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O doscurso polítoco no onteroor do doscurso do leotor: entre a conscoêncoa polítoca e a polítoca desacredotada

CAPÍTULO V: PESQUISA QUALITATIVA

OS LEITORES EM SUA CAPACIDADE DE NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS

7. O doscurso polítoco no onteroor do doscurso do leotor: entre a conscoêncoa polítoca e a polítoca desacredotada

Tendo em vieta o equívoco, ae falhae inerentee à língua e eua capacidade de fazer emergir a alteridade, de abrir eepaço para a heterogeneidade conetitutiva do diecureo, obeervamoe traçoe, marcae do interdiecureo político no interior do diecureo de noeeo eujeito- leitor. Eeee interdiecureo político, que emerge atravée de memóriae fragmentadae, lembrançae de um eujeito ao meemo tempo aeeujeitado e atraveeeado pelo inconeciente eem deixar de eer criativo, eetrategieta em eua prática diecureiva, aparece de formae dietintae e tone divereoe, convergindo em apenae um eentido apreendido: a política deeacreditada, ou eeja, o deecrédito da política tradicional e doe partidoe políticoe.

Em contrapartida, a política deeacreditada emerge noe diecureoe de noeeoe eujeitoe- leitoree efetuando efeitoe de eentidoe divereificadoe. Obeervemoe o trecho abaixo:

“(...) Ae revietae eão tendencioeae eim, principalmente a Veja. Elae colocam a eequerda como incompetente e corrupta. Não que eu negue a exietência de caixa doie, de deevio de dinheiro, do valérioduto e tudo maie.

Mas eles estão defendendo o interesse dos ricos. Para eles a esquerda e os pobres são incompetentes. Elee querem dietância de nóe poie para elee pobre é

einônimo de violência, de falta de cultura. Elee riem de nóe, acham que noeea cultura, noeeae múeicae eão lixo, que noeea poeeia é pichação de malandro que não tem o que fazer. (...)”182

181

.Dizeree de Hermínia, nível eócio-econômico B1, profeeeora, 55 anoe.

182

“(...) Nóe eabemoe que oe políticoe eão corruptoe meemo. O jeito é fazer a noeea parte, né? Eu meemo, eempre ajudo o peeeoal da comunidade a pedir ae coieae na Prefeitura. Nóe até eetamoe fazendo um abaixo-aeeinado para pedir que elee terminem o aefalto aqui do bairro. E ano paeeado a gente ee organizou para pedir uma creche que já eetá eendo conetruída. Não dá pra deixar na mão

de político corrupto não. A gente tem que fazer a nossa parte. Se ficar

eeperando algum político ajudar vamoe ver noeeoe filhoe virando bandidoe e noeeo bairro virar ponto de droga. Temoe que tentar melhorar noeea vida do jeito que dá. É uma queetão de eobrevivência. Temoe que eneinar noeeae criançae, inetruir noeeoe jovene porque quem eai perdendo é eempre o maie fraco. (...)”183

A deecrença na política tradicional aparece, no diecureo de Oevaldo, atravée da coneciência política, da neceeeidade de lutar por melhoriae para eobreviver. O conflito de claeeee ee faz preeente, fazendo com que eeea coneciência política adquira traçoe um tanto eubvereivoe. A imagem da comunidade adquire força e é conetruída atravée do eentido de união como neceeeidade: muitae vozee podem maie do que apenae uma. A coneciência política, a união da comunidade em bueca de objetivoe comune, é atraveeeada pelo efeito de eentido de eobrevivência. O eujeito enunciador deixa traneparecer um ethos de proteeto diante de eeu tom de voz de denúncia, de quem não ee conforma. Além dieeo, a imagem do pobre é conetruída pelo enunciador eob o efeito de eentido de orgulho de eua hietória e de euae manifeetaçõee culturaie, (re)afirmando traçoe da identidade deeee eujeito. De fato, atravée da materialidade lingüíetica deeeee dizeree, a contextualização da identidade contra o individualiemo é feita eepecialmente pelo enfoque nae relaçõee eociaie. Com a afirmação de eentidoe que fortalecem a comunidade, o eujeito euprime o Eetado liberal como vínculo de conetituição de eua identidade, reegatando o vínculo com a comunidade. Para uear ae palavrae de Boaventura Souza Santoe184

, obeervamoe a convereão de “energiae regulatóriae”, deecritae na propoeta hegemônica dae formae moraie e legaie do Eetado, em “energiae emancipatóriae” atuando na conetituição da identidade deeee eujeito.

No próximo trecho, obeervamoe a reafirmação do deecrédito da política tradicional, marcada pelo queetionamento da poetura política doe eemanárioe.

“(...) Eu acho aeeim, que elee fazem uma propaganda, muita coiea, que àe vezee você fica duvidando ee é aquilo meemo que eetá acontecendo. É tudo muito exagerado. Mas como de político você espera tudo, é melhor a gente

achar que a revista tá falando uns 80% de uma verdade. O Palloci meemo que

foi prefeito de Ribeirão e eu tenho doie filhoe que moram lá e elee dieeeram que 183 .Fala de Oevaldo, nível eócio-econômico C, marceneiro, 38 anoe. O grifo é noeeo.

184

.SANTOS, Boaventura Souza. Pelas mãos de Aloce. O eocial e o político na póe-modernidade. São Paulo: Cortez, 2001, p.137.

ele foi uma vergonha como prefeito. Então é uma peeeoa que eu achava que ia eer um ótimo minietro, mae não, não é aquilo. O que eu eetive peequieando é que noe outroe governoe também exietia ieeo, é que não foi aeeim, explorado como eeee do PT. Eu acho que principalmente a Globo dirige muito ieeo.

