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CAPÍTULO I – TRAÇANDO UM CAMINHO

1.1 Local da Pesquisa e Características do Serviço Público

A Prefeitura do Município de Piracicaba presta serviços para toda a população e a gestão é realizada por 17 secretarias e três autarquias. Segundo dados do IPPLAP (2012), a prefeitura contém, em seu quadro, 6.691 servidores públicos, conforme o levantamento realizado em 2011, que estão exercendo suas funções nos diversos equipamentos públicos que compõem cada secretaria municipal.

Figura 6 – Prefeitura de Piracicaba - Edifício onde se localiza a Secretaria Municipal de Administração

Fonte: Disponível em: <http://www.selam.piracicaba.sp.gov.br/site/sobre-a-selam/140-endereco.html>. Acesso em: jan. 2012

Conforme a área de atuação e as especificidades do setor público, existe diversidade de funções e sabe-se que as atividades realizadas pelo trabalhador possuem características peculiares que as relacionam a uma menor ou maior possibilidade de adoecimento.

A configuração do trabalho, como as tarefas, metas, atividades, o tempo de trabalho, ambiente, a gestão, entre outros fatores, provocam o desgaste desses trabalhadores, seja no aspecto físico e/ou mental, tornando-os sujeitos a adoecer e a passar por um processo de reabilitação profissional.

Dentro do universo dos 6.691 servidores municipais, 82 concluíram seus processos de reabilitação no período de 2006 a 2011. Para compor esse dado, considerou-se a movimentação do trabalho da reabilitação, que recebe servidores encaminhados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no caso, os servidores sob o regime de trabalho da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e pelos próprios serviços da prefeitura, por meio da Junta Médica Oficial e/ou pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e

Medicina do Trabalho (SESMT), no caso, os servidores de regime de trabalho estatutário. Ambos os encaminhamentos ao processo de reabilitação ocorrem por indicação médica.

Neste dado, consideram-se apenas os servidores que foram reabilitados, e não se consideram as adaptações, ou seja, não foram considerados os casos em que, após a conclusão da reabilitação profissional, o servidor continuou a exercer o seu cargo de origem com restrições no desempenho de algumas atividades.

Observam-se duas definições essenciais, para entender o estudo proposto: O que são reabilitação e adaptação para o serviço público municipal. Considera-se adaptação quando o trabalhador continua a exercer sua função, com algumas restrições, ou seja, continua na mesma função, porém, podem ocorrer alguns fatores, como a modificação de algumas atividades, do ambiente, dos equipamentos, entre outros específicos da necessidade advinda do processo de adoecimento. A segunda definição é a reabilitação profissional, que ocorre quando o trabalhador deixa de exercer a sua função e passa a ter uma função diferente do seu cargo de origem9, conforme sua nova condição de saúde.

Todavia, não foi possível considerar o número das adaptações para a pesquisa, tendo em vista ser um dado que não foi alcançado para quantificar, devido à dinâmica em que são realizadas na prefeitura - podem ser temporárias e/ou permanentes -, e não necessariamente o SESMT, como setor responsável pelo serviço, tem o controle preciso desse número (consulta ao setor SESMT em junho de 2012).

No cotidiano de trabalho, os médicos do SESMT costumam emitir ofícios diretamente para as chefias e/ou gestores municipais, para indicar a adaptação. Também ocorre da própria chefia, muitas vezes, afastar o funcionário temporariamente da função, até que apresente melhoras na situação de saúde.

Conforme a apreensão desses procedimentos pela pesquisadora, como profissional do setor, observa-se que os casos ocorrem muitas vezes devido ao adoecimento temporário, como pequenas cirurgias, gestações de risco, entre outras situações que prejudicam temporariamente a execução das atividades rotineiras do trabalhador. Deste modo, designam- se as adaptações, que podem ser temporárias, a critério da indicação médica.

9 Considera-se cargo de origem, no presente estudo, o cargo para o qual o trabalhador foi contratado para exercer inicialmente no serviço público municipal, mediante edital de contratação por concurso público.

Também ocorre que algumas adaptações se tornam permanentes e, em outros casos, em que o trabalhador não consegue se adaptar, é indicada nova avaliação médica e assim pode ocorrer o pedido de reabilitação profissional.

