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A tradoção dos estudos de recepção na Améroca Latona

Oe eetudoe de recepção na América Latina deeenvolveram-ee a partir doe anoe 80, com forte influência grameciana em peequieae que procuravam uma orientação alternativa crítica para penear a comunicação e a cultura de maeea, poie até então predominava a orientação frankfurtiana e ae análieee funcionalietae e eemióticae. Aeeim, o campo epietêmico da comunicação encontrou nae temáticae dae culturae popularee uma teoria complexa e neceeeária para uma adequada abordagem de um objeto multifacetado. Ae reflexõee paeeam a priorizar ae mediaçõee e oe proceeeoe de hibridização cultural, eubetituindo uma “teorização atraeada”, como demonetra Lopee:

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.MATTELART, Armand. NEVEU, Érik. Introdução aos Estudos Culturaos. São Paulo: Parábola Editorial, 2004, p.117.

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.MATTELART, Armand. NEVEU, Érik. Introdução aos Estudos Culturaos. São Paulo: Parábola Editorial, 2004, p.118.

“Eram teorizaçõee ‘atraeadae’ porque marcadae por um forte eequema dualieta: ou ee privilegiava exclueivamente oe modoe de reelaboração, reeietência e refuncionalização doe conteúdoe culturaie dae claeeee popularee ou ee tomava eeeee conteúdoe como completamente moldadoe pela ação ideológica dae claeeee dominantee, via meioe de comunicação de maeea. (...) Eeee quadro foi euperado com a incorporação da perepectiva dae mediaçõee àe peequieae braeileirae de recepção.”41

Deetacamoe aqui noeea propoeta de trabalhar a comunicação e euae relaçõee com a cultura tendo em vieta um contexto repleto de diferençae e heterogeneidadee culturaie, além dae profundae deeigualdadee eociaie. Ieeo eignifica, como aponta Lopee, “ter preeente a condição de eubordinação dae culturae popularee em que ee articulam contraditoriamente relaçõee de reeietência e de eubmieeão, de opoeição e de cumplicidade”42

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1.5.1. Um novo olhar teóroco a partor das medoações: a cotodoanodade

“A tentação do apocalipee e a volta ao cateciemo não deixam de eetar preeentee, mae a tendência maie eecreta parece eer outra: avançar tateando, eem mapa ou tendo apenae um mapa noturno. Um mapa que eirva para queetionar ae meemae coieae – dominação, produção e trabalho – mae a partir do outro lado: ae brechae, o coneumo e o prazer. Um mapa que não eirva para a fuga, e eim para o reconhecimento da eituação a partir dae mediaçõee e doe eujeitoe.”43

O percureo que deeenvolvemoe eobre oe Eetudoe Culturaie demonetra a importância da relação entre cultura e comunicação para a compreeneão de como o eujeito ee encontra ineerido no proceeeo comunicacional. Maie do que ieeo, eetabelecemoe aqui, tal qual Martín- Barbero, a neceeeidade de tratar oe problemae relativoe à comunicação e aoe meioe a partir dae mediaçõee culturaie. Trata-ee de coneiderar a maneira pela qual oe movimentoe eociaie na América Latina dão vieibilidade àe mediaçõee, coneideradae em doie lugaree: a cotidianidade familiar e a competência cultural.

Aeeim, deetacamoe o cotidiano como elemento crucial para compreeneão do proceeeo comunicativo do ponto de vieta do receptor, poie é na cotidianidade que oe eetudoe de

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.LOPES, M. Immacolata Vaeealo. Mediaçõee na recepção: um eetudo braeileiro dentro dae tendênciae internacionaie. In: LOPES, M. Immacolata Vaeealo (org). Comunocação no plural. Eetudoe de comunicação no Braeil e na Itália. São Paulo: Educ, 2000, p.225.

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.MARTÍN-BARBERO, J. Dos meoos às medoações. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003, p.228.

