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O professor reflexivo: A importância da reflexão na profissão docente

Lista de Abreviaturas AC – Avaliação Criterial

4. Realização da Prática Profissional

4.1. Organização e Gestão do Ensino e Aprendizagem

4.1.3.9. O professor reflexivo: A importância da reflexão na profissão docente

“Professores críticos e exigentes procuram as causas na própria actuação e interrogam-se acerca dela.” (Bento, 2003, p. 176) Tal como é percetível ao longo do presente documento, a reflexão foi o meio utilizado para a análise, controlo e avaliação das tomadas de decisão que foram realizadas ao longo de todo o EP. Neste sentido, considero que a reflexão deve ser perspetivada como uma ferramenta ao dispor do docente, com o objetivo de conceber conhecimento. Segundo as normas orientadores do EP 1 , a competência profissional está intrinsecamente relacionada com um desempenho profissional crítico e reflexivo. É então, de acordo a mesma autora, objetivo do EP profissional formar um professor reflexivo que analisa, reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do profissionalismo docente e o conjunto das funções docentes entre as quais sobressaem funções letivas, de organização e gestão, investigativas e de cooperação. Batista e Queirós (2013), corroboram a ideia referida anteriormente ao afirmar que o EP tem como principal objetivo dotar e capacitar o futuro professor de EF de um conjunto de ferramentas que visem o desenvolvimento de uma competência baseada na experiência refletida e com significado.

A reflexão para Alarcão (1996, p. 176) “baseia-se na vontade, no pensamento, em atitudes de questionamento e curiosidade, na busca da verdade e justiça”. Desta forma, é função de cada professor ansiar essa procura de conhecimento, procurando ser um profissional mais competente. Zeichner (1993) afirma que o conceito de professor como prático reflexivo

reconhece a riqueza da experiência que reside na prática dos bons profissionais. Alarcão (1996), remata afirmando que um professor faz da sua prática um campo de reflexão teórica estruturadora da ação. Desta forma, verifica-se a importância da reflexão, no sentido de tornar a prática mais contextualizada e apropriada à realidade da escola, procurando a competência do docente. Não obstante Alarcão (1996), afirma que o conceito de professor reflexivo não termina no imediato da sua prática. É importante que o professor não se centre apenas no que sucede na aula, mas também em tudo o que se baseia com a sua atuação enquanto professor.

Para a promoção de um ensino de qualidade é necessário uma interrogação e reflexão constante acerca da nossa prática. Desta forma, foi uma atitude reflexiva que norteou todo o meu EP. Foi através desta que fui ultrapassando obstáculos com que me deparei e melhorei a minha prática. Procurei questionar e refletir sempre acerca das decisões por mim tomadas. Não basta refletir no que sucedeu se não procurarmos uma forma de melhorar no futuro. Desta forma, ambicionei sempre corrigir o que de menos bem foi feito e, melhorar o que correu bem, em situações futuras. Alarcão (1996, p. 175) defende que “ser-se reflexivo é ter a capacidade de utilizar o pensamento como atribuidor de sentido”. Foi através desta atitude que desenvolvi e incrementei a minha competência ao longo de todo o ano letivo.

“Sinto que para a aplicação da primeira situação de aprendizagem já deveria ter criado rotinas para que esta decorresse com uma melhor dinâmica e fluidez. De facto, já tinha realizado uma situação do género a algumas aulas atrás, mas sucedeu numa aula onde faltaram vários alunos, pelo que senti a necessidade de explicar muito bem em que consistia bem como, exemplificar todas as estações. Tendo como referencial, a situação de aprendizagem da mesma tipologia (estações) aplicada anteriormente denoto uma evolução, nomeadamente na exemplificação por mim bem como, o tempo dedicado à exercitação em cada estação. Por outro lado, questiono-me da pertinência da realização desta situação de aprendizagem num período tão tardio da UD. Creio que é uma boa ideia implementar estes circuitos no início da aula pois, confere uma boa dinâmica à mesma e consigo ter os alunos todos em prática, contudo, já o devia ter introduzido mais cedo para que já estivessem criadas rotinas. Em situações futuras, na lecionação de outras UD será um aspeto a que irei ter em conta para que sejam criadas rotinas desta natureza desde cedo.”

“Iniciei a aula com a realização de um circuito promovendo assim a ativação geral e o desenvolvimento da condição física dos alunos. Aqui denotei que alguns alunos não realizaram a totalidade dos exercícios propostos. O facto de dividir a turma em dois grandes grupos, em locais distantes, faz com que não consiga promover um controlo ativo da totalidade dos alunos. Em situações futuras irei procurar realizar o circuito de forma diferente. Dividirei os alunos pelos 4 pontos de exercitação e realizarei mudança de exercício por tempo, aplicando cadência utilizadas no treino funcional. Desta forma pretendo promover um controlo ativo na totalidade da turma, minimizando tentativas de fraude por parte dos alunos.” (Diário de Bordo – Semana 30, p. 1)

Como já referi anteriormente, a reflexão assumiu-se como um elemento preponderante na realização de todo o EP. O ato de refletir evidenciou-se uma ferramenta fulcral para o desenvolvimento do meu processo de formação. Foi através dela que evoluí como professor e encontrei soluções para os erros por mim cometidos, e percecionei formas de melhorar a minha atuação. Não obstante, considero importante realçar o contributo de todo o NE que, muitas vezes, orientou e guiou a minha reflexão. Em muitas circunstâncias deparei-me com situações onde tive dificuldade em alcançar uma resposta. Sempre que tal sucedeu, socorri-me do NE, onde considero importante realçar o trabalho da PC, para, através das suas experiências e perspetivas, tentar alcançar soluções.

