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2. A PARTICIPAÇÃO DO UTILIZADOR E A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NAS

2.1. A participação do utilizador nas webrádios

2.1.3. Estudos sobre a participação em linha do utilizador na rádio

Os estudos publicados no âmbito da participação em linha geralmente citam estudos de caso. Eles circunscrevem o fenómeno a um grupo de emissoras em um limite geográfico. Abaixo são citados alguns exemplos.

Ferguson e Greer (2011) realizaram uma pesquisa que investigou emissoras norte americanas que utilizam o Twitter para interagir com a audiência. Nesta pesquisa o estabelecimento da população decorreu do uso de base de dados (www.radioontwitter.com) que lista as emissoras dos Estados Unidos que utilizam o Twitter e da verificação do que as emissoras postam, em que a informação das postagens realizadas e de seguidores do perfil foram obtidos nos websites

pesquisados. Uma limitação deste estudo foi que os investigadores não conseguiram medir os tweets enviados pelos utilizadores. O estudo apresenta como resultados a existência de uma diferença de conteúdos postados pelas emissoras, com as emissoras musicais postando mais conteúdos promocionais e as emissoras jornalísticas postando mais notícias, e a existência de uma fraca correlação entre as postagens feitas pela emissora a cada quarto de hora e o número de seguidores da estação no Twitter. O contributo para a tese é a verificação dos conteúdos postados (promocionais para as emissoras musicais e jornalísticos para as emissoras de notícias) e a forma como foi desenvolvida a recolha dos dados.

Baker (2010) realizou uma pesquisa etnográfica sobre a emissora norte americana Brooklyn College Radio, que utilizou entrevistas semi-dirigidas com produtores da emissora e com utilizadores e também realizou um questionário para a audiência. O estudo chegou a conclusões sobre as emissoras nativas a partir do exemplo investigado, apontando que as webrádios nativas diferem das transpostas e da rádio hertziana por serem desprovidas de regulação, terem baixo custo e serem mais flexíveis em termos de repertório, apostando em nichos e citando como exemplo a Brooklyn College Radio, a qual foi classificada como uma alternativa 'radical', com conteúdos apresentados de forma mais hedonista, caótica e anárquica do que uma emissora tradicional. O contributo para a tese foi a recolha de dados adotada.

Chiumbu e Ligaga (2013) realizaram uma pesquisa netnográfica em três emissoras sul-africanas (SAFM, Radio 702 e Bush Radio), na qual combinaram diferentes técnicas de recolha de dados: entrevistas semi-dirigidas com radialistas sobre os usos da Internet e dos telemóveis pela estação, audição de programas de rádio, observação participante e análise de conteúdos do website e das redes sociais na Internet utilizadas pela emissora (no caso, Facebook e Twitter). Os pesquisadores (2013, p.247) ressaltam que “little research has been done specifically on impact on ICTs on radio institutional practices”40. O estudo traz como conclusões que as

tecnologias de informação e comunicação expandiram o espaço da rádio e transformaram a natureza do envolvimento do público, que passou a agir como produtor, construindo, circulando e partilhando conteúdos. O contributo para a tese foi

40 "pouca pesquisa foi feita especificamente sobre o impacto das tecnologias de informação e comunicação nas práticas institucionais de rádio" [Tradução do autor].

a discussão sobre a participação dos utilizadores nas webrádios e como foi adotada a recolha dos dados da investigação.

Bonini (2012) fez uma observação não participante de três programas emissoras italianas (Caterpillar e RaiTunes da emissora Rai Radio 2 e Io sono qui da Radio24) na qual observou a fan page destas emissoras. O estudo revelou que as emissoras começaram a perceber a importância dos meios de comunicação social na relação com seu público e propõe um manifesto de media sociais para as emissoras. O contributo do estudo para a tese foi a utilização da observação participante na investigação das emissoras.