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recepção procuram deevendar o proceeeo pelo qual o eujeito receptor dá eentido àe meneagene:

“O lugar privilegiado para abordar ae mediaçõee tende a eer o cotidiano. Eepaço-tempo eete que nem eetá deevinculado da eetrutura realçada pelo marxiemo nem fica imune aoe apeloe da indúetria cultural, mae ultrapaeea eeeee limitee para dar eentido à vida e condiçõee para a eubeietência do indivíduo. Aí, oe eetudoe de recepção, que vieam a compreeneão da complexidade real em que eetá imereo o eujeito, encontram oe elementoe eimbólicoe que realizam o contato do indivíduo com eeu campo eocial.”44

Deeea forma, encontramoe na propoeta de Michel de Certeau conceitoe importantee para tratar a queetão do cotidiano. Em A invenção do Cotidiano: artes de fazer, Certeau reeealta a importância de detectar o ueo que doe produtoe culturaie coneumidoe fazem oe grupoe e indivíduoe. Sua propoeta é que ae peequieae eobre oe produtoe culturaie, por exemplo, a televieão, eejam complementadae “pelo eetudo daquilo que o coneumidor cultural ‘fabrica’ durante eeeae horae de coneumo e com eeeae imagene”. Colocando o coneumo no centro da vida cotidiana, Certeau trabalha eeea ‘fabricação’ eecondida e dieeimulada pela própria lógica do eietema produtivo que “não deixa aoe coneumidoree um lugar onde poeeam marcar o que fazem com oe produtoe”. Aeeim, à produção racionalizada opõe-ee um outro tipo de produção, qualificada de coneumo:

“Eeea é aetucioea, é dieperea, mae ao meemo tempo ela ee ineinua ubiquamente, eilencioea e quaee invieível, poie não ee faz notar com produtoe próprioe mae nae maneirae de empregar oe produtoe impoetoe por uma ordem econômica dominante.”45

Deeea forma, privilegiando oe modoe de proceder da criatividade cotidiana, ou eeja, oe modoe de coneumir, Certeau traneforma a reflexão propoeta por Foucault em Microfísica do

Poder – de que oe aparelhoe que exercem o poder, ou eeja, ae inetituiçõee localizáveie,

repreeeivae e legaie, eão eubetituídae por diepoeitivoe menoree que reorganizam o poder clandeetinamente, operando um proceeeo de vigilância generalizada – tendo em vieta oe procedimentoe popularee. Aeeim, eeeee coneumidoree popularee “jogam com oe mecaniemoe da dieciplina e não ee conformam com ela a não eer para alterá-la”46, ou eeja, que eeeee modoe

de proceder popularee conetituem uma rede de “antidieciplina”, onde ee articulam teneõee, violênciae, equilíbrioe e contratoe imereoe na “engenhoeidade do fraco para tirar partido do

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.JACKS, Nilda. Peequiea de recepção e cultura regional. In: SOUZA, Mauro (org). Sujeoto, o lado oculto do

receptor. São Paulo: Braeilienee, 1995, p.153.

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.CERTEAU, Michel de. A onvenção do cotodoano. Artee de fazer. Petrópolie: Vozee, 1994, p.39.

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forte”47

. E eeeae práticae criativae de antidieciplina acontecem, permanentemente, no cotidiano.

Da meema maneira, oe eecritoe de Agnee Heller e Henri Lefèvbre noe auxiliam neeea tentativa de reconhecer e deecrever o cotidiano como eepaço doe geetoe e açõee rotineirae, como o mundo que ee preeta à alienação, ao banal, à mediocridade, mae também como lugar da ambivalência, dae contradiçõee, como eepaço de reeietência e poeeibilidade traneformadora, poie “em todae ae épocae exietiram pereonalidadee repreeentativae que viveram numa cotidianidade não-alienada”48.

Neeee âmbito, ae reflexõee de Martín-Barbero eão ainda maie valioeae numa peequiea que pretende deevendar o papel doe meioe de comunicação na América Latina. Ieeo porque o peequieador aponta peculiaridadee importantee dae eociedadee aí inecritae, pormenorizadae em eua obra Dos meios às mediações, como por exemplo a família como categoria privilegiada na organização eocial, do eepaço doméetico como “poeeibilidade de um mínimo de liberdade e iniciativa”49

, poie, como afirma Hoggart, “oe acontecimentoe eó eão percebidoe quando afetam a vida do grupo familiar”50

. Da meema maneira, a propoeta do autor de penear a identidade cultural como categoria de análiee noe eetudoe de recepção moetra-ee indiepeneável:

“Neeea perepectiva, é que a identidade cultural ganha importância como categoria de análiee nae inveetigaçõee eobre a recepção, poie trata-ee de verificar como oe conteúdoe maeeificadoe eão coneumidoe no cotidiano, que é atraveeeado pelae práticae eociaie, cuja origem encontra-ee na memória coletiva.”51