• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – TRABALHO

2.2 A Intensificação do Trabalho no Serviço Público

Retoma-se a discussão do modelo de gestão no serviço público, que é reflexo da reforma do Estado e dos conceitos de governabilidade e governança e traz uma aproximação de duas categorias principais para entendermos o adoecimento no contexto neoliberal, a intensidade e a produtividade.

Segundo Dal Rosso (2008, p. 20), “A ideia de que todo o ato de trabalho envolve gasto de energia e, portanto, exige esforço do trabalhador, está na raiz da noção da intensidade: ela se refere ao grau de dispêndio de energia realizado pelos trabalhadores na atividade concreta.”

Entretanto, o que é uma atividade concreta? O ponto de partida para entender o trabalho, inicia-se em Marx (1984, p. 203): “Antes de tudo, o trabalho é um processo de que

participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza”. A literatura contemporânea, a partir do autor, busca entender a dupla dimensão do trabalho e o dilema do trabalho útil concreto e abstrato. Para Marx (1984, p. 201), o trabalho útil se manifesta no valor de uso e o abstrato no valor de troca, que gera valor de mercadoria.

A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho consome-a, fazendo, o vendedor dela trabalhar. Este, ao trabalhar, torna-se realmente no que antes era apenas potencialmente: força de trabalho em ação, trabalhador. Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem de ser empregado em valores-de-uso, em coisas que sirvam para satisfazer necessidades de qualquer natureza. O que o capitalista determina ao trabalhador produzir é portanto um valor- de-uso particular, um artigo especificado.

O trabalhador, ser social, em sua fragilidade, possui necessidades vitais e tem acesso a elas mediante o recebimento do salário que garante a compra de bens materiais necessários para a sobrevivência. Nesse sentido, o trabalho torna-se essencial para a vida em sociedade.

Dal Rosso (2008, p. 21) aponta dois objetivos, com a manipulação do grau da intensidade. Primeiro, elevar a produção quantitativa. Nesse caso entende-se o trabalho físico como identificamos o das merendeiras, que precisam fazer comida conforme a demanda, ou seja, a quantidade e o tempo adequados às metas da merenda. “Quanto se trata de trabalho físico, os resultados aparecem em medidas (...)”. O segundo objetivo é melhorar qualitativamente os resultados do trabalho. “(...) Quando o trabalho não é físico, mas do tipo intelectual” (DAL ROSSO, 2008, p. 21). Assim é o trabalho do educador, presente na pesquisa como monitor de Centro Educacional e Creche (CEC) e professor do ensino fundamental, porém também evidencia-se a presença da produção quantitativa.

Contudo, “(...) quanto maior é a intensidade, mais trabalho é produzido no mesmo período de tempo considerado” (DAL ROSSO, 2008, p. 21)

Tinha cobrança em relação a o trabalho como um todo. Mas, acabava sobrecarregando porque a professora não vinha às duas turmas ficavam comigo..., aí eu comecei a adoecer, não tínhamos estagiários, não tínhamos quem ajudasse na sala. Então, foi uma sobrecarga enorme. (Monitora - 20, depoimento colhido em outubro de 2012).

Ainda com a explicação de Dal Rosso (2008, p. 25), entendemos a categoria da produtividade:

(...) é um conceito que provém do campo da economia. Em economia, na maioria das vezes, o grau de intensidade fica subsumido como parte integrante do conceito de produtividade, sem que intensidade do trabalho é uma condição distinta de produtividade por envolver elementos e mecanismos diferentes e podendo, portanto, ser construída com estatuto e com forma de mensuração própria. Um trabalho é considerado mais produtivo quando seus resultados no momento t2 (depois) são maiores do que no momento anterior t1 (antes).

Portanto, a lógica de gestão gerencial implantada, com influências neoliberais, supõe que, para conseguir ser produtivo, é preciso que o trabalhador sempre se supere e procure formas de produzir mais. Para alcançar a produtividade, seu trabalho deve ter a maior intensidade possível. “É erro grosseiro supor que a intensificação ocorre apenas em atividades industriais” (DAL ROSSO, 2008, p. 31).

