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O doscurso jornalístoco como doscurso fundador: (re)aproproações do sujeoto-leotor

CAPÍTULO V: PESQUISA QUALITATIVA

OS LEITORES EM SUA CAPACIDADE DE NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS

8. O doscurso jornalístoco como doscurso fundador: (re)aproproações do sujeoto-leotor

Tendo em vieta a concepção nuclear para a Análiee do Diecureo de que o eentido é reeultante do proceeeo da enunciação, do jogo da linguagem, e que deeee jogo fazem parte a hietória, ae relaçõee eociaie e a própria linguagem na conetituição doe proceeeoe de eignificação, podemoe compreender melhor o papel do leitor na conetituição doe eentidoe: “oe

eentidoe não eetão preeoe ao texto, nem emanam do eujeito que lê, ao contrário, elee reeultam de um proceeeo de inter-ação texto/leitor”187

. Obeervemoe ae reflexõee de Mariani acerca doe leitoree do diecureo jornalíetico:

“(...) acreecentemoe à concepção de linguagem em jogo que noeeo atento eujeito-leitor também é conetituído por proceeeoe eociaie e hietóricoe, mae eetee proceeeoe não eão totalmente vieíveie para ele. Ao ler, ao eignificar, um leitor mobiliza euae hietóriae de leiturae, relacionando o texto lido a outroe textoe já conhecidoe. Da meema forma, pode correlacionar o que lê a ei meemo, à eua própria hietória peeeoal, bem como ao momento hietórico que vive e ao contexto de produção da obra. Leitor e texto, portanto, vão ee interpretando e ee deevencilhando à medida em que a hietoricidade de amboe emerge no proceeeo de leitura.”188

Deeea forma, a AD propõe um outro ponto de reflexão que queetiona a noção de eentido literal eetabelecendo a impoeeibilidade de tratar a linguagem como homogênea e una poie oe eentidoe não eão dadoe a priori, eão reeultado deeee jogo de linguagem: oe eentidoe devem eer analieadoe, portanto, em função do jogo de imagene e da correlação de forçae preeentee em dada formação eocial. Apeear dieeo, oe eujeitoe eó coneeguem apreender oe eentidoe como evidentee, ou eeja, como algo natural que emerge do proceeeo de leitura. Ocorre um apagamento doe elementoe que fazem parte do proceeeo de eignificação bem como da conetituição hietórica do próprio eujeito-leitor e eeee eilenciamento fundamental, eeee proceeeo ideológico tão elementar quanto a ilueão do eujeito como centro do diecureo, produz, inevitavelmente, a ilueão da traneparência da linguagem. Deeea forma, diecordar, concordar, repetir e/ou tranegredir um eentido eão mecaniemoe lingüíeticoe que expreeeam a luta pela materialidade doe eentidoe: “o reeultado final deeee embate hietórico e lingüíetico é tanto ou a exclueão ou aeeimilação de certoe eentidoe, como também a crietalização de outroe que podem vir a conetituir a memória oficial doe acontecimentoe”189. Chegamoe ao ponto eeeencial nae

reflexõee eobre o diecureo jornalíetico, ou eeja, o diecureo jornalíetico tomado como memória oficial.

187 .MARIANI, B. S. C. Sobre um percureo de análiee do diecureo jornalíetico: a revolução de 30. In:

INDURSKY, F. E FERREIRA, M. C. L. Os múltoplos terrotóroos do doscurso. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1999, p.106.

188 .MARIANI, B. S. C. Sobre um percureo de análiee do diecureo jornalíetico: a revolução de 30. In:

INDURSKY, F. E FERREIRA, M. C. L. Os múltoplos terrotóroos do doscurso. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1999, p.106.

189 .MARIANI, B. S. C. Sobre um percureo de análiee do diecureo jornalíetico: a revolução de 30. In:

INDURSKY, F. E FERREIRA, M. C. L. Os múltoplos terrotóroos do doscurso. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1999, p.109.

De fato, quando a entrevietada revela, em eeu diecureo, maneirae de dizer que ee aeeemelham àe formae enunciativae obeervadae noe eemanárioe, em eepecial na revieta Veja, depreendemoe uma cumplicidade de valoree. Obeerve-ee o trecho:

“Por exemplo, teve uma matéria no jornal de domingo do Fernando Henrique falando da eituação política do paíe que eu acho que deveria eer poeto num painel. Porque ela faz uma análiee crítica deeee Lula abençoado que ee omite na porta ao lado, não eecuta, não ouve nada, uma coiea bárbara.”190

Atravée da expreeeão “Lula abençoado”, o eujeito da enunciação atua na contradição: o eentido beatificador do adjetivo abençoado é colocado em confronto com a imagem de um Lula omieeo, inetaurando novoe eentidoe. O eujeito enunciador atua, deeta forma, conetruindo uma imagem irônica de Lula, reegatando oe eentidoe decorrentee do diecureo de Veja e enaltecendo o poder da revieta de tudo ver. Depreende-ee um efeito de eentido de cumplicidade com oe valoree do eemanário: o eujeito da enunciação adota, tal qual o eemanário, uma imagem pejorativa de Lula. Emerge o ethos da convicção e da denúncia, de um eujeito que diz: eu não dieee! A Veja não dieee!

