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A indisciplina: Um tónico presente ao longo de todo o desafio

Lista de Abreviaturas AC – Avaliação Criterial

4. Realização da Prática Profissional

4.1. Organização e Gestão do Ensino e Aprendizagem

4.1.3.3. A indisciplina: Um tónico presente ao longo de todo o desafio

De acordo com Moreira (2008) a indisciplina traduz-se pelo desrespeito das regras que levam a um funcionamento errado da sala de aula. Ao longo de todo o ano letivo foram várias a vezes que fui obrigado a intervir neste sentido, de forma a que o controlo e a indisciplina assumiram um papel preponderante em todas as aulas que lecionei à minha turma. Durante o ano letivo investi e despendi imenso tempo nesta dimensão de intervenção pedagógica.

De acordo com Oliveira (2002, p. 77) “a tarefa do professor reparte-se por duas grandes estruturas organizadas à volta dos problemas da aprendizagem e da ordem.”. A mesma autora reitera que ambos (ordem e aprendizagem) se interrelacionam, uma vez que “algum nível de disciplina é necessário para que a instrução possa ocorrer” (p. 78).

Neste seguimento, as primeiras aulas do ano letivo são cruciais para que sejam estabelecidas as regras, a ordem seja definida e os procedimentos clarificados (Oliveira, 2002), estas aulas têm consequências na organização das demais ao longo do ano letivo. Procurei desde o início do ano letivo fazer os alunos cumprirem as regras por mim estipuladas na primeira aula. Adotei uma postura intransigente desde o início do ano, uma postura até então desconhecida por mim, uma vez que ia completamente contra a minha maneira de agir e ser. Quando tomei conhecimento da turma que iria ter perante mim, composta por um grupo de alunos, especificamente pertencentes à turma de economia, que era caracterizado pela adoção de constantes comportamentos desviantes, desde logo me apercebi do desafio que teria em mãos, na medida em que iria ser constantemente colocada à prova a minha personalidade.

Fazendo face a esta problemática, procurei desde logo criar um ambiente organizado, onde predominasse o respeito mútuo e o cumprimento das regras. Sinto que no início do ano adotei uma postura demasiado rígida e os conflitos com os alunos foram uma constante, havendo inclusive registado algumas participações disciplinares. Este foi um aspeto que, numa fase inicial, me abalou e desmotivou bastante, mas foi também neste desafio que encontrei as forças para reverter tal situação, como é exemplo o excerto seguinte:

“Fiz referência ao desafio que tenho entre mãos tendo em conta a minha personalidade e a turma que tenho à minha responsabilidade. Se outrora por vezes pairava algum desânimo e desmotivação para a lecionação das aulas, agora sinto-me super determinado e com imensa vontade de levar a cabo este desafio, ultrapassando todas as dificuldades e, quem sabe, alcançar até uma melhor relação com os meus alunos. Sei que, devido às suas características, tal pode não suceder, mas vou fazer de tudo para inverter a situação. Mantendo sempre uma postura correta e disciplinar sempre que assim seja necessário.” (Diário de Bordo – Semana 14, p. 5)

De acordo com Veiga (1999) o stress provocado por situações de indisciplina é considerado o fator mais influente no insucesso dos professores, especialmente nos professores mais jovens, nomeadamente nos anos iniciais da atividade docente. Coube a mim, enquanto professor, procurar estratégias para fazer face a esta situação.

Neste sentido, é correto afirmar que, olhando agora para trás, sinto que, provavelmente, a adoção de uma postura demasiado rígida desde início, não foi a forma correta de abordar os alunos, uma vez que não surtiu efeitos a longo prazo, apenas no momento. À medida que fui conhecendo melhor os alunos, e provido de uma maior experiência adotei uma postura ligeiramente diferente, onde o bom senso pautou a minha atuação enquanto professor. Procurei ignorar comportamentos com um menor grau de gravidade, de modo a manter a dinâmica da aula, e procurar dar uma resposta mais pedagógica aos comportamentos mais graves evitando assim a expulsão da aula. Ambicionei uma intervenção mais “construtiva” e menos “destrutiva”. A fim de evitar este tipo de situações ainda que de uma forma involuntária descobri uma estratégia que se afigurou bastante vantajosa para cativar e motivar os alunos para a prática, fazendo diminuir os comportamentos disruptivos, como se pode comprovar no excerto seguinte:

