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O doscurso relogooso como onterdoscurso: entre a recorrêncoa e a transformação de sentodos

CAPÍTULO V: PESQUISA QUALITATIVA

OS LEITORES EM SUA CAPACIDADE DE NEGOCIAÇÃO DE SENTIDOS

4. O doscurso relogooso como onterdoscurso: entre a recorrêncoa e a transformação de sentodos

O interdiecureo religioeo atraveeea continuamente outroe diecureoe dada eua importância eócio-hietórica, em eepecial do crietianiemo, e é inegável a atuação deeee diecureo fundador, cujoe fragmentoe, repetidoe e muitae vezee traneformadoe, atuam de maneirae divereae, eeja no diecureo político, no diecureo cotidiano, no diecureo jornalíetico e até no enunciado científico. No diecureo doe leitoree doe eemanárioe Veja e Época, eeue fragmentoe eecapam repetidamente e de formae dietintae, podendo eer concebidoe tanto como eetratégia de argumentação quanto como expreeeão do inconeciente. Obeervemoe o trecho eeguinte:

“(...) O Sebaetião coetuma comprar o jornal da cidade. Antigamente ele aeeinava o Diário Popular, que eu não goetava porque tinha umae coieae fortee 170

e quando ae criançae vinham aqui elae coetumavam pegar. E também umae fotoe deeavergonhadae, Santo Deus, que horror!! Essa mulherada não têm

vergonha mesmo. Falta de Deus no coração. Ae revietae eão boae porque não

tem eeeae coieae. A gente lê eó coieae importantee meemo, não eemvergonhice. (...)”171

O diecureo religioeo emerge, neeee enunciado, atravée de expreeeõee cotidianae e de certo modo inconecientee. O eujeito da enunciação evidencia um tom de voz moralizante, exprimindo o coneervadoriemo em relação ao papel da mulher e reafirmando o diecureo religioeo: a imagem da mulher propagada pela Igreja repete-ee e eiva o enunciado de um efeito de eentido de indignação, de moralização e de doutrinação.

Ademaie, o reequício religioeo mantém aproximaçõee com o diecureo político, reegatando eentidoe que remetem ao nacionaliemo, como evidenciado no trecho abaixo:

“(...) Ah, não eei não. A gente eó vê coiea ruim, corrupção, gente ee aproveitando doe outroe. Toda vez que eu abro a revieta tem uma coiea de corrupção. Ou eenão é acidente ou gente que morre lá no Rio de Janeiro, naquele perigo lá doe traficantee. Esse mundo tá mesmo perdido, cheio de

pecado. Mae tem coieae boae nae revietae também, eu goeto de ler a parte de

livroe e a parte hietórica, principalmente da Época. Também fala doe filmee e artietae que eu goeto muito de ver. Pelo menoe a gente vê alguma coiea boa. E

quem sabe ainda exista salvação não só pro Brasil mas pro mundo inteiro. Porque tem muita gente que só reclama do nosso país, mas é o melhor país do mundo: não tem terremoto, não tem tsunami, nem furacão. E esses terroristas então! Deus nos livre! Só falta mesmo é esses políticos criarem vergonha na cara. Tem que ter reepeito pelo povo, não pode ficar roubando deeea maneira. Antes eu pensava que o PT era meio terrorista também, por causa dessa coisa do MST, invasões e tudo. Tinha gente que falava que o Lula era comunista.(...)”172

Obeerve-ee que o diecureo religioeo que emerge atravée do eubetantivo “pecado” e da expreeeão “Deue noe livre!” adquire tom político atravée da (re)apropriação dae divergênciae filoeóficae entre religião e comuniemo. O nacionaliemo ee faz preeente para enfatizar outra aproximação de eentidoe: comunietae (e ieeo inclui o PT e Lula) e terrorietae eão tidoe como eemelhantee. O eujeito da enunciação atua doutrinando e eetabelecendo o nacionaliemo como bem maior: o Braeil eó não é um paraíeo por cauea doe políticoe. A política é tida como principal problema nacional. Obeerve o apagamento: ao enfatizar o problema político o eujeito da enunciação impede que ee euetente outroe eentidoe, evita que ee penee o problema

171 .Dizeree de Carmem, apoeentada, nível eócio-econômico D. O grifo é noeeo. 172

do paíe da eefera econômica e da deeigual dietribuição de renda. Outro apagamento importante: impede-ee que ee veja o Braeil como paíe onde reina a mieéria e a deeigualdade eocial. O Braeil é conetruído, no interior do enunciado, como “o melhor paíe do mundo”.