Segundo Dal Rosso (2008, p. 31), ela ocorre em serviços imateriais, em que “(...) o trabalho é cada vez mais cobrado por resultados e por maior envolvimento do trabalhador”. Em nosso estudo, fica claro o forte envolvimento dos trabalhadores com o serviço público, um traço marcante nas narrativas dos sujeitos da pesquisa, que demonstraram o significado do trabalho em suas vidas a partir do sentido de trabalhar no serviço público como possibilidade de servir a sociedade. Assim,

Os serviços com base na imaterialidade marcam diferenças significativas em relação ao trabalho industrial pelo fato de demandarem mais intensamente as capacidades intelectuais, afetivas, os aprendizados culturais herdados e transmitidos, o cuidado individual e coletivo. (DAL ROSSO, 2008, p.33).

Com base nesse aspecto imaterial apontado por Dal Rosso, consideram-se os aspectos afetivos e psicológicos que envolvem as relações de trabalho e que permitem refletir sobre a intensidade do trabalho nos cargos do serviço público.

(...) foi assim. Eu estava trabalhando quando senti o problema. Eu já estava cansada, já havia tido duas ou três discussões com a diretora da escola em que eu estava.. A gente batia muito de frente, como eu já tinha falado, eu gostava de fazer coisas que ela não deixava. (...). Me cobrava coisas e colocava os pais em choque com a gente, sem procurar saber, conversar antes. Então, fazia a gente assinar o livro de advertência por coisa besta, coisa pequena. Isso aconteceu e aí minhas colegas falavam: “Você assinou? Você não devia ter assinado”. (Professora – 5, depoimento colhido em outubro de 2012).

Há ainda o contexto da mundialização, que mostra uma sociedade marcada pelo consumismo exacerbado. O valor da mercadoria, ou seja, dos bens de consumo, ultrapassa o

valor humano. O consumo desenfreado por produtos, que se tornam descartáveis rapidamente, conservam a ideia alienante da necessidade da troca rápida desses produtos para acompanhar a revolução tecnológica e manter o ciclo do consumo capitalista presente na sociedade contemporânea.

O trabalho vivo tem de apoderar-se dessas coisas, de arrancá-las de sua inércia, de transformá-las de valores-de-uso possíveis em valores-de-uso reais e efetivos. O trabalho, com sua chama, e de acordo com a finalidade que o move lhes empresta vida para cumprirem suas funções; elas são consumidas, mas com um propósito que se torna elementos constitutivos de novos valores-de-uso, de novos produtos que podem servir ao consumo individual como meios de subsistência ou de novo processo de trabalho como meios de produção. (MARX, 1984, p. 208).

Os trabalhadores, na lógica capitalista, precisam trabalhar cada vez mais, para ter acesso a esses bens de consumo, essenciais para a sobrevivência, e/ou simplesmente pelo significado de tê-los por causa do fetiche da mercadoria. “(...) o trabalho na sociedade burguesa, cujo pressuposto é o reino mercantil, no qual se assenta a forma social da propriedade privada capitalista e a divisão do trabalho, (...)” (IAMAMOTO, 2007, p.417).

O trabalhador que não acompanha essa revolução tecnológica, de certa forma, também fica excluído do mercado de trabalho por falta de acesso às informações que permitem desenvolver as atividades laborais exigidas pelo empregador. O tempo gasto para a realização do trabalho é controlado. O trabalhador

(...) entrega ao empregador o seu valor de uso: o direito de consumo dessa força de trabalho durante um período determinado de tempo, equivalente a uma dada jornada de trabalho, (...) ou seja, durante o período que trabalha, sua atividade é socialmente apropriada por outro: o sujeito que trabalha não tem o direito de estabelecer suas prioridades (...). (IAMAMOTO, 2007, p. 422).

Ao não exercer suas prioridades, anula-se a si mesmo, perde sua autonomia nas escolhas essenciais e não se apropria de seu trabalho.

Além da esfera laboral, onde o trabalhador fica boa parte do seu tempo, observa-se que também está sujeito a ficar mais horas, além de sua jornada habitual de trabalho, ligado ao seu empregador e ao seu trabalho, ou seja, mesmo após o fim de sua jornada habitual, em alguns contextos de trabalho, o empregador utiliza-se de recursos virtuais para demandar mais trabalho, e assim continua a trabalhar, mantendo as preocupações no tempo fora do trabalho.

Desta forma, o trabalho invade as outras esferas da vida cotidiana. Confirma-se essa passagem na fala da Professora - 5, que cita a invasão do seu cotidiano doméstico pelo trabalho.

