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A (In)tolerância na Percepção dos Professores

A investigação sobre a violência na escola e sua percepção deu-se através da aplicação de um questionário, que alternando entre questões abertas e fechadas, buscou ser um espaço objetivo específico em que os docentes pudessem manifestar a sua opinião sobre o tema. Atribuímos como sinônimo, análogo e por vezes bem próximo da ação relativa à violência, os conceitos de tolerância/intolerância.

Em grande parte, ao serem questionados sobre a existência da tolerância/intolerância na escola, os professores demonstraram a partir de suas compreensões sobre esses conceitos se, e de que forma percebem a violência, e até mesmo se esta é de fato presente no ambiente escolar. No entanto, este não é um tema fácil, pois diz respeito diretamente aos preconceitos e às ideologias que

circunscrevem o espaço de atuação docente. Não por acaso que Acácia ao responder a questão proposta no questionário, escreve que “afinal, o que é ser intolerante e tolerante? Eu discordaria, inclusive desses termos, penso que do pé da letra seria a incapacidade de tolerar a diversidade, mas não se trata de tolerar, e sim de conviver com as diferenças na diversidade”. Na fala de Acácia, tolerar tem acepção negativa, limitada, sem a inclusão da convivência e alteridade. A complexidade do tema aparece nesta resposta, apresentando-nos diversas dificuldades, pois, aparentemente, são temas intercambiáveis.

Ao serem questionados sobre o que pensam acerca da intolerância, os docentes foram convidados a refletir sobre o tema. Tendo em vista que aquilo que se espera da escola é um lugar de paz e de exercício pleno da tolerância, entendemos que dentro dessa lógica, os docentes consideram não existir nada de anormal, extraordinário ou fora da ordem dentro do ambiente escolar. Ou seja, uma escola nomeada dentro da normalidade não abriga nem apresenta qualquer menção à ações consideradas violentas e até mesmo intolerantes. Por outro lado, é a ideia de intolerância que desperta nos docentes a lembrança de suas percepções acerca da violência na escola.

Crisântemo expressou que a intolerância “é a falta de respeito e compreensão a opinião dos outros”. Na mesma linha de raciocínio, Lírio manifestou que é “não respeitar o outro ou as ideias do outro. É sequer tentar compreender outros pontos de vista”. Neste sentido, ambos manifestam que por vezes há uma dificuldade expressa de afirmar a sala de aula como um local de embates e discussões. O professor deve garantir que as opiniões possam ter sua vazão, e tem o papel bastante complexo de demonstrar que o mundo é compreendido dos mais diversos pontos de vista. Não permitir que outro fale aquilo que pensa sobre a realidade; ou, ao permitir sua fala, associá-la então a um movimento doloroso, traumático e cerceador - estes são dois momentos muito claros na ocorrência do tipo de intolerância anteriormente colocado.

O controle daquilo que se fala e das opiniões corresponde ao controle do discurso. Esta limitação, por sua vez, propõe algo mais profundo que a limitação do próprio pensamento e da reflexão, trata-se de impor uma verdade, ou uma vontade de verdade. “Essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apóia-se sobre um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida

por todo um compacto conjunto de práticas como a pedagogia [...]”. (FOUCAULT, 2006, p.17).

As noções de identidade e diferença, amplamente discutidas em nossa contemporaneidade, também aparecem claramente nas respostas dadas pelos docentes. Azaléia diz que a intolerância é a “não aceitação e respeito às diferenças (sociais; gênero; culturais; religiosas; ideológicas; etc...). Lis, limita-se a dizer que “é não respeitar e aceitar o outro como ele é”, enquanto Hortência manifesta o caso de “você não aceitar o outro com relação a aspectos de gênero, religião, comportamento, entre outros aspectos”. Todas essas respostas convergem a um ponto central: a identidade. Esse conceito extremamente complexo corresponde a um dos temas centrais e necessários a serem pesquisados em nossos dias.