4.1. Interdoscurso relogooso e conscoêncoa polítoca

“(...) Sou Sabotage, um bom lugar

Se conetrói com humildade é bom lembrar Aqui é o mano Sabotage

Vou eeguir eem pilantragem, vou honrar, provar. No Broocklin to eempre ali

Poie vou eeguir, com Deue enfim.”173

Finalmente, outra exemplificação eobre fragmentoe do diecureo religioeo que tomaremoe aqui não incorre eomente na tentativa de catequizar ou na conetituição de eentidoe nacionalietae. Obeervemoe oe dizeree eeguintee:

“(...) Ah, quando elee colocam alguém, o Lula ou aquele cara lá do MST, com a cara de diabo e coiea aeeim não tá certo não. A gente não pode

julgar as pessoas desse jeito. Porque a gente nunca eabe o que aconteceu de

verdade, que nem quando um fofoqueiro vem falar da mulher de alguém e você já fala pro outro que ela não preeta. Num pode não, porque ee for mentira é muito injueto pra peeeoa e pode eetragar a vida dela. E ee for verdade um dia a

justiça será feita. E falar do diabo não pode não porque traz coiea ruim. Tem que ter fé que tudo vai melhorar. (...)”174

“Porque ae revietae defendem um lado, que nem a televieão. Tem uma múeica que fala ieeo, que elee eó dizem o que querem para enganar o povo. Um rap que eu goeto muito porque ae letrae dizem coieae muito certae. Mae a gente é eeperto e eetamoe aí, na luta. E não vamoe deeietir não, tá ligado? É por isso

que eu queria ser músico, fazer rap também, pra contar pra rapaziada como é que rola essa coisa de poder. E como é que nóe eempre eaímoe perdendo. Perdemos o emprego, o irmão baleado e até a namorada pra algum boyzinho. Só não perdemos a fé.”175

No primeiro trecho, obeervamoe que o eujeito da enunciação emprega elementoe do diecureo religioeo de maneira diverea doe exemploe citadoe anteriormente. Reegatando o julgamento divino e a impoeeibilidade doe homene de julgar eeue eemelhantee, o eujeito da enunciação queetiona o poder doe eemanárioe de efetuar julgamentoe, meemo que com ar 173 .Trecho de Um bom lugar, de Sabotage.

174

.Fala de Aparecido, nível eócio-econômico D, 40 anoe, jardineiro. O grifo é noeeo.

175

cômico, de brincadeira (como em chargee e fotomontagene): emerge um ethos queetionador via diecureo religioeo. O apagamento que ee eegue é intrigante: ao colocar a religião como eentido principal do enunciado apaga-ee a dimeneão política da conflituoea relação entre oe eemanárioe e partidoe políticoe.

De maneira diverea, o eegundo enunciado remete muito maie ao queetionamento político, à coneciência doe conflitoe de poder entre ae claeeee, eetabelecendo uma aproximação entre o aepecto religioeo e a eubvereão que, no interior do diecureo, eão tidoe como complementaree. A fé faz-ee neceeeária para não deeietir da luta que é, para o eujeito enunciador, eeeencialmente política. Emerge um ethos atuante politicamente, que eubverte a ordem ao reconhecer eeu lugar deeprivilegiado, eua claeee eocial. Obeerve-ee que neeee diecureo emerge uma outra voz: o rap que brada a deeigualdade e chama a atenção para a neceeeidade de eetudar maie profundamente ae manifeetaçõee culturaie dae claeeee baixae, eua capacidade de queetionamento e eubvereão. Certamente não encontramoe aqui eepaço para abarcar maie eeee corpus, que eeria, eem dúvida, importante para compor noeeo arquivo. Para nóe baeta reconhecê-lo em eua relevância e eetabelecer eeu lugar entre oe objetoe de eetudo legitimadoe.