(...) eu tenho parentes que até podem testemunhar. Quantas mil vezes chegava visita em casa de sábado à tarde, minhas primas, e eu estava sentada na sala de jantar, toda esparramada, preparando material, pesquisando livros e no tempo não tinha Internet, computador, informática na escola, isso é recente, então, elas chegavam em casa, e falavam: “Onde está a fulana?”. Pode ir à cozinha que ela está fazendo serviço da escola. (Professora – 5, depoimento colhido em outubro de 2012).

É muito comum, principalmente professores de ensino infantil, narrarem circunstâncias de trabalho no domicílio, quase que semanalmente. Além do planejamento das aulas, existem demandas de preparar material para eventos comemorativos, que ocorrem tradicionalmente nas escolas.

O trabalhador, quando excede o tempo de trabalho para seu cotidiano doméstico, possivelmente acaba por não ter tempo hábil de se dedicar a outras atividades, ou seja, suas prioridades de ser social. “Verifica-se, pois, uma tensão entre o trabalho controlado e submetido ao poder do empregador, (...) e a relativa autonomia” (IAMAMOTO, 2007, p.424). Essa relativa autonomia é evidenciada a partir do momento em que o trabalhador está condicionado a cumprir todas as tarefas dentro dos horários impostos por seu empregador, incluindo os prazos e metas a cumprir, sem fazer suas próprias escolhas, “(...) visto que o trabalho é atividade de um sujeito vivo. Enquanto gasto vital, é um movimento criador do sujeito -, que, no contexto de alienação, metamorfoseia-se no seu contrário, ao subjugar seu próprio criador à condição de criatura.” (IAMAMOTO, 2007, p. 429).

Ao se sentir subjugado, o trabalhador não se vê sujeito de suas ações e acaba automatizando suas atividades. Com o passar do tempo, vai se naturalizando com essa rotina e não consegue ter a percepção da dimensão de seu trabalho. Configura-se, assim, a tendência da individualização, não se vendo como parte do gênero. “Porque eu estava num ponto que

não tinha mais sentido o trabalho para mim, eu queria pedir demissão, eu queria não fazer nada, (...) trabalho tinha perdido o sentido.” (Professora – 10, depoimento colhido em outubro de 2012)

Antunes (2010, p. 24) completa: “Direitos e conquistas históricas dos trabalhadores são substituídos e eliminados do mundo de produção. (...), pelo envolvimento manipulatório, próprio da sociabilidade moldada contemporaneamente pelo sistema produtor de mercadorias.”

Algumas correntes apontam para o fim do trabalho. A tese do autor Antunes (2010) utilizada como referência, não aponta para o fim do trabalho “(...) mas a de uma fragmentação e de heterogeneização do mundo do trabalho e, por consequência, dos trabalhadores" (BIHR, 2010, p.12).

Antunes (2010, p. 14) explica que “(...) a unidade entre os fragmentos esparsos de uma classe mundial de trabalhadores separados pela geografia e também pela história, haja vista a heterogeneidade das tradições étnicas, civilizacionais, religiosas, nacionais, políticas (...)”.

A configuração do mundo do trabalho contemporânea interfere nas dimensões mais subjetivas do cidadão, trazendo novas sociabilidades. No pensamento de Antunes (2010), a possibilidade de emancipação do e pelo trabalho é um ponto de partida decisivo para a busca da omnilateralidade humana. Esse conceito indica uma formação humana oposta à formação unilateral, gerada pelo trabalho, termo que ele usa para designar as barreiras sociais que se dão pelo estranhamento do trabalho, ou seja, a alienação presente nessa classe trabalhadora, que se encontra cada vez mais fragmentada e heterogeneizada.

Nas narrativas das trabalhadoras, verifica-se a fragmentação e heterogeneização da classe: O colega do trabalho, antes eu falava amigo do trabalho, mas não é. É colega de

trabalho. Mas, o mínimo, do colega de trabalho, deveria ser mais humano, devia ser mais humanizado o trabalho. (Monitora – 14, depoimento colhido em outubro de 2012). A fala expressa como são as relações no serviço público, o individualismo presente no dia a dia.

Eu não estava sabendo de nada do que estava acontecendo, foi assim: Vamos mudar de lugar. E daí fica um jogo de empurra-empurra, sabe, ninguém assume, ninguém admite nada e como eu estou sempre acostumada que a corda arrebenta do lado mais fraco, eu não discuto. (Merendeira – 16, depoimento colhido em outubro de 2012).

