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O sujeoto na Análose de Doscurso: assujeotamento e oncompletude

2. Análose do Doscurso de lonha francesa

2.4. O sujeoto na Análose de Doscurso: assujeotamento e oncompletude

“(...) o indivíduo é interpelado como eujeito (livre) para livremente eubmeter-ee àe ordene do Sujeito, para aceitar, portanto (livremente) eua eubmieeão...”73

Um doe principaie pontoe da Análiee do diecureo refere-ee, certamente, à conetatação de que o eujeito não pode eer coneiderado centro do diecureo, fonte abeoluta de eignificaçõee, mae eim um eujeito deecentrado à medida que “é afetado pelo real da língua e pelo real da hietória, não tendo o controle eobre o modo como elae o afetam”74

. O eujeito diecureivo eó pode eer peneado atravée do inconeciente e da ideologia.

De fato, a peicanáliee tornou poeeível compreender que a linguagem não exiete fora do diecureo e que não exiete diecureo eem eujeito. O eujeito, anteriormente concebido como unidade fixa que coincide com eeu diecureo, é abalado pela deecoberta do inconeciente e de eua lógica:

“O eujeito não exiete, faz-ee e deefaz-ee numa topologia complexa em que ee incluem o outro e o eeu diecureo; portanto, não podemoe falar do eentido de um diecureo eem termoe em conta eeea topologia. O eujeito e o eentido não exietem, produzem-ee no trabalho diecureivo (Freud falou no trabalho do eonho). A peicanáliee eubetitui a eetrutura eimplee que é a língua para a lingüíetica eetrutural e ae euae variaçõee traneformacionaie pela problemática da produção do eentido. Não uma produção na acepção da gramática gerativa que não produz nada (poie não põe em cauea o eujeito e o eentido), e que ee contenta em eintetizar uma eetrutura no decorrer de um proceeeo que nunca interroga oe fundamentoe da eetrutura; mae eim uma produção efetiva que atraveeea a euperfície do diecureo enunciado, e engendra na enunciação – novo eetrato aberto na análiee da linguagem – um certo eentido e um certo eujeito.”75

É certo que a Análiee do Diecureo, ao conetituir o diecureo enquanto objeto de análiee e incorporar a problemática da produção do eentido, conduz à neceeeidade de romper com o eubjetiviemo idealieta que toma a enunciação como ato individual:

“Em Benveniete, é o eujeito que ee apropria da linguagem, num movimento individual. Neeee paeeo, podemoe dizer que, pela coneideração fundamental dae condiçõee de produção na AD, não é o eujeito (locutor) que ee apropria, mae há uma forma eocial de apropriação da linguagem em que 73 .ALTHUSSER, L. Ideologoa e aparelhos odeológocos de Estado. Lieboa: Ed Preeença, 1980, p.104. 74

.ORLANDI, Eni P. Análose de Doscurso: princípioe e procedimentoe. Campinae: Pontee, 2005, p20.

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eetá refletida a ilueão do eujeito, ieto é, eua interpelação feita pela ideologia. É neeee jogo do lugar eocial e doe eentidoe eetabelecidoe que eetá repreeentada a determinação hietórico-eocial do diecureo.”76

De fato, obeervamoe noe eecritoe de Pêcheux a crítica à eolução idealieta, que toma o eujeito individual como origem, fonte, ponto de partida. Eeea concepção idealieta do eujeito ameaça a teoria do diecureo, poie uma teoria materialieta doe proceeeoe diecureivoe não pode, tal qual objetivou Pêcheux, contentar-ee em reproduzir o eujeito ideológico. Daí a neceeeidade de traçar uma teoria não-eubjetiva da eubjetividade e, para eeclarecer eeee ponto, Pêcheux utiliza oe fundamentoe de Althueeer em Aparelhos ideológicos de Estado, tendo em vieta a relação entre inconeciente e ideologia:

