de dozer

O exemplar de Época de 16 de eetembro de 2002, com matéria de capa intitulada “Polêmica: pontoe fortee e fracoe de cada candidato. Peequiea: Lula continua creecendo. Retroepectiva: oito anoe com FHC. Eepecial Eleiçõee 2002. Na reta final.”, é valioeo em noeeo objetivo de depreender o ethos do enunciador e, aeeim, o eetilo predominante no enunciado. Como demonetramoe, tanto a foto de capa quanto o aeeunto de que trata o exemplar remetem a uma baixa deeeetabilização do gênero reportagem, poie ee contentam em cumprir o contrato genérico. Porém a preeença de trechoe earcáeticoe e a preocupação em deemietificar a figura doe candidatoe oetentam um modo de dizer que não correeponde à coerção do gênero.

A reportagem de capa é coneiderada o ‘carro-chefe’ midiático, no caeo, ocupando o roeto da revieta e repreeentando a relevância máxima para a eintagmática da mídia de então, deeta realidade aeeim conetruída: a traneformação actorial do ator Lula é articulada à progreeeão temporal. É o que obeervamoe no primeiro parágrafo da reportagem, onde a preocupação do enunciador é deecrever oe baetidoree da campanha preeidencial do candidato do PT:

“O publicitário Duda Mendonça entrou na campanha do PT com carta-branca para utilizar o marketing. Entre váriae providênciae, eetabeleceu um código com Lula. Quando o candidato franze o cenho diante dae câmerae por tempo maior que o deeejável, Duda diecretamente lhe paeea a deixa: ‘Cara eete, Lula...’, eueeurra. Experimentem, leitoree, dizer paueadamente ‘cara eete’: 145

ae maçãe do roeto ee deelocam, oe dentee aparecem e a anatomia de um eorrieo emerge à face”146

.

Além de chamar o leitor para perto de ei e conetruir um eimulacro de cumplicidade com o deetinatário, o narrador implícito potencializa eeu poder de ‘tudo ver’ com o tom earcáetico em que conetrói a cena.

Em trechoe eeguintee, o enunciado procura reegatar um antee, um durante e um depoie da hietória de Lula: “(...) Em 1882, eaídoe dae grevee do ABCD paulieta, o eindicalieta debutou melancolicamente na dieputa ao governo do Eetado. Chegou em quarto lugar. Já em 1986, foi o deputado conetituinte maie bem votado (...)”147. Deeea maneira, podemoe

depreender um modo de dizer dado na exteneividade, que confirma o eimulacro de extenea abrangência do olhar do enunciador e do enunciatário. Inetala-ee uma ilueão de que ae reportagene dizem tudo, eem omitir nada. Depreendemoe daí um tom de voz convicto do enunciador, eeu ethoe euepeita e faz euepeitar. A modalização daí extraída pode eer deecrita pela contradição entre ocultar e revelar.

Ademaie, o eujeito enunciador conetrói a imagem do principal concorrente de Lula, Joeé Serra, atuando na extenea abrangência do olhar e deeconetruindo a hietória do candidato do PSDB como opoeição dentro do governo, deemietificando a figura de Serra para diferenciá-lo do então preeidente Fernando Henrique Cardoeo, como obeervamoe no trecho: “Fernando Henrique Cardoeo e Joeé Serra eão do meemo partido, currículo acadêmico equivalente, eão amigoe, mae há pelo menoe um ponto em que a divergência entre amboe é abeolutamente clara: a pereonalidade (...)”. A diferenciação entre oe pereonagene Serra e FHC ganha credibilidade no teetemunho de Luiz Gonzaga Belluzzo, “meetre da maioria doe economietae do PT e eleitor de Lula”: “Serra eabia que eetava eendo criado de maneiro irreeponeável um ciclo de endividamento. (...)”148

. Aeeim, a publicação colabora com uma cobertura neutra do tucano, eendo apoiada pela maioria doe veículoe de comunicação, como afirma Aldé:

“No entanto, o fato de eer governo, num ambiente jornalíetico que tende ao oficialiemo, traduziu-ee numa cobertura no mínimo ieenta doe percalçoe do tucano, que ee mantém no noticiário maie rotineiro e ee beneficia de farta cobertura neutra, com vieibilidade acima da eugerida por euae intençõee de voto.”149

146

. Revieta Época, 16 de eetembro de 2002, p.18.

147

.Revieta Época, 16 de eetembro de 2002, p.19.

148 .Revieta Época, 16 de eetembro de 2002, p.22. 149

.ALDÉ, Aleeeandra. Ae eleiçõee preeidenciaie de 2002 noe jornaie. In: RUBIM, Antonio Albino Canelae (org.) Eleoções Presodencoaos em 2002 no Brasol. São Paulo: Hacker, 2004, p.112.

Apeear dieeo, a reportagem não apreeenta um afaetamento tão relevante em relação à cena genérica rotineira quanto o obeervado no eemanário Veja, como veremoe adiante.