A falta de solidariedade entre os trabalhadores, expressão do sistema capitalista que fomenta a competividade e o individualismo no mundo do trabalho, do mesmo modo, reflete- se também no serviço público. Para entender esse sentimento de sofrimento expresso em vários momentos das narrativas dos sujeitos pesquisados, faz-se necessária a interlocução de Sawaia (2006, p. 106) que conceitua:

(...) o sofrimento ético-político abrange as múltiplas afecções do corpo e da alma que mutilam a vida diferentes formas, Qualifica-se pela maneira como sou tratada e trato o outro na intersubjetividade, face a face ou anônima, cuja dinâmica, conteúdo e qualidade são determinados pela organização social. Portanto, o sofrimento ético- político retrata a vivência cotidiana das questões sociais dominantes em cada época

histórica, especialmente a dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade. Ele revela a tonalidade ética da vivência social cotidiana da desigualdade social, da negação imposta socialmente às possibilidades da maioria apropriar-se da produção material, cultural e social de sua época, de se movimentar no espaço público e de expressar desejo e afeto.

Destaca-se, então, o segmento quando Sawaia (2006, p. 106) refere: “(...) a dor que surge da situação social de ser tratado como inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade”. O sentir-se inútil é termo de grande relevância, nas falas dos sujeitos entrevistados. Sabe, começaram a reclamar e a implicar comigo, porque eu fazia para ela, eu

que ajudava, é tipo assim, alguma coisa eu tinha que fazer, porque ficar parada o dia todo. (Merendeira – 16, depoimento colhido em outubro de 2012). Essa fala mostra uma situação em que a merendeira não sabia o que fazer, não sabia a sua atribuição no local de trabalho, assim, a não aceitação de ficar parada por sentir-se inútil, fazia com que buscasse outros serviços e esse fato incomodava os demais funcionários, que viam como uma invasão de seus espaços de trabalho. Parece que meu erro é esse, porque eu tenho tantos anos de casa. Eu

posso não trabalhar, não dar satisfação a ninguém. Sabe, ninguém está nem aí comigo. Eu também não estou nem aí. (Merendeira – 16, depoimento colhido em outubro de 2012)

Foi evidenciada também a questão de sentir-se sem valor, pelo fato de ficar em casa não fazer diferença no local de trabalho. Outro sujeito completa essa ideia revelando seu sentimento.

Às vezes, assim, a chefia fazia algumas coisas que eu não concordava, mas dizia que fazia porque era cobrada. Eu não faço isso porque eu concordo não, faço isso porque é bom, porque é positivo para a escola. É fazer por fazer. Então, isso é uma opressão, que depois de um certo tempo você não aguenta mais, não cria uma autonomia, não cria uma identidade como professor. Então, você não tem uma liberdade para criar alguma coisa. E recursos na prefeitura, eu vivenciei, tinha bastante, tinha formação também. Só que formação conforme o olhar do gestor e não conforme o olhar do professor. Nunca ninguém perguntou, pelo menos para mim, que tipo de curso eu queria fazer. Simplesmente vinha uma relação de cursos, e aí você vai fazer esse e esse, então, às vezes, ele tinha função, e às vezes era só para cumprir uma obrigação. (Professora – 10, depoimento colhido em outubro de 2012).

A partir da desapropriação de seu trabalho e o enfraquecimento das possibilidades de se organizar para reivindicar as mudanças necessárias visando melhores condições de trabalho e de vida, acaba por entregar-se, “(...) impregnando a totalidade de seu ser: capacidades, emoções, ritmos do corpo, pensamentos e valores” (IAMAMOTO, 2007, p.429). Assim,

(...) a reprodução das relações sociais é a reprodução de determinado modo de vida, do cotidiano, de valores, de práticas culturais e políticas e do modo como se produzem as ideias nessa sociedade. Ideias que se expressam em práticas sociais, políticas, culturais, padrões de comportamento e que acabam por permear toda a trama de relações da sociedade. (YAZBEK, 2009, p. 3).

Dessa forma, na totalidade das relações sociais, apontam as relações de trabalho com novas configurações e formas, que podem levar ao adoecimento do trabalhador. Em uma conjuntura que o deixa vulnerável, por causa de processos de terceirização, precarização, intensificação e desregulamentação de direitos do trabalho.

Quando o trabalhador não vê sentido em seu trabalho, sente-se inútil, eu me sentia

como um grão de areia, insignificante (Professora – 5, depoimento colhido em outubro de 2012), e, ao mesmo tempo, pressionado a cumprir suas tarefas, tem que continuar, por necessidades de trocar sua força de trabalho pelos bens materiais necessários à sobrevivência. Mesmo não sendo considerado na sua complexidade humana, resiste em manter-se trabalhando; como instrumento no processo de produção capitalista, percorre os caminhos para o limite de seu desgaste mental.

