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Art 96. O Conselho Federal de Educação e os conselhos estaduais de educação na esfera de suas respectivas competências, envidarão esforços

17.3. O ProUni entra na lógica

Por sua vez, o Programa Universidade para Todos (ProUni), a Lei n° 11.096, de 13 de janeiro de 2005, passou a destinar bolsas de estudo integrais e bolsas de estudos parciais

de 50% para estudantes de cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos, isso feito através de isenções fiscais.

Art. 8º A instituição que aderir ao Prouni ficará isenta dos seguintes impostos e contribuições no período de vigência do termo de adesão: I - Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas;

II - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, instituída pela Lei no 7.689, de 15 de dezembro de 1988;

III - Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social, instituída pela Lei Complementar no 70, de 30 de dezembro de 1991; e IV - Contribuição para o Programa de Integração Social, instituída pela Lei Complementar no 7, de 7 de setembro de 1970.

§ 1o A isenção de que trata o caput deste artigo recairá sobre o lucro nas hipóteses dos incisos I e II do caput deste artigo, e sobre a receita auferida, nas hipóteses dos incisos III e IV do caput deste artigo, decorrentes da realização de atividades de ensino superior, proveniente de cursos de graduação ou cursos seqüenciais de formação específica. (BRASIL, Lei n° 11.096, de 13 de janeiro de 2005).

Para fazer parte do Programa, as instituições ficariam obrigadas, segundo o Art. 7, a cumprir alguns compromissos como os relacionados ao previsto no § 4° de garantir qualidade dos cursos podendo ser desvinculado do ProUni o curso classificado como insuficiente por duas avaliações consecutivas, sem prejuízo do estudante já matriculado, segundo critérios de desempenho do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Entretanto, informações divulgadas pela mídia revelam que metade das faculdades reprovadas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) está no ProUni em troca de isenções de impostos por parte do governo102. Por enquanto, pelo que constatamos, a situação se mantém como antes, se não foi agravada.

De acordo com Bourdieu, numa demonstração da amplitude e da atualidade alcançada pelos processos tendentes a deslocar o monopólio de postos-chave, da política e da economia, a “abertura” operada nas instituições de ensino dependentes de recursos públicos como os apresentados pelo ProUni, do governo federal brasileiro poderia

102 PORTAL UOL. Metade das faculdades reprovadas no Enade está no Prouni. Disponível em: < http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/08/389507.shtml > Acesso: 12/2007. No ano de 2007, as isenções devem totalizar R$ 126 milhões. Cruzamento feito pelo jornal "O Estado de S. Paulo" mostrou que 462 dos 923 cursos com as notas mais baixas do exame estão oferecendo bolsas via ProUni para o segundo semestre letivo de 2007.

demonstrar que a garantia apenas de um mínimo educacional pode se tornar uma grande ilusão para a população de um modo geral quando há a necessidade de modificação profunda da situação:

É claro que não se pode fazer com que as crianças oriundas das famílias mais desprovidas econômica e culturalmente tenham acesso aos diferentes níveis do sistema escolar e, em particular, aos mais elevados, sem modificar profundamente o valor econômico e simbólico dos diplomas (sem que seja possível evitar que seus detentores corram um risco, ao menos aparente); mas é também claro que são os responsáveis diretos pelo fenômeno de desvalorização – que resulta da multiplicação dos diplomas e de seus detentores, ou seja, os recém-chegados – que são suas primeiras vítimas. (BOURDIEU, 1999, p. 221).

No Brasil é preciso considerar, sobretudo que o volume de pessoas que dependem do ensino público gratuito é relativamente alto e que a introdução do modo de funcionamento empresarial nas instituições de ensino compromete a qualidade da educação ministrada e distorce os objetivo e as finalidades das escolas. A questão seria despertar, em amplos setores da população, a consciência sobre seus interesses educacionais, de modo a incluir em seu horizonte intelectual médio, uma nova concepção de sua condição humana, de sua situação social e do seu futuro (FERNANDES, 1975).