Há, ainda, que analisar, a partir dos dados quantitativos, os aspectos funcionais dos servidores que concluíram o processo de reabilitação no período de 2006 a 2011. Esses dados foram organizados em planilhas e classificados em tabelas e gráficos que serão tratados no decorrer dos capítulos.

Na análise da Tabela 5, nota-se que a maior porcentagem de reabilitados (0,484%), ocorreu no ano de 2009. Talvez seja porque, nesse ano, foi encaminhado, pela Secretaria Municipal de Administração, um grupo de servidores, para o serviço de perícias médicas, o qual verificou a necessidade de reabilitação profissional.

Tabela 5 – Número anual de trabalhadores que terminaram o processo de reabilitação em relação ao total dos trabalhadores do serviço público municipal

Ano Número de trabalhadores que concluíram o processo de reabilitação Número de trabalhadores do serviço público municipal Porcentagem (%) 2006 5 4.834 0,103 2007 11 5.009 0,219 2008 11 4.828 0,227 2009 26 5.370 0,484 2010 14 5.269 0,265 2011 15 6.691 0,224

Fonte: Cruzamento de dados do Programa de Reabilitação Profissional – maio 2012 e dados do IPPLAP - 2012 - Prefeitura de Piracicaba

No ano de 2009, o serviço de reabilitação profissional obtém visibilidade externa, ao ganhar o prêmio de reabilitação profissional dado pelo Centro Brasileiro de Segurança e Saúde Industrial (CBSSI).10 A notoriedade do programa tornou-o referência para diversas

10 O programa de reabilitação da Prefeitura de Piracicaba foi reconhecido por um prêmio nacional como a Melhor Prática em Reabilitação Funcional, concedido pelo CBSSI, em 2009. A pesquisadora é membro da equipe ganhadora do prêmio. No Anexo A consta o documento procedente da premiação.

práticas em reabilitação, fato evidenciado pela procura, por parte das prefeituras, como referência de experiência da equipe para implantar projetos pilotos na área.

Na Tabela 6, verifica-se, na análise do número de servidores que foram reabilitados, por secretaria, que há maior incidência de reabilitação na Secretaria Municipal de Educação, com 78% dos trabalhadores que passaram pelo processo.

Tabela 6 – Número de trabalhadores que passaram pelo processo de reabilitação, por secretaria/área Secretarias/Áreas Número de trabalhadores que concluíram a reabilitação Porcentagem (%)

Administração 1 1,25% Agricultura 2 2,3% Educação 65 78% Guarda 1 1,25% Obras 1 1,25% Meio Ambiente 1 1,25% Saúde 7 9% Trânsito 2 2,3% Trânsito Interno 2 2,3%

Fonte: Programa de Reabilitação Profissional – maio 2012

A Tabela 6 refere-se às áreas de origem dos trabalhadores reabilitados, ou seja, considerando o tipo de trabalho que realizavam nas secretarias em que atuavam antes de ser indicada a reabilitação profissional.

Nota-se que não foram mencionadas algumas áreas de trabalho existentes nos serviços da prefeitura por não ter sido identificada nenhuma reabilitação profissional, no período analisado, direcionada aos servidores que ali trabalhavam.

Não foram mencionadas as áreas de desenvolvimento econômico, desenvolvimento social, finanças, turismo, lazer e esporte, governo, procuradoria-geral e trabalho e renda. Chama-se a atenção para este fato, por nos remeter a considerar que nessas áreas não ocorreu nenhum adoecimento e/ou acidente de trabalho que tivesse levado ao processo de reabilitação profissional.

O serviço de reabilitação profissional, a partir de 2006, passa a ser desenvolvido por uma equipe técnica profissional composta por médico, psicólogo, assistente social, pedagogo e técnico de Segurança do Trabalho, com atividades no Serviço Municipal de Perícias Médicas (Sempem), que é responsável pela coordenação do Programa de Reabilitação Profissional (PRP) e também oferece serviços, como a Perícia Médica Municipal, vinculados a procedimentos em servidores municipais que dão entrada em licenças médicas. A Junta Médica Oficial é composta por três médicos, que avaliam casos de invalidez. O setor também é responsável pelo controle de afastamentos médicos e fornecimento de medicação aos servidores municipais, mediante triagem social. Também existe o serviço de empréstimos de equipamentos médicos, para servidores e seus dependentes.