Rosales (2013) também realizou uma observação não participante, buscando saber como as tecnologias móveis estão integradas aos modelos de participação nas rádios, utilizando como amostra uma emissora canadiana (Virgin Radio, de Alberta) e uma norte americana (Kiss FM, de Chicago), na qual foram observadas as redes utilizadas (Twitter e Facebook) e os recursos interativos utilizados (blogs, galerias de fotos e espaços nos quais os utilizadores enviam textos) e realizadas audições dos conteúdos sonoros disponibilizados em streaming direto ou on demand. O artigo debateu o uso das tecnologias móveis para o melhoramento do engajamento dos utilizadores com a emissora por meio da participação em linha, incluindo uma debate sobre as melhores práticas e utilização das tecnologias móveis. O contributo para a presente investigação foi a utilização da observação não participante no estudo das emissoras citadas.

Peña-Jiménez e Pascual (2013) investigaram o uso do Twitter e do Facebook por emissoras espanholas, fazendo uma observação de cinco programas, em um estudo no qual escutou-se estes programas; observou-se nas redes descritas os passos seguintes associados à determinada transmissão e realizaram-se entrevistas com os moderadores das comunidades envolvidas. A conclusão principal do estudo é a comprovação de que entre Facebook e Twitter, o Facebook é a rede mais utilizada e a falta de formação específica em gerenciamento de comunidade por parte daqueles que moderam as redes sociais. O contributo para a tese foi o modo como foram feitas as pesquisas das redes citadas e o resultado obtido, em que há um uso maior do Facebook do que do Twitter pelos utilizadores das emissoras espanholas investigadas.

Moyo (2012) discute as formas criativas de participação, utilizando os sites de redes sociais e outros recursos interativos, por parte da emissora pirata Radio Dialogue de Zimbábwe, debatendo também o potencial dos recursos interativos dos novos media, com seus lados positivos e negativos. A conclusão sobre este estudo de caso sobre uma emissora ilegal foi que ela, apesar de pirata, cria espaços para a comunicação participativa, na qual o público utiliza seus canais para se comunicar, em que há certas formas de engajamento cívico, como o debate de problemas que acontecem no cotidiano. O contributo do artigo é o debate sobre os aspetos sociais da participação do utilizador nas rádios.

Haussen (2011) analisou o fenómeno da participação do utilizador em quatro emissoras jornalísticas do Rio Grande Do Sul, no sul do Brasil, tendo como base entrevistas realizadas com radialistas destas emissoras. O estudo conclui que no atual cenário das rádios jornalísticas a gerência do contexto da comunicação entre ouvintes e emissoras está mais complexa, que há a necessidade de adequação do veículo a uma realidade cada vez mais volátil, veloz e tecnologicamente avançada e que há um diferente ato de ouvir por parte do público. O contributo para a tese foi uma visão crítica da participação do utilizador no âmbito das emissoras jornalísticas.

Quadros e Lopez (2014) analisam seis emissoras jornalísticas do Rio Grande Do Sul em relação a utilização de redes sociais na Internet para a interação com a audiência. A conclusão do artigo traz o resultado da observação realizada pelas pesquisadoras, que avaliaram que as emissoras investigadas têm presença incipiente e despreparada em relação às potencialidades das ferramentas de interação, com exceção de uma que apresenta maior sinergia com o conteúdo que é apresentado no ar. As autoras também elencaram as principais deficiências identificadas na utilização dos websites de redes sociais por parte das emissoras analisadas. O contributo desta investigação para a tese é a análise da comunicação participativa nas emissoras investigadas.

Souza e Rodrigues (2013) fizeram uma análise da fan page da Campina FM com a observação, por uma semana, da frequência das postagens da emissora, do número de comentários, cliques em ‘gosto’ e partilha de conteúdos e da proporção dos conteúdos jornalísticos em relação ao de entretenimento, além da análise do uso das redes sociais pela emissora e sobre como ocorre a interação com os utilizadores. A partir das observações realizadas os autores concluíram que as postagens da emissora servem para hiperligar os utilizadores para os programas da rádio e para a solicitação de músicas e que há postagens da emissora em quantidade significativa durante o dia, com predomínio de conteúdos de entretenimento. O contributo para a tese foi o estudo sobre uma das emissoras que compõe a amostra da pesquisa, a qual possui muito pouco estudo acadêmico sobre ela, como, por exemplo, os feitos por Van Haandel (2012a) e Freitas (2006).