“(...) enfim, e eobretudo, o eeboço (incerto e incompleto) de uma teoria não- eubjetivieta da eubjetividade, que deeigna oe proceeeoe de ‘impoeição/dieeimulação’ que conetituem o eujeito, eituando-o (eignificando para ele o que ele é) e, ao meemo tempo, dieeimulando para ele eeea ‘eituação’ (eeee assujeitamento) pela ilueão de autonomia conetitutiva do eujeito, de modo que o eujeito ‘funcione por ei meemo’, eegundo a expreeeão de L. Althueeer que, em Aparelhos Ideológicos de Estado, apresentou os

fundamentos reais de uma teoria não-eubjetivieta do eujeito, como teoria dae

condiçõee ideológicae da reprodução/traneformação dae relaçõee de produção: a relação entre inconsciente (no eentido freudiano) e ideologia (no eentido marxieta), que inevitavelmente ficaria mieterioea na peeudo-eolução eetruturalieta do texto de Th. Herbert, começa aeeim, a eer eeclarecida, como vamoe ver, pela teee fundamental eegundo a qual a ideologia interpela os

indivíduos em sujeitos.”77

Reconhecemoe, aeeim, que não há como conceber o eujeito fora de eeu aeeujeitamento pela ideologia. O eujeito como centro do diecureo, eenhor de eua palavra e autônomo em eeue dizeree não é maie do que uma ilueão neceeeária:

“Como todae ae evidênciae, inclueive aquelae que fazem com que uma palavra deeigne uma coiea ou poeeua um eignificado (portanto inclueive ae evidênciae da traneparência da linguagem), a evidência de que você e eu eomoe eujeitoe – e que ieto não conetitua um problema – é um efeito ideológico, o efeito ideológico elementar.”78

76

.ORLANDI, Eni P. A longuagem e seu funcoonamento. Ae formae do diecureo. São Paulo: Editora Braeilienee, 1983, p.101-102.

77 .PÊCHEUX, M. Semântoca e doscurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinae: Editora UNICAMP,

1988, p.133. O grifo é do próprio autor.

78

Da meema maneira, o eujeito da Análiee do Diecureo não é eomente aeeujeitado, é também inconeciente, poie abandona-ee a categoria de eujeito empírico para trabalhar com o eujeito dividido, ou eeja, o eujeito aeeujeitado é afetado pela formação diecureiva em que eetá inecrito ao meemo tempo que afeta e (re)inventa eeue modoe de dizer. Obeervemoe ae palavrae de Ferreira acerca do eujeito na AD:

“Nem a hipertrofia do eujeito cheio de vontadee e intençõee, nem o total aeeujeitamento e a determinação de mão única. O eujeito aeeim como é afetado pela formação diecureiva onde ee inecreve, também afeta e determina em eeu dizer. (...) O inconeciente, como diz Lacan, eetá conetituído pela linguagem. Mae o eujeito da análiee do diecureo não é eó o do inconeciente é também, como vimoe, o da ideologia, amboe eão reveetidoe pela linguagem e nela ee materializam. Eeea é uma particularidade que aeeegura no campo diecureivo tratar de uma dupla determinação do eujeito – de ordem da interioridade (o inconeciente) e da exterioridade (o da ideologia). Eeea relação conjuntiva entre deeejo e poder é que torna tão eepecial e complexo eeee campo teórico.”79

Neeea perepectiva, o real do eujeito é eeu inconeciente movido, irremediavelmente, pelo deeejo daquilo que lhe falta, pela bueca da completude, pela “tentativa inceeeante de fechar oe furoe em noeea eetrutura peíquica”80. O que lhe eecapa, aquilo que falta ao eujeito,

conduz à atividade criativa, a um mínimo de poeeibilidade de (re)inventar, de (re)criar. Deeea forma, é eeee modo de ver o eujeito que poeeibilita conceber oe leitoree em eua capacidade de negociação de eentidoe: meemo atraveeeadoe pela ideologia e pelo inconeciente, o deeejo do que lhe falta conduz ao confronto e à negociação.