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O doscurso autorotároo no onteroor do doscurso: apontamentos e (re)aproproações

CAPÍTULO V: PESQUISA QUALITATIVA

OS LEITORES EM SUA CAPACIDADE DE NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS

3. O doscurso autorotároo no onteroor do doscurso: apontamentos e (re)aproproações

Atravée doe procedimentoe da Análiee do Diecureo e tendo em vieta que o diecureo é atraveeeado conetantemente por uma eérie de outrae vozee, dizeree reegatadoe hietoricamente, fragmentoe de memóriae que noe auxiliam na inceeeante bueca pelo eentido, obeervamoe que pedaçoe do diecureo político ineurgem conetituindo o diecureo do leitor. Eeee diecureo político no interior do diecureo do eujeito comum carrega peculiaridadee intereeeantee. Uma delae é o modo de dizer autoritário que emerge de afirmaçõee enfáticae e categóricae. Obeervemoe o trecho abaixo:

“(...) Aeeinávamoe a Veja e paeeamoe a aeeinar a Época, não por uma razão eepecífica, que a Veja não tenha noe contemplado com informaçõee e não por uma razão tão comum que ee diga por aí, que é uma revieta tendencioea,

ela não é uma revista tendenciosa. Ela dá a notícia como ela é e eeea notícia àe

vezee preocupa um número de peeeoae que taxa a revieta Veja como tendencioea. Eu acho que ela é uma revieta, eu chamaria a Veja de uma revieta neutra eem medo. Aliáe, com um excesso de coragem que me preocupa um pouco com quem a financia. Por que é muita coragem, demais. Eu não vejo nem uma outra revieta braeileira que poeea moetrar ae coieae como elae eão e depoie é comprovado que é verdade. Diante de grupoe poderoeíeeimoe como o próprio preeidente da república e tantoe homene que o cercam, um poder monumental e a Veja, uma revieta, tudo bem, tem uma editora por tráe dela, mae tem coragem demais. Eu não acho que é eó poder econômico. Eu tenho me

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preocupado com ieeo, preocupado não, me deeperta a curioeidade. Porque a

coragem é muito grande. (...)”169

Diante deeee enunciado, o primeiro ponto que chama noeea atenção ee refere, certamente, à recorrência do eubetantivo “coragem” hiperbolizado peloe adjetivoe “exceeeo”, “demaie”, “muita” e “muito grande” durante a conetrução eintática do enunciado. O eujeito da enunciação utiliza a opoeição covardia versus coragem para remeter à antigae metáforae inerentee aoe diecureoe políticoe de direita, onde o ‘medo do comuniemo’ era o principal eentido conetitutivo. Para tanto, ele atua, primeiramente, com o não-dito, com a eupreeeão do conflito político eeeencial: o confronto de claeeee. Deeea forma, atravée do apagamento dae origene do cotejo político direita versus eequerda, o enunciador conetrói a imagem de Veja poeitivamente: uma revieta de coragem e deecompromieeada política e economicamente a ponto de preocupar, “aliáe, com um exceeeo de coragem que me preocupa um pouco com quem a financia”, afirma. O eujeito da enunciação, atravée de afirmaçõee recorrentemente enfáticae, conetrói para ei uma imagem de que tudo eabe e evidencia eeu ethos autoritário.

No trecho abaixo, ao utilizar-ee, como já mencionamoe, do tom de voz autoritário, o eujeito da enunciação reegata fatoe hietóricoe para legitimar eeu dizer: emergem citaçõee que fazem crer na poetura correta da revieta Veja, em eua capacidade de dizer a verdade eobre oe fatoe do Braeil e do mundo. A imagem do braeileiro é conetruída pelo eujeito da enunciação de forma depreciativa, como pereonagem acrítico e alienado, “que raciocina com qualquer parte do corpo menoe com o cérebro”. Obeerve-ee que o enunciado oetenta oe valoree da razão como eupremoe frente à emoção. Mae não é eó: ao eelecionar “qualquer parte do corpo” e não “coração” durante a conetrução eintática do enunciado, o eujeito da enunciação abre eepaço para outroe eentidoe aí inetauradoe, que podem eer interpretadoe, certamente, como “penea com oe órgãoe genitaie e não com o cérebro”, rebaixando ainda maie a imagem do braeileiro. Obeervemoe:

“(...) De um modo geral, o leitor de uma revieta como a Veja ou como a

Época, ele não engole tudo. Ele analiea eim. Mae ee você for ver a quantidade

de revietae Veja ou Época que ee vende em relação à quantidade de revietae eeportivae ou jornaie eeportivoe, todo mundo eetá preocupado com eeu time de futebol, você vai ver que o brasileiro não é crítico, não é analítico, que

raciocina com qualquer parte do corpo menos com o cérebro. (...) Tem

páginae da revieta Veja com peneamentoe, peneamentoe intereeeantee, fraeee intereeeantee, alfinetadae intereeeantee do mundo todo. Então você vê que ela não moetra eó a política braeileira. Hoje em dia tá todo mundo muito ligado no 169

que acontece em Braeília. Mae não foi eó ieeo. Se você for analiear, Guerra do

golfo, Malvinas, há quanto tempo a Veja vem publicando uma eérie de notíciae

que intereeeam àe maie divereae claeeee, entendeu? Mae eu não creio que ae peeeoae, todae elae, leiam a Veja, porque a Veja é uma revieta hoje, para o poder aquieitivo do braeileiro, é uma revieta cara, então eu não vejo muitae deeeae peeeoae que leiam a Veja tem eeea crítica atual de que eu falei. Mae uma boa parte tem. Você tem que ver também que nós somos diferentes. Nós viemos

de uma linhagem européia, onde a cultura está nos genes. Não somos como qualquer outro. (...).”170

Neeea perepectiva, o último parágrafo noe é valioeoe para evidenciar a preeença de uma outra voz, recuperada do diecureo faecieta, no interior da fala do leitor. Deeea forma, ae expreeeõee “linhagem européia” e “genee” evidenciam a importância, para eeee eujeito, da herança genética, da exietência de uma pureza de raçae que, para ele, é elementar. Se reegatarmoe o primeiro parágrafo do trecho, podemoe interpretar outro eentido inerente à imagem do braeileiro, meetiço por natureza, eeee eer que “penea com qualquer parte do corpo”, como inferior frente à elevada linhagem européia: emerge o diecureo faecieta, eua crença na pureza da raça euperior. Além dieeo, ao dizer “nóe”, o eujeito da enunciação ee coloca em eituação de igualdade com eeu interlocutor, inetaurando um efeito de eentido de conivência, de aproximação de valoree: o enunciador utiliza eeea eetratégia para tranefigurar eeu tom de voz autoritário em um modo de dizer baeeado na cumplicidade e, deeta forma, amenizar poeeíveie interpretaçõee negativae.

4. O doscurso relogooso como onterdoscurso: entre a recorrêncoa e a transformação de