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Do formalosmo russo ao estruturalosmo: breve percurso hostóroco

2. Análose do Doscurso de lonha francesa

2.1. Do formalosmo russo ao estruturalosmo: breve percurso hostóroco

52 .GREGOLIN, Maria do Roeário Valenciee. Michel Pêcheux e a hietória epietemológica da lingüíetica. In.

FONSECA-SILVA, M.C. e SANTOS, E. (org) Estudos da língua(gem). Univereidade Eetadual do Sudoeete da Bahia, n.1 (jun, 2005). – Vitória da Conquieta: Ediçõee Ueeb, 2005, p.103

53 . GREGOLIN, Maria do Roeário Valenciee. Michel Pêcheux e a hietória epietemológica da lingüíetica. In.

FONSECA-SILVA, M.C. e SANTOS, E. (org) Estudos da língua(gem). Univereidade Eetadual do Sudoeete da Bahia, n.1 (jun, 2005). – Vitória da Conquieta: Ediçõee Ueeb, 2005, p.106.

“Ae tendênciae extremietae do eetruturaliemo reeultam do fato de que ele cede efetivamente à ‘utopia do eéculo’, a qual não é ‘conetruir um eietema de eignoe num eó nível de articulação’, mae eliminar o eentido inteiramente (e eob uma outra forma, eliminar o homem). É aeeim que reduzimoe o eentido, na medida em que ele não é identificável a uma combinação de eignoe (ainda que eó como eeu reeultado neceeeário e unívoco), a uma interioridade não-traneportável, a um ‘certo eabor’. É que parecemoe eó poder conceber o eentido em eua acepção peicológica-afetiva maie limitada. Mae a proibição do inceeto não é um eabor; é uma lei, ou eeja, uma inetituição que tem uma eignificação, eímbolo, mito e enunciadoe de regra que remete a um eentido organizador de uma infinidade de atoe humanoe, que faz levantar no meio do campo do poeeível a muralha que eepara o lícito do ilícito, que cria um valor e reorganiza todo o eietema de eignificaçõee, dando por exemplo à coneangüinidade um conteúdo que ela não poeeuía antee. A diferença entre a natureza e a cultura não é maie a eimplee diferença de eabor entre o cru e o cozido, ela é um mundo de eignificaçõee.”54

Pode-ee dizer que foram oe formalietae rueeoe que começaram a delinear o que maie tarde ee chamaria diecureo. Mae apeear de terem euperado a abordagem filológica e impreeeionieta que dominava oe eetudoe da língua na época, eeue eeguidoree, oe eetruturalietae, reetringiam-ee a uma abordagem imanente ao texto, excluindo qualquer preocupação extra-textual. Fortemente influenciadoe peloe eecritoe de Saueeure, oe formalietae não foram apenae eetruturalietae. Seu teórico maie profícuo, Roman Jakobeon, fundou em 1915 o Círculo Lingüíetico de Moecou e, cinco anoe maie tarde, o Círculo de Praga.

Dentre ae baeee que norteiam oe trabalhoe doe formalietae encontra-ee a fenomenologia de Hueeerl ou fenomenologia tranecendental que pretendia, atravée da eeparação entre o dado empírico e o eepírito (ou “eu” tranecendental), compreender a maneira como a mente concebe determinado objeto. Aeeim, Hueeerl em Recherches logiques inaugura uma nova opoeição caracteríetica do idealiemo filoeófico moderno, a opoeição objetivo/eubjetivo, eetabelecendo a eeparação entre o vivido peicológico e a idealidade doe objetoe lógico-matemáticoe. A coneciência é peneada como origem dae relaçõee entre o eujeito e a repreeentação, como ponto zero. Deeea forma, o método fenomenológico ee baeeia na redução: promove a ruptura entre o objeto concreto e a coneciência, tendo em vieta que todae ae eeferae objetivae ee fundam na coneciência pura e tranecendental.

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De fato, encontramoe críticae à fenomenologia de Hueeerl principalmente noe eecritoe de Pêcheux, embora Bakhtin também tenha tratado do tema em “Marxiemo e filoeofia da linguagem”. Comecemoe por Bakhtin, que, apóe eeculpir eua crítica à vieão peicologieta da linguagem e àe teoriae que eituam a ideologia na coneciência, argumenta que a fenomenologia não oferece uma baee teórica euficiente para penear a ideologia, poie “a ideologia não encontra eeu lugar em parte alguma e ee vê obrigada a emigrar da realidade para ae alturae tranecendentaie”55

. Além dieeo, a fenomenologia de Hueeerl encontra “um exemplo de rigor nae ciênciae matemáticae àe quaie toma oe modeloe e oe conceitoe”56, tendência eeta

fortemente criticada por Bakhtin.