Anteriormente, o trabalho de reabilitação da prefeitura era realizado de forma rápida, se comparada à forma atual, pois o médico emitia um oficio, o técnico de Segurança do Trabalho verificava o local e a assistente social avisava a chefia e o funcionário.

Há poucos registros anteriores a 2006, nos prontuários. O conhecimento obtido pela pesquisadora, anterior a essa data, revelou-se pelas falas dos próprios trabalhadores, que passaram pela perícia médica na época e buscaram novamente o setor para reavaliação médica, por não terem definidas suas atividades e, conforme mudaram suas chefias, foram colocados novamente para exercer a antiga função, pois não possuem um documento oficial que assegure suas atividades atuais, diferente de como ocorre nos dias de hoje, em que as atividades são publicadas em Diário Oficial e ratificadas pela Junta Médica Oficial do município ficando anexadas em prontuários médico e funcional, tendo cada servidor e sua chefia uma cópia do documento, no qual constam as atividades e a função designadas pelo processo de reabilitação.

O Sempem é o local onde os servidores públicos municipais precisam entregar atestados médicos e exames complementares, quando necessitam solicitar licença médica para afastamento do trabalho. Devem apresentar a documentação e, posteriormente, passar pela perícia médica municipal, onde obtém informações quanto ao auxílio-doença ser deferido ou não.

No entanto, os funcionários públicos contratados pelo regime de trabalho baseado na legislação trabalhista CLT, seguem as normativas do INSS, segundo a qual, após 15 dias de afastamento médico, é necessário também dar entrada na licença-médica, pois se trata do “Benefício concedido ao segurado impedido de trabalhar por doença ou acidente por mais de

15 dias consecutivos” (INSS, 2013). A entrada é realizada junto ao INSS, assim, para continuar a receber o beneficio de auxílio-doença é necessário também submeter-se a perícia médica da previdência social.

Apesar do recebimento do benefício de auxílio-doença ser garantido por lei, em algumas ocasiões, nota-se que pode haver atraso desse recebimento, muitas vezes relacionado à burocracia de papéis exigida para dar entrada no benefício. Como confirma o acontecido com a Merendeira – 7, que ficou um período sem receber o benefício auxílio-doença.

Até hoje eu tenho dor. Porque é um problema crônico, que não tem cura e eu vou falar a verdade para você. Eu não vou ao médico, porque eu sou celetista e se ficar afastada, fico sem receber. Aquela vez, eu fiquei quatro meses sem receber nada. Meu marido trabalha por conta, nossa, ficou tudo com juros, no banco, para conseguir pagar, foi uma dificuldade muito grande. (Merendeira - 7, depoimento colhido em outubro de 2012).

É importante lembrar que os serviços de perícia médica representam muita tensão, para os trabalhadores locais, por envolver decisões que afetam diretamente a vida de cada um, a concessão ou não da licença-médica, a possibilidade de adaptação, reabilitação profissional ou até mesmo a aposentadoria por invalidez, essas questões são decididas pelo perito médico e, em alguns casos, pela Junta Médica Oficial. O perito médico exerce o papel central, nessa decisão, considerando que a “Perícia Médica é ato médico específico (...)” (MOTTA, 2011, p. 28).

Na verdade, parte da história começou com um ato médico; a reabilitação é vista como um ato médico. Mas é muito mais do que isso. O ato médico é apenas o início do percurso, mas, para quebrar isso, é difícil, a área de humanas não é valorizada por outras áreas. Dificilmente o médico consegue passar para a área humana. Tem alguns que já estão começando com um olhar mais humano, tudo é uma história de percurso, para quebrar a questão, que sempre foi assim, influencia a consciência e a história do profissional. (Professora - 10, depoimento colhido através do grupo focal, em março de 2013).

A Professora – 10 mostra seu ponto de vista em relação ao papel do perito médico, relatando a importância de um atendimento mais humanizado, pelos peritos, e também nos remete a refletir que as demais áreas, como a psicologia e o serviço social, poderiam integrar o serviço de perícia, no sentido de acolher os trabalhadores desde o início do processo de adoecimento. Conhecer suas histórias, levantar as possibilidades que auxiliariam na prevenção dos agravos das situações de saúde.

