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Conforme os dados do Censo Demográfico do IBGE, o Estado da Paraíba possuía, no ano de 2010, 3.766.834 habitantes, sendo 1.824.495 homens e 1.942.339 mulheres. Destes, 352.858 eram jovens na faixa etária entre 15 e 19

anos, ou seja, 9,37% da população encontrava-se em idade escolar correspondente ao ensino médio.

Embora 242.050 tenham declarado que frequentavam a escola regularmente naquele período, os dados apontam que apenas 156.962 jovens constavam como matriculados no ensino médio. Significa dizer que apenas 44,5% da população de jovens do Estado, entre 15 e 19 anos, cursavam o ensino médio naquele período. A grande maioria destes alunos matriculados encontram-se nas escolas públicas, totalizando 132.112 alunos, ou seja, 84% dos jovens paraibanos cursavam o ensino médio em escolas públicas.

O Instituto Federal da Paraíba - IFPB é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação e Cultura - MEC. O Instituto oferece cursos de formação profissional, tanto integrados quanto subsequentes ao ensino médio, e ainda alguns cursos de graduação. O IFPB conta com 11 unidades (campi) distribuídas pelo Estado. Os campi que já estão em funcionamento são: Cabedelo, Cabedelo Centro, Cajazeiras, Campina Grande, Guarabira, João Pessoa, Monteiro, Patos, Picuí, Princesa Isabel e Sousa. Em processo de implantação estão os campi de Areia, Catolé do Rocha, Esperança, Itabaiana, Itaporanga, Mangabeira (João Pessoa), Santa Luzia, Santa Rita, Soledade e Pedras de Fogo.

O IFPB oferece diversos cursos presenciais e a distância, todos gratuitos, nas seguintes modalidades: integrado ao ensino médio, subsequente, superior e pós- graduação. Os cursos ofertados no ensino médio são Agroindústria, Agropecuária, Contabilidade, Controle Ambiental, Edificações, Eletromecânica, Eletrotécnica, Eletrônica, Equipamentos Biomédicos, Geologia, Informática, Instrumento Musical, Manutenção e Suporte em Informática, Mecânica, Meio Ambiente, Mineração, Petróleo e Gás e Recursos Pesqueiros. Optamos para a realização da pesquisa por um dos campi do IFPB localizado na região metropolitana de João Pessoa. Este campi oferece, para o ensino médio, os cursos integrado e subsequente de Meio Ambiente e de Recursos Pesqueiros.

O referido campus é uma Instituição de médio porte, e foi inaugurado no ano 2008. Em 2016, o número de matriculas realizadas no primeiro ano do ensino médio, foi de 160 alunos. Quanto à sua infraestrutura, há salas de aula, biblioteca, sala de informática, laboratório, sala dos professores, secretaria, cozinha, banheiros, espaço

físico, pátio interno com estacionamento. Na guarita há sempre um guarda que só permite a entrada de estranhos mediante identificação.

Quanto ao corpo discente, o ingresso no Instituto até o ano de 2015 era realizado a partir de uma avaliação seletiva, composta por provas de português, matemática, história e geografia. Em 2016, O IFPB alterou sua forma de seleção para o ingresso no ensino médio, utilizando como critério de avaliação as médias anuais das disciplinas escolares de português, matemática, história e geografia, referentes aos 6º, 7º e 8º anos cursados.

Entregamos os questionários impressos a todos os trinta e três professores que ministram aulas no primeiro ano do ensino médio, e, por sugestão da coordenadora pedagógica, solicitamos que entregassem o questionário preenchido na secretaria da mesma. Após cerca de um mês, doze professores retornaram com os questionários preenchidos.