Numerosas situações examinadas com referência à dominação em suas ligações com o desgaste mental expressam aspectos das relações sociais de produção que também sofreram transformações históricas, da escravidão aos nossos dias. (SELIGMANN- SILVA, 2011, p. 162).

Então, o trabalho abstrato é motivo de sofrimento? Sob o capitalismo, assume a forma de atividade alienada. Em contraponto, o trabalho concreto cria valores de uso e, nesse sentido, pode ser libertador. Para Silva (2012, p. 65), “mesmo que se parta da concepção de que o servidor público não desenvolve trabalho produtivo, considera-se que também o processo em que está envolvido o desempenho de suas atividades produz alienação, (...)”.

Entretanto, na sociedade capitalista, não é possível um trabalho totalmente concreto, por ser uma sociedade baseada na mercantilização. O trabalho fundamental, para a realização humana, para ser concebido dessa forma, deve envolver a construção de novas sociabilidades pautadas no acesso a direitos sociais e na construção de uma sociedade guiada pela ética e liberdade.

Para tanto, o capital depende do trabalho concreto e do abstrato, para manter o sistema reprodutor de mercadorias e o homem depende do trabalho, que o constitui em um ser social, onde coloca, ou não, a verdadeira teleologia, prevendo formas de transformação da natureza, “(...) o sofrimento pela consciência do como a lógica excludente (a qualidade das formas de

produção e distribuição da riqueza e dos direitos humanos) opera no plano do sujeito e é amparada pela subjetividade assim constituída” (SAWAIA, 2006, p.107).

Para entender como é realizado o trabalho e as particularidades de cada cargo dentro do serviço público, agrupam-se os sujeitos da pesquisa qualitativa, para uma análise, por cargo que exerciam antes da participação no processo de reabilitação.

Nos Quadros 6, 7 e 8, os sujeitos grifados evidenciam quais participaram do grupo focal, que teve o intuito de captar os significados das questões emergentes durante as entrevistas. A discussão em grupo torna-se uma referência fundamental para a comprovação de nossa hipótese e discussão da categoria identidade, que será apresentada no próximo capítulo.

Observou-se que, dentre os nove sujeitos da pesquisa qualitativa, apenas cinco aceitaram participar do grupo focal, entre eles: três professoras, uma monitora e uma merendeira. As professoras apresentaram receptividade com o convite, possivelmente por pertencer a uma categoria profissional historicamente ligada a movimentos de lutas por melhores condições de trabalho. Ao serem convidadas para o grupo, o relacionaram como uma possibilidade de participar de um momento de reflexão sobre as condições de trabalho do professor. Já as monitoras e merendeiras, ao serem convidadas para o grupo, demonstraram certa preocupação em expor suas histórias ao grupo.

Para melhor entendimento, retomamos a questão da metodologia da pesquisa, ao observar, nos Quadros 6, 7 e 8, os três cargos distintos dos sujeitos de pesquisa que participaram da história oral: merendeiro, monitor de CEC e professor de Educação Infantil, como evidencia o Gráfico 2, uma vez que a escolha partiu do levantamento quantitativo do universo de 82 servidores, que indicou os três cargos como os que representaram a maior incidência de adoecimento, o que levou à reabilitação no período pesquisado. Verificou-se que todos os sujeitos eram de origem da Secretaria Municipal da Educação, a maior, em número de trabalhadores que foram reabilitados da Prefeitura de Piracicaba.

No Gráfico 2, aponta-se maior incidência de reabilitações na área da Educação, nos cargos de merendeiro, professor de ensino infantil e fundamental (Educação Infantil - creches e pré-escolas e nos quatro primeiros anos do Ensino Fundamental) e monitor de CEC (creches e pré-escolas).

Gráfico 2 – Número de trabalhadores que concluíram o processo de reabilitação por cargo de origem no período entre 2006 a 2011

Fonte: Programa de Reabilitação Profissional – maio de 2012

Destaca-se que o estudo das atividades inerentes aos cargos, pelas falas dos sujeitos, foi de supra importância para entender o processo que levou à reabilitação, por isso, ao identificar os sujeitos da pesquisa, utilizou-se o nome do cargo de origem mais o número de anos de serviço público, no momento em que foram indicados para reabilitação, no sentido de