Entendemos a escola e seus educadores como o ponto chave das engrenagens de formação e afirmação da identidade do ser humano. Outrora resolvida pelas análises filosóficas, sociológicas e psicológicas de matriz essencialista, o conceito de identidade parece resistir a esta redução epistemológica e ontológica exigindo, novas matrizes de pensamento para que possa ser razoavelmente compreendida. O fenômeno da cultura nos lança novas luzes, ainda que insuficientes, para tratarmos desta problemática e respeitarmos a sua riqueza conceitual.

Sobre esta questão, Hall (2006, p. 12) comenta que

o sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias e não resolvidas. Correspondentemente, as identidades que compunham as paisagens sociais „lá fora‟ e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as „necessidades‟ objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático.

Em grande medida, as respostas de Azaléia, Lis e Hortência estão em perfeita consonância com as novas exigências identitárias da pós-modernidade. Uma cultura absoluta e funcionando como única autoridade moral para determinar os valores e as crenças a serem seguidos, rui diante dos adventos da pós-

modernidade e da globalização. A justificativa para a existência de uma identidade em constante mutação e transmutação de valores reside somente na perspectiva da cultura, e quando defendida como algo necessário e imutável, torna-se então um núcleo duro de propagação da intolerância e da violência.

Seres e entidades que não existiam em outros tempos na sala de aula hoje dividem o mesmo espaço, e disputam as mesmas oportunidades disponíveis socialmente. Por exemplo, temos hoje na escola alunos que são reconhecidamente negros e também índios. O reconhecimento de sua identidade e seu papel político – antes escravo e agora sujeito livre; antes explorado e agora proprietário. Seu papel histórico levou o Estado a implementar políticas públicas que visam reparar esses equívocos e injustiças cometidas em relação à identidade do negro e do índio brasileiro. Também, a escola e a universidade tornaram-se um lugar de direito de todos os gêneros sexuais. Isso acarretou sem dúvida, muitas discussões em torno de temas como ética, política, sexualidade e religião, que até então eram impensadas dentro do ambiente escolar.

E finalmente, o discurso religioso, que já fora único no Brasil, hoje divide seu espaço nos mais diversos credos. Tanto as consideradas grandes religiões, como o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo e o judaísmo, ou os ritos regionais como as crenças afro-brasileiras, representam oportunidades valiosas que a escola possui para apresentar aos seus alunos a vasta diversidade humana. O sincretismo das mais diversas crenças tornou-se uma possibilidade por causa do reconhecimento da diferença, do outro e das novas noções de identidade que compõem o amplo espectro cultural e espiritual do ocidente. Em que outro lugar seria possível conviver e aprender com tantas diferenças senão no espaço escolar? Nesse sentido Charlot (1983, p. 14), evidencia que

a educação transmite, portanto, às crianças modelos sociais de comportamento. Mas todas as crianças não adquirem os mesmos modelos, pois nem todas são educadas no mesmo meio social. A sociedade não é um todo homogêneo veiculando modelos de comportamento que fazem a unanimidade de seus membros.

Desse modo, é a escola que vai proporcionar aos estudantes a apresentação desses outros modelos de comportamento existentes na sociedade, aprovando os mais adequados em razão dos objetivos sociais a serem alcançados.

Podemos identificar ainda nas respostas apresentadas nos questionários outra questão crucial na relação entre a violência e a intolerância na escola. Ao responder que intolerância é “reagir de forma agressiva a algo que você não concorda” (Orquídea), ou que se trata da “não aceitação daquilo que lhe é diferente/divergente, buscando a anulação do outro(a).” (Cravo), esses professores demonstram que a violência ainda é uma constante na maneira em que as pessoas se comportam diante das diferenças.

Sim, é característica da violência obrigar as pessoas a fazerem coisas que de outra maneira não fariam e que não tem vontade de fazer; sim, violência significa aterrorizar as pessoas e fazê-las atuar contra a vontade delas e assim privá-las do seu direito de escolha. (BAUMAN, 2008, p. 259).