A mudança da universidade, como observamos, está intimamente ligada a uma mudança da sociedade. Entretanto, o “significado” expresso nas mudanças gradualmente incorporadas demonstram o procedimento pelo qual o Ensino Superior é redefinido contemporaneamente, o que coincide com a sua adaptação às exigências do tempo histórico, ou seja, do abandono do perfil institucional em prol do perfil organizacional103, correndo o risco de reiterar os interesses hegemônicos de seu tempo, engendrando soluções conciliadoras por via de uma adaptação total, ao invés de criar as condições para que esses interesses e essa hegemonia sejam repensados como questões, e tornados temas relativos num espaço político institucional construído e mantido de acordo com o interesse fundamental da liberdade de reflexão como critério ético da liberdade da ação conseqüente.

103 A introdução do aspecto organizacional nas instituições públicas foi possível, segundo Chaui (1999), porque a forma atual do capitalismo se caracteriza pela fragmentação de todas as esferas da vida social. A sociedade aparece como uma rede móvel, instável, efêmera de organizações particulares definidas por estratégias particulares e programas particulares, competindo entre si. A passagem da universidade da condição de instituição a de organização insere-se nessa mudança geral da sociedade.

(SILVA, 2005).

Contemplando as exigências postas pelas mudanças necessárias ao abandono do perfil institucional de muitos setores da vida social, a Lei n° 11.107, de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos, subsidia a implantação do perfil organizacional de forma duvidosa, basta observar:

Art. 1° Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum e dá outras providências. § 1° O consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica de direito privado.

Art. 2°, [...] § 2° Os consórcios públicos poderão emitir documentos de cobrança e exercer atividades de arrecadação de tarifas e outros preços públicos pela prestação de serviços ou pelo uso ou outorga de uso de bens públicos por eles administrados ou, mediante autorização específica, pelo ente da Federação consorciado. [...]

§ 3° Os consórcios públicos poderão outorgar concessão, permissão ou autorização de obras ou serviços públicos mediante autorização prevista no contrato de consórcio público, que deverá indicar de forma específica o objeto da concessão, permissão ou autorização e as condições a que deverá atender, observada a legislação de normas gerais em vigor. (BRASIL, Lei n° 11.107, de 6 de abril de 2005).

A direção adotada é bastante clara. Sua seqüência, uma adaptação do Ensino Superior às exigências do tempo histórico pode ser confirmada pelo Decreto Presidencial n° 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que regulamenta o art. 80 da LDB de 1996. No seu Capítulo I – Disposições Gerais define a “educação”104 à distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. No atual contexto de expansão do Ensino Superior, o ensino a distância se apresenta como outra forma de ampliar as vagas sem os necessários recursos correspondentes:

Art. 9° O ato de credenciamento para a oferta de cursos e programas na modalidade a distância destina-se às instituições de ensino, públicas ou

104 Pode-se considerar a utilização do termo “educação” como inapropriada neste contexto tendo em vista que o conceito de educação refere-se a um processo social, amplo, enquanto que o conceito de ensino diz respeito à forma sistematizada de trabalho pedagógico na escola.

privadas.

Parágrafo único. As instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas, de comprovada excelência e de relevante produção em pesquisa, poderão solicitar credenciamento institucional, para a oferta de cursos ou programas a distância de: I – especialização; II – mestrado; III - doutorado; e IV - educação profissional tecnológica de pós- graduação. (BRASIL, Decreto Presidencial n° 5.622, de 19 de dezembro de 2005).

Sem a garantia de que o ensino à distância possa se constituir numa forma organizada de disponibilizar à sociedade as informações, os conhecimentos e as teorias que já compõem um acervo de saberes, patrimônio da humanidade – ou seja, o essencial para que todas as pessoas construam suas próprias visões de mundo e possam agir de forma crítica, influindo na história e na cultura da sociedade em que vivem –, o governo federal desconsidera a importância da interação dialógica existente nas escolas confundindo acúmulo de informações com conhecimento. (MINTO e FÉTIZON, 2007).

A preocupação governamental concentra-se isso sim na promoção da expansão estabelecida no PNE/2001 de forma que, até 2011, 30% dos jovens na faixa etária de 18 a 24 anos tenham acesso ao nível de Ensino Superior. O risco é o de que o ensino à distância seja adotado como uma das principais maneiras pelas quais ocorrerá essa ampliação, pois além de limitar o desenvolvimento de atividades educacionais, amplia o nicho de atividades empresarias relacionada com a educação. Trata-se dos softwares de propriedade particular, da venda de pacotes ou programas prontos para o ensino, de equipamentos importados, entre outros, adquiridos principalmente por meio de fundações de direito privado.