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Outro instrumento de responsabilização essencial para as inciativas de auto- regulação da prática jornalística, assim como da programação de entreteni- mento, têm sido os códigos de ética da profissão e das empresas. Tais meca- nismos tendem a variar de acordo com seu alcance, podendo ser adotados por veículos (como no caso emblemático do Washington Post), por seto- res específicos de atividade (caso da entidade norte-americana Associated Press Managing Editors), ou mesmo por órgãos nacionais ou internacionais (como o Conselho de Imprensa Alemão ou a Federação Internacional dos Jornalistas, respectivamente).

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) também pos- sui, desde 1993, um Código de Ética, que trata principalmente das questões de conteúdo. O documento, contudo, além de não fazer parte da prática das emis- soras, praticamente não foi divulgado pela associação – nem mesmo na página web da Abert é possível encontrá-lo. No livro Classifi cação Indicativa: Cidadania na Tela da Tevê, ele é reproduzido integralmente.

Dentre os fundamentos básicos que orientam a formulação dos códigos de ética, segundo Claude-Jean Bertrand, estão elementos clássicos como a busca da ver- dade, o direito à informação, a defesa da liberdade de expressão e o respeito pela pessoa humana. Se, por um lado, um grupo de códigos se caracteriza pela enun- ciação destes princípios, por outro há uma segunda categoria que busca detalhar a relação entre tais princípios e a atividade prática dos profi ssionais. Nesse sen- tido, este instrumento pode permitir desde a apresentação de formulações bem gerais, como “o jornalista tem o dever de respeitar a verdade” (Declaração de Munique), até de orientações específi cas como “no caso de informações sobre temas médicos, convém evitar uma apresentação sensacional, capaz de originar temores ou esperanças infundadas nos leitores” (do mesmo texto alemão).

De acordo com a pesquisa Mídia e Políticas Públicas de Comunicação, escassos 0,2% dos textos mencionaram a existência de um Código de Ética Jorna- lística. Isto pode denotar uma falha gra- ve no discurso das empresas, já que elas costumam afi rmar estarem amplamente empenhadas em estratégias de auto-re- gulação e, portanto, seriam contrárias à “desnecessária” regulação estatal.

A partir do processo de redemocratização do País, abriu-se espaço para que novos atores, principalmente aqueles ligados aos movimentos organizados da sociedade civil, também passassem a discutir as questões relacionadas à re- gulação dos conteúdos veiculados pelos meios de comunicação. Livres de um contexto político repressivo, universidades, organizações sociais e outros gru- pos organizados passaram a empreender iniciativas voltadas para o controle social da mídia.

Como a mídia discute seus próprios temas de forma restrita, também é li- mitada a percepção da sociedade acerca da importância desse setor e, con- seqüentemente, da necessidade de um debate aprofundado a seu respeito. Em entrevista para este livro, o ex-ombudsman da TV Cultura, Bernardo Azjemberg, destaca a relevância da participação da sociedade nesse contex- to: “O debate tem de ganhar espaço nas diversas esferas de funcionamento da sociedade para além da própria mídia (Congresso, academia, ONGs etc), de modo a fazer com que ela se veja, de certa maneira, levada a abordá-lo, também, no seu próprio espaço. Muitas vezes a imprensa se move apenas sob pressão)”.

Uma hipótese para a ausência da viabilização desse diálogo no contexto dos próprios meios é o despreparo de seus profissionais para lidar com o tema. Bernardo Ajzemberg defende que cabe aos dirigentes dos meios de comunicação a tarefa de estimular o debate nas redações e oferecer recicla- gem aos jornalistas. Dessa forma,

eles poderiam atualizar-se sobre tais assuntos, tomando como base fatos concretos.

O professor da UnB Luis Feli- pe Miguel, em artigo publicado na Revista Brasileira de História, constata que a mídia também não é ator presente nas pesquisas aca- dêmicas desenvolvidas no âmbito das Ciências Políticas. Nessa área, segundo o texto, ela permanece ignorada ou menosprezada, em detrimento de modelos em que só os poderes formais, os partidos e, quando muito, as forças armadas, os sindicatos e a burguesia têm es- paço. Já na história política, via de regra, os meios de comunicação aparecem somente como fontes documentais. A ausência desse de- bate reflete-se nos currículos dos cursos de graduação dessas áreas, nos quais a mídia como ator do meio político não se faz presente.

Somente 0,5% dos textos analisados pelo estudo con- duzido pela ANDI aponta para o fato de haver uma di- ficuldade intrínseca da mídia noticiosa em discutir a si própria e ao mundo mais amplo da comunicação, ao qual está co- nectada.

A análise mostra também que o Poder Executivo apa- rece de forma predominante nos textos analisados, dado que não destoa de estudos anteriores sobre outros temas já realizados pela ANDI. Por outro lado, a presença do Se- tor Privado é substancialmente superior quando comparada às outras pesquisas e a do Poder Legislativo também alcança proporção acima da média. Já a Socie- dade Civil Organizada contou, compa- rativamente, com uma das participações menos significativas.

ATORES PRESENTES NOS TEXTOS*

Poder Executivo Ministério das Comunicações 12,6%

Ministério da Cultura 9,3%

Secom 3,2%

Demais órgãos do Executivo 60,6%

Agências Reguladoras

Anatel 7,1%

Ancine 3,7%

Poder Legisativo Legislativo 30,4%

Conselho de Comunicação Social 0,3%

Sistema de Justiça Judiciário 17,5%

Ministério Público 6,3% Defensoria Pública 0,1%

Outros Setor Privado 72,0%

Universidades e Instituições de Pesquisa 17,1% Sociedade Civil Organizada 12,5% Sindicatos e Federações 8,7% Organizações Internacionais 4,8%

Advogados 4,7%

Conselhos de Direitos e Tutelares 2,5% Movimentos Populares e Sociais 1,9%

*O somatório dos percentuais não equivale a 100%, pois esse item da pesquisa permite mais de uma marcação por matéria.

No documento Mídia e políticas públicas de comunicação (páginas 161-163)