A violência aqui é percebida na sua forma tradicional, que é a imposição de uma força maior sobre uma força menor. São várias as consequências decorrentes deste mau encontro, podendo ser a subjugação de uma vontade em relação à outra, ou até mesmo a destruição total das motivações e desejos de outrem. A escola como um lugar da diversidade é também o local dos conflitos. Esses embates devem ser da melhor forma possível mediados pelos professores, que por sua vez, visarão demonstrar ser a diversidade natural à condição humana.

Pelas descrições elencadas anteriormente, podemos promover uma associação entre as noções de intolerância e de violência. Se, segundo Lavanda, a “intolerância é a incapacidade de lidar com a diversidade humana”, e, como afirma Violeta, corresponde ao “ato de não respeitar o outro, é a não aceitação do diferente, do outro”, a percepção da violência desvela-se na relação dicotômica entre tolerar ou não. Nesse sentido, a intolerância e a falta de tolerância podem ser apontadas como um trampolim para a violência.

Seja com palavras, com o silêncio, com a agressividade, ou até mesmo de forma aparentemente pacífica, a violência apresenta-se como uma máscara da intolerância. e também como uma ação de condenação e de restrição ao outro por

tudo aquilo que ele representa. É um gesto que aparece tanto de forma evidente, quanto de forma obscura, velada, mas que atinge o outro com uma força sempre desproporcional e destrutiva. As enormes diferenças em que se apresentam os indivíduos que frequentam a escola são ao mesmo tempo o testemunho da imensa diversidade humana e o estopim para que haja o confronto entre identidades que não toleram a alteridade.

Se perguntarmos aos docentes se algum deles “já percebeu algum comportamento de intolerância nas relações entre seus alunos?” veremos que, entre aqueles que sempre viram, ou os que viram uma vez ou outra, ou ainda, os que vêem sempre, existe uma relação estreita com a presença da intolerância. De uma forma ou outra, já foram presenciadas atitudes intolerantes por grande parte dos docentes, em detrimento àqueles que afirmaram jamais terem observado qualquer tipo de atitudes desta natureza. Estes últimos, como podemos observar no gráfico 1, são minoria absoluta, correspondendo à apenas 25% dos docentes.

Gráfico 1 - Percepções da violência na escola

Fonte: Bonneau (2017).

Sim, ao menos uma vez Frequentemente Às vezes

Observamos que de uma forma ou outra existe uma percepção corriqueira e constante da intolerância por parte sujeitos da pesquisa, e por consequência, da violência dentro da escola. Em grande medida, a presença constante deste tipo de ação revela a natureza do ambiente escolar, e que os grandes críticos, como Althusser, Dewey, Bourdieu e Foucault desenvolveram extensos trabalhos sobre a instituição escolar. A confirmação da violência dentro da escola e em seus espaços teoricamente protegidos, passam ao longe de explicar as razões pelas quais este tipo de comportamento é presente nestas instituições. No entanto, ainda que a violência encontre-se presente na escola, não é possível afirmar que a própria escola seja violenta. Os tipos de coerção e persuasão são bem distintos de outros lugares e instituições, tais quais fábricas, fóruns, hospitais e presídios.

A ligação entre a intolerância e a violência é delineada pela seguinte pergunta: “para você, os atos de violência na escola estão relacionados à Intolerância?” Após confirmar a escola como um lugar onde a violência existe, essa questão consiste em verificar se os professores associam a intolerância à violência.

Gráfico 2 - A violência na escola está relacionada à intolerância?

Fonte: Bonneau (2017) Sempre Às vezes Nunca observei Raramente Não

Conforme o gráfico 2, 58% dos professores marcaram a opção “às vezes”, demonstrando que para a maioria, uma ação intolerante não está necessariamente atrelada a uma ação que possa ser interpretada no âmbito da violência. Debarbieux procura demonstrar por vezes que a percepção da agressividade não gera necessariamente uma ideia de violência no espectador. Ser agressivo, por vezes mais bruto ou ríspido faz parte das formas de socialização dos jovens.

