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A importância da regulamentação

No documento Mídia e políticas públicas de comunicação (páginas 178-180)

Em 1995, foi instalada no Senado Federal a Co- missão Especial para Rádio e TV, presidida pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS). De acordo

com o parlamentar, já nesse período um dos focos do debate entre os mem- bros da comissão dizia respeito exatamente aos aspectos de conteúdo. “O Par- lamento brasileiro não pode mais retardar essa discussão. Ao lado de temas como educação, saúde, trabalho e tantos outros que, tradicionalmente, são de- batidos no Congresso Nacional, precisamos dedicar atenção urgente ao con- teúdo que a mídia oferece às crianças e jovens”, afirmou em entrevista para a presente publicação.

A Comissão obteve o resultado não desprezível de estimular um debate plural, inclusive com os proprietários, sobre as diversas questões em jogo ao longo des- ta publicação. Entretanto, daí não passou.

A Constituição Federal de 1988 acenou com avanços consideráveis na re- gulação do conteúdo no Brasil, como, por exemplo, o estímulo à produção independente e regionalizada, a promoção da cultura nacional e regional e as restrições de publicidade ligada a produtos prejudiciais à saúde. A ine- xistência de uma legislação que regulamente esses dispositivos constitu- cionais, contudo, acaba por atribuir aos avanços de 1988 o mero papel de postulados teóricos, sem a necessária aplicação. É crucial, nesse sentido, a aprovação de projetos de lei que torne obrigatória a execução dos dita- mes constitucionais.

O estudo sobre a cobertu- ra da mídia impressa acer- ca das Políticas Públicas de Comunicação apresenta um percentual bem superior aos das de- mais análises especiais já conduzidas pela ANDI no que se refere à presença do Poder Legislativo como fonte de in- formação. A Câmara Federal, o Sena- do da República, a Câmara Distrital, as Assembléias Legislativas dos estados e as Câmaras de Vereadores – bem como seus representantes e diversos órgãos – são mencionados, consultados e/ou co- brados em 30,4% do material analisado, conforme aponta a tabela abaixo.

COMO O PODER LEGISLATIVO É RETRATADO NOS TEXTOS

Mencionado 14,9% Consultado 2,4% Responsabilizado 0,4% Cobrado 0,6% Elogiado 0,1% Desculpabilizados/desresponsabilizado 0,0% Têm uma ação sendo analisada, descrita ou divulgada 12,0%

A falta de diálogo entre mídia, Estado, sociedade civil e academia no que se refere à regulação dos próprios meios de comunicação é constante na histó- ria do Brasil. Há, contudo, pelo menos uma exceção notável e exemplar: a negociação que envolveu esses atores no processo de elaboração das normas presentes na Lei do Cabo, de janeiro de 1995. As demais regulamentações a respeito da própria televisão por assinatura foram elaboradas por meio de decretos, sem discussão pública, nem votação no Congresso Nacional. A ausência de debates culminou na existência de serviços de televisão com regulamentações distintas: Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens (in- cluindo a atividade ancilar das retransmissoras) e Serviços de Televisão por Assinatura (veja nota ao lado).

Em 1988, o Presidente da República José Sarney assinou o decreto nº 95.744, cuja atribuição era regular o serviço especial de televisão por assinatura (TVA). A medida, porém, tinha um sério limitador: referia-se à licença de apenas um canal em um sistema no qual a inovação tecnológica sugeria fortemente a reu- nião de canais em grandes pacotes.

Era preciso buscar uma alternativa. A primeira empreendida foi a Portaria 250 do Ministério das Comunicações, que disciplinava a distribuição de sinais de televisão por meios físicos – naquele momento, o Cabo. Dado o evidente pro- blema legal decorrente dessa regulação por uma frágil portaria ministerial, no- vas licenças foram suspensas em 1991 até que se promulgasse um marco legal definitivo para o setor.

No mesmo ano, o secretário das Comunicações do governo federal promoveu uma audiência pública em Brasília para receber sugestões para o marco legal em processo de formulação. Um grupo de professores e estudantes do Departa- mento de Comunicação da UnB e representantes de associações de jornalistas, radialistas e artistas denunciaram a reunião como instância voltada à simples legitimação de um novo decreto sem participação da sociedade civil. Exigiam, então, que o novo marco regulatório fosse uma lei, discutida e aprovada pelo Congresso Nacional.

A ação dos manifestantes resultou no ressurgimento do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) – instância que, ainda com outro nome, já desempenhara papel importante na década de 1980 – e na transferên- cia do debate para o Congresso Nacional. O movimento passou, então, a defen- der o controle público dos novos meios, a não intervenção do Estado no que se refere a esse controle e o fim dos favorecimentos de interesses particulares no processo de concessão, submetendo ao Congresso Nacional um projeto de Lei do Cabo ainda em 1991.

No ano seguinte, uma comissão composta por representantes de empresas es- tatais, entidades de classe, associações de empresários e universidades come- çou a se reunir para examinar o projeto. A partir de uma colaboração entre os representantes do FNDC e da Telebrás, foram incorporados também como bandeiras do movimento os conceitos de redes individuais e públicas e de par- ticipação da sociedade. Em outubro de 1994, a Lei do Cabo, modificada em relação ao projeto do FNDC, foi aprovada pelos líderes dos dezoito partidos

EXPECTATIVAS DE MUDANÇA

Os sistemas de Televisão no Brasil

Serviço de Radiodifusão de Sons e Imagens – de livre recepção a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros que disponham de um aparelho televisor, é também conhecido como tevê aber- ta. Inclui o serviço oferecido pelas re- transmissoras.

Serviços de Televisão por Assina- tura – têm a recepção do sinal restrita àqueles que pagam para recebê-lo. Estes são considerados pela Consti- tuição serviços de telecomunicações e não de radiodifusão, e hoje são re- gidos por diferentes normas. São eles: Especial de Televisão por Assinatura – TVA, TV a Cabo, Distribuição de Sinais de TV/Áudio por Assinatura via Satélite – DTH, Especial de Dis- tribuição de Sinais Multiponto/Mul- ticanal – MMDS.

Há ainda uma outra divisão, a categoria “educativa”, presente nos dois serviços de tevê.

O sistema de televisão por cabo é abordado em 5% dos textos analisados pela inves- tigação realizada pela ANDI com apoio da Fundação Ford.

na Câmara dos Deputados e, em dezembro, no Senado, sendo sancionada em 6 de janeiro de 1995.

No documento Mídia e políticas públicas de comunicação (páginas 178-180)