“No que concerne ao comportamento dos alunos, tendo como referencial o sucedido na última aula em que dispus do pavilhão na sua íntegra para a lecionação de futebol, sinto que foram aulas semelhantes. Tirando uma situação entre outra, mais frequentes na primeira situação de aprendizagem, os alunos evidenciaram um comportamento positivo, comparando com outras aulas. Creio que o facto de perspetivarem a realização de jogo a campo inteiro é uma motivação para estes. Em situações futuras deverei encontrar algo que possa “oferecer” aos alunos,

para desta forma os ter mais embrenhados e concentrados na realização das tarefas.” (Diário de Bordo – Semana 13, p. 8)

Durante todo o ano ambicionei e, é correto afirmar, pratiquei um jogo de cedências e exigências. Se por um lado queria motivar os alunos da turma de artes para a prática desportiva, levando-os a acreditar que também eram capazes de realizar as tarefas, por outro lado queria ser capaz de controlar os alunos da turma de economia e desenvolver juntos destes valores educativos.

Rink (2014) defende que as regras devem ser pensadas tendo em consideração aspetos que ocorrem frequentemente nas aulas, de modo a possibilitar que estas decorram sem problemas, perdas de tempo ou interrupções permitindo assim ao professor atentar a outros aspetos importantes. Ao longo do ano várias foram as vezes que não consegui atentar a tais aspetos devido a situações de indisciplina preconizados por vários alunos como exemplifica o seguinte excerto:

“Nesta situação de aprendizagem fui também confrontado com alguns alunos que não a realizaram na íntegra, adotando por vezes comportamentos fora da tarefa, fui atentando a esse tipo de situações e chamando os alunos a atenção. Devido a este tipo de situações por vezes negligenciava a emissão de FB referentes ao desempenho dos alunos. De facto, tenho sentido bastantes dificuldades neste capítulo, se por um lado devo atentar ao desempenho dos alunos para os corrigir e ajudar a evoluir, por outro lado não posso desviar atenção de certos alunos que adotam comportamentos menos próprios.” (Diário de Bordo – Semana 13, p. 7)

Este foi um aspeto que fui atenuando através da experiência que fui adquirindo, bem como com a adoção de estratégias que me permitissem obter um controlo permanente de toda a turma. De acordo com Rosado e Ferreira (2011, p. 189) o controlo ativo de forma permanente da turma, potencia o empenhamento dos alunos nas situações de aprendizagem. Oliveira (2002) corrobora tal premissa ao afirmar que ao assumir uma boa colocação, mantendo no campo de visão o trabalho de toda a turma, tem um impacto direto na diminuição de comportamentos inapropriados. Neste sentido a partir do momento em que comecei a focar mais nestes aspetos os resultados surgiram como se pode verificar no excerto seguinte:

“No início era algo mais grave (comportamento dos alunos) no entanto, consegui adquirir algumas estratégias que me fizeram melhorar neste aspeto nomeadamente, a adoção de uma atitude mais proactiva circulando por todos os grupos procurando manter sempre todos os alunos no meu campo de visão. Comparativamente ao início do ano constato também que sou um professor muito mais interventivo do que o era outrora, denotando assim, melhorias a nível de emissão de FB. Escusado será referir que estes acontecimentos estão estreitamente relacionados, uma vez que o primeiro levou ao segundo.” (Diário de Bordo – Semana 35, p. 1)

Neste sentido, “como líder da relação, cabe ao professor organizar e gerir a sala de aula, antecipando o mau comportamento e gerindo-o quando ele aparecer” (Moreira, 2008, p. 62).

Hoje, sinto que o facto dos alunos não me terem facilitado a vida neste capítulo, evidenciou-se como uma mais-valia, ajudou-me a desenvolver competências, tornou-me uma pessoa mais forte e apta a enfrentar as dificuldades. É verdade em que em certos momentos este desafio, esta luta, me abalou, porém, consegui encontrar nele fonte de força para continuar a procurar melhorar a cada dia que passava e a cada aula que lecionava. E não acho que haja mais reconfortante do que sentir, no final, aquele sentimento de dever cumprido, estando ciente que me dediquei e entreguei a estas dificuldades o melhor de mim. Sou da opinião que fui bastante persistente e, a pouco e pouco, ao longo deste desafio fui descobrindo valias, atenuando fragilidades, testando alguns limites, procurando agir com maior juízo e desenvoltura. Aprendi e vivenciei muito em pouco tempo durante este processo, onde vi as minhas capacidades a serem testadas e aprimoradas, as minhas conceções foram alterando e todo o conhecimento adquirido na prática ganhou outro valor, passando a dotar-se de maior clareza. Se me encontrasse agora no início do ano letivo e tivesse opção de escolha, sem dúvida alguma escolhia esta turma para lecionar. Ela constituiu um enorme desafio e colocou- me inúmeras adversidades, porém, é quando confrontados com estas situações que temos mais possibilidades de evoluir e ambicionar o sucesso.