Por outro lado, Bourdieu (2005b, p. 65) nos lembra que este tipo de comportamento é “a forma perfeita de violência simbólica que se exerce mesmo sem saber, pelo fato de fazer-se valer no momento e no próprio movimento em que é exercida”. A percepção da violência gera discordâncias entre os analistas, o que representa bem a maneira como os docentes percebem essa questão. Enquanto para uns (no caso, Debarbieux) é possível medir o grau de agressividade até tornar- se algo violento, em Bourdieu, nada escapa da violência dentro da escola, tal qual o seu conceito desenvolvido de violência simbólica.

4 REPRESENTAÇÕES DA VIOLÊNCIA

A análise de Bourdieu sobre a violência no amplo espectro de sua manifestação simbólica contribuiu enormemente para o aumento da sensibilidade e as novas percepções acerca deste fenômeno. Comportamentos, formas de pensar e preconceitos, que outrora eram tratados como algo fixo e naturalizado, vieram a se movimentar na reflexão filosófica e sociológica, se mostrando em outros aspectos, com novos métodos e procedimentos. A análise bourdieusiana tem esta virtude de trazer à luz o que outrora permanecia nas sombras, em nomear o que não havia sido ainda batizado.

Podemos considerar a violência um fenômeno tanto cultural quanto natural. Na natureza, a violência parece ser totalmente justificável e muito clara. Não há dissimulação entre os seres vivos que fazem o que for necessário para perpetuarem a sua espécie. Na cultura - e esta é sem dúvida uma das grandes contribuições do pensamento de Bourdieu – a violência adquiriu outras mil facetas, claras ou obscuras, manifestando-se seja à luz do dia ou na escuridão da noite, crua ou extremamente requintada, dissimulada. Porém, a justificativa da violência e sua forma de tratamento determina em grande medida a compreensão e a capacidade de intervir no curso de seu acontecimento.

Essa é a razão pela qual se torna imprescindível refletir sobre a questão da violência e seus vários sentidos. Em muitas instituições sociais a violência parece fazer parte da natureza e da dinâmica destas sociedades e agremiações. O hospital e seu desdobramento no hospício; o aparato policial, seja em sua ação ostensiva, seja em seu fim último no regime prisional; as igrejas e partidos políticos, em um sistema de formação ideológica de seus membros; e a preocupação desta tese: a escola e sua proposta de um sistema de ensino em geral.

A relação entre escola e violência deve ser explorada ao máximo a fim de vislumbrarmos de forma minimamente suficiente os inúmeros desdobramentos e as várias nuances desta complexa ligação. Como já apontara Althusser (1983), a escola tem como função principal ser mais um aparelho ideológico do Estado, desempenhando um papel decisivo na formação de cidadãos em consonância com

o sistema político vigente, obviamente com o intuito claro de se manter no poder. Como formadora do espírito, a instituição escolar molda seu público, em pleno acordo com os valores morais e limites éticos da sociedade que pretende formar ou manter, em nome de um determinado status quo, de um grupo ou uma classe plenamente dominante.

A escola contribui de forma decisiva para que os homens tornem-se, segundo Nietzsche (2011), amáveis e obedientes, capazes de seguirem uma ordenação preestabelecida em sua vida, passando-a sem em nenhum momento questionar o seu curso. Neste sentido, estamos nos referindo à escola como um dos aparelhos de conservação da sociedade em seus moldes atuais. Mas se for considerada de transformação, que esta não seja brusca e aperfeiçoe os sistemas de conservação dos atores sociais em seus devidos lugares, com o intuito de facilitar os métodos de dominação.

Em grande medida, a sociedade moderna transformou seus contemporâneos em sujeitos devidamente racionais, no entanto carentes de plena reflexão. Uma razão bem moldada pelo sistema escolar, desde a alfabetização até o círculo universitário e que visa, sobretudo, a manutenção de um sistema conservador, baseado na lógica do trabalho e na formação da mão de obra em acordo com as exigências pontuais do mercado. Eis o imperativo da razão instrumental que molda os espíritos em torno do objetivo comum da manutenção de uma sociedade de produção e do lucro. O aparato escolar entra em plena ação, para formar com uma margem de sucesso considerável, homens e mulheres exemplares que se encaixem perfeitamente dentro dos padrões pré-estabelecidos e amplamente aceitos. Valores estes, que por sua vez, confirmam a missão do sistema escolar e sua importância estratégica dentro de um sistema político.

