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Art 96. O Conselho Federal de Educação e os conselhos estaduais de educação na esfera de suas respectivas competências, envidarão esforços

16.2. Destinação dos fundos públicos

Como estamos observando, foram implantados novos mecanismos que atrasam as transformações realmente necessárias ao país, principalmente a partir dos governos Fernando Henrique através da LDB de 1996, da Lei de Responsabilidade Fiscal, dos vetos ao PNE de 2001, além do contingenciamento dos recursos de custeio e capital das Instituições Públicas de Ensino Superior, a desautorização do preenchimento, via concurso, das vagas de docentes e de funcionários etc., apontando que a questão central parece ser a luta pelo Fundo Público, pois, nos poderes executivo e legislativo há que se fazer uma opção a quem destinar os recursos públicos: financiar ações favoráveis à acumulação de capital ou que se orientam para a emancipação crescente do trabalho. (CATANI, 2004, p.160).

98 O ensino superior é apresentado como enfrentando “sérios problemas que se agravarão no caso de o Plano Nacional de Educação não estabelecer uma política que promova sua renovação e desenvolvimento”, dado uma demanda crescente de estudantes por educação superior.

Para Helena Sampaio (2000), essa luta pelo fundo público no setor educacional reflete a postura do MEC, revelando uma ambigüidade do próprio governo em sua interação com o setor do Ensino Superior privado, movendo-se entre o enrijecimento da aplicabilidade legal e modelar e a liberalização pautada nos estímulos de controle do e para o mercado. Tem um importante papel neste processo o CFE que desde a LDB de 1961 passou a deliberar sobre a abertura e o funcionamento de instituições de Ensino Superior, a partir de uma representatividade que incluía em pé de igualdade a escola pública e a privada no seu interior. Para Sampaio, a luta pelo Fundo Público seria resultado da organização dos novos agrupamentos de interesses no setor privado:

A partir de 1988, os vários segmentos do setor privado, confessionais e ou comunitários (laicos), não comunitários laicos, vêm mobilizando-se e organizando-se em novos grupos de interesses [...] No limite, o que essas novas associações estão pleiteando é acesso aos recursos públicos segundo o princípio constitucional de 1988. (SAMPAIO, 2000, p. 129). Segundo Chauí (1999), o fundo público define a esfera pública da economia de mercado socialmente regulada e as democracias representativas têm agido como num campo de lutas polarizado pela direção dada ao fundo público. Visto da perspectiva da luta política, há uma estratégia que procura decidir cortar o fundo público no pólo de financiamento dos bens e serviços que constituem os direitos sociais e maximizar o uso da riqueza pública nos investimentos exigidos pelo capital. Inegavelmente uma série de medidas voltadas aos temas da organização institucional (universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades e institutos superiores ou escolas superiores), da forma jurídica do setor privado, das relações com o mercado e Estado (dinâmica de abertura e fechamento de cursos e remanejamento de vagas), credenciamento e / ou descredenciamento de cursos, apontam que o setor privado do Ensino Superior conquistou vantagens consideráveis no período mencionado e o setor público perdeu.

No que diz respeito à falta de recursos, tomando como exemplo a situação enfrentada pelas IES públicas, o reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Nival Nunes de Almeida, por ocasião da introdução de um projeto de cotas que beneficiaria filhos de policiais, bombeiros e agentes penitenciários mortos em serviço, afirma que as

medidas não passariam de política eleitoral, segundo o Globo de 14 de agosto de 200799.

Segundo ele, o deputado Álvaro Lins, autor da lei que beneficia filhos de policiais e bombeiros, entrou em contato com a universidade, que mostrou que esse não era o melhor caminho, mas que o ideal seria fortalecer o ensino básico, permitindo, por exemplo, que a Faetec ofereça mais cursos profissionalizantes. Já quanto ao projeto de lei, o reitor lamenta que o autor do projeto, deputado Zito, não tenha procurado a Uerj (MEROLA, O Globo, de 14 de agosto de 2007).

Para o reitor da Uerj a lei é paliativa e a Assembléia Legislativa não estaria contemplando o orçamento da universidade, mas apenas fazendo leis mesmo sem entender como elas funcionam. A Uerj tinha ainda, segundo o reitor, um déficit anual de mais de R$ 20 milhões com o qual os deputados deveriam se preocupar. Tal é a situação que no dia 1° de outubro de 2007 um fogo destruiu completamente um andar do Pavilhão Reitor João Lyra Filho, o principal da Universidade. Segundo o Jornal do Brasil100, a universidade tinha mangueiras furadas, os extintores de incêndio não funcionavam e as saídas de emergência estavam fechadas por falta de verbas para a segurança, para a manutenção assim como para os investimentos.

Por outro lado, o setor privado tem experimentado uma financeirização responsável por movimentar bilhões de reais e até entidades financeiras estão começando a investir na área por meio de seus dirigentes. Segundo o Informativo da Adusp n° 244,

Em 1999, os ex-banqueiros Claudio Haddad (banco Garantia) e Paulo Guedes (banco Pactual) compraram a faculdade Ibmec, ao passo que o empresário Antoninho Marmo Trevisan associou-se ao Banco Fator para lançar a faculdade Trevisan. Em 2003, outro banco, Pátria Investimentos, comprou parte do capital do grupo Anhangüera [...] No final de 2005, foi a vez do Laureate, poderoso grupo educacional norte-americano, adquirir por R$ 165 milhões, o controle acionário das faculdades Anhembi- Morumbi. Negócio também articulado pelo Pátria, que em 2003 assumira a gestão financeira da Anhembi-Morumbi. A roda-viva continuou, em 2007, sempre envolvendo cifras elevadas. Primeiro, o grupo norte- americano Whitney comprou o controle acionário da Faculdade Jorge Amado, na Bahia (Valor Econômico, 26/7). A rede Anhangüera lançou ações na Bolsa de Valores em março, obtendo R$ 360 milhões (Época

99 MEROLA, Ediane. Reitor da Uerj: Nova cota é política eleitoral. Jornal O Globo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2007/08/14/297263650.asp> Acesso em 14 de agosto de 2007. 100 GRANDELLE, Renato. Fogo destrói seis andares do principal prédio da Uerj. Jornal do Brasil. 1 de outubro de 2007.

483). Depois foi a Estácio de Sá que abriu seu capital, arrecadando R$ 500 milhões (Exame, 8/8/07). As operações na Bolsa foram comandadas por dois bancos de investimentos rivais: o Credit Suisse (Anhangüera) e o UBS Pactual (Estácio). (INFORMATIVO ADUSP, n°244, de 17 de setembro de 2007, p.3)

Este é apenas um aspecto da reconfiguração mais recente do Ensino Superior. Outros contornos são encontrados agora no contexto do governo de Luis Inácio Lula da Silva (2003-2010) através de uma série de medidas como, por exemplo o Decreto n° 5205, de 14 de setembro de 2004, que visaria à regulamentação da Lei nº 8.958, de 20 de dezembro de 1994, que dispõe sobre as relações entre as instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações ditas de apoio. Na seqüência tem destaque também a Lei n° 10.973, de 2 de dezembro de 2004, que trata da inovação tecnológica e dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo; o Programa Universidade para Todos (ProUni), Lei n° 11.096, de 13 de janeiro de 2005; a Lei n° 11.107, de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos; enfim, a Reforma Universitária do Governo Lula começa a ganhar corpo.

17. Capítulo XVII