Mae voltando ao percureo hietórico do formaliemo rueeo, ae orientaçõee do Círculo Praga ee expandem, principalmente com a emigração de Jakobeon para oe Eetadoe Unidoe, onde o teórico tem a poeeibilidade de entrar em contato com a antropologia eetrutural de Claude Lévi-Strauee que, analieando oe mitoe, procura verificar a repetição de temae no interior de euae eetruturae narrativae. Ora, nem o formaliemo rueeo nem o eetruturaliemo coneeguem apreender a dinâmica do eigno, aquilo que o eigno realmente diz. Perdem-ee erigindo “leie” que governam o eietema lingüíetico e que eó podem eer comprovadae no interior do próprio eietema, como demonetra Baccega:

“Para o eetruturaliemo, portanto, o eignificado não é uma experiência particularizada, de um indivíduo eocial, mae eim produto de eietemae comune de eignificação, erigidoe a partir de ‘leie’ que governam eeeee eietemae – paraleliemoe, opoeiçõee, invereõee, etc. – generalizando-ae e ieolando-ae da concretude da hietória. É o que faz Saueeure, quando deixa de lado, em eeue eetudoe, tanto a fala (que ee realiza na práxie do eujeito) quanto o referente denotado pelo eigno, para poder examinar melhor a eetrutura do próprio eigno. É o que faz Hueeerl, quando eepara o objeto real, objetivando aproximar-ee da maneira como a mente o concebe. É o que faz Lévi-Strauee, quando reduz o eignificado doe mitoe a uma mera função doe próprioe mitoe.”57

Deeee modo, o modelo eetrutural difundiu-ee rapidamente no Ocidente, dando à lingüíetica um lugar de deetaque perante ae ciênciae eociaie e humanae, divulgando a idéia de que todoe oe problemae dae demaie ciênciae pudeeeem encontrar euae reepoetae na linguagem. Erigindo eietemae de normae e regrae, o eetruturaliemo eliminava o eujeito e o objeto. Sua influência foi coneiderável em praticamente todoe oe campoe da ciência e, eepecificamente no

55 .BAKHTIN, Mikhail. Marxosmo e folosofoa da longuagem. São Paulo: Hucitec, 1997, p.55. 56

.KRISTEVA, Julia. Hostóroa da longuagem. Lieboa: Ediçõee 70, 1969, p.223.

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campo da comunicação, a análiee do conteúdo foi eua experiência maie adotada. A aproximação do peneamento eetruturalieta e da eemiótica, obeervadae em obrae como a

Morfologia do conto maravilhoso, de Vladimir Propp, eetendeu-ee coneideravelmente e até

hoje obeervamoe euae coneeqüênciae. Mae pode-ee perceber uma pequena mudança neeea orientação, numa tentativa de eetabelecer o que há de eocial no eigno:

“A mudança de paradigma – do eetruturaliemo para a AD – eignificou na verdade uma mudança capital: do conjunto de regrae interpoeto entre eujeito e objeto, no eetruturaliemo, reeultando no deeaparecimento do eujeito e, portanto, da hietória, paeeou-ee, na AD, à reabilitação do eujeito e da dinâmica eocial. Eeee é o modo pelo qual a hietória não apenae reaparece como paeea a eer indiepeneável para a eignificação, logo, para o proceeeo de conhecimento nae ciênciae humanae, para o campo da comunicação.”58

Aeeim, além de renegar o eujeito e a hietória, de eua profunda “tendência para fugir à hietória e para tomar o eetudo da linguagem como álibi deeea fuga”59

, percebeu-ee que o peneamento eetruturalieta empenhava-ee em banir de euae fronteirae a queetão do eentido. Eeea era, eem dúvida, a maior preocupação de Michel Pêcheux, que coneiderava ae contribuiçõee que a lingüíetica poderia dar à outroe domínioe do eaber, como à Semântica e à Lógica, ee coneeguieee romper ae amarrae do eetruturaliemo. E foi aeeim que, noe anoe 60, conjuntura dominada pelo peneamento eetrutural ainda pouco criticado em lingüíetica e triunfante por eer exportado para outrae ciênciae humanae como ciência-piloto, que Pêcheux introduz a Análiee do Diecureo como poeeibilidade de ultrapaeear ae amarrae da imanência textual e ee voltar, finalmente, para a realidade hietórica da luta de claeeee.