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Empresas de telefonia x radiodifusores

Em jogo nessa defi nição, entretanto, estão interesses comerciais confl itantes. De um lado, as empresas de tevê defendia o padrão japonês, que permitiria veicu- lar a mesma programação com defi nições de imagens diferentes (alta defi nição, standard e TV móvel). Assim, um mesmo conteúdo seguiria ocupando o espec- tro, podendo ser também veiculado por meio de dispositivos móveis, como ce- lulares e outros equipamentos. “Podemos afi rmar que o sistema ISDB-T, desen- volvido no Japão, com os aperfeiçoamentos criados pelos cientistas nacionais, é o único sistema que garantirá, gratuitamente, a todos os brasileiros os benefícios

I - promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua pá- tria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação;

II - propiciar a criação de rede universal de educação à distância;

III - estimular a pesquisa e o desenvolvimento e propiciar a expansão de tecnologias brasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de informação e comunicação;

IX - contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de comunicações;

XI - incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos e serviços digitais.

Diferentes padrões EUA

ATSC (Advanced Television Systems Committee) é a associação formada por aproximadamente 140 empresas das áreas de radiodifusão e fornecedores de equi- pamentos eletrônicos que representam o padrão norte-americano da TV digital. O sistema privilegia as transmissões em alta defi nição e também a interatividade. Europa

DVB (Digital Video Broadcasting) é um consórcio de aproximadamente 270 em- presas de radiodifusão e fornecedores de equipamentos europeus. Fazem parte em- presas como Nokia e Siemens e redes de televisão como BBC (Inglaterra). O sis- tema privilegia a programação múltipla, o que é visto como oportunidade para as empresas de telecomunicação, interessa- das em novos canais de conteúdo. Japão

ISDB (Integrated Service Digital Bro- adcasting) foi o padrão defendido pelas grandes redes de TV brasileiras. Elas ale- gam que essa tecnologia melhor atenderia aos requisitos de alta defi nição, além da portabilidade e mobilidade em 6 MHz. Ao privilegiar a alta defi nição, contudo, o sistema pode difi cultar a entrada de no- vos concorrentes (novos canais de TV).

da televisão digital”, diz comunicado assinado pelas TVs Band, Cultura, Rede Globo, Record, Rede TV, Rede Vida, SBT, Rede 21, CNT e Rede Mulher, veicu- lado nos principais jornais do país em março de 2006.

Já as empresas de telecomunicação, principalmente na área da telefonia, preten- dem utilizar o espectro da TV na transmissão de conteúdo para recepção móvel. Para os representantes do setor, o padrão europeu DVB seria a melhor opção, pois não permite a transmissão de diferentes qualidades de imagem por um mesmo canal, impedindo a entrada das tevês na transmissão pelos celulares. As ligações entre empresas como Nokia, Siemens, Philips, Th omson e Alcatel com o DVB também explicam a opção das teles pelo modelo europeu.

Já para organizações da sociedade civil, ambos os lados não atendiam às ex- pectativas de democratização: “Os sistemas DBV e ISDB podem ser utilizados para defender dois diferentes modelos de negócios. Nenhum dos dois, contudo, democratiza as comunicações brasileiras”, argumentou o coletivo Intervozes. Outro ponto bastante discutido em relação ao padrão a ser adotado é a questão da alta defi nição (high defi nition). A transmissão em alta defi nição, que me- lhora substancialmente a resolução da imagem, acaba reduzindo a capacidade do espectro eletromagnético de abarcar um número maior de canais. A opção pela alta defi nição tem atraído as empresas de tevê, que temem a expansão e diversifi cação dos produtores de conteúdo. “Não faz sentido que a TV livre e gratuita fi que condenada ao atraso tecnológico e impedida de oferecer televi- são de alta defi nição, de graça, ao povo brasileiro”, diz o comunicado assinado pelas emissoras.

O Decreto 5.820/06

Em meio à fortes divergências em torno da defi nição do modelo a ser adotado, em 29 de junho de 2006 o presidente Lula assinou o Decreto 5.820/06 que im- planta o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (VHF e UHF). Segundo o documento, o Brasil opta pela adoção da tecnologia japonesa ISDB:

A escolha do padrão japonês, declaradamente o defendido pelas redes de tevê aberta, gerou diversas críticas por parte de representantes da sociedade civil. Segundo informações divulgadas pelo Instituto de Estudos e Projetos em Co- municação e Cultura (Indecs), o teste realizado entre as três modulações então existentes – norte-americana, européia e japonesa – não foi considerado con- clusivo, nem mesmo pela Anatel, que o havia encomendado. “Como o atual De- creto também não possui uma exposição de motivos (como seria comum nestes casos), resta a dúvida sobre quais motivos levaram à escolha do ISDB japonês”, questiona o Indecs.

Outro ponto polêmico do Decreto é a “consignação” de uma faixa extra de es- pectro para cada emissora (geradora e retransmissora) existente. A fi gura da

Art. 5º - O SBTVD-T adotará, como base, o padrão de sinais do ISDB-T, incorporando as inovações tecnológicas aprovadas pelo Comitê de De- senvolvimento de que trata o Decreto nº 4.901, de 2003.

consignação pressupõe que se trata do mesmo serviço prestado pela TV analó- gica, que agora demandaria uma faixa extra para continuar a ser oferecido. Na prática, contudo, o Decreto permite que novas outorgas sejam dadas aos atu- ais radiodifusores sem que a decisão passe pelo Congresso Nacional. “Se cada emissora receber uma outorga nova não haverá espaço para novos canais de TV durante o processo de transição, pelo menos nas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro”, afi rma o texto do Indecs.

Ainda que o decreto, por ora, apresente a opção pelo padrão japonês, muitas in- defi nições ainda marcam a implantação da nova tecnologia. O texto não defi ne, por exemplo, quais tecnologias nacionais serão incorporadas nem como será a política industrial que tornará possível a TV digital no Brasil. Além disso, o decreto não determina se – e como – haverá transferência de tecnologia e quais os critérios para pagamento de royalties.

Atualmente, foi criado um fórum que reúne empresários e pesquisadores para discutir a normatização técnica da implantação brasileira. Ofi cialmente, o fó- rum ainda não entregou suas recomendações.

As questões tecnológicas ocuparam espaço não des- prezível (11,7%) entre os temas centralmente dis- cutidos pela imprensa brasileira na cobertura sobre Políticas Públicas de Comunicação.

Nesse quesito, a pauta da mídia impressa foi ampla- mente estruturada por uma discussão específi ca, que dominou parte das atenções do setor de Comunica- ções no triênio: a defi nição do padrão de televisão