O grupo de professores do Instituto é formado por sujeitos de ambos os sexos, sendo a maioria mulheres. Com o intuito de preservar a identidade dos entrevistados, bem como de deixá-los o mais à vontade possível para responder nosso questionário, solicitamos que indicassem no questionário o pseudônimo que gostariam de ser chamados. Como nenhum professor indicou um pseudônimo, optamos por nomeá-los por flores. Assim, no decorrer de nossa pesquisa, usaremos somente os nomes fictícios desses professores, a saber: Azaleia, Girassol, Crisântemo, Lavanda, Tulipa, Orquídea, Lírio, Lis, Violeta, Cravo, Hortência e Acácia.

3 A (IN)TOLERÂNCIA

Neste capítulo, trataremos do conceito de tolerância a partir de autores consagrados nessa temática, e textos clássicos que versam sobre o assunto. Para tanto, pretendemos explorar as concepções de tolerância em John Locke, Pierre Bayle e Voltaire. Cada um desses autores contribui ao seu modo de forma decisiva para o desenvolvimento das noções ligadas ao conceito em questão.

A nossa análise sobre o conceito de tolerância inicia-se com o filósofo inglês John Locke (1632-1704), considerado um dos principais teóricos do liberalismo. Político ativo, que conhece e intervém profundamente na política de seu país, durante a monarquia do Rei Jacó I, ele é obrigado a emigrar da Inglaterra, retornando em 1688, após a Revolução Inglesa. Em suas Quatro Cartas sobre Tolerância, redigidas em latim no período que esteve exilado em Amsterdã, na Holanda, desenvolve uma análise cujas consequências resultam em uma diferenciação profunda entre moral e religião, Estado e Igreja.

Esta independência, cujo resultado máximo é a desassociação entre fé e razão, será a base racional para constituição da noção de tolerância. Descreveremos como Locke, principalmente a partir da primeira carta sobre tolerância, opera seus argumentos nessa direção, reivindicando das religiões um respeito mútuo e ainda que de forma alguma o Estado pudesse intervir na liberdade de crença de seus cidadãos. A concepção lockeana de tolerância abre espaço, já no século XVI para pensarmos na existência entre diferentes formas de pensamento, no caso das crenças e na necessidade de um estatuto social que seja capaz de conciliar estas distintas existências.

Pierre Bayle (1647-1706), pensador de cunho protestante, calvinista, torna-se um dos precursores do iluminismo na França através da produção e organização do Dicionário Histórico e Crítico (1697). Profundo conhecedor da filosofia de sua época, irá manter com os mais diversos adversários filosóficos uma imensa correspondência. Podemos citar a discussão entre os limites da fé e da razão, bem como a sua relação que acarretará na Teodicéia de Leibniz (2008). Os seus Pensamentos Diversos Sobre o Cometa (2007) propõem uma denúncia das

promiscuas relações entre política e religião, demonstrando o quanto a superstição ainda é utilizada para fins políticos.

Em seu Comentário filosófico da Tolerância (2014), ele defende que a Igreja não tem autoridade de interferir nas crenças particulares dos indivíduos, uma vez que a humanidade detém o atributo da razão, ou seja, a luz natural. A questão é demonstrar como Bayle abre caminho para as diferenças entre o pensamento e as formas de pensar, demonstrando que cada um pode por si mesmo alcançar a sua própria maneira de estabelecer a verdade. O ceticismo bayleano demonstra a necessidade de suspendermos a nossa razão para que se possa então emergir a razão do outro.

Voltaire (1694-1778), de nome François-Marie Arouet, foi sem dúvida, uma das grandes inspirações do iluminismo francês. Com suas palavras potentes e avassaladoras, ele denunciava as mazelas sociais, os paradoxos religiosos, e os desmandos políticos de sua época, a tal ponto de ficar uma temporada preso na Bastilha, e ter que se exilar na Inglaterra. Sua reflexão sobre a tolerância aparece neste texto como forma de demonstrar historicamente os prejuízos da intolerância e sua capacidade de inclusive, justificar o assassinato de pessoas inocentes.