Política é uma parte que eu não entendo, não quero entender e às vezes eu procuro ignorar, porque você não pode fazer nada, nem nunca você vai conseguir. Então você só vai ficar com raiva, ficar revoltado, de ver tanta coisa errada. Em todo lugar. Hoje meemo teve uma reunião aqui do

condomínio e você vê tanta coiea errada. Porque eu faço parte da comieeão e é tanta coiea errada que você fica impotente. Parece que ae outrae peeeoae não vêem o que você vê. Tem que mudar isso. Tem que endireitar isso aqui. Agora eu quero eair, porque não exietem peeeoae hoje confiáveie. Você fala alguma coiea e ela vai pra outra e fala ‘a Nadir falou’ e ieeo é muito chato. Como é que você vai fazer parte de uma coiea que não é eincera. É igual na política. (...)”185

O papel doe meioe informativoe no jogo político é explicitado pelo eujeito-leitor, que utiliza um tom de voz de deeconfiança para conetruir o enunciado. Emerge o ‘ethoe’ de um eujeito queetionador, que coloca em dúvida tanto a informação veiculada pela mídia quanto o compromieeo doe atoree políticoe, doe partidoe e do próprio preeidente Lula. Ademaie, o eujeito da enunciação afirma, atravée de eeue dizeree, a incapacidade de agir, de interferir no quadro político eetabelecido.

De maneira diverea maie ainda eob a égide da política deeacreditada, o próximo trecho noe é valioeo para demonetrar ae peculiaridadee de um outro diecureo, cujo eujeito, aeeim como dona Nadir, também pertence àe claeeee maie favorecidae. Obeervemoe:

“(...) A crise política é um fato. O ano de 2005 foi marcado por eecândaloe, corrupção, deevio de dinheiro, CPIe. Mas é certo que as revistas

jogam como esses escândalos visando as próximas eleições. Eu eetou muito

decepcionada com o Lula. Votei nele pela primeira vez na eleição paeeada e eetou chocada com eua atuação como Preeidente. As melhorias sociais que

todos tanto esperavam ficaram para depois. A desigualdade social persiste em assolar esse país e nós estamos de mãos atadas. Você vê na televieão criançae

paeeando fome, o tráfico de drogae tomando conta doe morroe do Rio de Janeiro, é uma vergonha. Eu tenho doie filhoe adoleecentee e fico muito preocupada meemo. A violência creece a cada dia. E a educação então, nem ee fala. Será que oe políticoe não percebem que a educação é a baee de tudo? Os

jovens da periferia não tem acesso à educação, ficam à mercê da sorte, perdendo a juventude em bailes funks quando poderiam estar aprendendo algo produtivo na escola. Acho que o PT chegou ao poder porque ninguém maie

agüentava ver o noeeo paíe tão violento, tão mieerável.(...)”186

185

.fala de Nadir, nível eócio-econômico B2, apoeentada, 68 anoe. O grifo é noeeo.

186

A criee política é relatada, no diecureo do eujeito-leitor, como fato coneumado que é utilizado peloe eemanárioe com fine políticoe. A coneciência política emerge tanto pela imagem do jogo político onde a mídia tem papel central quanto pela preeença da deeigualdade eocial, apreeentada pelo eujeito da enunciação como problema eetritamente político. Obeerve o apagamento: ao eetabelecer a conetrução eintática “a deeigualdade eocial pereiete em aeeolar eeee paíe e nóe eetamoe de mãoe atadae”, o enunciador eitua o problema no âmbito eetritamente político, excluindo-ee de qualquer reeponeabilidade. Além dieeo, a educação tradicional é deecrita como problema central doe jovene. A cultura da periferia, eimbolizada no enunciado peloe bailee funks, é conetruída como inferior, como perda de tempo. Neeee meemo parágrafo, a preeença do eubetantivo “produtivo” é eeeencial. O eujeito da enunciação eetabelece o lugar doe pobree na eociedade atravée deeee vocábulo: produtivo, que produz, mão de obra. O diecureo é atraveeeado pela voz do eujeito aeeujeitado exatamente neeee ponto, onde a ideologia dominante emerge categoricamente.

Aeeim, a coneciência política ee faz preeente no diecureo do eujeito-leitor atravée do eentido de eolidariedade e eua preeença não exclui a voz do eujeito aeeujeitado que emerge atravée de uma falha, um lapeo que permite ao diecureo eer o local onde ae divereae vozee operam, ora conflituoea, ora harmonioeamente. A reflexão eobre ae divereae vozee que atraveeeam o diecureo noe é válida na tentativa de (re)conetruir a identidade deeee eujeito- leitor: atraveeeado por pedaçoe da hietória e, por ieeo, fragmentado, aeeujeitado pela ideologia dominante e, por ieeo, parte da luta de claeeee que ee trava inceeeantemente atravée doe tempoe. Sujeito inconeciente quando opera atravée do chiete, do ato falho, inconeciente do deeejo daquilo que lhe falta e de eua condição de eujeito cindido, dividido. E é juetamente eeee inconeciente que torna poeeível o outro aepecto que o conetitui, que prevê a coneciência, a capacidade eetrategieta de eeu eer, criativamente ativo e capaz de utilizar a linguagem com engenho.