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2. A PARTICIPAÇÃO DO UTILIZADOR E A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NAS

2.2. A produção de conteúdo nas webrádios

2.2.1. A produção de conteúdo sonoro-verbal

2.2.1.1. A locução

Cyro César (2009, p.67) afirma que quando o radialista utiliza a palavra falada, ele deve ser ético, imparcial e justo em relação ao conteúdo que apresenta. O autor também sugere que o radialista mantenha uma possibilidade equilibrada e desenvolva o carisma pessoal.

Ao falar na radio, o radialista realiza diferentes tipos de locução para diferentes tipos de conteúdo. De acordo com Cyro César (2009, p.110 - 111),

“quando nós comunicamos pelo rádio, temos de desenvolver uma verbalização específica para a falta de imagem (...). Para cada tipo de conteúdo radiofônico devemos variar a evolução vocal. Como exemplo, podemos citar uma locução desconhecida para um programa para o público jovem ou uma locução mais formal para um público mais velho.”

Um dos atos mais comuns da prática da locução nas emissoras musicais é o ato de anunciar e ‘desanunciar’ canções. De acordo com Ferraretto (2013a, p.8),

“a prática de uma pessoa a anunciar e desanunciar músicas remonta aos primeiros momentos da rádio, quando, na impossibilidade de preencher toda a programação com atrações ao vivo, começa a se recorrer à veiculação de gravações fonográficas. À medida que, em função do surgimento da televisão, vai decaindo o espetáculo sonoro, este locutor a identificar canções passa a incorporar, cada vez mais, dentro do estúdio da rádio, a forma de animação dos apresentadores de auditório. Aos poucos, liberta-se do papel e ganha coloquialidade. Autentifica, assim, um diálogo, que, embora imaginário, se torna real para o ouvinte” 44.

O tipo de locução varia de acordo com o conteúdo que é apresentado. Por exemplo: um programa romântico tem uma locução mais suave condizente com o clima romântico que quer construir. Com o passar dos anos os radialistas desenvolveram diferentes tipos de locução, com diferentes tipos de técnicas, seja uma locução cheia de gírias para criar empatia com os jovens, uma locução sóbria para criar empatia com o público mais velho, uma locução coloquial para criar empatia com as classes mais populares ou uma locução grave ou sussurrada, utilizada em programas românticos.

44 Ferraretto (2013a, p.9) aponta que o provável pioneiro deste processo no Brasil foi José Abelardo Barbosa de Medeiros, mais conhecido por Chacrinha, em suas emissões do programa Cassino do Chacrinha, o qual era veiculado pela Rádio Clube Fluminense AM, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, por volta de 1942.

Cyro César (2009, p.117) engloba as principais locuções:

“Locução suave: nela a voz recebe inflexão concentrada nas notas graves da tessitura vocal. A pressão sonora é contida, pouco projetada, e o trabalho de impostação deve ser totalmente diafragmático. Locução jovem: a voz é modulada dentro de registros médios agudos com projeção sonora forte e velocidade e ritmo acelerados. Conforme a segmentação da emissora de rádio, cabe ou não a inflexão do sorriso. Locução coloquial: nesse formato, a interpretação é tudo. Cabem a figura do sorriso45, a da quebra de ritmo (de locução), a da variação modular da voz, todas ao mesmo tempo. O uso simultâneo dessas técnicas ó que dará naturalidade ao diálogo ou ao monólogo interpretado. Locução voice-over: nessa modalidade, o locutor usa a sua voz em documentários e matérias jornalísticas, sendo que o ritmo e a interpretação acompanham o tema em questão. Locução caricata: o locutor precisa de versatilidade e facilidade para imitar com perfeição a fala de políticos, humoristas, artistas ou até dos próprios colegas”.

No universo da webrádio os tipos de locução derivam dos tipos existentes nas emissões em radiodifusão, especialmente nas emissoras transpostas para a Internet, as quais simplesmente retransmitem o que emitem em ondas hertzianas. Levando isto em conta, podemos observar, como alerta Cyro César (2009, p.212-213), que há a locução em FM e a locução em AM. Ambas tem estilos que dependem da segmentação da emissora, mas, de modo geral, enquanto a locução em AM privilegia a palavra falada, tornando o locutor a peça principal da emissão, a locução em FM traz o locutor com um papel menor, mas não menos importante, pois a música tem um papel muito importante.

No quadro atual da rádio temos que

“no rádio musical, o animador de estúdio, antes de locução grave e até empolada, dá lugar ao disc-jóquei ou DJ, agitando ou não, mas sempre optando por uma coloquialidade próxima à dos antigos apresentadores de programas de auditório. Ao falar para o jovem, coloca-se como uma espécie de irmão ou amigo mais velho a orientar gostos e comportamentos. Pelo lado do jornalismo, deixa de ser apenas uma voz a ler notícias ou a fazer perguntas, transformando-se em âncora, alguém a conduzir, com personalidade própria, o programa e a garantir uma determinada linha editorial” (Ferraretto, 2013a, p.10).

Uma das consequências do ato da locução é a geração da empatia do ouvinte pelo emissor. Kaplún (2008, p. 89) afirma que

“o comunicador radiofônico tem que desenvolver ao máximo sua capacidade de assumir a situação do ouvinte popular, tratar de perceber o mundo como ele percebe, sintonizar com sua vida, sua realidade, seu universo cultural; (...), captar coisas que podem interessa-lo, falar sua própria linguagem, fazer

45 A inflexão do sorriso é um termo brasileiro utilizado pelos profissionais da rádio, refere-se à figura interpretativa apresentada pelo locutor ao ler um conteúdo. Ao fazer a inflexão do sorriso o locutor realiza uma locução que traz leveza, simpatia, descontração ao ouvinte. É uma técnica muito utilizada por comunicadores populares que a faz em busca de uma aproximação com seu público (César, 2009, p.114).

com que se sinta refletido na mensagem. (...). Alcançando esta comunicação empática, o ouvinte já não se sentirá como ausente, excluído da emissão, enfrentando conteúdos impostos (...)”.

Isto também se mantém na emissão em linha, a qual tem como conteúdo principal a emissão em fluxo em direto no qual o radialista estabelece este ato de aproximação com seus ouvintes por meio de sua locução. É a locução que irá conquistar as mentes e corações dos ouvintes.

Vieira et al. (2013b, p.320) afirmam que

"importa ter (...) em conta o facto de que, numa economia em abundância, onde o acesso a música e informação por uma percentagem significativa da população é cada vez mais fácil, a dimensão discursiva (...) constitui uma faceta cada vez mais importante, por ser de facto a grande mais-valia competitiva".