A violência aparece aí em duas frentes bem distintas e por vezes complementares. Uma, no que diz respeito ao processo educativo em geral. O enquadramento a partir de uma lógica modal da forma de pensar, em um sistema de disciplinas desconexas, bem como o aparente descolamento da vida escolar em relação ao mundo da vida. A escola é um corpo estranho na comunidade, que não se envolve com a vida das pessoas fora de seus muros, quee por este processo de alheamento, não reconhecem nem compreendem a sua efetiva importância. O

resultado aparece nas inúmeras depredações e roubos nas instituições de ensino, praticados por pessoas da própria comunidade.

Outra, é a reação dos indivíduos ao sistema de aculturamento da escola. Como de praxe, a escola alcança mais ou menos o objetivo desta formação; no entanto, outros „efeitos colaterais‟ podem vir à aparecer na instituição escolar, entre eles, a violência. Como bem definira Charlot (2002), três são os tipos de violência que ali ocorrem: a violência contra a escola, violência na escola e violência da escola. É neste âmbito, da violência interna à escola, entre seus muros e com membros de sua comunidade que pretendemos abordar aqui. Charlot nos mostra que são tantas violências, que aparentemente a escola torna-se um local que ultrapassa o nosso imaginário das fantasias do bem-estar e segurança, sucumbindo diante de uma realidade triste e aterrorizante.

Por essas razões é que não podemos restringir qualquer conceito de violência. Sua definição pode incorrer em não se perceber mais sua manifestação em determinados lugares e procedimentos, e até mesmo torná-la invisível e como um fator sem relevância ao tratarmos das relações entre alunos, professores e a própria sociedade. Por isso, o que pareciam termos incompatíveis e que de forma alguma poderiam, por sua natureza, estabelecer algum tipo de ligação, ocorrem com uma frequência cada vez mais preocupante. A escola torna-se suspeita, e outras manifestações da ação humana são insurgentes em seu interior. Nela habitam tratamentos, procedimentos e intervenções que são necessárias quanto a uma investigação e explicação aprofundadas no tocante à violência.

Uma questão importante se dá em torno das razões e motivos pelos quais esta violência acontece. Se esta situação corresponde desde sempre a uma prática inerente às relações no interior do público escolar; se as mídias em todas as suas possibilidades iluminaram uma atividade e forma de comportamento que existiu desde a criação da instituição escolar, e que outrora permanecia obscura pela ignorância e pela falta de conhecimento; se o aumento da população, e em contrapartida, das esferas econômicas, políticas e dos direitos sociais, ampliando a distinção entre classes sociais e demarcando diferenças profundas entre os mais diversos capitais culturais, geram também instabilidade social que aparece na escola dentre outras formas, sob a prática da violência; se os sujeitos envolvidos no processo, seja o agressor ou a vítima, não merecem uma abordagem do ponto de

vista clínico, tanto psicológico, quanto médico, cuja interferência pode também contribuir para o enfrentamento do problema em questão.

São inúmeras as possiblidades pelas quais o problema da violência entre os estudantes devem ser tratadas. Neste quesito, posicionamo-nos inicialmente, em favor da descrição e reflexão do conceito de violência. Mesmo não sendo uma ideia específica que se restringe à violência na escola, desdobrarmos o conceito em seu âmago é abrir caminhos para vislumbrar esta atividade humana em suas nuances e possibilidades. Por isso, buscaremos tratar da violência em duas formas bem distintas, no entanto complementares.

A primeira será na perspectiva bourdiesiana. O conceito de violência de Bourdieu, que tem como propósitos a reprodução e a dominação, ultrapassa a ideia primitiva que temos do significado de violência, no sentido clássico – àquela que é