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A LDB de 1996 e a falta de criatividade (neo)liberal

Art 96. O Conselho Federal de Educação e os conselhos estaduais de educação na esfera de suas respectivas competências, envidarão esforços

15.1. A LDB de 1996 e a falta de criatividade (neo)liberal

A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/1996), de um modo geral, não traz novidades consideráveis95 com relação às diretrizes liberais vigentes, de garantia apenas do mínimo, inclusive pelo modo como foi aprovada.

Depois de ser encaminhado o Projeto de Lei de autoria do Deputado Octávio Elisio em dezembro de 1988, a LDB passou pelo Substitutivo do Deputado Jorge Hage em 1990. Neste segundo momento, o Senador Darcy Ribeiro encaminhou um Projeto de Lei que começou a tramitar em paralelo no Senado Federal. Quando Darcy Ribeiro assumiu a Comissão de Constituição e Justiça, tratou de desqualificar o Projeto de Lei do Deputado Jorge Hage, abrindo caminho para que o seu projeto fosse aprovado na forma de Substitutivo Darcy Ribeiro.

A aprovação da LDB/1996 constitui-se dessa forma como mais um duro golpe dos setores dominantes. Trouxe, contudo uma preocupação importante ainda que modesta no Capítulo IV – Da Educação Superior:

Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:

I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional;

II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado;

III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.

95 Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. (BRASIL, Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

(BRASIL, Lei n ° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, grifos nossos) E ainda no Título VI, dos Profissionais da Educação prevê;

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far- se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, grifos nossos).

Tal dispositivo gerou uma grande procura por cursos de licenciatura, constituindo uma grande oportunidade para as instituições de ensino superior privadas ampliarem as suas vagas tendo-se em vista que durante o período de Fernando Henrique na Presidência do Brasil, além de não ter criado nenhuma instituição de ensino superior federal, o governo privatizou uma no Tocantins. A destinação dos recursos continuava seguindo a mesma lógica anteriormente assinalada. A LDB/1996 enfatizava que:

Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que:

I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;

II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;

III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades;

IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos.

§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede local.

§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive mediante bolsas de estudo. (BRASIL, Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

Aliás, com o Decreto n° 2.306, de 19 de agosto de 1997, Fernando Henrique não manteve a exigência de representação acadêmica no conselho fiscal das entidades

mantenedoras que se apresentam como não-lucrativas e nem manteve a exigência de publicação anual do balanço dessas entidades. Reduziu ainda o montante destinado à remuneração do corpo docente e técnico-administrativo, de dois terços para ao menos 60% da receita operacional das instituições sem fins lucrativos, deduzidas as reduções, os descontos ou bolsas de estudos concedidas e excetuando-se os gastos com pessoal, encargos e benefícios sociais dos hospitais universitários.

A Emenda Constitucional n° 19, de 4 de junho de 1998, de sua parte, destinada a modificar o regime e dispor sobre princípios e normas da Administração Pública, de servidores e agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo do Distrito Federal, traz uma “surpresa” naquilo que podemos entender como “outras providências”. Destacamos o Art. 24:

Art. 24. O art. 241 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 241 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.”(BRASIL, Constituição (1988). Emenda Constitucional n° 19, de 4 de junho de 1998, destaques nossos).

Os esforços articulados no sentido de tentar transferir o direito à educação da esfera dos direitos sociais para a categoria dos serviços públicos, diante de uma tal a autorização da “gestão associada de serviços públicos”, pode, conseqüentemente ser melhor entendida quando se considera o conjunto e a ação articulada das políticas em execução.

Por sua vez, a Gratificação de Estímulo à Docência no Magistério Superior (GED), Lei n° 9.678, de 3 de julho de 1998 foi responsável por atribuir remunerações variadas aos vencimentos dos docentes de acordo com um pontuação atribuída à carga docente exercida na graduação e à produção acadêmica, enfraquecendo uma possível unidade dos Docentes contra as medidas liberais destinadas ao Ensino Superior.

Mais tarde, o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei n° 10.172, aprovado em 9 de janeiro de 2001, evidenciaria, concretamente, a opção do governo para o setor, por meio dos nove vetos presidenciais que anulavam os subitens do Plano que promoviam alterações ou ampliavam recursos financeiros para a educação, pública, sendo que cinco deles se

referiam diretamente à educação superior (CATANI; OLIVEIRA, 2003, p. 144). Resumindo,

Quadro 5.

Panorama geral da arena política brasileira. Da CF/1988 à discussão do PNE/2001 1990 – Início do governo Collor caracterizado por um sentido anti-estatal e internacionalizante do país;

1991 – Collor sinaliza a desistência de constituir no país uma estrutura industrial ampla e integrada, convertendo o parque industrial sobrevivente numa parte especializada de um “sistema” industrial transnacional;

1994 – A OMC aprovou o AGCS, tendo por objetivo a liberalização do comércio de todo tipo de serviço;

1994 – Foi criada a DRU, que em 12 anos foi responsável por uma perda de R$ 72 bilhões no financiamento da educação pública;

1994 – A Lei n° 8.958, de 20 de dezembro, trata das polêmicas relações das universidades com as fundações privadas, ditas de “apoio”;

1995 – O Art. 171 da CF/1988 foi revogado. Previa proteção e benefício às empresas brasileiras que desenvolvessem atividades estratégicas para a defesa nacional ou imprescindíveis para o desenvolvimento do País;

1995 – O MARE tentou substituir uma expressão constitucional de autonomia de

gestão financeira por uma autonomia financeira do Ensino Superior;

1996 – A EC n° 14, de 12 de setembro, barrou os recursos necessários à expansão das universidades públicas;

1996 – A LDB/1996, de 20 de dezembro, estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional;

1997 – O Decreto n° 2.306, de 19 de agosto, não manteve a exigência de representação acadêmica no conselho fiscal das entidades mantenedoras não- lucrativas e nem a exigência de publicação anual do balanço dessas entidades. Reduziu a destinação à remuneração do corpo docente e técnico-administrativo; 1998 – A EC n° 19, de 4 de junho, modifica o Art. 241 da CF/1988 autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos;

1998 – A Lei n° 9.678, de 3 de julho, cria a GED, responsável por atribuir remunerações variadas aos docentes, de acordo com uma pontuação atribuída à carga docente exercida na graduação e à produção acadêmica;

1998 – O secretariado da OMC passa a defender que os governos aceitem o princípio de que a educação, e em particular, a educação superior, pode ser tratada como serviço comercial e deve ser regulamentada no quadro da OMC; 1999 – A OMC define explicitamente os serviços regulamentados pelo AGCS, incluindo a educação;

2000 – A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio, LRF, estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal;

2001 – O PNE, Lei n° 10.172, aprovado em 9 de janeiro, possui nove vetos presidenciais que anulam os subitens do Plano que promoviam alterações ou ampliavam recursos financeiros para a educação, pública, sendo que cinco deles se referiam diretamente à educação superior;

16. Capitulo XVI