O dia a dia na perícia médica é bastante exaustivo. Em apenas um contato, um atendimento, o médico define um posicionamento, toma as decisões e emite seu parecer, e chama o próximo atendimento. São minutos que decidem a trajetória de anos de serviço. Verificam-se nos corredores que levam à saída do setor, servidores ainda tentando entender o que ocorreu durante a perícia médica.

Nem sempre o resultado satisfaz a perspectiva do trabalhador. Muitas vezes é negada, sua licença médica, por simplesmente não ter preenchido algum item do requerimento de solicitação e/ou mesmo do atestado médico. Qualquer item que não esteja dentro dos quesitos que atendam aos procedimentos normativos da perícia pode ser um subsídio para a negativa do perito. Portanto, Falta o olhar humano do médico. (Merendeira -16). A experiência da merendeira – 16 ajuda a entender as dificuldades encontradas pelos trabalhadores no serviço de perícia médica.

Eu desisti de procurar médico. Eu desisti de me afastar, porque é muito humilhante entrar com um atestado nessa prefeitura, não vale a pena. Eu estou mal, muito mal mesmo, (...) não é porque eu não faço nada que dói, de qualquer forma dói. Eu tenho rompimento de tendão, tudo isso tem causado dor. Eu tenho que vir a pé do terminal até aqui, diariamente, porque não tem ônibus. É difícil e é doído. Eu sei que não adianta ir ao médico e pegar um atestado de 10 ou 15 dias e daí tem que voltar depois. Além da humilhação que eu vou passar lá, talvez não me conceda a licença e vou ter que continuar e voltar. É muito mais viável quem está em minhas condições aposentar de vez. (Merendeira – 16, depoimento colhido em outubro de 2012).

A readaptação é regulamentada pela Lei municipal 1.972, de 7 de novembro de 1972, título V, seção III. Em 2005, foi criado o PRP, cujo compromisso é manter a inserção social do servidor municipal em sua plenitude, caso surja algum impedimento físico ou mental, que requeira ação preventiva do processo de adoecimento, em caráter inerente ao próprio trabalhador e aqueles decorrentes de condição específica do próprio trabalho exercido.

Na Prefeitura de Piracicaba, utiliza-se o termo readaptação, porém é importante observar que, em alguns lugares, como no INSS, é utilizado também o termo reabilitação, trata-se de um termo mais amplo, podendo envolver fatores como tratamentos específicos, colocação de órteses e próteses, segundo a Lei 8.213/1991.

A reabilitação profissional compreende: (...) fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação e reabilitação social e profissional. (BRASIL, Lei 8.213, 1991).

O programa realizado na Previdência Social tem o mesmo objetivo, ou seja, possibilitar o retorno ao mercado de trabalho dos trabalhadores incapacitados por doença ou acidente de trabalho. Segundo Takahashi (2010, p.101), “A prática de reabilitação é historicamente ligada aos sistemas previdenciários como resposta pública à questão da incapacidade (...)”.

No Brasil, a reabilitação está ligada à Previdência Social, desde a inserção das primeiras práticas nesta área, como uma função social designada pelo INSS, como proteção social, em busca da recolocação do trabalhador segurado no mercado de trabalho. Esse ato nos remete a refletir sobre a questão econômica, uma vez que a Previdência Social, a partir da reabilitação, deixa de arcar com os custos desse segurado, ao não pagar benefícios como os auxílios doença, acidentário e/ou aposentadoria por invalidez; assim, o trabalhador, ao retornar às suas atividades normais, retoma o pagamento da contribuição providenciará e seu rendimento passa a ser pago por seu empregador.

A lógica no serviço público não difere, e os servidores estatutários terão que receber do órgão responsável pela previdência própria, no caso de Piracicaba, um instituto autônomo denominado Instituto de Previdência e Assistência Social (Ipasp), que arca com a aposentadoria e as pensões a funcionários estatutários e os demais benefícios, como os auxílios doença, acidentário, entre outros, geridos diretamente pelos recursos públicos municipais.