“... aqui apliquei uma nova estratégia pois, denotei que alguns alunos não realizaram a totalidade dos exercícios propostos. Contudo, a estratégia não surtiu o efeito pretendido pois a mesma problemática ainda veio ao de cima. O facto de dividir a turma em vários grupos, mesmo que em locais próximos, faz com que não consiga promover um controlo ativo da totalidade dos alunos. Ademais, o facto de ter-me concentrado e focado nos alunos mais problemáticos fez com que descuidasse um pouco dos restantes e, estes sempre que possível relaxavam. Em situações futuras irei seguir o conselho dado pela PC em reunião de NE e, realizar os exercícios por estações, de forma a que consiga ter a totalidade dos alunos a realizar o pretendido por mim, promovendo assim um controlo total da turma.” (Diário de Bordo – Semana 31, p. 6)

O afirmado anteriormente é corroborado por Silva (2009) afirmando que, no processo de desenvolvimento da capacidade de refletir do EE o PC assume um papel preponderante de supervisão, acompanhamento e orientação do

estágio, uma vez que é com ele que o EE interage de forma contínua no dia-a- dia na escola.

Durante todo o EP, atendi aos três níveis de reflexão definidos por Schon (1987): reflexão na ação, que ocorre durante a prática quando o professor é confrontado com situações imprevistas e, adota uma forma de atuar e simultaneamente reflete sobre se aquela terá sido a melhor resposta para a situação sucedida; reflexão sobre a ação, que acontece depois da prática e, implica um período de reflexão acerca da atuação do professor na ação; reflexão sobre a reflexão na ação, que é uma atitude reflexiva que permite ao professor tornar-se mais competente. É através desta reflexão, que se atribui um significado ao que aconteceu, criando conhecimento e preparando melhor o professor para futuras situações semelhantes. Neste modelo prático reflexivo, a teoria e a prática estão interligadas. É através da reflexão acerca da prática que alcançamos uma diminuição da distância entre a teoria e a prática (Silva, 2009).

Atribuí importância aos três níveis de reflexão descritos anteriormente. Tendo em conta que a minha prática pedagógica foi marcada pela imprevisibilidade, o processo reflexivo esteve, maioritariamente, relacionado a uma resposta mais eficaz às situações inesperadas que foram surgindo ao ano letivo. Desde situações relacionadas com condutas de indisciplina realizada por um grupo de alunos, a situações relacionadas com a falta de assiduidade por parte da turma, urgia uma necessidade de rápida adaptação fazendo face a estes imprevistos. Desta forma, considero a reflexão sobre a reflexão na

ação (Schon, 1987), o nível mais importante ao longo do presente ano letivo,

uma vez que, é através deste que os conhecimentos se renovam e foi através do mesmo que consegui reagir melhor às imprevisibilidades das aulas. Realizando uma reflexão adequada neste nível, o professor torna-se, consequentemente, mais competente na sua atuação, visto que a sua tomada de decisão é refletida.

Seguindo a mesma linha de pensamento, é correto afirmar que o processo reflexivo dotou-me de mais competência e de uma capacidade de lidar e responder face aos imprevistos que iam surgindo. Durante o EP,

especificamente durante a minha PES, fui colocado diversas vezes fora da minha zona de conforto, foram várias as vezes que me vi em situações de tensão e incerteza. Essas situações deveram-se, essencialmente, aos fatores descritos anteriormente, nomeadamente a indisciplina e falta de assiduidade. Não considero que estas características da turma tenham sido negativas ao longo do meu EP, uma vez que foi através destes fatores que fui estimulado a refletir em busca de uma resposta acertada. Estou ciente que, numa fase inicial a minha tomada de decisão nem sempre era a mais adequada e por vezes um pouco demorada. No entanto, à medida que o tempo passou, devido ao processo de reflexão descrito anteriormente, de forma individual e em sede de NE, fiquei dotado de uma capacidade de tomada de decisão mais rápida e eficiente, fazendo face às necessidades que se impunham. Larrivee (2008) afirma que uma experiência baseada em inquietação é considerada um estímulo valioso para a reflexão. Deste modo, tendo como referencial o facto da minha prática pedagógica ter sido profundamente marcada pela imprevisibilidade, considero que a tornou mais enriquecedora.