Tendo como ponto de partida o caso Calas, na sua obra Tratado sobre a Tolerância (2008a), cujo personagem fora vítima de impetuosidade de uma corte que se conclamava cristã, e acabou sendo condenado de forma injusta à morte. Para Voltaire (2008a), sem dúvida, paira como o mal maior, dentre todos os males, aquilo que podemos nomear como Intolerância Religiosa. Dado que não há pessoa no mundo que possa dizer o que é o verdadeiro Deus, e que não há nenhuma condição gnosiológica de se chegar até Deus, toda religião então estaria condenada ao erro. Por essa razão, restam-nos o respeito e o perdão, em uma comunidade de seres que são antes de tudo errantes. Nesse sentido, exporemos a noção de tolerância defendida por Voltaire, cujo fundamento filosófico consiste na renúncia que temos que fazer com relação à verdade, pois ninguém tem acesso a ela. Nesse sentido, a única intolerância concebida pelo filósofo francês é em relação aos próprios intolerantes.

Num segundo momento, achamos pertinente promover uma relação entre os conceitos de tolerância e de esclarecimento. O autor que consideramos adequado para desenvolver essa transição conceitual é Kant, e sua escolha deu-se pela sua

contribuição para o conceito de razão, e o seu aprofundamento dos estudos sobre os limites e possibilidades do homem. Kant (1724-1804), filósofo alemão consagrado pelas três críticas - Crítica da Razão Pura (2008); Crítica da Faculdade do Juízo (2002) e a Crítica da Razão Prática (2004) -, procura desenvolver uma noção de razão que seja a mais adequada possível a uma moralidade de cunho universal. Sua deontologia denota uma crença na humanidade, no sentido de que esta se detém nos atributos dos cosmopolitismo, de que podemos concluir: antes de ser um cidadão brasileiro ou alemão, por exemplo, somos cidadãos do mundo.

O desenvolvimento da noção de esclarecimento em Kant (2005) se dá na sua obra Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?, na qual ele demonstra uma crença absoluta de que a razão poderá tornar os homens livres e que esta será o meio pelo qual cada cidadão reconhecerá o outro em seus direitos e deveres. Por essa razão, explicitaremos a noção de esclarecimento, como um dever ser do homem, e que acarretará na capacidade que cada um tem de fazer o seu uso público.

O último tema deste capítulo, após desenvolvermos uma noção de tolerância e ligá-la a uma ideia de sujeito esclarecido, é a própria crítica do conceito ou projeto de esclarecimento. A Dialética do Esclarecimento (ADORNO; HORKHEIMER, 1985) tem como temática principal demonstrar as capacidades e limites da razão humana, e como esta forja uma nova consciência global reduzida a uma ideia de razão instrumental. O momento mais dramático deste problema, segundo a concepção de Adorno (1903-1969) e Horkheimer (1895-1973), se dá quando o esclarecimento, tão propalado e elogiado no inicio do século XX, tido como a saída certa dos conflitos e de toda a natureza gerados pela convivência humana, torna-se um mito.

A mitologia do esclarecimento é explorada pela análise dos filósofos frankfurtianos, no sentido de promover uma crítica severa à razão humana e suas potencialidades. Nesse sentido, não é a toa que neste texto estão ligados acontecimentos históricos importantes, como a segunda guerra mundial e seus desdobramentos, com a nossa capacidade plena de elaborar problemas e soluções, bem como de buscar gerir uma sociedade cuja base ideológica assenta-se no indivíduo e no capitalismo. Nossa pesquisa sobre a tolerância e seus limites termina com a crítica que Marcuse (1898-1979) faz da sociedade capitalista industrial, na perspectiva do homem unidimensional. Nessa perspectiva, traremos a sua noção de

tolerância repressiva, e como esse tipo de comportamento opera socialmente, não como um agente de transformação, mas como um meio de adequação dos sujeitos às suas classes sociais e condições econômicas.