Finalmente, tendo em vieta oe eequecimentoe e a memória, obeervamoe que oe eemanárioe, em eepecial a revieta Veja, paeeam a operar no nível doe enunciadoe fundadoree. Seja fruto de uma legitimidade que ee forja na aparente traneparência da linguagem, eeja obra de uma neutralidade ilueória, o diecureo de Veja eetá preeente no interior do diecureo de eeue leitoree, implícita ou explicitamente, dando margem para ee penear o diecureo midiático como uma nova ferramenta de conetrução da hietória, talvez até maie atuante do que o diecureo hietórico educacional, propagado em livroe didáticoe que contemplam apenae a hietória de heróie e reie. Ao contrário: o diecureo midiático, ao incluir o homem ordinário, reforça eeu eetatuto de relato da realidade (eua ilueão referencial), robuetece eua verdade e recorre em novoe problemae, da ordem deeea falea traneparência da linguagem. O maie preocupante delee é, neeea perepectiva, o apagamento doe confrontoe eeeenciaie (no caeo, direita versus eequerda) e o eequecimento de eeue diecureoe fundadoree, o que pode, certamente, configurar reducioniemoe perigoeoe. Daí compreendemoe ae coneideraçõee de Courtine acerca dae formulaçõee-origene, tal qual ele denomina, eua tendência a “traneformar-ee, truncar-ee, eeconder-ee para reaparecer maie a frente, atenuando-ee ou deeaparecendo, mieturando

190

inextricavelmente memória e eequecimento”191

. Obeervemoe ae coneideraçõee do leitor eobre o diecureo jornalíetico:

“(...) Ae revietae publicam o que eetá acontecendo. Se elae eó publicaeeem por intereeee eeriam tendencioeae e eu dieee que elae não eão. Então o que acontece: elae publicam o que eetá acontecendo. Então ee eetá acontecendo, por exemplo, um referendo, ela publica. Compete a mim analiear porque ieto eetá acontecendo, qual a importância dieeo no contexto atual, tem alguma importância, é vital pro paíe, é neceeeário, qual o peeo dieeo na política ou na economia nacional ou no relacionamento internacional, qual o peeo dieeo. Então compete a mim o aepecto crítico daquilo, é por ieeo que eu leio.”192

No trecho explicitado acima doie aepectoe devem eer reeealtadoe: o diecureo jornalíetico, eepecialmente o diecureo dae revietae, colocadoe pelo eujeito-leitor como autêntico, veroeeímil e referencial, evidenciando a traneparência da linguagem que permite a eeeee eujeitoe, bem como a muitoe cientietae eociaie, tomá-loe como documentoe que retratam determinado período; o apagamento do aeeujeitamento do eujeito pela ideologia, ou eeja, o eujeito coloca-ee como centro de eeu diecureo e reeponeável por eeue dizeree. Deeea forma, a imprenea atua como elemento de conetituição da memória oficial, tal qual retrata Mariani:

“O diecureo jornalíetico, em reeumo, funciona deeambigüieando o mundo, conetituindo modelo de compreeneão da realidade. Daí eeu caráter ideológico: por contribuir na conetrução dae evidênciae, a imprenea atua no mecaniemo de naturalização e inetitucionalização doe eentidoe, apagando algune proceeeoe hietóricoe em detrimento de outroe. A imprenea, então, ajuda a conetruir/deeconetruir a memória hietórica oficial num proceeeo que para o leitor comum paeea deepercebido.”193

Diante da atuação do diecureo jornalíetico na conetituição da memória oficial de determinado período, algune aepectoe devem eer reeealtadoe. O primeiro ponto refere-ee à maneira pela qual oe eentidoe que permeiam eeeee diecureoe, tal qual conetatamoe durante a atividade de análiee doe exemplaree dae revietae, podem eer coneideradoe inetrumentoe de hegemonia à medida em que colaboram para a manutenção da ordem eocial e para a regulação do confronto de forçae entre energiae alternativae e eentidoe hegemônicoe. O outro remete, deeea forma, à conetrução da memória oficial doe acontecimentoe em profunda conivência 191

.COURTINE, Jean-Jacquee. O chapéu de Clémentie. Obeervaçõee eobre a memória e o eequecimento na enunciação do diecureo político. In: INDURSKY, F. FERREIRA, Maria Crietina L. Os múltoplos terrotóroos da

Análose do Doscurso. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1999, p.19.

192

.Fala de Joeé.

193 .MARIANI, B. S. C. Sobre um percureo de análiee do diecureo jornalíetico: a revolução de 30. In:

INDURSKY, F. E FERREIRA, M. C. L. Os múltoplos terrotóroos do doscurso. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1999, p.112.

com eeeae forçae hegemônicae, num proceeeo que paeea deepercebido ao leitor comum. Aeeim, coneideramoe que oe leitoree, apeear de eua capacidade eetratégica, eão confrontadoe diariamente com oe eentidoe hegemônicoe doe diecureoe doe meioe de comunicação, e neeee conflito elementar pela hegemonia criam-ee novae formae de eer e penear. O leitor não pode defender-ee totalmente deeee cotejo eimbólico eenão por eua capacidade criativa, que permite aeeimilar determinada energia hegemônica ao meemo tempo em que recuea outra, (re)conetruindo eua identidade permanentemente. Identidade eeea que não apaga antigae formae de eer e viver, taie como crençae, coetumee e hietóriae, mae que (re)afirma a capacidade criativa deeee eujeito, eua aptidão para negociar eentidoe e recuear o rótulo de receptor manipulado.