O conceito de reabilitação e/ou readaptação profissional é usado no mesmo sentido, durante o trabalho na reabilitação, pela equipe multiprofissional, os quais contribuem na tomada de decisões com intervenções apropriadas nas relações sociais e no ambiente de trabalho. Segundo Motta (2011, p. 96), médico coordenador do Programa da Readaptação Profissional da Prefeitura de Piracicaba,

A reabilitação pode incluir medidas para fornecer e/ou restaurar funções ou compensar a perda ou ausência de uma função ou limitação funcional. O processo de reabilitação inclui uma ampla gama de medidas e atividades, desde uma reabilitação mais básica e geral até atividades, voltadas para metas, como, por exemplo, reabilitação profissional.

Há controvérsias, entre as equipes de reabilitação, quanto ao uso de nomenclaturas. Na Previdência Social, a equipe de reabilitação utiliza-se, além da reabilitação, do termo habilitação, que não é utilizado com frequência nas práticas de reabilitação da equipe do

serviço público municipal. O INSS baseia-se na legislação, que dispõe, no art.89, da Lei 8.213/199111:

A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive. (BRASIL, Lei 8.213, 1991).

Há também consenso entre as equipes, ao concordar que a indicação para reabilitação profissional ocorre por motivo de doença, ou incapacidade uniprofissional, ou seja, uma única incapacidade, que o impede de continuar a exercer sua atual função, mas permanecem as possibilidades profissionais para exercer outras funções. Assim, indicar a reabilitação profissional significa a determinação médica de que o trabalhador não poderá continuar na sua função de origem, ou seja, deverá mudar suas atribuições habituais e substituir sua função, a fim de evitar novos agravos à sua saúde. Optou-se, no estudo, por utilizar o termo reabilitação, mais indicado ao contexto dos serviços, na área de saúde do trabalhador, presentes na sociedade contemporânea.

No serviço público, a reabilitação não envolve perda salarial, pois o servidor continuará recebendo o mesmo salário do cargo de origem para o qual foi contratado inicialmente por concurso público. Em alguns casos, pode envolver perda de benefícios inerentes ao local e à função exercida anteriormente à reabilitação, como, por exemplo, ambientes insalubres e/ou periculosos, e/ou abonos ligados a estar trabalhando em setor de saúde, como no caso específico da Prefeitura do Município de Piracicaba, em que os funcionários, dependendo do nível de escolaridade e função exercida, desde que trabalhem em unidade de saúde, têm direito a um abono desempenho que pode chegar até a 60% a mais no salário mensal.

Outro exemplo é dos professores que, ao deixar a sala de aula, perdem o direito de se aposentar com 25 anos de tempo de contribuição, benefício especifico para quem está desenvolvendo a função em sala de aula. Ao deixar a antiga função, podem ocorrer perdas no recebimento relativo a esses benefícios e/ou abonos provenientes do local de trabalho.

Nota-se que qualquer perda no valor do rendimento mensal do servidor público causa um impacto financeiro aos trabalhadores, por possuírem renda mensal no limite de suas

11 Lei 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.

despesas e quando necessitam realizar alguma despesa além da rotina doméstica habitual, recorrem a empréstimos consignados, que são oferecidos pelas instituições financeiras.

É habitual a incidência de empréstimos consignados para servidores públicos. Há um

marketing bancário descomedido em cima da oferta de empréstimos para servidores. Tais instituições financeiras motivam consumidores servidores públicos pela garantia do desconto da parcela em folha de pagamento, através do débito consignado, e a estabilidade de emprego, são fatores que garantem às instituições maior possibilidade de retorno financeiro ao investimento.

Essa questão foi apreendida, pela pesquisadora, em sua prática profissional, ao aproximar-se desse contexto na realização de levantamentos socioeconômicos dos servidores e prática confirmada pela fala dos sujeitos da pesquisa. Eu fico sem salário porque se sabe

90% do funcionalismo tem empréstimo. A maioria tem. Fazem para ajudar, mas não sei se ajuda não. E daí é uma bola de neve para sair e só por misericórdia. (Merendeira – 14).

No caso da impossibilidade de reabilitação e se for indicada a aposentadoria por invalidez, pode envolver perdas salariais, conforme a doença que levou à incapacidade, o tempo de serviço e de contribuição, ou seja, verifica-se a legislação previdenciária vigente.